31 julho, 2007

Votos

Não sei se os leitores do Público já reparam em que Eduardo Prado Coelho deixou novamente de escrever. Ocorre-me que possa ser devido aos seus graves problemas de saúde. Como devem saber, muitas vezes aqui tenho criticado EPC, que não é nada da minha estimação, como opinador. No entanto, sou sempre solidário com o sofrimento alheio. Por alguma coisa escolhi tirar medicina. Por isto, os meus melhores votos ao EPC.

P. S., 2.8.2007 - EPC retomou oje a escrita. bem bom que os meus receios parecem não se justificar.

Bolonha à portuguesa

Uma das perversões que têm sujado o processo de Bolonha à portuguesa é a dos mestrados integrados. Já escrevi muito sobre isto. Lembro aos leitores que o esquema de Bolonha é o de dois ciclos, licenciatura e depois mestrado, na maior parte dos casos licenciatura de três anos e mestrado de dois.

O decreto 74/2006 permite, e bem, uma outra figura, a do mestrado integrado, um único ciclo de estudos, longo. Aplica-se, como diz o decreto, a algumas formações objecto de directivas europeias: medicina, arquitectura, veterinária, farmácia. Até aqui muito bem, não fosse a porta aberta do decreto a outras formações em que tal seja prática comum europeia. Nunca consegui perceber quais são.

Isto serviu a calhar para as engenharias, cujo lóbi, como é bem sabido, influencia hoje, politicamente, a educação superior. Foi embuste, porque não corresponde nada à prática europeia. Agora, surpreendo-me por ver que o curso de psicologia da U. Minho também é mestrado integrado. Perdi algum tempo a consultar sites de dezenas de universidades europeias e em nenhum encontrei um curso de psicologia que se afastasse do esquema dos dois ciclos.

Espere-se por Direito, porque me parece que tudo isto tem a ver com o poder das ordens. Estou convencido de que, em Portugal, as ordens estão a ser um importante factor de perversão de Bolonha. As ordens estão a precisar de serem postas na ordem.

Pior a ementa do que o soneto

Volto às asneiras do Públiuco. Ler a crónica dominical do provedor tem alguma coisa de incongruente, porque obriga à pergunta: "mas porque é que eu compro este jornal?" Aqui vai um excerto da última.
"No PÚBLICO de 1 de Julho na página 40, Natália Faria escreve que Humberto Delgado sucumbiu às mãos da PIDE em 1958, o que não corresponde à verdade. Isso sucedeu já em Fevereiro de 1965.
Convenhamos que o jornal precisa de contratar revisores", escreve bepiol@...

Solicitei um esclarecimento à jornalista.
"Concordo com o reparo, obviamente. No texto em causa, confundi duas datas importantes na vida de Humberto Delgado: por um lado, a da sua candidatura à Presidência da República, em 1958, marcada pela célebre frase "Obviamente, demito-o" (Salazar, ndp) e, por outro, a do seu assassinato em Fevereiro de 1965, às mãos da PIDE, nos arredores de Valença. Era a esta data que me referia quando procurava situar a greve na Efanor. Pelo erro, as minhas desculpas", respondeu Natália Faria.
É necessário acrescentar que Humberto Delgado não foi abatido "nos arredores de Valença", mas junto à Ribeira de Olivença, em Los Almerines (Espanha). É um detalhe...

Tudo confusões desculpáveis: candidatura e assassinato, Valença e Olivença, enfim, coisas banais para uma provavelmente licenciada em comunicação social. O que estas coisas provam é que uma boa parte dos nossos jornalistas erra, mas, pior, quando se lhes é chamada a atenção, nem pensam em ir estudar, documentar-se, para não voltarem a dizer asneiras. Insistem e insistem.

E para quê a licenciatura em comunicação social? Para se saber a teoria da comunicação, em detrimento da cultura, da informação, da capacidade de a obter, do domínio da língua?

Respigo uma informação da Universidade de Chicago. Dos seus diplomados, os que ficaram a trabalhar na comunicação social, são 29% dos diplomados em humanidades, 5% dos diplomados em história ou sociologia, 3% dos diplomados em economia, 2% dos diplomados em ciências. Comunicação social, zero, até porque nem há este curso na universidade (só a nível de mestrado).

30 julho, 2007

As asneiras do Público

Cada vez mais me parece que o Público é escrito com os pés. Não há dia sem asneira, umas mais importantes, outras menos. Nas menos importantes, quase uma picuinha, noto hoje que, na inconcebível página Pessoas, se escreve que, na exposição do casamento de Isabel II, se exibe o uniforme que o noivo usou, de almirante da Royal Navy. Eu não exijo que o jornalista saiba de cor que, nessa altura, Philip Mountbatten era um modesto 1º tenente e que foi este o uniforme que usou. Basta ir à net ver as fotografias. Em vez disto, porquê inventar, só porque talvez se tenha pensado, parolamente, que o marido da rainha (que ainda nem era rainha) tinha de ser almirante.

Noutra notícia, sobre a esclerose múltipla (aliás tradicionalmente designada, na medicina portuguesa, como esclerose em placas e não esclerose múltipla, tradução literal do inglês) escreve-se, por duas vezes que Zeca Afonso foi vítima desta doença. Não é verdade, foi de esclerose lateral amiotrófica, uma doença completamente diferente.

É claro que os jornalistas não podem ser enciclopédicos. Mas o que se lhes pode exigir é que, humanamente, tenham dúvidas e achem que se podem enganar, o que justifica irem confirmar uma informação um pouco menos corrente.

Nota gastronómica (XVIII)

Hipermercados

Discutir aqui uma transacção de hipermercados pode parecer deslocado. Creio que não. No caso Carrefour-Continente, estou numa posição particular. Vivi vários anos no Estoril e fornecia-me no Cascais Shopping. Vim para Oeiras e mudei para o Carrefour. A minha dificuldade é não poder comparar ambos, no mesmo momento, mas posso comparar uma tendência comum.

A tendência, infelizmente, foi a da degradação, em ambos os casos. No Continente, comprava perdiz, veado, faisão, é claro que congelados e de qualidade média, mas bem bom. Depois, acabou-se. No Carrefour, eram os bons queijos, as terrinas, os vinhos franceses, algumas especialidades de requinte. Depois, acabou-se.

Com isto, não estou à espera de que a compra do Carrefour, aqui na minha vizinhança, me dê algum proveito. Pergunto-me também qual o futuro destas grandes superfícies. Cada vez as vejo mais vazias, a não ser o Lidl, por razões óbvias. São despersonalizadas e não rivalizam com o outro supermercado a que vou mais frequentemente, um mais acolhedor Pingo Doce, a abarrotar de clientes.

Ainda as nossas bolandas de Bolonha

Afirmo, talvez, com demasiada frequência, que jamais me repito....
Hoje, por exemplo, não só me vou repetir, como ainda vou repetir o que toda a gente sabe, mas que a curtíssimo prazo irá, certamente, assumir muita importância, em muitas instituições de educação superior - o enquadramento legal futuro de todas as suas formações pré Bolonha - tendo, sobretudo, em conta o facto da formação dominante que sobreviveu entre nós, ter uma duração de três anos (equivalente, em tempo, à do ex bacharelato), mas que se designará com o elegante nome de uma formação em extinção entre nós - a Licenciatura (4 e mais anos).

Refiro-me, em especial, à necessária compreensão exacta, pelo mercado de trabalho, quanto ao entendimento que deve perdurar, sobre "o valor" formal (facial) das formações de formandos de Bacharelatos e de Licenciados em Licenciaturas bi-etápicas, do Subsistema politécnico e a dos Licenciados de Licenciaturas de longa duração (4, 5 e mais anos) das Universidades, bem como as dos seus EX cursos, a nível de mestrado, e sublinho o ex, porque há sempre muitas pessoas "distraídas", em benefício próprio ou das "suas" instituições.

Convém, a este respeito, nunca esquecermos que - com agendas escondidas ou não, quer este processo "Hide and Seek" de Bolonha tenha proveniência nacional, europeia ou ocidental - um dos mobiles, mais frequentemente, esgrimido como fundamento, para a decisão nacional sobre a necessidade desta nossa específica "reforma da 'ensino' superior, em curso" seria, exactamente, a promoção de transparência das informações para todos os intervenientes, claro, para não se mencionar a facilitação da mobilidade.

Pelas razões que mencionei, não deixa de ser interessante que, textualmente, surja numa das páginas da Direcção Geral de Ensino Superior, destinada ao esclarecimento sobre os procedimentos a seguir, para acreditação das formações anteriores ao processo de Bolonha, que esta se circunscreva ao efeito de obtenção de novos graus: "Formações anteriores ao Processo de Bolonha são creditadas para a obtenção de novos graus. ESCLARECIMENTO".

Não me parece que esse esclarecimento esclareça grande coisa, até porque sempre que se fala deste tema, a maioria das pessoas discorda que alguma vez possa ou sequer deva ser dada acreditação automática de um bacharelato em cessação a uma licenciatura em iniciação, embora o nosso processo de reconversão, depois de iniciado, todo ele deva ocorrer num ano ou, no máximo, em dois - o que quer dizer que a maior parte das formações de três anos, antes e pós Bolonha seja, globalmente, muito semelhante, a menos que previamente, as formações leccionadas fossem de muito deficiente qualidade ou para inglês ver, e que as correcções agora aduzidas, pudessem ser também de introdução e interiorização quase instantâneas.

Pergunto, então, e quem não quiser prosseguir aquisição formal de conhecimentos em estabelecimentos de ensino nacional? Se esse alguém tiver, globalmente, uma formação semelhante não se lhe devem atestar as actuais competências tomando como referências as actuais formações, sobretudo se estas forem ou tiverem sido apreendidas e avaliadas em Resultados de Aprendizagem, sem que seja necessária uma inscrição numa formação? Esta situação, entre nós, é tanto mais caricata e embaraçosa, quanto o facto de um formando de um qualquer curso superior, pré ou pós Bolonha desde que o seu grau não seja Português, poder solicitar equivalência ou reconhecimento da sua formação, em qualquer estabelecimento de ensino superior nacional, em que se leccionem formações idênticas ou afins.

Que o reconhecimento ou equivalência de formações não seja automático, todos concordamos, mas que a solicitação dessa apreciação de equivalência seja interdita a formações nacionais, e que, por isso, os formandos nacionais se vejam obrigados a inscrever-se nas novas formações, através de um intrincado sistema de reingresso, sem limite de vagas, para verem a sua formação anterior acreditada, ou não, face às formações actuais é, a meu ver, no mínimo, um escândalo.
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Referências:
- http://www.dges.mctes.pt/DGES/Destaques/bolonha.htm
- http://www.dges.mctes.pt/DGES/Destaques/Mudan%C3%A7a+de+curso.htm
- Portaria_nº401/2007_Reingresso e mudança de curso
- "Em Portugal, a matéria respeitante à equivalência /reconhecimento de habilitações estrangeiras de nível superior às correspondentes habilitações portuguesas está regulamentada pelo Decreto-Lei nº 283/83, de 21 de Junho e pela Portaria nº 1071/83, de 29 de Dezembro".

Malvadeza

Dizem as boas maneiras que não se deve falar mal dos mortos, mas que se lixe. Um dos últimos partidos para a longa jornada, neste caso de fim bem incerto, foi António Carlos Magalhães. Sempre ouvi falar muito dele aos meus amigos brasileiros. Lembram-se da Gabriela e dos coronéis? Eles ainda existiam recentemente, bem personificados em ACM, cacique politico do Estado da Baía (ou Bahia, que tem mais sabor).

O homem tinha tanto poder que até conseguiu dar ao aeroporto de Salvador o nome de um seu obscuro filho. Quando estive em Salvador, verifiquei que, como acontece habitualmente nos populismos, ele suscitava reacções extremadas de amor e ódio.

Mas o que sempre me fez rir foi o humor brasileiro, que o cognomeou de Toninho Malvadeza. E em Portugal, quantos mereceriam o nome? Zeca Malvadeza, Baixote Malvadeza, Paulinho Malvadeza, etc.

Nota, ainda sobre o humor político brasileiro – No Rio, conheci o governador, Tony Garotinho, de seu nome "oficial". Mas não nome real, que toda a gente desconhece. Ele encostou-se ainda rapazinho ao Brizola, que, quando queria mandar comprar cigarros ou coisas do género, dizia "chamem o garotinho". E assim chegou ele a governador de Guanabara. Só no Brasil, meu querido Brasil!... Saravá, meus bons amigos do outro lado de tanto mar.

29 julho, 2007

Uma adega com alma

Concordo inteiramente com este título da nota de hoje de David Lopes Ramos, no Público. Refere-se à Adega Velha, em Mourão, mais conhecida por adega do engenheiro. Que belas noites lá passei, o que é preciso é ter paciência alentejana. Primeiro, uma boa meia hora no espaço de entrada, com balcão de taberna, vinho a sair da talha, a ouvir histórias e alguns cantes. Depois passar a uns espaços atascados de mesa grande e bancos corridos, com uma velha cozinheira a sugerir uns petiscos, porque não há ementa.

O que DLR não escreve é que, quem apreciou a cacholeira inigualável da adega do engenheiro e outros enchidos, pode fornecer-se no regresso, mesmo antes de sair de Mourão, num talho do engenheiro. Isto, pelo menos, há uns 3 ou 4 anos. Espero que ainda esteja válido.

Falar i screbir


Sou leitor fiel das crónicas de Amadeu Ferreira, no Público, escritas em mirandês , normalmente, em defesa da sua língua. Como é meu hábito, faço o exercício bem saboroso de as tentar ler em voz alta, embora desconhecendo inteiramente a fonética do mirandês. Afinal, vou aprendê-la. Na crónica de hoje, vejo que Amadeu Ferreira a ensina, no seu sítio da net. Por isto, tem toda a razão quando escreve que:
Dende que l'anternete seia algo specialmente amportante pa la lhéngua mirandesa.

E não é uma delicia, essa de anternete?

Aforismo

Paulo Teixeira Pinto (PTP), presidente do CA do BCP, lançou uma OPA hostil contra o BPI, causando certamente muitas enxaquecas ao seu presidente, Fernando Ulrich (FA). PTP, criatura do patriarca Jardim Gonçalves, ao que se diz tudo em família de Opus Dei, rebela-se contra o pai e conta espingardas para o mandar para a reforma definitiva. Aparece agora uma batelada de novas espingardas, contra PTP, compradas por FU.

Acreditem que eu sou uma jóia de pessoa, de brandos costumes, mas é verdade que me lembro sempre de que "a vingança serve-se fria".

28 julho, 2007

Benchmarking e re-engenharia comportamental

"Quais anti-inflamatórios, qual quê! Obstinada, recalcitrante, lamuriante, autista, tetraplégica mental, preguiçosa e inactiva! A senhora é tal e qual o nosso governo. E, tal como este, é só de um plano austero, implacável de dieta rigorosa e de exercício activo, o que a senhora precisa. Faça alguma coisa de útil por si e pelos outros! Mexa-se!"
Foi com um ralhete destes, que CG, o meu médico de família, definiu o “standard e benchmarking” da minha insatisfatória condição de saúde física e me coagiu a um forçado processo de re-engenharia comportamental.
A humanidade não me merece - é que mesmo depois de ter sido insultada daquela maneira, dei razão ao médico. Assim, há cerca de 8 meses atrás, com humildade e em obediência cega aos conselhos, resolvi ingressar no mundo do desporto de alta competição - a natação e, hoje mesmo, acabo de bater o recorde mundial absoluto dos 2,5 metros em “free style”, seguida de triplo saltito mortal (doentito) em altura, e posterior queda livre sobre lajedo e, tudo isto, em 2.5 segundos, cronometrados e perante testemunhas.

Bom, não será bem, bem natação - em piscinazinha coberta e termo estatizada - o desporto que agora pratico, na verdade, trata-se muito mais de uma chapinhaçãozita individual num tanque de 20 metros de comprimento. É um espaçozinho físico que, sempre partilhei com outras 30 pessoas que fazem colectivamente, sob comando especializado de treinadores, hidroginástica, estridente colectiva, ao som e ritmos de um incansável Inverno de Vivaldi, sempre em último volume, comparável a uma reverberação medida em quase 12 na Escala de Mercali, e que provoca ondas dignas de marés vivas atlânticas.

Perfeitamente extasiada, hoje, atribuí a quietude da água, a desertificação, o silêncio absoluto e sepulcral que envolviam a "minha piscina" e os arredores, ao facto de ser quase Agosto, e das pessoas estarem TODAS de férias.
Pensei para comigo: maa-raa-vii-lhaaa, hoje estou aqui, inteiramente, por minha conta. E…mergulhei de olhos bem fechados (esqueci-me dos óculos de protecção), na água sereníssima e quentinha, de um só fôlego. Não tinha ainda nem dado cinco braçadas, e bati com toda a força de um aríete, com a minha testa num toco de ferro, que ecoou assim: “toiiiiaannggg....gaanngg”.

A minha pulsação - normalmente, mesmo que chovam canivetes, inamovível nas 75 batidas por minuto - disparou lá para umas 200 ou mais! Juro por Deus, que eu não só vi as estrelas, como ainda vi e tropecei em seis pares de pernas pretas, ataviadas com pés de pato (barbatanas), que se encontravam ali flutuando, ao nível no fundo do tanquezinho de 1,20 m de profundidade a treinar… mergulho.

Dá para acreditar?

Gritámos TODOS, eu e os donos das pernas e dos pés de pato, num coro uníssono, diferentes palavrões conhecidos e outros nem tanto!

Contundida e muito baralhada das ideias - ainda não tinha me tinha conscientizado do que tinha, realmente, visto - nadei, nadei… Nadei não, voei, voei os cerca 2,5 metros que me separavam das paredes da piscina, e escalei as escadas, simultânea e instantaneamente - isto é, desmaterializei-me da água, e materializei-me estatelada no chão de azulejos, já fora da piscina, com os joelhos e cotovelos ralados, o galo da testa, a latejar furiosamente (bati com a cabeça numa garrafa de ar comprimido) e a pulsação síncrona.

Escusado será dizer que, já esqueci os insultos do meu médico de família, mas o nome dele, o do responsável pela "piscina" e o do "personal trainer de scuba diving" não, e estes foram devidamente acrescentados ao meu já extenso e imorredoiro rol de inimigos a abater.

O que lhes contei não pode ter sido nenhum atentado, contratado e premeditado, contra a minha integridade física e mental, pois não? Mas lá que resultou....

Nota gastronómica (XVII)

Receitas do Público

Desde há alguns dias, o caderno P2 do Público inclui uma receita de um chefe de nomeada. Até agora, Albano Lourenço, do Arcadas (Hotel Quinta das Lágrimas), Joachim Koerper, do Eleven, e Ricardo Ferreira, do Orangerie (Vila Monte Resort). Estão acessíveis online, mesmo para não assinantes. Também estou a coleccioná-las, esperando vir a dar-lhes proveito, porque nem sempre, embora com pouca frequência, recorro exclusivamente às minhas receitas nos meus jantares de esmero.

São óptimas receitas, como era de esperar, de estilo moderno mas com a dose de classicismo suficiente para agradarem a um público vasto. Por isto, também aparentemente simples, mas aqui é que vem o problema. A mancha do jornal é ocupada com a fotografia do prato em 70% do espaço disponível (não sou ceguinho...), com 13% para títulos e só 17% para a receita, cerca de 160 palavras. Fui tirar uma amostra de um livro de receitas muito conhecido e achei uma média de cerca de 280 (não é escrito em português, mas isto não afecta muito).

Por isto, há termos pouco conhecidos ou técnicas mais profissionais que ficam sem explicação, dificultando muito a confecção do prato por muitos amadores bem intencionados. Flagrante é também, provavelmente pela mesma razão e por falta de cuidado, o exemplo de uma dessas receitas em que há um componente importante, que até aparece na fotografia, mas que é esquecido na descrição do empratamento.

Ainda outro exemplo. Uma receita muito simples e elegante, cerejas em calda e licor. Mas que licor? Não se diz. Palpita-me que um leitor desprevenido julgará que é licor de cereja, um "kirsch" (cuidado, que "kirsch" também pode ser aguardente de cereja, coisa essencial na Suíça para a "fondue"). Julgo não ser a ideia do autor, porque ficaria monótono. Eu prepararia um licor, não muito intenso de aroma, de baunilha ou de canela, mesmo de chocolate.

26 julho, 2007

Sócrates de esquerda?

Diverti-me ontem ao ouvir o Fórum TSF, sobre o caso DREN. A certa altura, uma ouvinte, obviamente grande apoiante de Sócrates, dizia que só tinha pena de Sócrates não ter intervindo pessoalmente e mais cedo, porque assim tinha dado armas à esquerda.

Costuma-se dizer que a língua puxa para a verdade. Então Sócrates não é esquerda? A ouvinte lá sabe.

25 julho, 2007

Eficiência administrativa

Do DR de hoje:
Resolução da Assembleia da República n.º 32/2007, D.R. n.º 142, Série I de 2007-07-25
Aprova o relatório e conta de gerência da Assembleia da República referente ao ano de 2005
2005? Não será gralha?...

Nota gastronómica (XVI)

Superstição?

Alguns dos nossos chefes estão sempre a surpreender-me. No último Expresso, Henrique Sá Pessoa, do Sheraton, ensina a fazer uns ovos benedict, coisa aparentemente simples, mas que não é para todos. Os ovos são escalfados em água com vinagre, como manda a boa técnica. Mas o chefe vai mais longe, esclarecendo que o vinagre deve ser adicionado à água mexendo no sentido dos ponteiros do relógio! Para além de ser coisa que só posso considerar como superstição, fico com pena dos cozinheiros canhotos.

24 julho, 2007

Sobre a educação superior (V)

Ainda a lei do RJIES

1. A lei inclui nos conselhos gerais uma maioria de representantes dos professores e investigadores. Tive dúvidas sobre o que isto significava: professores entendidos genericamente, como equivalente a docentes, ou em sentido restrito, com exclusão dos assistentes? Segundo opinião jurídica bem abalizada, deve ser este último o entendimento, até por ser também o do legislador. A meu ver, é mais uma tolice da lei, um acinte escusado e sem sentido prático a um grupo de pessoas que até caminha para a extinção. Deixe-se morrer em paz a situação de assistente.

Até se podia ter ido para uma solução de compromisso, a dar o sinal da valorização dos professores. Por exemplo, a ponderação de votos entre professores e assistentes, como na lei actual espanhola (em revisão), em que um voto de professor vale 0,7 e um outro voto vale 0,3.

2. Foi parangona em todos os jornais uma grande "alteração" da lei: os reitores e presidentes passariam a ser eleitos, em vez de designados, mas em ambos os casos pelo conselho geral e segundo exactamente o mesmo processo de selecção (aliás, muito bem, a meu ver). É claro que a designação implicaria uma votação, e isto só poderia diferir de uma eleição por, teoricamente, poder não ser por voto secreto.

É esta a grande alteração? Os reitores calaram-se, provavelmente a fazer valer esta "vitória". Até Jorge Miranda, espantosamente, veio dizer que, assim, ficava eliminada uma das inconstitucionalidades da lei. Só Seabra Santos, reitor da U. Coimbra e presidente do conselho de reitores, é que teve a clareza honesta de afirmar que era apenas uma questão semântica.

23 julho, 2007

A nova guerra fria

O "ping pong" entre o Reino Unido e a Rússia trazem a lembrança de uma guerra fria que se pensava longínqua.

Mas para quem pensa que História se repete vale a pena recordar Mark Twain:

"History does not repeat itself, but it rimes".

O assassínio de Alexander Litvinenko, em plena cidade de Londres, as substâncias radioactivas, os personagens envolvidos, a linguagem musculada, são ingredientes de guerra fria.

Porém, a Rússia de hoje não possui uma ideologia para exportar.

A História não se repetirá, é certo. Mas resta saber que rima teremos de entoar.

Gente nobre

Há dias, um amigo companheiro da minha viagem recente aos Açores estranhava que, era eu criança, se viajasse entre ilhas, mas às vezes dezenas de milhas, nos "iates" do Pico, barcos de 20 metros ou pouco mais. Contei-lhe então a história que considero mais magnífica de viagem entre ilhas.

Como se sabe, D. Pedro IV estabeleceu-se nos Açores, na Terceira, até ao desembarque das tropas liberais no Mindelo. Um dos homens mais notáveis da sua "corte" era Mouzinho da Silveira, um dos maiores legisladores da nossa história. Um dia, bateram-lhe à porta uns tantos corvinos, vindos em pequena embarcação à vela, afrontando umas centenas de milhas de mar bravo açoriano. Descalços e humildemente vestidos, mas de cabeça bem erguida, contaram àquele senhor o que era a sua miséria de opressão pelos poderes senhoriais.

Mouzinho ficou de tal modo impressionado que não se deitou nessa noite, toda gasta a redigir as leis de extinção dos direitos senhoriais, coisa que nem a revolução de 1820 se tinha atrevido a fazer. Não sei se nessa noite se depois, escreveu uma memória pessoal, talvez o testamento, em que dizia nunca ter encontrado homens de tal nobreza e que queria ser sepultado na ilha do Corvo. Tanto quanto sei, este seu desejo nunca foi cumprido.

22 julho, 2007

Negócios Maasai avançados, NP- Hard, ou ervilhas tortas

Ontem, recebi por mail, uma cópia de um curioso artigo: "Advanced food process engineering to model real foods and processes: The ‘‘SAFES” methodology" - Journal of Food Engineering 83 (2007) 173–185, que propõe uma metodologia - SAFES - "to calculate and to develop food products and processes with enough information to predict their food quality and safety". Que se danem os direitos de autor - espreitem aqui.
Ando então, desde ontem, muitíssimo divertida, a ruminar e a digerir "o paper" para avaliar a sua utilidade potencial. Quem mo enviou, anda há uns tempos largos, preocupadíssimo e descabelado, às voltas da redacção de propostas de Resultados de Aprendizagem - os famosos "SLO" (student learning outcomes) - para umas unidades curriculares de que é o responsável numa "licenciatura" (politécnica) de Bolonha, e juntou-lhe, lacónico, a seguinte mensagem: sabias disto?
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Esse mail, oportunamente, aterrou durante uma das minhas valorizadas folgas, que me foi destinada após a resolução, assistida por computador, de um intrincado crew rostering disciplinador, que governa a escala de todas as tarefas do dia-a-dia, cá em casa.
Por outras palavras, era um meu familiar, e também o autor da heurística de escalas de serviço doméstico, que estava, ontem no turno dos abastecimentos e da logística geral da nossa vida da próxima semana. Devo dizer que o meu familiar estava felicíssimo porque, já se sabe, sai para as compras mais comezinhas - sempre, com o espírito aberto, a pompa e o aparato próprios de um Vasco da Gama - e regressa, invariavelmente, não com os víveres indispensáveis, e a cesta básica, mas com Troféus – carneiro do Brasil, kiwis da Nova Zelândia, maçãs da Argentina, uvas do Chile, azeite de Ardes (Turquia), etc., etc... Um, dos de ontem, estava assim etiquetado com letras enormes: "ervilhas de quebrar", ao que se acrescentavam muitos outros dizeres mas, em letrinhas invisíveis.
Não sou (nem serei nunca) "especialista de coisa nenhuma" mas, mesmo sem os meus óculos fortíssimos de vista derreada, dava para ver bem, através do filme transparente que envolvia a covete das "ervilhas", que estávamos perante vegetais absolutamente distintos dos passíveis de classificação vulgar de Lineu. Aliás, as "ervilhas de quebrar" não seriam nem ervilhas nem de quebrar, mas o preço sim, cortava a respiração. Fui buscar uma lupa e, sabem o que diziam algumas das letrinhas minúsculas? Origem: Kenya.
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Está bem, dizem-me, mas isto não são problemas, são só subproblemas.
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Pois é. Mas, tentem ver as questões do meu lado e, por favor, se souberem, dêem-me ideias:
1 - O que deve fazer um estudante, que precisará de lidar com questões diversas relacionadas com produtos alimentares: aprender a resolver problemas de NP-Hard? A cultivar ervilhas de quebrar? A falar Maasai?
2 - Mas será possível que a globalização de que tanto se fala, nos condicione, futuramente, a comprarmos cebolinho da Tasmânia?
3 - O que devem fazer as pessoas que só gostam de iscas com elas, de jaquinzinhos e de ervilhas tortas do quintal (quando estas ervilhas tenham sido todas comidas por uma praga egípcia de lagartas)?
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"There's something I want to show you.... It's not far from here - in fact, it's almost as close as the next page."

21 julho, 2007

Nigtmares & Daydreams recorrentes

A imagem "star war rejects and still smilling", ver em Johnny 5 Look Alikes
que associei a este post, a meu ver, tem um nome deveras curioso.
Honestamente, não conseguiria explicar-vos bem porquê mas, esta noite -- ao encontrar (aqui) este vídeo (não tive paciência de ver a longa-metragem até ao fim) -- lembrei-me não só da designação da imagem que referi, mas também de um ou de outro conto de uma colectânea de histórias de terror, com o nome de "Nightmares and Daydreams" de qualidade muito discutível, assinada por um autor de quem não me ocorre agora o o nome, mas até tenho o livro numa prateleira qualquer, cá em casa.
O que importa, para o caso é que, cada um e todos nós, de uma ou de outra forma, temos os nossos próprios esqueletos de cave ou de sótão, mas será que os cidadãos portugueses e agora também os europeus merecem uma perseguição constante e sistemática, de um qualquer "Freddy Krueger"? - "A Presidência Portuguesa pretende contribuir com um novo impulso na concretização da Estratégia de Lisboa em matéria de Ciência e Tecnologia, e reforçar esta temática na agenda Europeia." de onde extraí a frase:
"O Conselho vai ainda aferir a implementação pelos Estados Membros das metas em matéria de Ciência e Tecnologia da Estratégia de Lisboa no que respeita o objectivo de atingir 3% de investimento em I&D até 2010, com 2% proveniente do sector privado."
Aferir? Como assim, por exemplo, aferir?
Não será que quereriam dizer "rir da"?
Na Europa a 25 e em Portugal*, seguramente, não vamos atingir essas metas,... e boas!
Será que é mesmo preciso fazermos um "scaling-up" das nossas confusões à envergadura continental ?

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*Total gross domestic expenditure on R&D (GERD)
by Sources of funding (year 2003)
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Business enterprise

31,73%

Government

60,11%

Higher education

1,30

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FONTE: UIS S&T database (2006)

Referência: http://stats.uis.unesco.org/unesco/ReportFolders/ReportFolders.aspx

20 julho, 2007

Fuga de cérebros

No dia em que os ministros do ensino superior e ciência dos 27 debatem a fuga de cérebros na Europa, convém relembrar que este e outros governos pouco fizeram para a travar.

Quando explico aos meus colegas que Portugal fez um grande esforço financeiro para enviar estudantes de doutoramento para as melhores universidades da Europa e Estados Unidos e que depois não criou qualquer mecanismo que permitisse o retorno destes estudantes, em regime de competição directa com os que ficaram ou criando mecanismos específicos para seu retorno, o comentário que obtenho é: "but this is insane!!".

Sobre este tema escrevi em diversas ocasiões e em diversos locais. Um destes textos pode ser encontrado aqui. Outros, na mesma linha, poderão ser consultados seguindo a etiqueta "ensino superior", localizada no final do artigo.

Nota gastronómica (XV)

Abaixo o peixe grelhado!

Numa pequena nota critica ao Mercado do Peixe, hoje, no Público, escreve David Lopes Ramos:
Um gourmet entende que é curto, que o acto de grelhar é a pré-história da cozinha, mas trata-se, é claro, de uma opinião minoritária.
Aplaudo e subscrevo, porque pertenço a essa minoria. Para dar um exemplo, inclui no meu livro "O gosto de bem comer" 41 receitas originais minhas de peixe e nem uma única é de peixe grelhado. Excepção é a sardinha.

Isto talvez tenha a ver com os meus hábitos de infância. Grelhar peixe, nos Açores, é coisa moderna para turistas. E há tantas maneiras de o cozinhar: cozido, em água, caldo ou ao vapor, estufado, frito, salteado sem chegar bem à fritura, assado no forno, assado na sertã, recheado, confitado ou escaldado, curtido em marinada, preparado em pudim ou soufflé, em almôndegas, em empadas, e mais. Nos próximos tempos, tentarei dar alguns exemplos a cair em desuso, só cultivados pela tal minoria anti-grelhado.

As perguntas profundas das crianças

Entrada de PJ

Um dia, o meu mais velho, que na altura teria uns 4 ou 5 anos, perguntou-me de chofre: “Pai, por que é que nós morremos?”

Inspirei fundo, tentando pensar numa resposta para lhe dar. Todavia, antes que eu tivesse tido tempo para lhe responder ele perguntou de novo: “Por que é que existimos? Por que é que tudo existe?”

Olhei-o nos olhos e respondi-lhe: ”Não sei. Mas estou muito orgulhoso em teres colocado essas perguntas. São as mais importantes que uma pessoa pode fazer.” Ele pareceu ter ficado satisfeito com a minha resposta e afastou-se.

Posteriormente lembrei-me de uma passagem de Milan Kundera em A Insustentável Leveza do Ser: “ (…) as perguntas verdadeiramente importantes são as que uma criança pode formular – e apenas essas. Só as perguntas mais ingénuas são realmente perguntas importantes. São as interrogações para as quais não há resposta. Uma pergunta para a qual não há resposta é um obstáculo para lá do qual não se pode passar. Ou, por outras palavras: são precisamente as perguntas para as quais não há resposta que marcam os limites das possibilidades humanas e traçam as fronteiras da nossa existência.”

19 julho, 2007

DUAS DOBRADINHAS e mais qualquer coisa

Porque tudo isto - PROPOSTA DE LEI N.º 148/X/2 - RJIES - REGIME JURÍDICO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR - irá dar ainda muito o que falar, por largos anos, ao longo dos quais, haverão eleições de diversas modalidades, tomei as seguintes providências: 2 Decisões; 2 Garantias e uma hipótese.

DUAS DECISÕES
Primeira decisão
Guardar, a bom recato, uma cópia que colige a documentação das contrapropostas de todos os partidos políticos com assento na Comissão Especializada Permanente de Educação, Ciência e Cultura [1].
Segunda Decisão
Disponibilizar os sites originais, para os leitores como eu, que sejam mais cépticos, possam conferir:
REGIME JURÍDICO DAS INSTITUIÇÕES DO ENSINO SUPERIOR/
ESPECIALIDADE/PROPOSTAS DE ALTERAÇÃO APRESENTADAS PELOS GRUPOS PARLAMENTARES
DUAS GARANTIAS
Primeira Garantia
Enquanto eu e esta futura lei andarmos por aqui, sempre que me venham pedir o meu voto, nenhum candidato a candidato a coisa nenhuma, me apanhará desprevenida, sobre este tema.
Segunda Garantia
Saberei assim, exactamente, a que partidos posso pedir responsabilidades sobre, os diversos pontos, deste preciso prodígio legal, que nos vai dar a todos muitas dores de cabeça, ou pior ainda, que andámos todos a pagar para nada.

UMA HIPÓTESE
Efectuar uma análise comparada das contrapropostasXproposta, mas isto assim que eu tiver um tempinho, lá mais para o verão.
________________________________
[1] aqui

Oh! da casa. Muito Boas Noites! Cá 'tou eu de mudança.

Antes de mais, peço compreensão, porque ontem, como encontrei "a porta do blog" aberta, fui logo entrando, só para deixar a encomenda do senhorio - aquele texto do Cadavre exquis - parte 2 , e tive que sair às pressas.
Hoje, venho para cumprimentar, assentar acampamento, arrumar os apetrechos, corrigir as gralhas da entrada de ontem, e acantonar arraais - 1º post, cá à minha moda, mas ligeiramente mais sóbrio, do que é meu hábito.
Não se levante(m), nem se incomode(m), eu cá me ajeito, depois fecho as luzes e bato a porta devagar.
Fim do post cumprimentos.

Sobre a educação superior (IV)

Os externos e os internos

As universidades vão ter um conselho geral, o órgão de governação estratégica, com membros internos e externos. Não me preocupam nada os externos, mas sim os internos, coisa que ninguém discute. Segundo uma regra minha prática, como o texto ultrapassa uma página, remeto para as minhas notas.

18 julho, 2007

Cadavre exquis - parte 2

“E sorria dentuço, com candura, envolvendo a sua vasta, prestativa e solícita audiência de VIPs da comunicação social. É só inteligência congénita - repetia, incansável a cada frase, um seu sempre deslumbrado admirador - já repararam bem como (lá por detrás das cangalhas) ele têm os olhos tão lindos? Eu digo que não, mas é para lhe ver aquele brilhozinho no olhar, que subsidio sempre as prestações dos adereços daquele acelerador de partículas, de que ele tanto gosta.

(….)

Oh! Nanico nem pense, francamente, já lhe disse, o menino não lhes ligue, … c’horror, 'tá cansado de saber, não se diz vermelho, diz-se encarnado. Olhe, e nem lhe passe pelos caracóis, dar confiança a essa gentinha... E, por falar nisso, essa sua guedelha não combina com o seu nível intelectual nem com essa meia que teima, em usar. Veja se dá um trato nesse cabelo. Já pensou bem no que há-de dizer... aquele…. o menino sabe… aquele…lá do MIT?

Os blogues ignorados

A blogosfera é um polvo que engole muita coisa e que se engorda em alguns "blogues de referência". Dificilmente tenho meios de me manter lucidamente alerta para o que vai aparecendo, mas, de vez em quando, é com grande prazer que descubro coisas novas.

A propósito de comentários recentes no meu blogue, fiz o que sempre faço, tentar identificar o comentador. Dei agora por uma Graça Maciel, que não sei quem é (embora Maciel me cheire à minha terra), mas que me merece leitura dos seus dois blogues, "Inflorescências"e "FOTOGRAFIA 'À-LA-MINUTA' ". Visitem, que vale a pena.

Gostava de ter podido alertar Graça Maciel para esta entrada, mas não tenho o seu endereço. Espero que ela possa ler isto, de qualquer forma.

Cadavre exquis

É coisa divertida, na pintura e na escrita. Nunca vi esta brincadeira num blogue. Vai ser o primeiro teste para os meus amigos agora co-proprietários deste blogue. Na boa técnica do "cadavre exquis", só dou a primeira e a última frase de um texto que escrevi, assim como devem fazer os autores seguintes. Só no fim é que publicarei o texto completo.
"Era uma vez um menino, bebé orgulho da família, mas já com um bigode esquisito e com uns olhos piscos a prenunciarem uns óculos sempre fora de moda.
(...)
Salivou para as fotografias e para a TV, cuspindo baba para cima do homem dos portões."
Atendendo à sua grande paixão, passo a palavra à Regina, para escrever um texto a continuar, mas publicando só a primeira e a última frase. Ela fica obrigada a dar uma deixa de tia de Cascais para o Hespanha, nem que tenha de inventar enredo amoroso. Quem é a tia de Cascais?...

Redacção colectiva

Se repararam na entrada anterior, este blogue passou a ter uma redacção colectiva: eu coordeno, mas sem mais direitos do que António Eanes, António Hespanha, João Corte Real, Manuel Gonçalves da Silva, Miguel Araújo, PJ (anonimato inteiramente justificado) e Regina Nabais. Somos amigos, concordamos em geral, discordamos por vezes, temos estilos muito diferentes. Talvez seja divertido se houver polémica entre os autores deste blogue. Falta adaptar o visual, mas não prometo que seja hoje.

Arte moderna e banalidade


"The problem with assessing much modern art is that it's hard to tell the difference between a banal work and one whose theme is banality."
(Ben Lewis in "Prospect", Julho 2007)

Imagem de Hélio Oiticica
B 11 Box Bólide 09 1964.

Sobre a educação superior (III)

Reitores ou chefes de repartição?

Um concurso para chefe de repartição, na maioria dos casos, envolve um currículo a metro e uma prova escrita, tudo quantificado numa fórmula cega. É isto que os reitores julgaram que ia ser o seu processo de "designação" pelo conselho geral? Não posso crer que sejam tão ignorantes sobre o que é um "search and select" ou que nem sequer tenham conseguido entender a descrição razoável que vem no artº 86º da PL. Merecem que lhes explique como a meninos de escola, até porque, com o meu sucessor na direcção do IHMTropical, creio sermos os únicos dirigentes da administração pública designados por este processo (o de director do ITQB, também da Universidade Nova de Lisboa, é um pouco diferente, porque a decisão compete ao reitor).

Começo pelo "search". É que não é um processo passivo, em que se espera pelas candidaturas. O órgão competente deve promover a procura de bons candidatos potenciais, dar-lhes a conhecer a oportunidade e manifestar interesse na sua candidatura, obviamente sem compromisso. Os elementos do processo de avaliação podem variar mas, normalmente, são: o currículo; uma carta de intenções ou motivações, em que o candidato faz um manifesto moral e intelectual sobre o que realmente o leva a concorrer e demonstra o seu carácter; um programa de acção para o mandato; finalmente, uma entrevista, privada ou pública (como, por exemplo, no senado americano, embora eu prefira a privada, menos sujeita a factores mediáticos). Nunca viram reportagens televisivas sobre este tipo de "exames" no senado americano, por exemplo para embaixadores? Ou serão para chefes de repartição da Casa Branca?!

O que é muito importante neste processo e que parece ser ignorado pelos reitores é que, sendo eles, de qualquer forma, escolhidos pelo conselho geral, seja por este processo seja por eleição simples, como parece ser agora o caso, têm toda a vantagem no primeiro processo, em que o órgão designador fica limitado por ter feito a escolha com base num programa, sujeito a uma apreciação fundamentada, a preceder a decisão. Por exemplo, no esquema previsto na PL, o CG aprova ou não o plano anual e o respectivo orçamento, obrigatoriamente por proposta do reitor. A eventual recusa é um "poder de bomba atómica", como se costuma dizer em relação ao poder presidencial de dissolução. Se um CG o fizer, o reitor não pode deixar de se demitir. Já é muito diferente se ele mostrar que está só a concretizar o programa com que o CG o designou.

Creio que esta visão traduz uma concepção funcional e dinâmica do funcionamento das organizações e do exercício dos poderes. É pena que a universidade cultive antes uma visão formalista e jurídica.

Eu experimentei isto, pessoalmente, na apresentação ao meu conselho geral de propostas difíceis de fazer passar. Este argumento do programa valeu-me por mais de uma vez e até junto de um membro do governo que tinha um representante nesse conselho. Devo dizer que as dificuldades nunca foram com os membros externos, mas sim com os internos, nomeadamente os catedráticos, cujos joanetes doíam com algumas reformas minhas. Isto é outra coisa que discutirei no próximo apontamento. Quanto a este RJIES e ao conselho geral, não estou nada preocupado com os membros externos. O que me preocupa, quanto ao bom funcionamento do modelo, são os internos. Direi porquê.

A importância dos adjectivos

Na sua coluna de ontem no Público, "O terramoto de Lisboa", e a propósito dos resultados das duas candidaturas independentes, escreve Vital Moreira que "destas eleições resultam, indubitavelmente, razões de preocupação para a democracia representativa de base partidária".

Concordo inteiramente, mas não sei se esta afirmação se identifica, para Vital Moreira, com a preocupação para a democracia, sem adjectivos. Aí já não estou de acordo, apesar de ver grandes vantagens no sistema partidário. Creio é que ele não esgota a democracia. Por exemplo, sempre fui adepto da possibilidade de apresentação de listas apartidárias nas eleições legislativas, o que não é permitido, ao contrário das autárquicas.

17 julho, 2007

Sobre a educação superior (II)

As alterações à proposta de lei do RJIES

A esta hora, está a ser discutida na especialidade a proposta de lei do regime jurídico das instituições de ensino superior (RJIES). Entretanto, já recebi várias reacções de colegas, surpreendidos com o que hoje se anunciam como recuos importantes do grupo parlamentar do PS. Não partilho da surpresa nem da opinião de que os recuos sejam importantes.

Assim como já tinha havido diferenças marcantes entre a proposta inicial e a que finalmente foi enviada ao parlamento, sempre pensei que havia ainda muita margem de negociação. Nos últimos dias, repetidas declarações do ministro, algumas em privado, convenceram-me de que iria haver mudanças, tanto mais que os reitores, habilmente, decidiram focar a sua oposição apenas nos pontos da proposta que julgaram mais gravosos, sem fazerem oposição global.

Por outro lado, não considero que, com as alterações anunciadas, o ministro venha a perder grande coisa. O caso mais flagrante é o de passar a ser difícil a autonomização de institutos ou faculdades, como fundações. Eu creio que o MCTES até estará aliviado, depois de se ter metido em tal buraco. Repare-se que, nos últimos dias, já tinha sido dito que, de qualquer forma, a regulamentação prática da lei, neste aspecto, só seria feita no fim do mandato. Da mesma forma, e pelas mesmas razões, de vacuidade prática, não custa nada ao MCTES o gesto simpático de permitir que os politécnicos também possam vir a ser fundações.

Também já era dado de barato, por conversas do ministro, que o PS aproveitaria agora para emendar algumas infantilidades gratuitamente agressivas para os reitores, como o seu afastamento do processo de elaboração dos estatutos ou a excepcionalidade de poderem cumprir por inteiro o seu actual mandato.

Leio também que se possibilita um alargamento da dimensão do conselho geral, até 35 membros. Parece-me disparatado. Não adianta nada de substancial aos 25 previstos e vai contra uma regra tácita de que este último número é o máximo que permite o bom funcionamento de um órgão de governo. Eu gostaria de ver Sócrates a trabalhar com um conselho de ministros de 35 membros.

Mais bombástica é a "eleição" do reitor. Creio que os comentadores não estão a ver bem a situação, talvez porque nunca tenham percebido bem a inovação (em Portugal) do processo antes proposto de "search and select". De outra forma, como tenho escrito, não se teria dito a asneira de ser uma espécie de concurso de carreira da função pública.

Ao que leio, o reitor já não será "designado" pelo conselho geral, sendo antes "eleito" por esse conselho. É mesmo uma questão de "o nome da rosa". O importante é que continua a emergir de uma deliberação do conselho geral e que isto é que interessa. É certo que pode ter consequências, por exemplo a eventual eleição sem ser pelo processo de "search and select". Como isto já vai longo, guardo para amanhã a demonstração de que os reitores ficarão mal servidos sem o tal "concurso de chefe de repartição" (insisto, santa ignorância!).

P. S. (18.7.2007) - Parece que tinha razão. Segundo o Público,
"Assim, o processo de eleição, e não de designação (como previa a proposta do Executivo), inclui o anúncio público da abertura de candidaturas, a apresentação de candidaturas, a audição pública dos candidatos, com apresentação e discussão do seu programa de acção, e “a votação final do conselho geral, por maioria, por voto secreto”.
A novidade "bombástica" é apenas a obrigatoriedade de a deliberação final ser por voto secreto, o que nem era excluído pela proposta. De resto, o processo é exactamente o mesmo.

Ainda o Público

Continua a asneira. A efeméride de hoje no caderno P2 é a conferência de Potsdam e lá vem o texto correcto, referindo a presença de Truman. Mas não é Truman que aparece na fotografia muito destacada, mas sim Roosevelt, claro que em Ialta. Em Potsdam, já ele não era vivo. Já não há um jornalista minimamente culto? Ou um editor que tem por obrigação rever toda a secção?

O Público tabloide

Vou explicar o título, porque ainda não cheguei ao ponto de considerar o meu jornal diário como tablóide, ou então não o comprava. Mas faz o jogo de popularuchismo com o caderno P2, que, a princípio, até prometia.

Ontem, gastou as duas páginas centrais com 60 factos sobre Camilla, princesa, duquesa, viscondessa e utilizadora dos mais famosos tampax da história, com uma fotografia que me confirma a ideia de que, fisionomicamente, ela saiu mais aos cavalos do que aos pais. Aprendi imenso, nomeadamente que sua alteza perdeu a virgindade aos 17 anos. Será que algum jornalista me paga para saber com que idade eu perdi a minha? Talvez fosse história tão interessante como a camiliana.

Mas, já que me dei ao exercício masoquista de ler a peça, fiquei a saber que sua alteza gasta mensalmente 7500 euros em cabeleireiro, maquilhagem e cosméticos. Muito má propaganda para quem não lhe consegue melhorar o visual horroroso (mas o pateta windsoriano também não merece mais)!

16 julho, 2007

A proposta de lei do ensino superior

Estou com grande dificuldade em situar-me na discussão da proposta de lei do regime jurídico do ensino superior. Não concordo com muita coisa, como já escrevi e reescrevi. Mas as minhas criticas, pouco acompanhadas, nada têm a ver com a generalidade das outras criticas. Isto é como tudo em política. Pode acontecer que uma proposta apanhe com criticas de esquerda e de direita, por razões opostas. Como evitar a confusão? Se estiverem interessados numa discussão um pouco mais aprofundada, vão aqui.

15 julho, 2007

Notas de viagem


As minhas viagens aos Açores são frequentemente contraditórias. De bom têm tanto que me é difícil escrever, mas certamente intuído por quem está habituado às minhas velhas "açorianices", ou agora o meu companheiro de viagem, um grande amigo, vítima da "seca" de um cicerone tão entusiasmado. Infelizmente, também aspectos negativos, que anoto só na perspectiva de poder contribuir para a sua correcção.

1. Em geral, e como tenho a snobice, justificada por questões de saúde, de só viajar em executiva (em económica, nas rotas açorianas, é só uma sandes), usufruo com prazer do cattering da TAP, com a qualidade do seu responsável, Vítor Sobral. No regresso da Horta, no dia 13, o prato estava muito bom, um lombo de porco com molho de amêndoas, com um bom esparregado e batatas ao ponto, entre o estufado e o assado. Como sobremesa, um bom pudim de queijo sobre crocante de coco e coberto com um molho de chocolate. Mas não é que me serviram como queijo esta coisa ordinária que se vê na imagem? Eu ainda vou com o Président, porque não conheço embalagens individuais de camembert de queijo cru (embora já tenha tido em outras companhias embalagens individuais de gruyère ou de cheddar). Mas queijo fundido que eu usava para barrar as sandes que os meus filhos levavam para a escola e de que eles gostavam principalmente porque a vaca ria?

2. Não estou certo de a minha segunda critica merecer apoio geral, mas é o meu gosto e sentido da elegância. Estive nas três ilhas principais e, em todas elas, em hotéis modernos de quatro estrelas. Nada a dizer em relação aos quartos e ao serviço, em geral, com excepção da falta, nos bares, dos excelentes Chico Maria, dos Biscoitos (ao menos, no restaurante, havia o Donatário). Mas jantares só com bufete? É óptimo para reduzir as despesas com pessoal, mas, para mim, é totalmente oposto ao nível mínimo de elegância e de bom gosto que eu exijo ao jantar, sendo até condescendente com uma maior ligeireza de um almoço de negócios. Além do mais, é muito difícil preparar um prato para ficar no aquecedor que tenha qualquer vislumbre da qualidade de um prato servido individualmente. No aquecedor, só "pratos de cantina", mesmo que de supercantina.

3. Finalmente, uma história surrealista. Como já estava atrasado, não tive o cuidado habitual de verificar bem, num hotel, que tinha posto tudo na maleta. Só ao chegar a Lisboa dei por falta do pijama e telefonei para o hotel, para pedir o envio. A primeira informação, da responsável pela arrumação dos quartos, era mentira descarada, que o pijama estava todo roto e que eu o tinha posto no cesto do lixo, pelo que ele lá foi para o lixo geral. Eu admito erros, mas detesto que me tomem por parvo. Pedi para me passarem a um responsável superior, uma senhora amável, não sei com que cargo, que desmentiu essa versão (de facto, eu tinha-o esquecido na casa de banho, ao despir-me para o duche). Prontificou-se a indemnizar-me, o que recusei, para ficar livre de poder escrever esta nota sobre o Hotel Terceira Mar, em Angra do Heroísmo.

Nota gastronómica (XIV)

Escoural

Há muito tempo que estava na minha agenda mas só hoje é que pude ir ao Manuel Azinheirinha, no Escoural, entre Évora e Montemor. Uma sala muito pequena, a exigir obrigatoriamente marcação prévia. Também uma ementa curta, à defesa da qualidade, e muito bem, num restaurante familiar em que tudo é esmerado e não se podem perder na confusão de uma ementa muito variada.

A começar, um paio do melhor que já comi e uma óptima omeleta de espargos verdes, faltando-lhe só, para o meu hábito cá em casa, o acrescento de miolo de pão esfarelado. Acompanhámos com simples vinho de jarro, de Pegões, apesar de uma boa oferta de vinhos engarrafados, essencialmente alentejanos. Para mim, banal o tinto, mas muito agradável o branco.

Nos pratos, fomos trocandos bocados de uns e outros. Ressalto umas óptimas migas de bacalhau (com gambas, coisa nada alentejana mas que também não é crime gastronómico). Também uns mais que óptimos pezinhos de coentrada, sem truques de engrossar o molho, era só a gelatina das patinhas. Mas, acima de tudo, um assado de javali, com puré de maçã e pão frito, com um molho a mandar às urtigas todos os cuidados com o colesterol, o bicho a desfazer-se na boca, de tenrura do assado. Fiquei a pensar que só consegue isto quem domina também, se o Manuel lá fosse, a técnica da alcatra terceirense.

Pena que já o físico me não permitisse ir aos doces. Por isto, muito amavelmente, o Azinheirinha trouxe uma pequena amostra de degustação. Entre outras coisas, que bela encharcada!

Preço médio: 25 euros por pessoa.

14 julho, 2007

Devaneios de jardim (X)

Depois de uma viagem académica aos Açores, que tem muito que contar (de bem), o que irei fazendo nos próximos dias, regresso às escritas, hoje a pretexto da leitura do Público.

1. Foi confirmado, por autópsia, o primeiro caso português da nova variante da doença de Creutzfeld-Jakob (DCJ). Como muita gente sabe, é uma doença humana degenerativa e rara, tipicamente de idosos. No entanto, por transmissão alimentar de uma doença relacionada da vaca, a das vacas loucas, apareceu esta nova variante humana da DCJ, com a característica marcante de afectar pessoas muito mais jovens. O que isto não tem nada a ver é com a afirmação da jornalista de que se trata de uma variante mais agressiva. O que éque isto quer dizer? No caso da DCJ e da nv-DCJ, certamente que nada. Era bom que os jornalistas, principalmente os "especializados" fizessem mais frequentemente aquilo que faz um já praticamente meu amigo, do JN, que me telefona com grande frequência.

2. Keil do Amaral foi um grande arquitecto, mas com alguma dose de pouca sorte, no sentido de algumas das suas obras emblemáticas já não o merecerem, por degradação a que foram deixadas. É o caso, se não estou em erro, do restaurante de Montes Claros e, agora em foco, o da piscina do Campo Grande. Não me parece viável reanimá-la para este fim, mas não haverá outro uso que justifique a recuperação desta obra de Keil do Amaral? Um bom bar restaurante à volta de uma piscina convertida em espelho de água e até com um pequeno estrado com mesas, ao centro? E para quando umaboa exposição da sua obra? Posso estar enganado, mas não me recordo de ter havido, ao contrário, por exemplo, de boas exposições de que me lembro sobre Fernando Távora e sobre Cristino da Silva.

3. Uma pequena notícia refere melhoramentos em estruturas costeiras nos Açores. É verdade que a região está claramente a apostar no mar, e muito bem. O que me é mais visível são os aproveitamentos de lazer, para locais e para turistas, com destaque para excelentes zonas balneares naturais, a justificar porque é que um açoriano como eu ainda hoje acha que praia é coisa menor, comparada com os meus banhos de miúdo entre rochas. Particularizando, anoto que um dos maiores empreendimentos, que me suscitou dúvidas, a nova "zona de mar" de Ponta Delgada, pelo que vi agora, me parece muito promissora.

4. Título de uma coluna: "O nosso ADN". Não é correcto. O uso das siglas é muito variável. Correntemente, dizemos NATO, à inglesa, mas ONU, à portuguesa. O caso do ADN é um pouco diferente, porque há uma recomendação internacional que, ao menos, devia obrigar os cientistas, que, por sua vez, alargariam a norma. A regra, da USB (união das sociedades de bioquímica) é de os compostos químicos serem designados, por extenso, em cada língua mas, como siglas, conforme à designação inglesa. Assim, será ácido desoxirribonucleico, mas DNA (deoxyribonucleic acid). Lembro, para quem está metido nesta área, que ninguém se lembra de designar como TFA o ATP (trifosfato de adenosina, em inglês adenosine triphosphate, donde o ATP).

5. "14 juillet: liberté, égalité, fraternité". Com pequenas actualizações, como isto me parece ainda definir bem a alma de esquerda: liberdades, igualdade de oportunidades, solidariedade social. Uma pequena nota marginal. Seria bom que o jornalista tivesse esta fórmula tão enraizada que nunca se pudesse lembrar de escrever, como fez, "igualdade, liberdade e fraternidade". Pequeno pormenor, mas significativo da incultura que por aí vai nas redacções.

09 julho, 2007

Adeus, até ao meu regresso

Vou trabalhar uns dias na minha terra, juntando o útil ao agradável. Aviso os possíveis assaltantes que a casa continua ocupada pelo resto da família. Para a semana, cá estou a escrever, de novo.

A proposta de lei e os reitores

O reitor da U. Católica, Braga da Cruz, protesta contra o conselho geral não ser presidido pelo reitor. Desconhece, aparentemente, os princípios básicos da teoria das organizações. O conselho geral é o órgão que nomeia e exonera o reitor. Logo, nunca pode ser presidido pelo reitor!

Isto leva-me a levantar um pouco, só o que posso fazer neste momento super-atarefado, a questão da possibilidade de "conflitualidade criativa" entre o presidente do conselho geral e o reitor. Quem conhece bem o que são as relações, em Inglaterra, entre o "chancellor" (presidente do conselho geral) e o "vice-chancellor" (reitor), não precisará de ler mais nada.

Para dar um exemplo concreto, quem é o "chancellor" de Oxford? Lord Chris Patten, o último governador de Hong Kong, depois comissário europeu. E nem falo de Cambridge, para não me dizerem que é só honorário, porque é, nem mais nem menos, do que o Duque de Edimburgo. O que é isto de "chancellor"? Nenhum poder legal, apenas uma grande magistratura de influência, o poder objectivo de resolver conflitos internos. Também o dever de exercer ao máximo a sua posição política e social em favor da universidade, sem esquecer uma coisa muito importante, o "fund raising".

E não é preciso pensar-se em grandes poderes formais e escritos. Imagine-se só o que é o "chancellor" conseguir que o "board" rejeite a proposta de orçamento proposta pelo "vice-chancellor". Um deles tem de se demitir. Qual?

A propósito da proposta de lei em discussão, vem-me à cabeça muita coisa de dúvida sobre um eventual desajustamento entre aspectos positivos da proposta e a nossa cultura, a começar pelas participação essencial de membros externos na governação das universidades. Mas com que filosofia? Fico espantado ao ler coisas que apontam para que estes membros são uma espécie de abutres privatizadores da universidade. Quem escreve isto não faz a mínima ideia do que é a exigentíssima ética de pertença a um "board" americano. Os americanos são uns cóbois do capitalismo selvagem, com a cultura do Colt 45? Não nego, mas sempre a terem de cumprir um código ético, puritano, dos "pilgrims", que nos é totalmente desconhecido. Muito mais próximo, deste lado do Atlântico, quem escreve o que eu estava a dizer também desconhece o que é a moderna experiência de "gestão partilhada" da maioria das universidades europeias.

É por isto que, aparentemente ao contrário do que eu estava a dizer, o argumento cultural não é relevante. Mostra-o a experiência europeia recente.

06 julho, 2007

Um imenso Portugal?

Na minha idade, a memória é brincalhona, está sempre a trocar-nos a volta a cada virar de esquina. De que é que havia de me lembrar hoje? Da minha única e fantástica viagem ao Brasil, a convite de José Coura, director do Instituto Oswaldo Cruz, um dos melhores institutos do mundo em medicina tropical, a festejar o seu centenário. José Coura tinha vindo a Portugal, de propósito, porque ele não admitia que, na grande baralhada de nomes de família, a sua não estivesse ali mesmo em Paredes de Coura.

Ao lembrar-me disto, mandei esta fotografia a amigos, perguntando-lhes se conseguiam localizar coisa tão "portuguesa".



Isto não é mesmo o "imenso Portugal?"

Pensando que talvez não voltasse brevemente ao Brasil, escrevi ao José dizendo-lhe que queria fazer este extra de viagem mas que pagaria eu. A resposta foi que o excesso da viagem já tinha sido pago pelo Pedro Álvares Cabral! LOL!

Gabamo-nos de ser hospitaleiros. Cuidado com isto, só depois de sermos recebidos com a hospitalidade brasileira, coisa que muito me toca porque também é ponto de honra açoriano. Ainda por cima, quando ela se faz logo sobre dois ou três pontos facilmente identificadores de percurso pessoal. O meu amigo Eduardo, carioca, foi guerrilheiro, é cientista, professor universitário, é um amante de tudo o que a vida tem de melhor, é um homem de esquerda sempre a interrogar-se sobre o que é a esquerda. Como é que isto não deixaria de dar um grande convívio carioca, do uisque no bar de Ipanema (o da garota) até à introdução no mais famoso grupo de teatro de vanguarda, passando pelos locais de encontro típicos da resistência contra a ditadura dos coronéis? De longas conversas a encher um aipim com charque, chope um atrás do outro, em tudo o que era esplanada de cervejaria típica? E dos encontros marcados com tudo o que era top da inteligência carioca, que infelizmente já esqueci em boa parte? Há portugueses que recebem assim os seus amigos brasileiros?

Obrigado para sempre, Eduardo. E também um abraço para ti, Zenaide, que manténs um belo Brasil no Alto da Barra. "Este país ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai ser um imenso Portugal". Parvoíce do Chico,"este rectângulo ainda vai ser um pouco desse imenso Brasil tropical, que vai cumprir seu ideal". Fim banal: comparemos Lula e Sócrates!

As crianças, meu Deus...


Há dias, recebi uma carta muito simpática da UNICEF, a pedir-me uma contribuição. Vem acompanhada com os seguintes dados, que fazem pensar.


Para mim e muitos leitores, o que são 30 euros? Vejo aqui que são 120 novos "netos" meus! Não sei se percebem o que é "tratar", naquele texto. A seguir à malária, as diarreias são a principal causa de morte infantil nos trópicos, quase dois milhões de crianças por ano. Tratar, aqui, significa não deixar morrer!

Contacto: Comité Português para a UNICEF, Av. Antº Augusto de Aguiar, 56-3ºE, 1069-115 Lisboa, 213177500

Memórias de Zita Seabra

Zita Seabra, ao que leio num Público já com muitos dias, prepara-se para lançar um novo livro de memórias. Espero que seja mais interessante do que o anterior, hoje perdido, cá em casa, no armazém de livros do sótão. É que não me interessam nada as suas historietas sobre o chazinho da Georgette Ferreira. Isto vai de mal a pior. O livro de Raimundo Narciso era muito localizado entre o 5º e o 6º andar da sede da Soeiro. Palpita-me que este de Zita Seabra vai por ainda pior caminho. Da apresentação do livro, que li no jornal, saltaram-me à vista algumas coisas importantes.
"Após a derrota [nas eleições de 1987] fui à reunião do Comité Central do PCP para análise dos resultados eleitorais, onde fiz uma intervenção, a primeira da reunião, discordando absolutamente da orientação que tínhamos seguido. (...) Decidi começar a ler mais livros sobre a dissidência soviética. Tinha a triste sensação de que devia transpor a barreira de informação que tinha imposto a mim própria e conhecer o outro lado, ler o que nós, comunistas, não líamos por se tratar de mera propaganda dos inimigos do Partido."
Não sei o que dizer, se honrar a honestidade de ZS, se me escandalizar com a enormidade da afirmação. Um membro do CC do PCP, em 1987!, ainda não tinha começado a ler certas coisas porque eram propaganda contra o partido? Lembro-me de JPP e da sua citação de Sá de Miranda, "m'espanto às vezes, outras m'avergonho". Mas isto não é estranho, se nos lembrarmos que a grande maioria dos dissidentes dessa época esperou pelo desfecho patético do golpe de Agosto de 1991 contra Gorbatchov. Cunhal vivia virado para leste? Afinal também eles, de outra forma, nunca tendo dito uma palavra sobre as grandes questões que se punham em relação à atitude do PCP/Cunhal em relação ao ideal de uma sociedade portuguesa.

Diz ZS, mais adiante, que
"tinha acabado de sair um livro revolucionário, A Revolução na Economia Soviética: a Perestroika, do economista Abel Aganbenguian, editado em Portugal pela Europa-América, e eu levei-lho. O livro explicava que, ou a URSS mudava, ou perdia o carro da História. Acabado de chegar de lá, Cunhal vinha escandalizado com o que vira e ouvira. Penso que se deve ter encontrado com algum dos seus fiéis amigos, Ponomariov ou outro parecido, porque tinha mudado radicalmente de atitude. Dizia já nessa altura que se corria o risco de pôr em causa a própria existência da URSS."
Isto parece-me total ingenuidade. Pretender-se pôr Cunhal a pensar em função de um livro de um personagem relativamente menor, embora influente, e levado ao seu conhecimento por uma "camarada"? Cunhal teve muitas coisas que me são detestáveis, mas não esteve nunca a este nível. Informação tinha-a e até não me atrevo a afirmar que não tenha tido conhecimento antecipado do tal golpe de Estado, ele que sempre esteve no centro do clube brejneviano. Com isto, a afirmação de Cunhal até era bem clarividente, era mesmo o fim anunciado da URSS. O problema está em gostar ou não disto. Mas o que conta, em relação a Cunhal, de um ponto de vista meu intelectualmente neutro, é que ele viu e os dissidentes não.

Mais surpreendente é outra afirmação de ZS, citando Cunhal.
"Ameaçou os capitulacionistas, explicou que havia quem quisesse que o Partido perdesse as suas raízes ideológicas de partido marxista-leninista, que havia quem quisesse que o Partido deixasse de ter uma perspectiva revolucionária e passasse a partido burguês e com o voto como arma. E contou uma história terrível, dizendo que havia mesmo quem não quisesse respeitar a herança estalinista [JVC, ênfase minha], e procurasse denegrir o nosso partido com essa mesma herança."
Não posso crer. Que Cunhal tenha morrido a pensar em Estaline, não me custa a acreditar, mas que tenha dito isto, mesmo no CC dos fieis dos fieis, essa é que não.

Volta a dizer ZS, citando Cunhal,
"Afinal ele queria levá-lo para uma noite de álcool e prostitutas e Cunhal, quando percebeu, recusou. Mas, perguntou à reunião: Alguém aqui estranha que uns tempos depois este camarada tenha desaparecido?".
Espantoso! Alguém duvida do significado do termo "desaparecido" num discurso totalitário? Alguém imagina Cunhal a dizer tal coisa, embora provavelmente sabendo que era verdade?

Com tudo isto, é certo que não vou comprar o livro.

P. S. (12:06) - Verifico, pela leitura do jornal, que o livro já foi lançado, em sessão de ontem.

05 julho, 2007

Provocação

Miguel Araújo estimula-me sempre com os seus artigos e também me diverte (no bom sentido), com o seu estilo provocatório. Sem acrescentar mais, sugiro a leitura de um texto seu, "Para quando a fusão das universidades públicas de Lisboa?". Merece discussão, embora, logo como posição inicial, eu adiante que, em princípio, para mim, "small is beautiful". E nada impede que haja mecanismos, até meramente funcionais, de garantia de coerência da diversidade.

04 julho, 2007

Bolonha


Este foi o slide de conclusão que apresentei num seminário sobre o processo de Bolonha em Portugal. Dá discussão?

Também há uma variante, à espanhola, do meu amigo Pepe. "Nuestras universidads van a ser hamburguesas con salsa boloñesa".

Nota técnica (II)


Não vou prolongar este tema, as apresentações, que provavelmente só interessa a uma minoria dos meus leitores. Não resisto é a uma história verídica, passada ainda há pouco tempo com um professor catedrático. Os slides eram todos deste tipo, ele virou-se para o ecrã, de costas para a assistência e leu, literalmente, todo o conteúdo dos slides. Há qualidades pedagógicas notáveis. Mas ao menos faz jus ao título medieval de "lente". É Bolonha à portuguesa.

(A imagem foi "roubada" a um manual de ensino do IST, só disponível para alunos)

Liberdade religiosa

1. Foi aprovado um decreto que dá valor civil aos casamentos religiosos de várias confissões, como já acontece com os casamentos católicos. Muito bem!

2. Ao mesmo tempo, Mário Soares foi nomeado presidente da Comissão da Liberdade Religiosa. Novamente, muito bem. É um agnóstico, neutro, mas com provas dadas de diálogo. Ainda por cima, embora seja questão privada, é uma pessoa que convive aparentemente muito bem com uma mulher religiosa. Boa escolha.

03 julho, 2007

Nota técnica

Provavelmente, alguns dos meus leitores fazem apresentações e preparam-nas em Mac, para depois as projectarem num PC, como é o meu caso. Hoje fui a um Seminário, para o qual preparei uma apresentação cuidadosa. Foi um fiasco. No meu Mac, usando o Keynote, perfeito, com as regras actuais da apresentação. Exportei para PowerPoint e para PDF, mas tive a triste ideia de, no PC, fazer a apresentação em PowerPoint. Os erros foram muitos.

No intervalo a seguir, tive a curiosidade de passar para mim só a apresentação em PDF. Impecável. Claro que não havia efeitos, mas quem quer uma boa apresentação não usa efeitos de novo rico. Tenho a impressão de que muita gente discordará disto. Agora, só levo PDF. A culpa foi minha, porque há pouco tempo tinha lido alguma coisa sobre isto numa ML que assino.

Devaneios de jardim (IX)

1. Todos os dias leio no jornal um anúncio da Clínica dos Arcos, espanhola, apresentando em título "Tratamento voluntário da gravidez". Tratamento? Tiro no pé. É caso para a velha máxima, cuidado com os meus amigos, porque com os meus inimigos posso eu bem.

2. Leio sempre com agrado a página do provedor, no Público. A do último domingo aborda uma trapalhada em que o jornal mostra que a emenda pode ser pior do que o soneto. Um jornalista começou por escrever que a mulher de D. João III tinha sido D. Catarina de Bragança, que só viveu dezenas de anos depois, emendando a seguir para D. Leonor de Áustria, que foi sua pretendida mas roubada por D. Manuel (nunca leu El Rei Seleuco?).

Mas o que é importante nesta história exemplar é a pergunta de um leitor, que repete uma que também eu já pus a Rui Araújo: "A minha preocupação é a seguinte: se encontrei estes erros sobre um assunto que conheço, qual a fidedignidade de notícias de assuntos que não domino?"

02 julho, 2007

Escorregadelas de uma jornalista

Os jornalistas são especialistas em tudo. Há um domínio em que isto é inegável, porque é aquele em que todos nós temos de ser especialistas, o da política, da vida comunitária, da cidadania. Neste, é normalmente com muito agrado que leio as crónicas políticas semanais de São José Almeida (SJA), no Público. No último Sábado, escreve "Que modelo de universidade?" e aventura-se, sem dominar bem a matéria, por assunto que, sendo obviamente politico, é também muito mais. Claro que a escrita e a qualidade do raciocínio se ressentem.

Comecemos pela epígrafe. "A universidade deve estar sujeita ao critério da verdade na procura do conhecimento e não da sua utilização utilitarista". Muito bem, mas há alguém que discorde, salvo os gurus do "economicismo" primário? E nem tudo, ou mesmo muito pouco, do que SJA escreve a seguir é a única visão possível da concretização desse princípio.
"Muita da contestação que tem sido feita é contra a fragmentação da universidade que passa a ser possível, ou seja, as faculdades passam a poder autonomizar-se das respectivas universidades. Uma solução que adopta a lógica anglo-saxónica e entra em contradição com o modelo de universidade europeia a que obedece a concepção de universidade portuguesa."
Já critiquei esta possibilidade de autonomização tão descontrolada, mas não consigo perceber em que é que ela adopta a lógica anglo-saxónica. Gostava que SJA me desse um exemplo de um departamento ou escola de Harvard ou Cambridge que se tenha autonomizado da sua universidade. Desconfio que está a pensar no MIT, apenas por causa do nome, quetalvez lhe ecoque o nosso IST, mas desconhecendo que sempre foi o MIT e que é uma verdadeira universidade, muito para além das engenharias. Também não vale vir-me com o exemplo recente do Imperial College, porque a chamada Universidade de Londres é uma manta de retalhos, com fraca coesão institucional.
"(...) pela criação de um conselho geral, que passa a concentrar também um enorme poder e se substitui ao poder de decisão da assembleia e do senado universitários."
Grande confusão. É verdade que o novo CG passa a ter os poderes essenciais da actual assembleia: aprovar os estatutos e eleger o reitor. Começo por lembrar que a eleição para a assembleia é a coisa menos motivadora nas universidades, que muitas vezes é necessário ir pescar à linha os candidatos e que, quanto aos estudantes e funcionários, é exemplo frequente de jogos partidários ou sindicais. Com tudo isto, tanto pode haver excelentes reitores como fracos eleitos, comprometidos com os interesses dos seus eleitores. Quanto à qualidade normativa e formal da mioria dos estatutos, é melhor nem falar. Anote-se ainda que muitos defensores da eleição do reitor pretendem é a eleição universal, não pela assembleia. Olhem só para os efeitos que isto teve aqui ao lado, na Espanha.

No que respeita ao senado, SJA escreve uma total invenção sua ou bebida não sei onde: não há uma única competência actual do senado que tenha passado para o CG. Para o reitor sim, e isto também eu critico, concordando com SJA, como poder desmesurado do reitor. No entanto, é curioso que eu ainda não tenha lido uma única critica de dentro da universidade, muito menos do CRUP, sobre este exagerado poder dos reitores. É que os académicos (e eu também) sabem bem como dar a volta a isso e transformar esta proposta de lei em presente envenenado aos reitores. Porque é que os reitores querem ser "legitimados" por uma eleição? Não se pense que é para terem força externa, é muito mais para efeitos internos, a meu ver.
"É que este conselho geral passará a eleger um reitor através de uma espécie de concurso público, a que podem concorrer personalidades que não integram o corpo docente da universidade em causa. Esta medida aponta para mais uma introdução de um factor exógeno à escola na sua gestão, o qual tem por detrás uma clara concepção ideológica neoliberal. Reafirme-se que é bom a interacção com o meio, mas a ideia é surpreendente pelo que ela mostra do modelo de universidade que se pretende. E um concurso público para reitor só tem como referência a forma como as empresas escolhem os seus gestores."
Novo equívoco de SJA (e de muita gente, até os reitores). O processo de "search and select" não tem nada a ver com um concurso de carreira. Começa por haver uma procura muito activa de bons candidatos. Depois, é essencial a apresentação e discussão aprofundada de dois documentos clássicos, a carta de motivação e o programa. Finalmente, a entrevista é baseada essencialmente na visão estratégica dos candidatos. Eu já passei por isto, cá e no estrangeiro, e sei o que é de exigente.

Depois, embora este processo seja vulgar nas empresas, mas não há tanto tempo como isto, a "corporate governance" tem regras que são comuns a qualquer organização. Neste caso, para não falar nas universidades americanas, são todas as universidades do norte e centro da Europa, excluindo-se - ainda, masaté quando? - as do sul da Europa. E o que é que isto tem a ver com "uma clara concepção ideológica neoliberal"? Ler isto é coisa que lamento, porque não estou habituado a ver SJA usar chavões tão demagógicos e irracionais.
"Os efeitos de Bolonha na universidade portuguesa já se notam - o número e a diversidade dos cursos e mestrados já diminuíram."
SJA, como é que pode escrever coisa tão disparatada? Efeito de Bolonha?! Explique lá, se faz o favor.

01 julho, 2007

Nota gastronómica (XIII)

Uísque

Gosto de um bom uísque e, por isto, li muito interessado toda uma crónica do Público (Fugas), de um jornalista que mostra grande erudição (?) sobre o fabrico de uísques. Creio é que o jornalista nunca soube apreciar um grande "single malt". Senão, nunca poderia faltar-lhe uma simples palavra ausente em toda a extensa crónica: fumo! Ele nem sabe o que isto é e parece que nunca deu por este gosto essencial ao provar um uísque.

Fosse só na gastronomia que os jornais hoje nos vendem gato por lebre. É em tudo, mesmo nas coisas mais importantes da nossa vida e dos nossos direitos de cidadãos.

P. S. (depois da leitura do Público de hoje) - As croniquetas de David Lopes Ramos, que já aqui referi por mais do que uma vez, deixam-me desgostoso. Há muito tempo que o leio, com agrado, e continuo a fazê-lo, no mesmo jornal, no suplemento Fugas. O que não consigo perceber são as suas alusões a acompanhamentos de vinhos, muitas vezes claramente a despropósito. A intenção talvez seja boa, mas o resultado é perigoso. Começa a fazer-me recordar um livro inconcebível, de Michel, aí há uns anos, em que se indicava, para cada molho banal ou para cada guisado e assado, a marca e o ano do vinho.