Vou correr o risco, espero que bem controlado, de fazer citações retiradas do contexto. O contexto, neste caso, é importante, o da critica a uma sociedade aparentemente sem escrúpulos, contraditória, que pretende conjugar a modernidade económica com o maior atraso politico e do respeito pelos direitos humanos. No entanto, julgo que isto não desculpa que, a propósito, se escrevam coisas como as seguintes, para mais ofensivas de uma nossa comunidade imigrante pacífica, trabalhadora, que não tem nada a ver com os desmandos do regime chinês. Que se diria de um artigo do mesmo tipo, nos anos 60, num jornal francês, misturando salazarismo e colónia portuguesa em França?
(...) não podemos negar que os chineses se interessam violentamente pelo território português nos últimos anos. Violentamente, a meu ver, porque as lojas com lanternas vermelhas à porta, género «papier machê», são as lojas mais esquálidas e desgraçadas que alguém se lembraria de implantar em território europeu.Já tenho escrito muita asneira, mas creio que nunca mais sairia de casa, escondido com vergonha, se me tivesse saído uma coisa destas.
(...)
Por qualquer razão que me escapa, que nos escapa e que, diz-se à boca pequena, tem a ver com os interesses colonizadores da China e a nova versão do perigo amarelo, as lojas chinesas reproduzem-se como coelhos por esse Portugal fora, e no Alentejo abrem exacta mente no mesmo lugar onde fecharam, por falta de clientes, as lojas portuguesas. Vêem-se lojas chinesas à beira da estrada, nas ruas principais, nos centros comerciais. Vêem-se lojas chinesas encostadas a restaurantes chineses e sem estar encostadas a restaurantes chineses, cobertas de flores de plástico e de cartazes a dizer que está tudo a menos de 1 euro, ou de 10 euros, ou qualquer quantia irrisória. Lá dentro é o bazar desarrumado e sintético, exemplo milagroso do crescimento económico destinado a produzir lixo. As lojas chinesas são inestéticas, são concorrência desleal e estão a matar o equilíbrio do mercado e das lojas tradicionais portuguesas. Se esta frase parece racista é provavelmente porque ela é racista [JVC: e é!].
(...)
Na verdade, é impossível não perguntarmos o que diabo fazem tantas lojas chinesas em território português e quem sustenta e apoia estes comerciantes que resolvem vir para Portugal e para uma região de Portugal que está nos antípodas da sua sensibilidade, como o Alentejo. Quem sustenta e apoia estes imigrantes que não sabem falar português e que não são de Macau nem são sobras do império, e lhes diz para vir inundar zonas economicamente deprimidas com quinquilharia ambulante. A China, além de poluir a terra (e toda a gente sabe que já não se consegue respirar em Hong Kong), polui o mundo com o seu modelo de negócio. Talvez pudéssemos retribuir abrindo umas lojas de pastéis de bacalhau e galos de Barcelos na China, mas, até lá, somos inundados com óculos de ver ao perto, rosas artificiais, brinquedos, vestidos de poliéster, cabides, bugigangas, enfeites, paisagens amarelas e cor-de-rosa, sacos, tapetes, sapatos, altifalantes, relógios, colares, contas, cartas... e montras de entulho.
1 comentário:
Eu deixei há muito de ler essa senhora. Desde que começou a fazer fretes ao Santana, como "paga" de ele a ter colocado à frente da Casa Fernando Pessoa. Pobre poeta, que deve ter-se revolvido no túmulo.
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