14 julho, 2007

Devaneios de jardim (X)

Depois de uma viagem académica aos Açores, que tem muito que contar (de bem), o que irei fazendo nos próximos dias, regresso às escritas, hoje a pretexto da leitura do Público.

1. Foi confirmado, por autópsia, o primeiro caso português da nova variante da doença de Creutzfeld-Jakob (DCJ). Como muita gente sabe, é uma doença humana degenerativa e rara, tipicamente de idosos. No entanto, por transmissão alimentar de uma doença relacionada da vaca, a das vacas loucas, apareceu esta nova variante humana da DCJ, com a característica marcante de afectar pessoas muito mais jovens. O que isto não tem nada a ver é com a afirmação da jornalista de que se trata de uma variante mais agressiva. O que éque isto quer dizer? No caso da DCJ e da nv-DCJ, certamente que nada. Era bom que os jornalistas, principalmente os "especializados" fizessem mais frequentemente aquilo que faz um já praticamente meu amigo, do JN, que me telefona com grande frequência.

2. Keil do Amaral foi um grande arquitecto, mas com alguma dose de pouca sorte, no sentido de algumas das suas obras emblemáticas já não o merecerem, por degradação a que foram deixadas. É o caso, se não estou em erro, do restaurante de Montes Claros e, agora em foco, o da piscina do Campo Grande. Não me parece viável reanimá-la para este fim, mas não haverá outro uso que justifique a recuperação desta obra de Keil do Amaral? Um bom bar restaurante à volta de uma piscina convertida em espelho de água e até com um pequeno estrado com mesas, ao centro? E para quando umaboa exposição da sua obra? Posso estar enganado, mas não me recordo de ter havido, ao contrário, por exemplo, de boas exposições de que me lembro sobre Fernando Távora e sobre Cristino da Silva.

3. Uma pequena notícia refere melhoramentos em estruturas costeiras nos Açores. É verdade que a região está claramente a apostar no mar, e muito bem. O que me é mais visível são os aproveitamentos de lazer, para locais e para turistas, com destaque para excelentes zonas balneares naturais, a justificar porque é que um açoriano como eu ainda hoje acha que praia é coisa menor, comparada com os meus banhos de miúdo entre rochas. Particularizando, anoto que um dos maiores empreendimentos, que me suscitou dúvidas, a nova "zona de mar" de Ponta Delgada, pelo que vi agora, me parece muito promissora.

4. Título de uma coluna: "O nosso ADN". Não é correcto. O uso das siglas é muito variável. Correntemente, dizemos NATO, à inglesa, mas ONU, à portuguesa. O caso do ADN é um pouco diferente, porque há uma recomendação internacional que, ao menos, devia obrigar os cientistas, que, por sua vez, alargariam a norma. A regra, da USB (união das sociedades de bioquímica) é de os compostos químicos serem designados, por extenso, em cada língua mas, como siglas, conforme à designação inglesa. Assim, será ácido desoxirribonucleico, mas DNA (deoxyribonucleic acid). Lembro, para quem está metido nesta área, que ninguém se lembra de designar como TFA o ATP (trifosfato de adenosina, em inglês adenosine triphosphate, donde o ATP).

5. "14 juillet: liberté, égalité, fraternité". Com pequenas actualizações, como isto me parece ainda definir bem a alma de esquerda: liberdades, igualdade de oportunidades, solidariedade social. Uma pequena nota marginal. Seria bom que o jornalista tivesse esta fórmula tão enraizada que nunca se pudesse lembrar de escrever, como fez, "igualdade, liberdade e fraternidade". Pequeno pormenor, mas significativo da incultura que por aí vai nas redacções.

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