28 julho, 2008

Boas férias

Façam o favor de descansar e relaxar. Passarei por cá de vez em quando. Até Setembro.

25 julho, 2008

500 euros

Nem sabia que havia notas destas até ler ontem um artigo de jornal. São tão raras que uma vantagem é a de os falsificadores não as quererem, porque qualquer caixa repara bem nelas antes de as aceitar. Mas, afinal, parece que não são assim tão raras. Em Portugal, em 2007, o Banco de Portugal recolheu do público cerca de 910.000 destas notas. A ideia elementar é de que se trata de economia paralela ou de lavagem de dinheiro.

Talvez não. Tenho um amigo, empresário rico, moderno, com um MBA, que evita ao máximo cartões e cheques. Anda sempre com um gordo rolo de notas no bolso, tudo o que paga é "cash". Não é estranho. É filho de judeus refugiados em Lisboa, fugidos do nazismo. Tudo o que lhes valeu foi dinheiro e jóias, porque imóveis, contas bancárias, etc., ficaram na Alemanha. É curioso que estas marcas fiquem culturalmente indeléveis. Este meu amigo reconhece-o e diz que, não sendo religioso, é talvez a sua principal marca identificadora como judeu. Se tivesse acontecido o mesmo aos meus pais, não teria eu exactamente a mesma atitude, por irracional que seja?

24 julho, 2008

"spanish moss"

Fico empolgadíssima por ter ficado a saber que, em Portugal, Plantas e Animais humanos ou não, somos todos, mas todos mesmo, "autotróficos", tal como dizem alguns entendidos sobre a plantinha cinzenta da fotografia - "Spanish moss".
ISTO É QUE É UM AVANÇO PARA O CONHECIMENTO!
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Como é que eu sei, perguntar-me-ão?
1- Por aqui:
Sei porque o Senhor Ministro da Ciência e Ensino Superior não se cansa nunca de falar em Investigação e dentro desta da Alimentação. "16/07/2008. UE: Mariano Gago participa em reunião de Ministros da Competitividade responsáveis pela investigação"
Extracto:
Os participantes, que procurarão chegar a acordo sobre as linhas de desenvolvimento do Espaço Europeu de Investigação até 2020, deverão produzir um documento preliminar de estratégia, na sequência das conclusões sobre o Futuro da Ciência e da Tecnologia na Europa, adoptadas em Dezembro último por iniciativa da presidência portuguesa. Os ministros tratarão ainda especificamente da investigação necessária em domínios como a alimentação e os ecossistemas, a energia e as alterações climáticas, a saúde e o envelhecimento, e a sociedade da informação.
2. E porque não estamos nem fomos sequer representados em lado nenhum aqui(s):
Assunto: delineamento de estratégia de Investigação Agrária no quadro da União Europeia
1- Portal do “Standing Comittee on Agricultural Research portal – SCAR net”
http://mail.esac.pt/exchweb/bin/redir.asp?URL=http://ec.europa.eu/research/agriculture/scar/index_en.cfm?p=3_foresight
2. Relatório “FFRAF report: foresighting food, rural and agri-futures” in: http://ec.europa.eu/research/agriculture/scar/pdf/foresighting_food_rural_and_agri_futures.pdf
(anexo: foresighting_food_rural_and_agri_futures.pdf)
3. Página da Conferência "Towards Future Challenges of Agricultural Research in Europe"; 26-27 June 2007, Brussels.http://mail.esac.pt/exchweb/bin/redir.asp?URL=http://ec.europa.eu/research/conferences/2007/scar/index_en.htm
4. Proceedings da Conferência "Towards Future Challenges of Agricultural Research in Europe” in: http://mail.esac.pt/exchweb/bin/redir.asp?URL=http://ec.europa.eu/research/conferences/2007/scar/pdf/conference_report_en.pdf
(anexo: conference_report_en.pdf)
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Ora, como todos temos a distinta lata de falar à boca cheia em investigar, inspeccionar, apreender, vender e comprar, produtos alimentares sem cuidar de saber as suas origens ou como se produzem alimentos, só poderemos estar a especializarmo-nos em viver do fixarmos do ar!
E digo-lhes mais, meus caros e raros leitores, até estamos a ficar muito competentes neste domínio e, alguns de nós, como a minha própria pessoa, são até competentíssimos!
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Sabiam isto? Ah! Meus amigos, eu também não!

23 julho, 2008

Retrocesso

A nova Directiva de Retorno da União Europeia é um retrocesso da política europeia de imigração, bem ao gosto dos que gostam de uma “Europa fortaleza”. Acerca disto, e contra os meus princípios de respeito pelos direitos de publicação, divulgo no meu sítio, com total concordância com ele, um muito bom artigo de opinião de José Vítor Malheiros, “Retorno à directiva da vergonha”, no Público de ontem (online só para assinantes). Para abrir o apetite, deixo um parágrafo.

“Não posso ser mais claro: não há nenhuma justificação ética para expulsar uma criança sozinha que nos bate à porta. Nenhuma. É uma vergonha fazê-lo. É uma vergonha sugeri-lo. É uma vergonha legislar para que isso seja feito. É uma vergonha defendê-lo. É uma vergonha fazer leis para aplicar apenas aos filhos dos outros, quando viraríamos o mundo do avesso para que elas não fossem aplicadas aos nossos filhos. É uma vergonha, uma vergonha e uma vergonha.”

22 julho, 2008

Águas negras

Hoje, o Diario Económico estava recheado de deixas importantíssimas que apimentam o suspense das cenas dos próximos capítulos da orçamentação da Educação Superior:
i) Verbas para Superior causam mal-estar entre reitores;
ii) Investimento caiu 30% em oito anos;
iii) Aluno da Técnica custa o dobro do ISCTE;
iv) Como se constrói o orçamento;
v) A discussão do financiamento.
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Como, literalmente, me aterraram no ambiente de trabalho extractos dessas publicações, reparto (aqui **) com os meus caros e raros leitores a adrenalina que suscita a sua leitura, em termos de expectativas futuras:
Será que o Primeiro Ministro se condoi da constante indingência dos Senhores Reitores?
Será que o Senhor Ministro das Finanças muda de ideias?
Será que o Senhor Ministro da Ciência e Ensino Superior está a ficar com coração de manteiga, e desiste de uma boa parte da sua actividade das relações internacionais, em favor de ressarcir despesas não planeadas pelos Senhores Reitores?
Será que o nosso PIB tem elastecidade e flexibilidade suficiente para que todos abramos a boca num berreiro?
Poderão de repente as nossas empresas, verdadeiramente, privadas passar a custear a maior fatia do bolo, teoricamente, necessário para que as nossas instituições de ensino superior se mantenham por uns tempos sem incomodarem com as choradeiras?
Será que os nossos concidadãos conseguem gerir a má digestão epidémica, que se prevê que ocorra, caso se desviem verbas para a educação superior, de utilidade imediata por comprovar, quando têm que gerir as suas próprias dívidas que ascendem ao valor de quase outro PIB nacional?
Será que os cursos mais caros serão os que conferem melhores competências? - Esta é só um cusquice minha!

Não tenho dúvidas. Como nadamos sempre em águas negras, o futuro da educação superior, e na verdade o futuro de Portugal, para muitos de nós, tem ainda um valor demasiado abstracto!

Afinal depois do encontro de hoje, com o Primeiro Ministro tudo continua na mesma:
"....não foi possível associar um número a cada um dos orçamentos"
Muito me admiraria que se conseguisse!
____________
**
Ver em http://www.esnips.com/web/pedinchice, o texto na versão *.pdf intitulado:
Verbas para Superior causam mal-estar entre reitores.pdf

Não dá para crer!

Só conheço superficialmente o ministro da Cultura, Pinto Ribeiro, mas tinha-o por homem inteligente e avisado. Qual não é o meu espanto ao ler hoje, na crónica habitual de Nuno Pacheco no Público, esta pérola (itálico meu a chamar a atenção para as afirmações (?) do ministro).

"Não era o caso do apressado D. João VI, como se viu, nem o caso do ministro que agora temos. Para este, o relevante é que agora haja um acordo ortográfico tão simples que se aprende em 10 minutos mas que precisa de acções de formação para professores que ameaçam durar anos. Mas não foi só isso que ele nos ensinou. Também disse, citando um livro que leu e muito o impressionou, que uma das causas do falhanço em muitos casamentos é a falta de vocabulário. Os maridos excitam-se, balbuciam umas letras, ficam roxos e como lhes falta vocabulário, batem nas mulheres. Magistral revelação! De hoje em diante, os conselheiros matrimoniais, em lugar de conselhos, devem oferecer dicionários aos desavindos. Se tiverem, claro, o cuidado de não lhes sugerir o Dicionário da Academia pois, de tão pesado, pode ser usado como arma mortal."

21 julho, 2008

Os mandamentos das raças

Publicado por um grupo de biólogos da Universidade de Stanford, preocupados com a utilização abusiva de “argumentos científicos” na defesa do racismo.

1. Todas as raças são iguais, não há nenhuma base científica para dizer que uma é superior a outra.

2. Dois portugueses podem ter mais diferenças genéticas entre si do que em relação a um chinês: não há uma relação entre a variação genética e a distribuição geográfica.

3. Os genes não definem toda a ascendência de uma pessoa: factores como a cultura e os factores sociopolíticos da sociedade em que se insere podem ser ainda mais importantes.

4. Membros do mesmo grupo étnico ou raça podem ter uma genética muito diferente - há várias populações diferentes que cabem na classificação de "hispânicos", por exemplo.

5. Características comportamentais completas, como os níveis de inteligência ou a tendência para actos violentos, não se podem explicar apenas pela genética.

6. Os cientistas devem ter muito cuidado ao usar grupos raciais para fazer investigação; podem estar apenas a usar estereótipos, e não categorias válidas.

7. A medicina deve concentrar-se no estudo das características de cada indivíduo, e não na sua raça. É uma ideia simplista dizer que a saúde é determinada apenas pelos genes e pode contribuir para atitudes racistas.

8. Os estudos sobre variação genética humana devem ter a contribuição de várias áreas do conhecimento, da biologia à economia e às ciências sociais.

9. Cientistas, jornalistas e outras pessoas com responsabilidades na divulgação da investigação científica devem ter cuidado com simplificações que podem ser usadas para determinados objectivos políticos.

10. Os programas escolares devem incluir não só o estudo da genética como o da história do racismo, para explicar como a ciência já foi usada para promover ideias racistas.

(Público, 20.7.2006)

19 julho, 2008

O único gato (com pedigree) da educação superior nacional

A meu ver, a única coisinha em que a actual equipa governamental da educação superior se distingue com grande mais valia, relativamente, a todas as outras que a precederam, é que sabe mesmo fazer contas, diga-se o que se disser. Não as publicará como DEVERIA - o que é uma pena - mas encontrou com muita perícia, simplicidade e objectividade os valores do financiamento anual específico adaptado ao custo de cada curso - departamento/escola -universidade/politécnico, com base em racios bem conhecidos no número de alunos, inscritos a 31 de Dezembro, de dois anos antes, e devidamente registados em base de dados - DIMAS - "Inquérito Estatístico aos Alunos Diplomados e Matriculados no Ensino Superior", a que todas as instituições têm acesso.

O financiamento encontrado para cada instituição é corrigido por um factor de coesão - a componente política - demasiado elástico, e dotado de excessiva longevidade, mas também é conhecido de todas as instituições.

Precavidamente, até costuma deixar de lado uma reservazinha, um tanto mixuruca, para eventuais imprevistos, e TODA ESTA informação é transmitida às instituições de ensino superior.

O financiamento anual de base, porém, não prevê - e MUITÍSSIMO BEM - pagamentos de fantasias ou de promessas eleitorais programáticas de senhores reitores ou de senhores presidentes de politécnicos.

Para outros investimentos necessários tais como infraestruras, haverá que se recorrer o depauperadíssimo PIDDAC - a precisar muito de ser reequacionado, sobretudo, no que diz respeito à programação de trabalhos de manutenção - e, para a investigação, há as candidaturas a Projectos de Investigação, e ou contratualizados com entidades públicas ou privadas nacionais e estrangeiras.

É por isso, que estranho muito que o CRUP se atreva sequer a anunciar na comunicação social que: "se não houver um reforço de 100 milhões de euros ainda para os orçamentos de 2008, as universidades ficam em grandes dificuldades financeiras que colocam em causa o pagamento de salários"
Diz-nos o Público de 18/07/2008 que:
- "Os reitores e o ministro do Ensino Superior discutiram hoje formas de resolver os problemas financeiros das instituições relativos ao ano de 2008, usando um fundo da tutela que rondará entre os 10 e os 15 milhões de euros". Estes 15 milhões de Euros devesm constituir o tal Fundinho de reserva, e que os Senhores reitores pelos vistos resolveram passar a mão, em exclusivo.

Anda bem o Senhor Ministro da Ciência parece que só decidiu fazer um levantamento - por um controlador financeiro - da situação nas universidades, ou outros dados seja, saber as verbas de que dispõem, que verbas estão em falta, números e alunos, entre outros dados;

Para mim, é claro que não sendo provável, podem existir enganos e, se os houver, precisam de ser corrigidos - deveriam ter sido corrigidos atempadamente, mas de certeza que não atingem dez dezenas de milhões de Euros, e de certeza que o fundinho de reserva mencionado como sendo de 15 milhões de Euros não é um exclusivo das Universidades Públicas.
Por isto, estou inteiramente do lado dos actuais Senhor Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior e do Senhor Ministro das Finanças - a excelência dos reitores ou dos presidentes dos politécnicos inclui muita atenção, responsabilidade e cumprimento de principios rigorosos de gestão, e não de pelourinhos aprazíveis ou delegações de pedinchice - únicas actividades a que a mim me parece se vêm dedicando com afinco, os nossos gestores de topo - e que, com ou sem RJIES, permanecem imutáveis, começo a ter receio que esta excelência, com pedigree, seja hereditária.
Sinto muito, mas é o que penso e, como sou esquecida, preciso de registar.
Se não concordarem comigo, paciência, provem-me que estou errada!
Até ver, contas são contas!
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Referência:
Fundo de tutela pode chegar aos 15 milhõesEnsino Superior: Reitores e tutela discutiram formas de resolver situação financeira relativa a 2008
20h41 Lusa

18 julho, 2008

Inside information

Pessoa amiga, que faz parte da Assembleia Estatutária da Universidade do Porto (UP), vai-me pondo a par do teor das discussões que o referido órgão tem tido a propósito dos novos estatutos da UP. Como se sabe a UP foi uma das três instituições do ensino superior que aceitou a possibilidade de passar ao regime fundacional. Algumas observações sobre este processo. Em primeiro lugar, os membros externos à UP, que foram cooptados pela Assembleia Estatutária, com uma única excepção, têm primado pela ausência. Aparentemente estes membros não querem perder tempo com minudências estatutárias e cansaram-se depressa dos trabalhos de redigir os estatutos. Mau prognóstico, portanto, para o funcionamento futuro do Conselho Geral.


Em segundo lugar, a Assembleia Estatutária teve uma reunião com o ministro Mariano Gago há alguns meses atrás para analisar a possibilidade do modelo fundacional. Aparentemente o senhor ministro ter-lhes-á comunicado que via a possibilidade de somente um número muito reduzido de universidades portuguesas passar ao regime fundacional. Defendeu, igualmente, que rejeitaria o regime fundacional da UP caso os institutos de investigação (IPATIMUP, IBMC, etc.), não integrassem formalmente a universidade. Estes laboratórios associados de grande prestígio, que foram construídos à margem da UP, temeram, compreensivelmente, a perda da sua autonomia e dos padrões de excelência que construíram.


Esta semana as exigências dos laboratórios foram apresentadas à Assembleia Estatutária: queriam deter o monopólio da formação pós-graduada nas suas áreas científicas, objectivo ilegal face ao RJIES e que configuraria um esvaziamento dos cursos de pós-graduação de várias faculdades da UP.


Tendo em conta o exigente caderno de encargos que a Assembleia Estatutária apresentou ao MCTES para passar ao regime fundacional e face a este novo desenvolvimento prevejo que a UP não passe ao regime fundacional. Mais: uma vez que os novos estatutos da UP só admitem algum tipo de coordenação/fusão entre faculdades se estas o desejarem, antecipo que as mudanças em curso sejam minimalistas.

Parabéns Nelson Mandela



Nelson Mandela faz hoje 90 anos. É um dos exemplos maiores da luta pela liberdade e dignidade humanas. No julgamento que o condenou a prisão perpétua Nelson Mandela, após uma longa intervenção de mais de quatro horas, afirmou:

"Durante a minha vida, tenho-me dedicado a esta luta do povo africano. Tenho lutado contra a dominação branca e contra a dominação negra. Tenho acalentado o ideal de uma sociedade democrática e livre em que todas as pessoas possam viver juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para cuja concretização espero viver. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer."

Shame on you!

Há uns meses, a Universidade Metropolitana de Londres concedeu um doutoramento honoris causa ao Dalai Lama. O assunto parecia esquecido até que, recentemente, a imprensa chinesa o levantou, criticando a universidade, logo seguida pela incipiente comunidade chinesa internética, que apelou a um boicote às universidades inglesas.

O vice-chanceler (equivalente aos nossos reitores) Brian Roper apressou-se a exprimir desculpas públicas à China e lamentou a concessão do grau numa carta oficial ao embaixador chinês. Talvez não seja indiferente a tudo isto que a universidade tem 434 estudantes chineses, o que não é negligível em termos de propinas em tempos de vacas magras.

17 julho, 2008

Beba com moderação...

Ainda meio ensonado saio do metro e arrasto-me até a um café e snack-bar onde costumo beber o meu segundo café da manhã. Quando me dirijo à caixa para pagar reparo num aviso, ao lado da máquina registadora, que até então me tinha passado despercebido:

SÓ SERVIMOS BEBIDAS ALCOÓLICAS DEPOIS DAS 9.30.


É reconfortante saber que alguns empresários, num país com uma taxa tão elevada de consumo de álcool, levam a responsabilidade social a sério...  

16 julho, 2008

As vagas em Medicina (2)

Sobre o corporativismo médico, eu posso ser suspeito, faço parte do clube. Por isto, valorizo uma opinião externa, a de Vital Moreira, ontem no Público.

Quanto ao real défice de médicos, estamos a pagar há vários anos a malvada contingentação das vagas nos cursos de Medicina nos anos 80 e 90, que ministros e universidades irresponsavelmente conceberam e executaram. Apesar da correcção iniciada há uma década, com a criação de duas novas faculdades e a progressiva ampliação do numerus clausus, que vem até hoje, as vagas continuam a ser comprovadamente insuficientes para as futuras necessidades do sector, tanto mais que se mantêm longos períodos de formação pós-graduação. Neste ponto, portanto, só resta continuar a apostar na importação de médicos - o que desde há muito sucede com os médicos espanhóis -, um bem que todavia não abunda em muitos lados.
Por último, não há nenhuma razão para facilitar a saída de médicos para o sector privado. Cabendo ao SNS a responsabilidade da formação médica, é perfeitamente justificável não somente a exclusividade com horário prolongado durante o internato - até para não obnubilar, logo no início da carreira, a necessária cultura de separação de interesses entre o público e o privado (mesmo que à custa de algum aumento de remuneração) -, mas também a imposição de um período razoável de vinculação ao sector público após a conclusão do internato, como compensação da formação adquirida e dos respectivos encargos. Não é aceitável que o SNS forneça gratuitamente médicos especialistas ao sector privado, sem nenhuma contrapartida dos beneficiários, ou seja, os médicos e as empresas privadas.

Não o tinha escrito ainda, mas concordo inteiramente com esta proposta de Vital Moreira de obrigar os médicos a uma compensação ao SNS pela formação nele prestada. Mais adiante, escreve outra coisa com que concordo inteiramente, até como autor de uma proposta de um curso de medicina privado.

Não se compreende a espécie de tabu, ou simples preconceito, que existe entre nós contra a admissão de cursos privados de Medicina, caso único no panorama português do ensino superior. É certo que há alguns anos uma comissão ad hoc reprovou todas as candidaturas então existentes, por alegada falta de qualidade. No entanto, independentemente de saber se não foi utilizada uma grelha demasiado exigente, que teria chumbado qualquer outro curso privado em qualquer área, não é de excluir a possibilidade de agora poder haver candidaturas mais consistentes.
Não há nenhuma razão para pensar que não existe uma única instituição privada em condições de criar e sustentar um curso decente de Medicina, sem perder, antes pelo contrário, na comparação com os cursos médicos que muitos jovens portugueses hoje pagam no estrangeiro, desde a Espanha e a República Checa até ultimamente à República Dominicana, como foi recentemente noticiado!

Mais, gostaria que a comissão que está a analisar tão “rigorosamente” as novas propostas de cursos de medicina começasse por analisar os actuais.

14 julho, 2008

Nota gastronómica (LX)

Nova receita

Peitos de pombo estufados com arroz de amêndoas e passas. Também dá para perdiz (até de aviário...) e, em metade da dose, para frango do campo.

13 julho, 2008

Impressionante

No Público, hoje:

"405.079.400 dólares foi quanto os chineses gastaram em comida em 2008. Em 2004 gastaram 2.757.984
6.316.100 carros foram registados em 2007 em todo o país. Em 2004 foram 2.326.490
180.219.380 de chineses usam a Internet em 2008. Há quatro anos eram "apenas" 94.000.000
238,159.290 de yuans foram gastos em produtos electrónicos em 2008. Em 2004 foram 173,933.860"


É a queda anunciada do império do ocidente?

12 julho, 2008

poalha de tijolo vermelho

Depois que foram publicadas e comentadas as "vagas de 2008/2009, para o ensino superior", tenho acompanhado de longe e ao de leve as posturas das diferentes organizações de classe, a respeito das ameaças às suas categorias profissionais.
Ultimamente, seguindo o exemplo do país inteiro, também me deixei da parvoíce de sequer tentar ser e parecer racional, e parti para apelação ao sobrenatural. Por outro lado, a conselho de pessoas moderadas decidi ser cooperante com todos.
Hoje, por exemplo, venho oferecer os meus préstimos ao Senhor Bastonário da Ordem dos Senhores Engenheiros, Senhor Engenheiro Santo (só de nome, e também quando espirra, aí é santinho) que, coitadinho, estremece e estrebucha por cada vaga que se abre em escolas de engenheiros não padronizados pela sua Ordem - ninguém sabe quais são os padrões da Ordem de Engenheiros, mas também não carece, afinal esta Ordem deixou definitivamente de ser da Classe Profissional dos Engenheiros para ser um anúncio publicitário de algumas Escolas de aprendizes do ofício.
Bom, dizia eu, quero ser cooperante, e aqui estou com as minhas sugestões à laia de contributos:

1. Ofereça ao Espírito da sua Ordem dos Engenheiros um pote de frutas secas e peça-lhe para proteger a sua Ordem de quaisquer assaltos, violências, vandalismos, furtos, depredação mas, sobretudo, dos facilitismos daqueles Engenheiros não previamente esconjurados.

2. Na frente da sede da Ordem coloque um desenho em AUTOCAD profissional, ou um medalhão, em liga leve, com o símbolo da serpente (pode ser pequena - são mais venenosas) e peça à constelação do dragão que afaste os facilitismos da sua morada, ofereça-lhe os seus respeitos, acenda um pau de incenso e rodeie - 360º bem medidos - as instalações da Ordem de uma faixa de 30 cm de poalha de tijolos (mas tem que ser vermelhos)... não não é por ser o Benfica!

3. Nas noites de lua cheia de todas as sextas feiras 13, reúna TODA a sua congregação, vão para fora das instalações da Ordem e recitem, não precisam gritar (a vizinhança e os transeuntes não têm que ficar apavorados):
Pelo poder do oculto, pelo poder dos bruxos, feiticeiros e adivinhos, pelo poder dos guardiões de luz, pelo poder dos sete arcanjos e dos sete mestres divinos (mestres não, desculpe, Senhores doutores Engenheiros!) eu lanço um feitiço de poder, um escudo de protecção, que afaste todo o mal da minha Ordem e da minha profissão, principalmente, aqueles horrorosos engenheiros de Politécnicos!

Sabe Senhor Engenheiro, é que quando estamos protegidos, a nossa tendência é esquecermos de agradecer, então escreva num bilhetinho - com tinta da china sépia, ou em sangue resultado da picada de um besouro dourado - que precisa pendurar, do lado de fora no batente da porta principal da Ordem, devidamente TRANCADA - a seguinte frase: AGRADEÇO AOS GUARDIÕES DESTA MORADA.

PS - Deixo-lhe o pozinho vermelho, não sei se os seus civis lhe conseguem encontrar facilmente isso, e eu estou com as mãos na massa.

______________
Ora Senhor Engenheiro não me agradeça!
Não por isso, Senhor Engenheiro.
Estou sempre às Ordens! E o país também!

11 julho, 2008

Também em Direito

Continuando a nota anterior, não é só em Medicina que os interesses corporativos se conjugam para limitar a oferta de licenciados no mercado de trabalho. Agora é também o presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa que protesta contra o enorme aumento de vagas, de 500 para 510, "numa altura em que os recém-licenciados se deparam com inúmeras dificuldades em ingressar no mercado de trabalho". Tão jovens e já tão estragados! 

As vagas em Medicina

Como todos os anos, por esta altura, com o anúncio da abertura das vagas, escreverei daqui a dias alguma coisa mais desenvolvida. Hoje, apenas uma breve nota sobre um aspecto sempre crítico, o das vagas em medicina. Toda a gente sabe que as vagas a mais são sempre arrancadas a ferros, com oposição das escolas e da ordem, a pretexto de saturação dos hospitais escolares. Há 40 anos, em Lisboa, éramos cerca de 120 no meu curso, havia largo excesso de camas para ensino e havia muito menos professores e formadores do que hoje. No entanto, com estas condições melhoradas actualmente, diz-se que um aumento para 295, em quatro décadas, já é incomportável. Por isto, este ano e na FML, o aumento foi de zero (!) vagas, quando o Ministério da Saúde considera que são necessários mais 2000 médicos por ano, cerca de 300 mais do que o actual número total de vagas.

O que mais directamente me leva a escrever esta nota são declarações do bastonário da OM, Pedro Nunes. Não me surpreende, porque já nada me surpreende quando ele emite opinião. Sabe-se que hoje estudam medicina no estrangeiro muitas centenas de estudantes portugueses. A maioria provavelmente quererá regressar a Portugal, numa época em que cada vez é mais fácil o reconhecimento de diplomas, no Espaço Europeu de Ensino Superior. No entanto, espantosamente, o bastonário entende que esses estudantes, os tais que até podem ter tido classificação secundária de 17,5, são estudantes de segunda, futuros médicos de segunda e que devem ser preteridos no acesso ao internato em favor dos seus colegas formados em Portugal. Porque eles, formados em universidades estrangeiras “certamente” de segunda, não puderam passar pelo crivo absurdo das universidades portuguesas de primeira.

Nota - Por várias razões, sou levado a crer que continuarão a não ser autorizados cursos de Medicina em universidades privadas. Há uma comissão cujo parecer é certamente muito ponderoso. Curiosamente, para além de alguns estrangeiros que, por testemunho próprio, considero muito desconhecedores da situação portuguesa, os outros membros são professores das universidades públicas. Um até é reitor no activo. Conheço-os e não duvido da sua isenção, mas à mulher de César não basta ser séria.

09 julho, 2008

Notas sobre o G8

1. Praticamente não há nenhum problema complexo que não possa ou deva ser discutido na perspectiva das duas faces da moeda. Um exemplo é o dos biocombustíveis, que estiveram em foco na cimeira do G8. Até se fala no bom biocombustível, brasileiro, a partir da cana e do mau biocombustível, americano, a partir do milho. Isto porque há as tais duas faces. Por um lado, o biocombustível é mais amigo do ambiente, resulta em menor produção de CO2 e, portanto, em menor ameaça de efeito de estufa, embora, a prazo, possa contribuir para um modelo de desenvolvimento com maior intensidade industrial e possivelmente maior produção de CO2 por essa via.

Por outro lado, o que seria um combustível mais barato, independente do oligopólio dos países produtores de petróleo e adequado a países ainda com um sector agrícola importante, não resulta obrigatoriamente em benefício dos países mais pobres, devido à retirada de parte importante dos cereais do mercado alimentar e consequente aumento do seu preço, um problema importante a que se está a assistir presentemente.

2. Segundo uma notícia do Público, o presidente da Caritas Internacional denunciou que, contra os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, a ajuda aos países pobres tem vindo progressivamente a diminuir (5,1% em 2006, 8,4% em 2007). O G8 recusou garantir a duplicação da ajuda a África até 2010, como inscrito nos Objectivos. E a outra face da moeda? Vou ser politicamente incorrecto, mas pergunto-me se não é urgente que, a par ou mesmo antes dessa duplicação de ajuda, se revejam os mecanismos de aplicação das ajudas, quando é sabido que em boa parte se perdem nos esgotos da corrupção, a todos os níveis.

3. Isto não quer negar, obviamente, que há subnutrição e mesmo fome no Terceiro Mundo cuja solução impõe uma nova ordem económica mundial baseada na sustentabilidade, na solidariedade, na não exploração. Por isto é chocante outra notícia que nos dá a saber que, no Reino Unido, as famílias gastam, em média, por ano, 528 euros em alimentos que não consomem e que vão para o lixo, um desperdício de 12.600 milhões de euros à escala nacional e de 4 milhões de toneladas de lixo. Isto é tanto mais chocante quanto o valor total da ajuda aos países pobres, em 2005, foi de cerca de 6.370 milhões de euros. Não dá para crer!

O tempo dos cães?

O Público de ontem traz uma carta de um leitor narrando um caso que poderia dar para rir se não desse mais para chorar. Enquanto a educação básica dos portugueses os tornar burocratas, sem iniciativa e capacidade crítica de adaptação, respeitadores cegos das regras para os outros (mas espertalhaços para fugir a elas), não se vai a parte nenhuma.

“Intercidades Lisboa-Guarda. Domingo, 6 de Julho de 2008, cerca das 9h20. Um jovem familiar, em Santarém, acompanhara uma senhora ao lugar e saíra. De aspecto rural e de óbvias parcas posses, a senhora evidenciava a idade - 81 anos - e seguia para a Mealhada, pelo que teria que sair em Coimbra B.
O revisor, cumprindo os regulamentos, exigiu a apresentação de documento de identidade, perante um bilhete com a redução por idade. (A senhora tinha mais 16 anos que aquela que lhe dava direito à redução!)
Ao ver o lacrimejar silencioso da passageira, o revisor proferiu: "Não é preciso chorar", mas manteve a exigência.
Perante a frieza dos regulamentos e do revisor, eu próprio me ofereci para pagar a diferença de 50 por cento, o que fiz. Assistiram a tudo seis passageiros, que manifestaram também a sua indignação e igualmente se ofereceram para pagar uma despesa que claramente a senhora teria dificuldade em cumprir. Haverá necessidade duma aplicação tão rígida e desumana dos regulamentos em semelhantes casos?
J. Sousa Dias
Ourém”

07 julho, 2008

Bons ventos de Espanha

O Público de ontem traz uma notícia talvez insólita para muitos, mas não tanto se nos lembrarmos que a Espanha está a demonstrar avanços culturais bem reflectidos em medidas políticas e jurídicas julgo que únicas em países latinos, como seja a legalização de casamentos de homossexuais. Leia-se então a notícia:

“O Comité de Ambiente do Parlamento espanhol aprovou na semana passada resoluções para que chimpanzés, gorilas e orangotangos tenham alguns direitos actualmente apenas aplicados a humanos. Será a primeira vez que um organismo legislativo nacional toma uma medida deste género, diz a revista Science. As resoluções deverão ser aprovadas como lei pelo Parlamento dentro de um ano. Pretendem dar aos parentes biológicos mais próximos dos humanos o direito à vida, à liberdade e a protecção de tortura.”

Mesmo quem não for um fundamentalista extremo dos “direitos dos animais”, se tiver um mínimo de conhecimentos, alcançará o significado destas resoluções. Há animais e animais, desculpe-se-me a lapalissada. Os chimpanzés partilham connosco exactamente 96% do nosso genoma e, se considerarmos pequenas variações, quase 99%. Têm hábitos culturais, resolvem problemas e inventam utensílios. Têm consciência, se a definirmos essencialmente como a capacidade de se reconhecer a si próprios, por exemplo ao espelho ou numa fotografia.

Note-se que se inclui nos seus direitos o direito à liberdade. Isto tem duas importantes consequências, mas com uma reserva. Em primeiro lugar a proibição de cativeiro nos zoos, mas provavelmente sem efeitos para os seus actuais ocupantes, que dificilmente se adaptariam ao meio natural se fossem libertados. Depois, a enorme resistência que haverá, se este direito for generalizado, por parte da investigação biomédica, designadamente a das indústrias farmacêuticas, porque a tal semelhança genética tem outro lado da moeda: o chimpanzé é em muitos casos o único animal de experiência para doenças humanas e teste de novos medicamentos ou vacinas.

04 julho, 2008

Preservativo

Vou ser politicamente incorrecto, coisa tanto mais grave quanto se relaciona com o meu ofício. Como professor de virologia, dou especial atenção às doenças transmitidas sexualmente, com realce para a Sida. Entre muitas coisas, falo da prevenção e da obrigatoriedade do uso do preservativo. Digo aos meus alunos que hoje já não se fala em grupos de risco (homossexuais, drogados, prostitutas, hemofílicos) mas sim em comportamentos de risco, de promiscuidade, de multiplicidade de parceiros, de falta de protecção, que afectam já todos os indivíduos, mesmo heterossexuais, especialmente em África. Refiro-me também aos bissexuais, que fazem a ponte entre os dois “mundos” sexuais.

O preservativo devia ser obrigatório mas de facto não é. Há muitas prostitutas que prescindem dele por maior ganho, quando o cliente está disposto a pagar mais por isto. Há hoje muitos clientes de quartos escuros de bares gay que jogam à roleta russa, com a ideia de que é sexualmente mais excitante e com a falsa segurança de que hoje há bons tratamentos. E, mais lamentavelmente, há homens dominadores que abusam das fragilidades e dependências das suas mulheres e que impedem o uso do preservativo.

Mas todos somos sensíveis a coisas bonitas na vida, mesmo quando vão contra as mais sábias recomendações. Quando a mulher que nos ama e que amamos nos diz que confia em nós, que está certa de nunca ser traída, e quando nós sentimos o mesmo em relação a ela, a rejeição do preservativo passa a ter valor, deixamos de fazer sexo, só fazemos amor.

02 julho, 2008

Palavras para quê?


(Público, P2, 1.7.2008)

Uma outra escala de desenvolvimento: a percentagem, em cada país, da aceitação do evolucionismo.

01 julho, 2008

Milagre!

Chamada de atenção para uma entrada de hoje de Vital Moreira no Causa Nossa. Não sei bem se para rir se para chorar.