"Quais anti-inflamatórios, qual quê! Obstinada, recalcitrante, lamuriante, autista, tetraplégica mental, preguiçosa e inactiva! A senhora é tal e qual o nosso governo. E, tal como este, é só de um plano austero, implacável de dieta rigorosa e de exercício activo, o que a senhora precisa. Faça alguma coisa de útil por si e pelos outros! Mexa-se!"
Foi com um ralhete destes, que CG, o meu médico de família, definiu o “standard e benchmarking” da minha insatisfatória condição de saúde física e me coagiu a um forçado processo de re-engenharia comportamental.
A humanidade não me merece - é que mesmo depois de ter sido insultada daquela maneira, dei razão ao médico. Assim, há cerca de 8 meses atrás, com humildade e em obediência cega aos conselhos, resolvi ingressar no mundo do desporto de alta competição - a natação e, hoje mesmo, acabo de bater o recorde mundial absoluto dos
Bom, não será bem, bem natação - em piscinazinha coberta e termo estatizada - o desporto que agora pratico, na verdade, trata-se muito mais de uma chapinhaçãozita individual num tanque de
Perfeitamente extasiada, hoje, atribuí a quietude da água, a desertificação, o silêncio absoluto e sepulcral que envolviam a "minha piscina" e os arredores, ao facto de ser quase Agosto, e das pessoas estarem TODAS de férias.
Pensei para comigo: maa-raa-vii-lhaaa, hoje estou aqui, inteiramente, por minha conta. E…mergulhei de olhos bem fechados (esqueci-me dos óculos de protecção), na água sereníssima e quentinha, de um só fôlego. Não tinha ainda nem dado cinco braçadas, e bati com toda a força de um aríete, com a minha testa num toco de ferro, que ecoou assim: “toiiiiaannggg....gaanngg”.
A minha pulsação - normalmente, mesmo que chovam canivetes, inamovível nas 75 batidas por minuto - disparou lá para umas 200 ou mais! Juro por Deus, que eu não só vi as estrelas, como ainda vi e tropecei em seis pares de pernas pretas, ataviadas com pés de pato (barbatanas), que se encontravam ali flutuando, ao nível no fundo do tanquezinho de
Dá para acreditar?
Gritámos TODOS, eu e os donos das pernas e dos pés de pato, num coro uníssono, diferentes palavrões conhecidos e outros nem tanto!
Contundida e muito baralhada das ideias - ainda não tinha me tinha conscientizado do que tinha, realmente, visto - nadei, nadei… Nadei não, voei, voei os cerca
Escusado será dizer que, já esqueci os insultos do meu médico de família, mas o nome dele, o do responsável pela "piscina" e o do "personal trainer de scuba diving" não, e estes foram devidamente acrescentados ao meu já extenso e imorredoiro rol de inimigos a abater.
O que lhes contei não pode ter sido nenhum atentado, contratado e premeditado, contra a minha integridade física e mental, pois não? Mas lá que resultou....
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