Há algum tempo, num debate sobre Bolonha em que participei, um dos intervenientes defendeu uma posição que, se não traio, é sensivelmente esta. “Bolonha não significa nenhuma mudança pedagógica, à luz de um novo paradigma. Este paradigma é simples cosmética política. Os governos da declaração da Sorbonne e depois todos os do processo de Bolonha servem-se do paradigma para executarem a sua agenda escondida, principalmente a diminuição do financiamento”.
Creio que há aqui alguns equívocos. Não sou tão ingénuo que recuse a ideia de uma agenda escondida. No entanto, não concordo com que essa agenda esteja a dominar o actual processo. Uma das virtudes do processo de Bolonha foi ter conseguido algum esbatimento dos poderes governamentais se comparados com outros processos intergovernamentais. Isto deve-se essencialmente ao papel desempenhado pelas universidades, por intermédio da European University Association, e das uniões de estudantes.
Repare-se que a EUA tem realizado sempre as suas próprias convenções antes das oficiais e que os resultados destas espelham em grande parte as posições prévias da EUA. O mesmo se pode dizer dos documentos da união de estudantes, ESIB, e dos bem conhecidos relatórios Trends, elaborados sempre em muito maior colaboração com as instituições do que com os governos. Não é de admirar que a burocracia de Bruxelas esteja sempre a tentar assenhorar-se do processo, o que nunca conseguiu.
Portanto, a meu ver, o novo paradigma tem-se vindo a afirmar não pelos governos mas apesar dos governos. Aliás, seria um contra-senso a tese que foi exposta, porque uma das ideias já assumidas sobre Bolonha é que, exactamente pelo novo paradigma e pelas exigências da sua concepção de pedagogia, Bolonha é cara. Por isto, não tem havido por esta Europa fora diminuição considerável do financiamento. Infelizmente, somos excepção.
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