30 abril, 2008

Felicidade Interna Bruta

Durante os primeiros dias desta semana, transportei para o vértice superior direito da nação, 3 dezenas de telemóveis, quase outros tantos IPod e talvez mais pares de auriculares, pertencentes a outros tantos «projectistas aprendizes», que estão a "bolar" um projecto para uma empresa real.
As «ideias inovadoras» discutidas com os "donos de obra" - como quase todas as daquela classe - foram fantasiosas e, quantitativamente, muito mais numerosas que os «autores» proponentes mas, felizmente, a empresa promotora manteve-se firme: digam-nos quanto custa, digam-nos quanto se ganha e, exactamente, a partir de quando!
Discutiram-se vivamente questões de PIB, taxas de amortização FTIR, FOB e CIF, Financiamentos e garantias bancárias, Concorrências, e Concorrências para financiamentos, etc....etc... .
Alguém, novinho, no meio de animadíssima discussão alvitrou que talvez pudéssemos todos ser muito mais felizes se ligássemos menos ao 'target' "DINHEIROS".
________
O engraçado, é que já outras pessoas e também entidades muitíssimo mais respeitáveis andam a dizer o mesmíssimo, e também outros que dizem precisamente o oposto:
___________
PIB ou FIB: as lições do Butão. Conheça o reino de Butão, onde a Felicidade Interna Bruta é o fator mais importante.
http://www.happyplanetindex.org/map.htm - Roteiro Mundial da Felicidade.
Veenhoven, R., World Database of Happiness, Distributional Findings in Nations, Erasmus University Rotterdam:
http://www.worlddatabaseofhappiness.eur.nl/index.html
Wellbeing and happiness in OECD Countries http://www.treasury.gov.au/documents/1107/PDF/02Wellbeing.pdf
Measuring Well-Being: 'The pursuit of happinness' http://www.belfasthealthycities.com/admin/editor/assets/dr%20gaffney%20dec%202007.pdf
http://blog.uncovering.org/archives/2007/11/_a_subjectivida.html
http://www.neweconomics.org/gen/uploads/dl44k145g5scuy453044gqbu11072006194758.pdf
Whitehall Well-Being Working Group
Countries of the World in rank HPI order.
_______________
Quem estará com a razão? Andamos nós, como povo, a ficarmos "mais felizes" ou "menos felizes"? O que dizem, sobre Portugal, desde 1985, no World Database of Happiness. Happiness in Nations. Trend Report 2007-4: Pp. 16.

Just a MISTAKE?

Estes convívios internacionais parecem estar a surtir um primeiro efeito fenotípico, com impacte geral!
Estará a Educação Superior Portuguesa, a civilizar-se?
Foi só um lapso da Equipa?
Foi mesmo uma primeira correcção consciente tão necessária ao RJIES?
Há bocadinho, no Jornal Público, surgiu uma POTENCIAL boa notícia, com origem atribuída ao Conselho de Ministros:
"O Governo aprovou hoje medidas de simplificação do acesso ao ensino superior, criando o regime legal de estudante a tempo parcial e permitindo que estudantes e não estudantes frequentem disciplinas avulsas nas diversas instituições."
Vamos ver como irá ser formalizada a redacção do Documento Final, no entanto, tenho muita esperança de se vir a implementar uma boa medida.
Podiam continuar, não é verdade?

La vida debería ser al revés

Se debería empezar muriendo y así ese trauma está superado.
Luego te despiertas en una residencia mejorando día a día.
Después te echan de la residencia porque estás bien y lo primero
que haces es cobrar tu pensión.
Luego en tu primer día de trabajo te dan un reloj de oro.
Trabajas 40 años hasta que seas bastante joven como para disfrutar
del retiro de la vida laboral.
Entonces vas de fiesta en fiesta, bebes, practicas el sexo y te
preparas para empezar a estudiar.
Luego empiezas el cole, jugando con tus amigos, sin ningún tipo de
obligación, hasta que seas bebé.
Y los últimos 9 meses te pasas flotando tranquilo. Con calefacción
central, room service etc...
Y al final abandonas este mundo en un orgasmo!

Por: Anónimo

Nota gastronómica (LV)

Técnicas modernas

Na última nota gastronómica falei das invenções modernas de Ferrán Adrià. Uma das mais conhecidas é o seu “caviar” de variadas coisas, preparado por microesferificação. Muitas vezes é difícil encontrar boas descrições destas técnicas, a torná-las acessíveis ao cozinheiro amador. Há já mais de um ano, no Fugas do Público, Fausto Aroldi, do Pragma (Casino de Lisboa), dá uma descrição muito simples mas elucidativa de duas técnicas hoje muito em moda.

“Caviar” (no caso, de lima). Misturar ½ dl de água de nascente, 1 g de Algin (alginato), 0,5 g de Citras (citrato de potássio). Deixar descansar durante 2 horas. Juntar 50 ml de sumo de lima. Dissolver em 1 dl de água de nascente 1 g de Calcic (cloreto de cálcio). Mesmo antes de servir, pingar com uma seringa a mistura com sumo de lima para a solução de Calcic e remover as esferas ao fim de 10 segundos.

“Ar” (neste caso de tomate). Em cru, pelar o tomate e pisar muito bem até polpa. Colocar num passador sobre uma tijela e deixar uma noite no frigorífico. Rejeitar a polpa e aproveitar a água de coar. Juntar 0,1 g de lecitina de soja e bater com varinha até vir a espuma à superfície. Colher esta espuma e servir imediatamente. Qualquer tempero é adicionado à água coada, antes de juntar a lecitina.

28 abril, 2008

Não dá para acreditar

Com a devida vénia, reproduzo de O Pafúncio a notícia de aprovação de um novo mestrado da Universidade do Algarve, em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe. Não é brincadeira, podem ir verificar no Diário da República. E é de uma universidade em dificuldade financeira, a discutir um contrato de saneamento.

Sobredotados

Muitas vezes, já sabem, estas entradas são ao retardador, à medida que me vou lembrando de notícias antigas. Agora foi uma do Público de 29 de março, “Vazio legal não permite que crianças sobredotadas possam matricular-se no 1º ano”. Depois, uma outra em que se diz que as escolas não querem a eventual perturbação da rotina causada por estas crianças. Isto disse-me muito, porque, não sendo eu estúpido de todo, tive um primo que me ultrapassava largamente, verdadeiramente sobredotado, com um muito alto QI.

Diz a história de família que ele já sabia todas as letras ainda andava de carrinho (as pessoas diziam, coitadinho, tão esperto e aleijadinho). Não se lembra de aprender a ler nem de aprender os números. a minha mãe, sua educadora infantil, achou que ele não podia continuar na infantil e, como era escola privada, passou-o aos 6 anos directamente para a 2ª classe. No ano seguinte, não pôde fazer o exame da 3ª classe, adiado para o próximo ano, em que de facto cumpriu a 4ª, mas não o exame. Admissão ao liceu, nesse ano, com 8 anos de idade, é que era totalmente impossível, embora fizesse a 100% todos os pontos de ensaio que então se usavam para treino do exame.

O ano seguinte, de repetição, teria sido um horror não fosse a compreensão do velho e sábio professor, que lhe permitia ler o que quisesse, fazer desenhos, em troca de, algumas vezes, ir lá para o fundo resolver problemas com os mais atrasados.

Quando é que teremos uma escola à medida das necessidades de cada criança, por baixo ou por cima, e não sujeita a burocracias unificadoras? Hoje talvez só deixassem Mozart começar a aprender piano aos 7 anos.

26 abril, 2008

Tenho pena

Um número significativo de blogues que tenho classificados nos meus favoritos como blogues de esquerda, alguns de amigos estimados, não assinala minimamente a passagem de mais um aniversário do 25 de Abril. Já não se lhes justifica? No entanto, não deixam nunca esquecido o "post" de Bom Natal.

25 abril, 2008

Só por difracção

Incluo-me, actualmente, naquele grupo etário que, de forma muito simpática vem sendo referido como (quasi) senior, juventude deficitário, ou "experiência"-beneficiado.
A minha memória que nunca foi "aquelas coisas" aposentou-se de vez!
O que melhor me recordo da noite de 24 para 25 de Abril de 1974, foi de estar, em casa, Carcavelos, a meio de uma noite muito nevoenta, sentada nervosa, aflitíssima e a roer unhas, no meu estirador a tentar concluir dentro de um apertado prazo da chegada da "zorra" de Espanha, que transportaria na manhã seguinte um Caterpillar D6 (um clássico) e uma moto-niveladora que me parecia enormíssima, ao local de meu projecto de mobilização mínima de terras para a Herdade da Comenda (Elvas) - já se trabalhava em optimização à época, com programação linear e suas variantes, calculada à pata, a régua de cálculo e a maquinetas Rowenta - e, não mais que de repente, diante de um imenso mar de contas por acertar e de poligonais por fechar - desatar a ouvir a Grândola Vila Morena - de que muito gostava e ainda gosto.
E depois, ... depois, silêncio.... Pensei que fosse mais um dos achaques das válvulas do meu cansado rádio... e não liguei, aliás nem tinha tempo para ligar ao que quer que fosse...
Grândola Vila Morena era "coisa" que não passava na rádio, à época, por um motivo qualquer que nunca percebi bem qual fosse - não achava então, e ainda hoje não acho que fosse, como dizem, "de intervenção", descrevia, isso sim, uma imagem do Alentejo, o daqueles tempos.
Lembra-me bem de ter pensado: "olha, olha... a nossa parvoíce está a passar-nos...".
.
Enganei-me! Não estava! Ainda não nos passou!
É um defeito nacional de sequenciação da cadeia ADN; se formos atrás desta hipótese, e corrigirmos o defeito, de certeza que ficaremos milionários.
Só às 4:00 da manhã, e ainda sobre o estirador, o meu rádio, sempre aceso, ressuscitou, e ouvi uma coisa esquisitíssima: Aqui, posto de comando do Movimento das Forças Armadas,....
Mais uma vez não liguei, e fui dormir, para arrancar para o Alentejo, 3 horas depois.
.
Hoje, porque justamente esse tempo, para mim, não é mais do que uma colectânea de vagas lembranças e muito contraditórias - que incluem g3, GNRs, proprietários de herdades apavorados, vacas leiteiras convertidas em churrascos, gente revoltada e pessoas felicíssimas - fui rever alguns factos de 1974, além dos 25% de analfabetos que éramos (o ano passado, 2007, éramos já só 12,5%):

Ano lectivo: 1974/75 (número de alunos)
Escola Primária - 941 765
Liceu * - 612 371
Técnico Profissional * - 123 044
Ensino Superior ** - 58 605
Total - 1 735 785
_________________
* Oficial e privado
** Universidade de Coimbra, Lisboa, Porto, Técnica de Lisboa
O orçamento global do Ministério da Educação em 1973 foi de 6 000 000 de Contos.
Penso que era Ministro Veiga Simão - um verdadeiro mãos largas.
.
"De facto, em Agosto de 1973 foram criadas as Universidades Nova de Lisboa, de Aveiro e do Minho e o Instituto Universitário de Évora, bem como os Institutos Politécnicos da Covilhã, Faro, Leiria, Setúbal, Tomar e Vila Real, e ainda os Institutos Politécnicos de Coimbra, Lisboa, Porto e Santarém, por reconversão e fusão dos institutos industriais e comerciais e escolas de regentes agrícolas existentes nessas cidades."
"Em Abril de 1974 estavam em pleno regime de instalação as Universidades Nova de Lisboa (Reitor Fraústo da Silva), Universidade do Minho (Reitor Lloyd Braga), Universidade de Aveiro (Reitor Vítor Gil), o Instituto Universitário de Évora (Reitor Ário de Azevedo) e ainda os Institutos Politécnicos da Covilhã, de Vila Real e de Faro e as Escolas Normais Superiores da Guarda, Lisboa e Ponta Delgada."
_________________
Éramos então todos muito mais novos.
E agora? Estamos nós todos melhor ou pior?
Penso que a resposta mais adequada será: Estamos diferentes e, felizmente, bem vivos!
:_________________
Referência: Elvira Brandão. 2004. A ESTRUTURA ORGÂNICA E FUNCIONAL DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO NACIONAL AQUANDO DA REVOLUÇÃO DE 25 DE ABRIL DE 1974

Sempre

23 abril, 2008

Hiperrealidades e emergências

Meus caros e raros leitores, estou com uma vaga impressão que a nossa educação superior tornou-se numa sucessão de acontecimentos criados pela imaginação - hiperrealidades ou de cópias imperfeitas de um mundo real (Jorge Luís Borges?).
Enquanto as criações de eventos e de sound-bites se circunscreveram ao território exclusivo dos profissionais de comunicação social, embora influenciando a nossa agenda de discussões e de pensamentos soltos, podíamos dormir descansadinhos, mesmo de papo para o ar...

O pior é que, ultimamente, para todas as áreas do conhecimento, quase todos os dias descem ao terreiro da nossa indústria noticiosa sobre a educação superior novos protagonistas não profissionais - os freelancers - isto é, pessoas sortidas com propensões mais para o lado de "criadores de casos" (sérios) do que para o lado dos "criadores de acontecimentos"...

Como ninguém do milieu politécnico quis, se perfilou ou pretendeu aproveitar a "boquinha das fundações privadas de direito público", tenho andado eu, para aqui, conversando com os meus zippers, a meditar e a averiguar (sem sucesso) esclarecimentos sobre aquela "novidade intermitente" dos Consórcios de Instituições Politécnicas ou das tais Universidades de Ciências Aplicadas, de que já vos falei num dos meus posts de há uns dias atrás. Lembram-se? Esse mesmo dos camaleões! Cogitei também sobre as causas ou a origem da ideia, bem como dos circuitos e cruzamentos de supostas papeladas (propostas? e contrapropostas?) de que se desconhecem não só os autores como ainda os conteúdos: será o MCTES?, o CCISP?, Presidentes de Politécnicos? Alguns Presidentes de Politécnicos? Presidente do CCISP? O CRUP? (este, só para confundir....)? Apenas uma triste lembrança minha? (por distracção?)...

Eis se não quando, ontem, me aterraram no colo, uma outra vez, as seguintes notícias, ambas do Jornal de Negócios, subscritas pelo Jornalista Germano Oliveira, datadas de 22 de Abril de 2008 mas, desta feita, com informações recolhidas ao senhor Presidente do CCISP, respectivamente, nas páginas 33 e 34 - separata Campus do mesmo Jornal de Negócios: 1ª - Consórcios entre politécnicos e universidades estão em risco; e 2ª - Salvo quatro politécnicos não há dimensão crítica.

O Senhor Presidente do CCISP, como se não bastasse o RJIES falar, muito de relance em Fundações sem as definir, e colocando instituições respeitáveis na dúvida sobre como as concretizar, vem agora juntar mais uma peça ao puzzle e gasolina à fogueira, desta feita, envolvendo outras 15 instituições não menos respeitáveis - num dos artigos que referi, uma entrevista, o Senhor Presidente do CCISP diz-nos que pensa ser útil organizar os politécnicos em Consórcios, por NUT II, mas diz também que quer?/precisa? que uma entidade (o MCTES?) lhe defina, por ainda mais uma outra legislação (Decreto-Lei?), o que é que isso vai ser ou poderá ser... No entanto, diz-nos que já sabe que os futuros consórcios precisam de "lideranças fortes, responsáveis e responsabilizáveis"...
A questão a meu ver, está ainda muito longe de lideranças, pois se não se sabe bem o que é, nem para que serve, qual é a preocupação de se saber o perfil de quem irá por lá "mandar"?

Mas afinal:

- de onde é ou de quem veio mais esta ideia de Consórcio? - não será este termo, apenas um nome de baptismo, de uma repetição de outras tentativas anteriores sem qualquer sucesso?

- e, de onde veio a ideia das Universidades de Ciências Aplicadas (será isto só um nome "bonitinho" que, em Portugal, se dará aos tais Consórcios) ou corresponde aquela mesmíssima e gasta ideia de instituições alemãs e finlandesas, que são exactamente "os nossos" politécnicos, mas com esse nome?

- O RJIES impede a organização de consórcios e associações de instituições? Se as instituições se quiserem organizar, por qualquer objectivo comum quem as impede e como? O Senhor Ministro? Com base em quê?

- Se a legislação sobre os Consórcios é perturbadora para a actual fase de definição estatutária dos politécnicos porque surge agora e de repente mais esta questão, e não foi ela levantada na época certa? - isto é, antes do RJIES ser aprovado.

- A troco do quê, vai o MCTES no Despacho (??) impedir uma associação entre Politécnicos e Universidades? Não vai, nem pode!

- O que é que, exactamente, foi obstáculo para racionalização de recursos, que agora parece resolúvel pelos consórcios? Por favor, não nos diga que nunca foi tentada? Sabe porquê? Porque foi, por muito demasiado tempo!

- A massa crítica que não existe deve-se apenas ao tamanho das instituições - número de alunos? ou de ausências efectivas e pensadas políticas institucionais de formação?

- Os ditos 4 grandes politécnicos têm todas eles massa crítica?

- Como é, exactamente, recomendada a arquitectura dessa massa crítica?

Perante estas questões e muitas outras, na verdade, penso que não seja o receio da perda de autonomia que faz as instituições politécnicas não aderirem bem à ideia, o que as afasta é não se perceber bem a ideia. Explique lá outra vez, por favor!

Engano-me muitas vezes mas, sobre esta questão destes consórcios, não tenho qualquer dúvida em identificar se se trata de uma ideia estratégica ou de um plano de emergência - útil para quê? ou para quem?

_______________

Sabem uma coisa? Penso que o artigo, de que lhes junto as referências em seguida, apesar de antigo, dá-nos belas pistas do que parece estar a acontecer com esta súbita criatividade e urgência insistente sobre consórcios dos politécnicos, pelas NUTII: JORNALISMO E ELITES DO PODER, Estrela Serrano, Escola Superior de Comunicação Social. UBI. 1999.
http://www.bocc.ubi.pt/pag/serrano-estrela-jornalismo-elites-poder.html

Ecologia universitária

Vasco Eiriz, no seu blogue Empreender, discute o nosso sistema de educação superior a luz do darwinismo. Impera a selecção natural, as organizações mais fracas soçobram perante as mais fortes. “Por exemplo, o ensino superior português carece duma abordagem ecológica que facilite a extinção das espécies menos capazes, o fortalecimento de algumas instituições ou até mesmo o surgimento de espécies mais robustas.”

A tese interessa-me, como biólogo. Mas, como biólogo, tenho a noção de que o darwinismo não se aplica imediatamente ao género humano. Adquirimos capacidades novas, não essencialmente biológicas, que provavelmente estarão sujeitas a formas específicas da evolução: a mente e a socialização.

A selecção faz-se hoje, para as sociedades humanas, principalmente pela dinâmica dos mercados. No entanto, com uma diferença essencial. No mundo vivo pré-humano, os seres vivos não controlam as forças da selecção natural e de evolução. Na sociedade humana, forças tão poderosas como o mercado podem ser relativamente reguladas e controladas. Por exemplo, e bem marcante, a política de regulação social do mercado ou o combate aos excessos da globalização.

Isto significa que há bens públicos que o Estado deve proteger da luta cega dos mercados. A educação é um deles. A oferta da educação superior tem de ser economicamente sustentável, é certo, mas no conjunto da rede nacional. Diga-se em abono do MCTES que nunca vi qualquer ameaça de extinção de universidades (o caso dos politécnicos, que não vou discutir, é mais complicado). Tem-se falado é de fusões ou reorganizações.

Numa visão estritamente darwinista, quatro universidades já teriam morrido: UTAD, Évora, Algarve, Açores. Muito bem, o MCTES está a estabelecer com elas contratos de saneamento financeiro. Pode todo o norte para além do Marão não ter uma universidade? Pior ainda, todo o sul do Tejo?

Esta é uma questão de decisão política, que me parece indiscutível. Diferente é o caso das bases técnicas em que se estabelecem os contratos de saneamento financeiro. São as universidades que não têm sustentabilidade segundo a actual fórmula de financiamento. Mas não será que se devia começar era por discutir a validade da fórmula, como já eu próprio discuti?

21 abril, 2008

Sempre actual

Para ir rodando citações como lemas na minha assinatura de mail, fui à minha página de lemas, de que já nem me lembrava. A última citação, mais longa do que uma máxima, merece que a recordemos sempre.
"Aqui em Portugal importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciência, estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete. A civilização custa-nos caríssima, com os direitos de alfândega; e é em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas."
É do Eça, claro, nos Maias.

18 abril, 2008

Nota gastronómica (LIV)

Coisas na moda

Toda a gente é confrontada hoje, ao ler uma ementa, com coisas que o cozinheiro presume que são de conhecimento geral. Não é verdade e até, muitas vezes, têm significados diferentes e surpreendentes, muitas vezes para lamentar. Quem é que ainda não leu "tártaro", "confitado", "crocante", "espuma"? O que é isto? Não posso valer-me de citações de livros, porque muitas vezes trazem técnicas inacessíveis ao equipamento vulgar de uma cozinha ou à experiência de um cozinheiro normal. Vou é tentar tirar algumas conclusões do que vou experimentando.

Tártaro. Na cozinha tradicional, tem dois significados precisos. Primeiro, um bife de carne crua moída. Depois, um molho derivado da maionese, com gema cozida, acrescentada de cebolinho e cebola picada e ervas. Também há quem acrescente nata azeda, o que dá a "tártaro" um significado de acidez. Em princípio, quando lerem na ementa tártaro de atum, de salmão, e muito mais, pensem numa preparação de ingrediente cru acidulado. Se não for isto, protestem.

Crocante. Deixo isto para a próxima, porque há muito tempo prometi falar de utensílios não indispensáveis e, a propósito do maçarico, direi alguma coisa sobre crocantes.

Confitado. É uma das mais velhas técnicas de conservar alimentos. São cozidos, a baixa temperatura, completamente imersos em gordura e depois conservados nessa gordura. "Confit de canard", coisa excelente. Desconfio de que seja sempre o que se faça nos restaurantes da moda. Num, já vi tomates confitados que eram apenas salteados em gordura com açúcar. A isto, correctamente, chame-se glaciados. Muita aldrabice há por aí.

Espuma. Tantas são as coisas diferentes que tenho comido com este nome. Julgo que devia sempre designar um molho suave, ligeiramente cremoso, e com consistência espumosa. Mas já o vi aplicar a pastas sólidas, desde que com base em natas! Afinal, não é grande novidade, em relação ao clássico "sabayon", uma base de ovos batidos com açúcar, temperada como se quer, normalmente com vinho e aquecida muito ligeiramente, ao lado do lume ou em banho maria, até pouco mais do que fervilhar.

Hoje direi apenas alguma coisa sobre as espumas, por já ter aqui publicado, numa imagem dos meus instrumentos, um sifão. É coisa antiga, inglesa colonial, para preparar a “soda water”. Creio que nunca teve muito uso entre nós, porque a moda sempre foi beber o uisque com água gasificada. Hoje ainda menos, quando impera mais o “on the rocks”. Para menos gente, eu incluído, apenas um golo de boa água de nascente, à temperatura ambiente, em menor quantidade do que a bebida.

Foi Adrià, se não estou em erro, quem recuperou este instrumento para preparar emulsões. Para quem se habituou à exigência técnica de um bom “sabayon”, é o ovo de Colombo. Misturar o que se quer, meter no sifão à temperatura que se quer, meter a pequena bilha de gás e esguichar, é tudo. Tudo o que se quer é exagero, é importante a consistência não espessa da mistura. Claro que isto permite uma muito maior variedade de preparações do que as espumas clássicas, condicionadas ao uso de ovos e, eventualmente, natas. Agora, com um sifão, é o que se quiser, aveludados ligeiros, sumos, natas e similares, pastas de queijo e ervas bem diluídas em vinho, moídos de fígados ou de cogumelos em nata com vinho do Porto, extractos de hortaliças, agridoces, o que vos vier à cabeça, desde que fique com consistência adequada, só um pouco cremosa.

16 abril, 2008

A agenda escondida

Há algum tempo, num debate sobre Bolonha em que participei, um dos intervenientes defendeu uma posição que, se não traio, é sensivelmente esta. “Bolonha não significa nenhuma mudança pedagógica, à luz de um novo paradigma. Este paradigma é simples cosmética política. Os governos da declaração da Sorbonne e depois todos os do processo de Bolonha servem-se do paradigma para executarem a sua agenda escondida, principalmente a diminuição do financiamento”.

Creio que há aqui alguns equívocos. Não sou tão ingénuo que recuse a ideia de uma agenda escondida. No entanto, não concordo com que essa agenda esteja a dominar o actual processo. Uma das virtudes do processo de Bolonha foi ter conseguido algum esbatimento dos poderes governamentais se comparados com outros processos intergovernamentais. Isto deve-se essencialmente ao papel desempenhado pelas universidades, por intermédio da European University Association, e das uniões de estudantes.

Repare-se que a EUA tem realizado sempre as suas próprias convenções antes das oficiais e que os resultados destas espelham em grande parte as posições prévias da EUA. O mesmo se pode dizer dos documentos da união de estudantes, ESIB, e dos bem conhecidos relatórios Trends, elaborados sempre em muito maior colaboração com as instituições do que com os governos. Não é de admirar que a burocracia de Bruxelas esteja sempre a tentar assenhorar-se do processo, o que nunca conseguiu.

Portanto, a meu ver, o novo paradigma tem-se vindo a afirmar não pelos governos mas apesar dos governos. Aliás, seria um contra-senso a tese que foi exposta, porque uma das ideias já assumidas sobre Bolonha é que, exactamente pelo novo paradigma e pelas exigências da sua concepção de pedagogia, Bolonha é cara. Por isto, não tem havido por esta Europa fora diminuição considerável do financiamento. Infelizmente, somos excepção.

15 abril, 2008

"Música para camaleões"

Alguém sabe, como é que os camaleões se protegem de predadores?
Se souberem, digam-me, está bem?
_____________
"Ensino superior.
Politécnicos passam a consórcios regionais.
Um projecto de despacho do Ministério do Ensino Superior indica que os actuais 15 institutos politécnicos públicos devem reorganizar-se através de consórcios regionais, "tendo como referência as NUT II, sem prejuízos de acertos específicos."
Sob este cabeçalho, no Jornal de Negócios, o jornalista Germano Oliveira (blogger do Blog de Campus) - benza-o Deus, porque poucos foram os informados de mais esta salganhada - descreve-nos que está em preparação, ao nível do MCTES, mais uma sinfonia desafinada, para a educação superior - na camada de baixo.
No entanto, desta vez, concordo, que 3 (enormíssimas confusões) sempre é um número inferior a 15, não sei é se esse mais reduzido número não acabará por ocupar ainda muito mais "mão de obra política", só para se desfazerem os fios de meadas ainda mais intrincadas - nestas condições, parece que os politécnicos "topam" mas, em troca, querem passar a Universidades de Ciências Aplicadas...
Perfilam-se mais 3 reitores?
Pelo sim, pelo não, meus senhores, abram alas no CRUP!
__________________
"I believe more in the scissors than I do in the pencil." Truman Capote

Se até uma plantação de repolhos pode ser cartesiana

Se esta plantação de repolhos fosse minha, concerteza pareceria sofrer de jet-lag terminal ou o layout de um desastre de TIR em noite de trovoada, por isso, sou mesmo a última pessoa do Universo, a poder sequer dar palpites, em matéria de organização.
Mas, como todo o espírito caótico, e talvez por isso mesmo, não resisto a expor-lhes o que penso. É assim:
Classificações são sempre artificiais mas, vão por mim - dão um jeitão - porque permitem abordagens sistemáticas e mais rigorosas objectivando alcançarem-se soluções práticas para situações de grande complexidade.
Na época da sua publicação (6 de Fevereiro de 2007), passou-me despercebida a classificação "Fields of Science and Technology (FOS)", que deu origem à "Classificação de Domínios Científicos e Tecnológicos 2007". O GPEARI, felizmente, também participou nesta classificação, e recomenda, modestamente, "a sua utilização em todos os procedimentos passíveis de aproveitamento para fim estatístico".
Se todos tivéssemos sabido disto, se calhar, não teria sido mau termos adoptado, esta classificação para organização da Ciência Tecnologia e Ensino Superior em Portugal, nomeadamente, no que diz respeito aos enquadramentos organizacionais das instituições de educação superior.
A meu ver, tínhamos poupado muito tempo, aborrecimentos e, sobretudo, futuramente, gastos financeiros desnecessários, se todas as instituições de educação superior se organizassem não em faculdades, departamentos ou escolas, mas sim numa única rede, com maior ou menor ramificação, de áreas científicas e tecnológicas, sujeitas a critérios tão restritivos quanto se quisesse - seria apenas uma forma de baralhar e dar de novo, mas uma nova órdem de raíz permite contornar as permanentes e expectáveis explosões de "egos" demasiadamente expansivos - posso explicar o meu pensamento: Uma universidade ou um instituto politécnico deveria, obrigatoriamente, organizar-se por, no máximo, 6 (seis) grandes áreas científicas (Universidades) e tecnológicas (Politécnicos): 1. Ciências exactas e naturais; 2. Ciências da engenharia e tecnologias; 3. Ciências médicas e da saúde; 4. Ciências agrárias; 5. Ciências sociais e 6. Humanidades.

14 abril, 2008

António Barreto, sobre Angola

António Barreto (AB) é um sociólogo respeitado mas, na sua última crónica do Público, sobre Angola, mostra os perigos da apreciação de acontecimentos ainda muito recentes, ainda por cima com base num único documento, não acreditado, as memórias de um preso político. Não sendo historiador, AB não dispõe de instrumentos para avaliação das fontes, nomeadamente a análise do estilo peculiar de escrita de qualquer pessoa.

Começo por uma afirmação de AB: “Escritores e intelectuais que se passeiam no Chiado e recebem prémios de consagração pelos seus contributos para a cultura lusófona.” Não me parece ousado adivinhar que AB está a falar, entre outros, de Pepetela, prémio Camões. É uma enorme injustiça. Primeiro, Pepetela, nos cargos que ocupa e de que vive, em nada depende do governo angolano. Depois, mais importante, Pepetela não foge de Portugal para ir completar o seu curso na Suíça, vai é para a chana, de arma na mão, lutar como guerrilheiro do MPLA. Mais importante ainda, Pepetela mostra abertamente no Predadores o que é para ele a desilusão da sua vida dedicada (já o tinha feito na Geração da Utopia) e escreve corajosamente sobre o que vai fazendo falta num escritor português: a corrupção, a promiscuidade entre a política e os negócios.

Tenho por dever também defender outra pessoa atacada por AB e que, por razões de saúde, já não o pode fazer, o almirante Rosa Coutinho, pessoa que conheço muito bem e por quem tenho estima, embora discordando de muitas das suas posições políticas. Escreve AB:
“O livro revela os actos do Alto-Comissário Almirante Rosa Coutinho, o modo como serviu o MPLA, tudo fez para derrotar os outros movimentos e se aliou explicitamente ao PCP, à União Soviética e a Cuba. Terá sido mesmo um dos autores dos planos de intervenção, em Angola, de dezenas de milhares de militares cubanos e de quantidades imensas de armamento soviético. O livro publica, em fac simile, uma carta do Alto-Comissário (em papel timbrado do antigo gabinete do Governador-geral) dirigida, em Dezembro de 1974, ao então Presidente do MPLA, Agostinho Neto, futuro presidente da República. Diz ele: "Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela".

Rosa Coutinho é tudo menos insensato e irreflectido, como bem demonstrado pela sua atitude no 25 de Novembro. É um homem de grande sentido humano, totalmente incapaz de pensar tais barbaridades. E quem alguma vez conversou com ele, nem que apenas durante alguns minutos, conhece muito bem o seu estilo de coloquialidade engraçada e viva, totalmente oposto a este cliché.

É verdade que Rosa Coutinho apoiou o MPLA, parece que ninguém contesta. Mas por duas razões. Por estar convencido de que era o único movimento com estruturação, pensamento político e quadros que garantia uma independência de Angola que não fosse um drama para o povo angolano e para os portugueses angolanos. Em segundo lugar, porque, ao contrário do que se pensa, na iminência de uma guerra civil, o MPLA estava à míngua de armas, sem apoio da URSS, ao contrário do apoio americano à FNLA e sul-africano à Unita. Quanto aos cubanos, a coisa é delirante. Na altura da intervenção, era alto comissário Leonel Cardoso e Rosa Coutinho já tinha regressado a Portugal há muito tempo.

13 abril, 2008

Também pode ser um cisne

Hoje, ao saltitar de blog em blog, de entre os que se dedicam à educação superior, fiquei a saber que - pelo Comunicado do Conselho de Ministros de 10 de Abril de 2008 (1), ponto 3 - se irá publicar mais um Decreto-Lei que procede (só agora) à oitava alteração ao Decreto-Lei n.º 296-A/98, de 25 de Setembro, que fixa o regime de acesso e ingresso no ensino superior.
Claro que, ainda não temos o texto do Decreto-Lei, propriamente dito, mas -- se, por um lado, estamos habituados, que há apenas um interesse relativo da tutela para resolver, de forma eficaz, os problemas reais, antes porém, parecem apostados em garimpar novas encrencas e, por outro lado, atendendo às razões evocadas pelo Senhor Ministro, transcritas pelo jornalista Bruno Nunes, do Jornal Público, em 11 de Abril na Edição Impressa, não serem convincentes -- esse tal Decreto-Lei, ainda na forja, não mereceu expectativas gerais favoráveis.
A mim basta-me que esse Decreto venha a incluir o conceito de estudante a tempo parcial, e a suprimir a restrição à inscrição simultânea em dois ciclos de estudos superiores, para facilitar a vida futura de muitos estudantes. Estudantes que, por exemplo, deslizem as conclusões das suas formações iniciais, em um semestre, e que esta 8ª alteração - ao permitir-lhes matricular-se no mesmo ano lectivo, na formação seguinte - lhes vem fazer ganhar meio ano de vida profissional.
Enfim, pode ser que este «patito legislativo», por enquanto, feioso, possa ainda tornar-se num cisne. Estou a fazer figas, até com os dedos dos pés, para que assim seja!
____________
(1)
http://www.portugal.gov.pt/Portal/Print.aspx?guid=%7B267429D9-373E-40DC-B25D-CFDF7E323803%7D

11 abril, 2008

Ai, as mães...

Não sou muito de usar o truque das remissões para outros blogues, sítios ou YouTube quando falta a inspiração. Mas desta vez vale a pena ouvir esta divertida versão semicantada da abertura do Guilherme Tell. Nunca nenhum de nós ouviu a nossa mãe a dizer aquilo?

10 abril, 2008

Gestão de "fitness", nutricionistas financeiros precisam-se!

O gestor do blog 'Universidade Alternativa' (JCR) sob este título: Desenfastiando: 'what else'? - v2 , recorda-nos, hoje, de forma muito interessante, um 'post' super-bem imaginado do emigrado Alexandre Sousa (blog Co-Labor) e dá-nos conta do estado geral das nossas preocupações com aquela velhíssima questão - "gatos gordos ou magros e cercas de malha estreita" - aplicada à (ausência absoluta) de gestão do Ensino Superior Português.
O 'post' de JCR enfatiza a ausência de uma necessária e urgente política de gestão de "fitness" das instituições, de que os responsáveis máximos - Ministério e Organizações de Gestão de Topo do Ensino Superior Público Português - teimam em manter-se à margem.
Os dados do problema parecem ser simples - quer nos agrade ou não, o 'maioral' - estado (não o governo) Português - não tem possibilidades de manter as taxas de arraçoamento financeiro, e isto só pode ter uma consequência possível - a racionalização estratégica - estabelecer um prazo e uma ideia perfeitamente consensual e clara do 'fitness' a atingir, e fixar e uma 'Engenharia de Ementas' a condizer, mas maximizando a eficácia e minimizando prejuizos.
Não o fizémos nunca, até agora, pior, parece que nem o queremos fazer, e enquanto isso:
As vacas gordas e balofas pretendem, continuar 'Ad Eternum', a acumular enxúdias e, ao que me parece, são totalmente correspondidas, enquanto que as vacas 'esbeltas' (já anoréxicas) são inexoravelmente conduzidas ao magarefe, transformando-se em assentos (aliás, pouco confortáveis) das primeiras, sem se perceberem bem as últimas intenções, que não sejam estas mesmas.

09 abril, 2008

Religião em segredo

O Público já de há alguns dias trazia uma notícia que pode ter passado como coisa menor mas que me fez pensar. Obama foi provavelmente penalizado pelas declarações sempre “vivas” do pastor principal da sua igreja. Mas Hillary Clinton, mais discreta, também tem que se lhe diga em matéria religiosa.

Não é que eu ache que as opções religiosas de cada um interessem para a campanha eleitoral, embora eu não votasse num candidato de uma seita esotérica irracionalista, mas isto é o meu direito de votar como quiser.

O caso Hillary é diferente. Segundo a notícia, desde estudante que pertence a um “grupo de oração”, discreto se não secreto, “informalmente ligado a uma estrutura fechada que pretende ganhar o poder para Deus, segundo a descrição de um artigo do ano passado da revista Mother Jones, agora relembrado por comentadores como Barbara Ehrenreich, na revista The Nation.” Até está organizado por células, havendo uma no Congresso a que, supostamente, Hillary pertence.

“Caracterizada pelo seu secretismo, a associação tem apenas um evento público, um pequeno-almoço de oração. Segundo a Mother Jones, "a Família" acredita que a elite deve obter o poder para Deus, que o usará para os seus propósitos.”

E eu a pensar que Opus Dei era coisa exclusivamente católica! É bom é que Hillary estude um pouco essa experiência, para evitar maus serviços a Deus como aconteceu no BCP.

07 abril, 2008

Internos e externos nas universidades

Não sou membro de nenhuma assembleia estatutária (AE) de universidades e vicissitudes de saúde nos últimos tempos têm-me impedido de seguir o processo. Não fosse só isto, ainda mais fica prejudicada esta nota por não dispor de dados objectivos dignos de análise. Não gosto de falar baseado em impressões subjectivas, mas às vezes é importante, como provocação ou como alerta.

Um amigo meu é membro da assembleia estatutária da sua universidade e escreveu-me preocupado com o que se estava a passar. Começo por lembrar que a AE inclui cinco membros externos e 12 professores, eleitos por sistema proporcional, por listas, para além de estudantes. Este sistema proporcional está, ao que sei, a constituir um factor perturbador, porque em muitos casos as listas eram muito conotadas (por exemplo, pró-reitor ou anti-reitor) e esta oposição está a prolongar-se para os trabalhos estatutários, prejudicando-os. 

Ao mesmo tempo, diz-me este amigo saber que cada vez mais os externos estão a abandonar as AE. Procurei confirmação, que, no essencial, é real. Não se trata tanto de abandonos formais, com demissão, mas de cada vez maior demissão de facto, por desinteresse, por invocação de falta de disponibilidade mas, segundo juízos que considero agudos, em boa parte para evitar compromissos com as guerrinhas entre os membros internos. Isto é muito mau prenúncio para o modelo de governação partilhada agora legislado e que eu claramente defendo.

No entanto, com preocupações. Todavia, não coincidentes com as dos que têm levantado objecções à participação dos externos, muito pelo contrário. Há meses, José Ferreira Gomes e eu fizemos uma ronda de conferências na Universidade dos Açores. Um alerta que ambos lançámos era premonitório: “Cuidado é com os internos!”

Nota - Nos EUA, nos “boards” e na participação de externos, têm grande peso os “alumni”, os antigos alunos, numa cultura em que se fica para toda a vida ligado à “alma mater”. Não sei se alguma universidade portuguesa teve isto significativamente em conta. Alguém me fornece dados informativos?

05 abril, 2008

Terrorismo ou luta libertadora?

Vem hoje no Público um artigo do seu colunista habitual, António Vilarigues, sobre quem escrevi há dias uma nota. Com a sua experiência e conhecimentos de Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação, como se intitula, discorre, entre outras coisas, sobre o terrorismo, “que não se identifica com a luta libertadora dos povos. Mesmo quando esta, em em situações concretas, assume justa, necessária e corajosa expressão armada”. Dá o exemplo dos movimentos de libertação das colónias. Inteiramente de acordo.

Mas, fora isso, quais são as tais condições concretas? É terrorismo ou é luta libertadora que as FARC tenham reféns presos anos e anos? É terrorismo ou é luta libertadora que um palestiniano com um cinto de explosivos faça ir pelos ares dezenas de civis numa praça de Jerusalém (a intifada sim, foi outra coisa, contra militares)? É terrorismo ou luta libertadora o assassinato de autarcas e outros civis pela ETA?

Como disse na nota a que me referi, considero que Vilarigues é um divulgador não oficial das mais ortodoxas posições do PCP. Será erro meu nunca ter visto do PCP uma resposta às perguntas que fiz? E já agora, recuando nos tempos e porque para o PCP há sempre dois pesos e duas medidas, qual foi a sua atitude em relação às FP25? Lembram-se?

04 abril, 2008

À espera de um outro aquecimento global

Estamos ou não no bom caminho?

Mas, enquanto os meus caros e raros leitores - tal como a maioria dos nacionais residentes - esperam pelo verão e aguardam o fim da sesta e dos sonhos, dos responsáveis pela Educação Superior em Portugal, podem ir lendo este copyrigthed material, generosa, desinteressada e gentilmente disponibilizado, pelo ISCTE (a public university based in Lisbon):

http://oecd-conference-teks.iscte.pt/OECD_vol1.pdf
http://oecd-conference-teks.iscte.pt/OECD_vol2.pdf
http://oecd-conference-teks.iscte.pt/OECD_vol3.pdf

Vá lá...Boas leituras, ... mas, depois, não sejam mauzinhos,...contem-me.

03 abril, 2008

Ensino profissionalizante

Referi-me há dias a um artigo do público sobre Bolonha. Incluía uma coisa importante mas que, infelizmente, ainda não está na agenda de Bolonha, o ensino terciário pré-grau, curto, essencialmente profissionalizante. Entre nós, é representado principalmente pelos CET, os cursos de especialização tecnológica.

Este tipo de ensino é um pilar fundamental do sistema educativo americano, o dos cursos dos “junior” ou “community colleges”, de 2 anos, excepcionalmente 3, orientados para a inserção imediata no mercado de trabalho mas com uma diversidade de percursos que permite a muitos alunos que o completam prosseguirem estudos universitários.

O Reino Unido foi um triste exemplo da importância deste tipo e nível de educação. Quando a Sra. Thatcher resolveu transformar os institutos politécnicos em universidades, criou-se um vazio. Os cursos aumentaram de duração, reduziu-se a procura, embora moderadamente, e, pela tendência para a deriva académica, muitos institutos passaram a imitar universidades, perdendo-se a sua vocação directamente profissionalizante. Anos depois, o mercado de trabalho passou a reclamar contra a falta dessa mão de obra com grande “know how”, de sentido prático, e os actuais “colleges for further education”, com os seus “foundation degrees”, têm hoje grande sucesso. Os seus estudantes já são 18% do escalão etário. Mesmo assim, ainda longe do recordista, o Japão, com 27%.

Na média dos países da OCDE, este ensino terciário profissionalizante abrande cerca de 9% dos jovens do respectivo escalão etário. É certo que ainda está longe dos 36% do ensino superior tradicional. Mas isto não justifica a satisfação mostrada pelo ministro, segundo o tal artigo do Público, por, em Dezembro de 2007, já estarem inscritos 4000 alunos em CET. Uma gota de água. Ao menos, o ministro diz uma coisa que me agrada, que a maioria dos CET estão a ser oferecidos por institutos politécnicos. Já muitas vezes escrevi que entendo que é essa uma das suas janelas de oportunidade e que seria uma aberração (coisas do financiamento) vermos as universidades a oferecer CET.

(OCDE, Education at a Glance 2007)

02 abril, 2008

spearfishing interesting news

Meus caros e raros leitores, como ando para aqui noutros afazeres, só tive tempo de pescar.
Deixo o amanhar do peixe convosco.
Trata-se de um evento previsto, com pompa e circunstância, para dia 4 de Abril de 2008: "O Ensino Superior na Sociedade do Conhecimento" - OCDE divulga em Lisboa Estudo Comparativo que analisa as Reformas realizadas em Portugal nos últimos dois anos.

Fui "pescar" um "Overview do Report", à origem, aonde estava pendurado desde ante-ontem.
Aqui está ele, se tiverem um tempinho sobrando, façam uma leitura de ante-estreia e, depois, contem-me... 'Tá bem?
"The Report Tertiary Education for the Knowledge Society rovides a thorough international investigation of tertiary education policy across its many facets - governance, funding, quality assurance, equity, research and innovation, academic career, links to the labour market and internationalisation. Its specific concern is policies that ensure that capabilities of tertiary education contribute to countries’ economic and social objectives. The report draws on the results of a major OECD review of tertiary education policy - the OECD Thematic Review of Tertiary Education - conducted over the 2004-08 period in collaboration with 24 countries around the world."
....