Começo por uma afirmação de AB: “Escritores e intelectuais que se passeiam no Chiado e recebem prémios de consagração pelos seus contributos para a cultura lusófona.” Não me parece ousado adivinhar que AB está a falar, entre outros, de Pepetela, prémio Camões. É uma enorme injustiça. Primeiro, Pepetela, nos cargos que ocupa e de que vive, em nada depende do governo angolano. Depois, mais importante, Pepetela não foge de Portugal para ir completar o seu curso na Suíça, vai é para a chana, de arma na mão, lutar como guerrilheiro do MPLA. Mais importante ainda, Pepetela mostra abertamente no Predadores o que é para ele a desilusão da sua vida dedicada (já o tinha feito na Geração da Utopia) e escreve corajosamente sobre o que vai fazendo falta num escritor português: a corrupção, a promiscuidade entre a política e os negócios.
Tenho por dever também defender outra pessoa atacada por AB e que, por razões de saúde, já não o pode fazer, o almirante Rosa Coutinho, pessoa que conheço muito bem e por quem tenho estima, embora discordando de muitas das suas posições políticas. Escreve AB:
“O livro revela os actos do Alto-Comissário Almirante Rosa Coutinho, o modo como serviu o MPLA, tudo fez para derrotar os outros movimentos e se aliou explicitamente ao PCP, à União Soviética e a Cuba. Terá sido mesmo um dos autores dos planos de intervenção, em Angola, de dezenas de milhares de militares cubanos e de quantidades imensas de armamento soviético. O livro publica, em fac simile, uma carta do Alto-Comissário (em papel timbrado do antigo gabinete do Governador-geral) dirigida, em Dezembro de 1974, ao então Presidente do MPLA, Agostinho Neto, futuro presidente da República. Diz ele: "Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela".
Rosa Coutinho é tudo menos insensato e irreflectido, como bem demonstrado pela sua atitude no 25 de Novembro. É um homem de grande sentido humano, totalmente incapaz de pensar tais barbaridades. E quem alguma vez conversou com ele, nem que apenas durante alguns minutos, conhece muito bem o seu estilo de coloquialidade engraçada e viva, totalmente oposto a este cliché.
É verdade que Rosa Coutinho apoiou o MPLA, parece que ninguém contesta. Mas por duas razões. Por estar convencido de que era o único movimento com estruturação, pensamento político e quadros que garantia uma independência de Angola que não fosse um drama para o povo angolano e para os portugueses angolanos. Em segundo lugar, porque, ao contrário do que se pensa, na iminência de uma guerra civil, o MPLA estava à míngua de armas, sem apoio da URSS, ao contrário do apoio americano à FNLA e sul-africano à Unita. Quanto aos cubanos, a coisa é delirante. Na altura da intervenção, era alto comissário Leonel Cardoso e Rosa Coutinho já tinha regressado a Portugal há muito tempo.
2 comentários:
... Nomeadamente a crítica de fonte e o cruzamento de informação (que, aliás, é algo de básico...). Bem, mas pelo menos não assina como historiador, como faz um colega dele colunista do mesmo jornal.
O senhor António Barreto vive ressabiado com tudo e todos, desde os anos em que praticou as mais miseráveis barbaridades no Alentejo, confundindo PCP com povo explorado e enxovalhado. Também tem a estranha mania de que é historiador e sê-lo-á (?), ao mesmo nível da sua Filomena que, ainda há dias, numa croniqueta de meia-tigela, completamente despida de qualquer interesse, afirmava que o nosso primeiro rei tinha assassinado a própria mãe. Coitada da dona filomena, coitado do dão barreto.
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