30 março, 2008

Bom senso

Esteve há dias em Portugal Hung-Hsi Hu, professor da Universidade de Berkeley, membro do National Mathematics Advisory Panel, que aconselhou recentemente o governo americano sobre a reforma do ensino da matemática no equivalente aos nossos ensinos básico e secundário. Entrevistado pelo Público, respondeu como se segue à pergunta "que recomendações daria aos Governos portugueses?"

"É preciso que os educadores trabalhem em conjunto com os matemáticos, desde que estes tenham a humildade de aceitar que o ensino nas escolas é complexo. As decisões não podem ser deixadas apenas a quem mal percebe de Matemática. Segundo: concentrem todos os esforços em arranjar bons professores."

"So simple, elementary!" Magistral!

29 março, 2008

"Governances" pessoais

Depois de alguns anos, hoje, revi uma pessoa minha conhecida, contadora de casos e, como não podia deixar de ser, fui uma ouvinte bastante divertida das histórias que só acontecem a alguém como ele.
Em relação, a um dos contos, acabei por me sentir, como dizer? Intrigada? Ambivalente? Bom,... Não sei,... Resolvam os meus caros e raros leitores, como se sentiriam, depois de saberem isto:
Trata-se de uma pequena narrativa, que vou tentar recontar-lhes ao preço de custo:
Um pastor de ovelhas e cabras montanhesas, passava a vida com o seu modesto rebanho de um lado para o outro, subindo e descendo morros e valados.
Nos seus caminhos, via com frequência quase diária, fizesse chuva sol ou neve e durante um bom par de anos, um rapaz equipado de botas de montanhismo, um variado sortimento de aparelhómetros electrónicos, e ferramentas diversas que incluíam duas bengalas de escalada e uma pequena enxada e, permanentemente, hiper-carregado com uma mochila atafulhada de pertences, da qual transbordavam, em equilíbrio perigosamente instável, uma máquina fotográfica e um portátil sem fios.
De espaço a espaço, sob as copas das árvores, o rapaz construía cuidadosamente uns montinhos de terra e de folhas caídas, que marcava com umas espias, fotografava e anotava muitas informações, num mapa que iluminava o monitor do seu computador.
Periódica e sistematicamente, desfazia os montinhos, separava e recolhia amostras, que embalava cuidadosamente e, derreado, transportava tudo de volta ("via-se mesmo" que era a duras penas) até desaparecer no horizonte, ou por trás do morro mais próximo.
Tempos a tempos, repetia as suas intermináveis tarefas que, aos olhos do pastor, lhe pareciam já ritos, ou penitências de uma crença estranha, muito mal resolvida. Terminava os dias a parecer que queria que outros começassem logo, para fazer tudo de novo. Mês atrás de mês, assim se repetiam as lides do observador (o pastor) e do observado (o rapaz).
Um dia, o pastor não resistiu, e aproximou-se do rapaz, e - entre a oferta e a partilha de um naco de queijo, de um gole de vinho e de um cigarrito de enrolar - à queima roupa, tiveram o seguinte diálogo:
[Pastor]: Que mal lhe pergunto companheiro, o que faz o senhor, sempre tão aperreado, aqui, nestas paragens a que não pertence, para se castigar assim tanto.

[Rapaz]: Estou a cumprir as tarefas de um projecto de investigação, pagam-me para isso, lá na capital, e serei obrigado, a dar resposta ao tempo de degradação das folhas destas árvores, nesta região, por causa de garantirmos um desenvolvimento sustentável da mata.

[Pastor]: Quer, então dizer, que o meu amigo consegue governar a sua vida assim?
Qualquer um aqui, sabe disso!
Todos aqui da zona sabem e circulou o braço, circunscrevendo o rebanho no "know-what", que essas folhas aí desaparecem, no máximo, em 3 anos! ....2 anos e picos, se os invernos, forem brandos...'tá aí um dinheiro, tempo, saúde e feitio bem empregues...

Notas soltas

Contra o que tenho criticado a outros, hoje vão só dois "sound bites" suscitados pela leitura do jornal.

1. Há uns anos, Jaime Gama, na Assembleia da República chamou a Alberto João Jardim, a meu ver muito bem, o Bokassa da Madeira. Ontem, no Funchal, afirmou que ele era "um exemplo supremo na vida democrática do que é um político combativo". Será que é o mesmo Jaime Gama da nossa juventude?

2. Vai ser sequenciado o genoma do sobreiro. Boa ideia, de previsíveis consequências práticas muito importantes para nós. Ficam da notícia é coisas que não percebo. Vão ser sequenciadas 100 milhões de bases, quando o genoma tem pelo menos dez vezes mais. O projecto, para três anos, envolveria cerca de 200.000 operações de sequenciação, uma por dia e por máquina, ou seja, em 300 dias por ano, 600 máquinas em simultâneo. Só isto custaria qualquer coisa como 50.000.000 euros só em equipamento, mais uma verba muito considerável para mão de obra e reagentes. A notícia diz que o financiamento pedido para o projecto foi de 100.000 euros. Bate certo ou alguém está a enganar alguém?

28 março, 2008

Nota gastronómica (LIII)

Tapioca, sagu, pérola

Adrià, entre muitas outras coisas, introduziu-nos no hábito das espumas e do sifão, esquecido já depois da época da soda water, e de que falarei um dia destes. Agora criou moda, merecida, com a sua imaginativa e versátil técnica da esferificação. Essencialmente, tudo o que imaginarmos, carnes, peixes, legumes, liquefeitos, pode ser convertido em pequenas esferas, tipo caviar. Claro que a variedade de sabores e de cores é imensa.
Nem parece muito difícil. É acessível a um bom cozinheiro, desde que obtenha o ingrediente essencial, uma espécie de gel extraído de algas, o alginato. Tudo bem misturado a quente com o que se quer comer, combinado com um sal de cálcio, refrigerado e adicionado com aparelho próprio ou até com uma seringa a um óleo, formam-se esferas que contêm qualquer líquido ou pasta que se queira e que depois nos rebentam de sabor, ao trincá-las. Nem é novidade o uso do alginato, já clássico para a indústria dos sumos de fruta e dos sorvetes, para aumentar a espessura, bem como em alguma pastelaria de pudins e coberturas de bolos. Até a indústria cervejeira o usa, para estabilizar a espuma. E até já há quem o consiga com o vulgar agar (vídeo referido no blogue "O avental do gourmet"). Não posso é dizer mais nada, porque precisarei de experimentar a técnica, concentrações, temperaturas, tempos, a final o essencial em qualquer técnica de cozinha.

Isto fez-me lembrar uma outra forma de esferificação que uso, mais limitada mas mesmo assim versátil, usando um produto natural, coisa corrente em casa dos meus pais. Canja e caldo de carne eram muitas vezes clarificados, em bom consomê e acrescentados de massa pérola. Não dava muito sabor, mas o efeito visual era magnífico. Foi coisa que praticamente desapareceu, a massa pérola, nem nos Açores já há, mas compra-se aqui em algumas lojas dietéticas como sagu (não confundir com um prato de vegetais indianos e coco ralado, com o mesmo nome) ou tapioca.

Não são exactamente a mesma coisa, mas na prática são quase equivalentes. Em ambos os casos, são pequenas esferas, brancas e opacas, de uma massa dura. São ambos produtos secos e comprimidos de amido, o sagu proveniente de uma palmeira do sueste asiático, a “sago palm”, no segundo caso a tapioca da mandioca. Julgo que hoje praticamente só se vende a massa de tapioca. A característica comum é a de, cozidas as pérolas, ficarem inchadas e transparentes, absorvendo o líquido em que ferveram. Em casa dos meus pais, era o próprio consomê, mas pode haver variantes bem mais imaginativas.

Essencial é que as esferas demolhem pelo menos meia hora, de preferência em líquido morno. Pode ser simplesmente em água, mas pode-se ir logo dando um toque de sabor e cor usando outras coisas mesmo nesta primeira fase. Depois, cozer no que se quer, pelo menos meia hora, mas o critério absoluto é que as esferas fiquem inchadas e completamente transparentes. Às vezes, pode ser preciso mais do que a tal meia hora.

Versão simples, como disse, só decorativa, cozer no caldo, o meu hábito de menino. Mas há tudo a imaginar. Contrastar cor e sabor? Inchar e cozer em compota diluída em água ou, mais intenso, num achar ou em compota de malagueta. Contrastar cor mas sem doce? Verde com um caldo muito concentrado de espinafres, roxo com couve roxa ou beterraba, vermelho com tomate, tudo bastante concentrado. Contrastar só sabor? Um consomê de galinha com pérolas cozidas em caldo de marisco muito concentrado. Ou então, já agora, um consomê de galinha com ovas de salmão. Aves e marisco, coisa estranha? Ainda hei-de escrever mais sobre isto.

26 março, 2008

A minha chegada à "nossa" Bolonha via Rua Sésamo



Ah, meus caros e raros leitores, é uma vergonha para a família, mas eu confesso que não percebi! As explicações, para mim, têm que ser dadas muito mais devagarzinho.
No dia 21 de Março, li esta headline numa notícia "bombástica" no Correio da Manhã:
"Licenciados automáticos - Cerca de 1400 bacharéis de cursos de Engenharia obtiveram administrativamente o grau de licenciado, no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra..."
Os escrevinhados, continuavam, continuavam, continuavam, como podem ler com os vossos próprios olhos.
Além disso, começou a correr na blogosfera, não só a notícia "bombástica", como ainda a divulgação de um mau estar nos meios académicos (???).... Por acaso, até tenho alguma proximidadezita com os meios académicos, e não detectei nenhum mau estar, mas também pode ser minha baixa tolerância a mexericos e segredinhos.
Até porque, felizmente, o Senhor Presidente do CCISP também atalhou perfeitamente a tempo, e explicou muitíssimo bem o procedimento de acreditação seguido pela Escola e, aliás, descrito de forma clara, pelo Senhor Presidente do Conselho Directivo da Escola visada. Ambos me merecem felicitações!
Não percebo o que é que a referida Escola poderia ter feito, com uma legislação, que não exigia nada, nem por exemplo, que as formações de Bolonha, obrigatoriamente, expressassem detalhadamente, os resultados de aprendizagem, para efeitos de comparação de currículos - é bom lembrar que Resultados de Aprendizagem não são competências - coisa que muita boa gente, com alguma responsabilidade, continua a dizer que são uma e a mesma coisa. MAS, NÃO SÃO!
Assim, não há dúvida que, o que a Escola acreditou (o termo correcto é acreditou) não foi uma formação ao mesmo nível de uma Licenciatura das antigas de 5 anos, e sim, e apenas, uma formação inicial de 3 anos que, por acaso, até se resolveu, num lugar qualquer, bacocamente, designar de Licenciatura (Bolonha).
Por isso, é que também não percebi porque é que o Senhor Bastonário da Órdem dos Engenheiros insinuou de facilitismos, sobretudo, não tendo ele explicado DEVIDAMENTE o que é que considera não facilitismo - serão os tais mestrados integrados, nos quais - na hora do vamos ver - se pode aceder de qualquer outro lado, a meia náu? Isto, claro, para além de não me ter constado, que nenhuma escola - Universidade ou Politécnico - tenha pedido qualquer creditação de Licenciaturas de 3 anos, à Órdem dos Engenheiros. Mas, enfim, acreditem-me o impossível acontece, com elevadíssima frequência, entre nós!
Ora como o Rossio não cabe(ia) na Betesga das duas uma: ou a Escola visada, anteriormente, à adequação a Bolonha, não ensinaria nada bem e só, por isso, é que agora com uma formação de 3 anos de Bolonha deveria obrigar as pessoas a aprender os conteúdos necessários ao exercício da Profissão de Engenheiro (Técnico) de 3 anos e 180 créditos, a que corresponde a Licenciatura de Bolonha, (Lembrar que o engenheiro pleno da órdem são - 300 ECTS) ou então, SÓ ENSINANDO BEM, é que poderia fazer o que, exactamente, fez - acreditar uma formação anterior de 3 anos e 180 creditos que se chamava Bacharelato, a uma outra formação, a actual, também de 3 anos que, por acaso, alguém decidiu designar por Licenciatura, quando Licenciatura-Licenciatura (5 anos) era uma outra formação superior (e, essa sim, tem tendência a extinguir-se, a curto prazo, e o seu nome devia ter sido suspenso do léxico das novas formações, mas isto...).
Mas, como eu não devo estar a ver nada bem o problema, expliquem-me lá o que é que, exactamente, a instituição fez errado:
- É que Mudou o paradigma? Não me digam....Porque dizem isso?
Acham que com aulas tutoriais se aprende mais, também concordo!
Mas então, aonde andam docentes suficientes para essas tais aulas pessoa a pessoa (poucas pessoas), quando se os docentes têm agora cargas lectivas superiores a 12 horas por semana em aulas de contacto presencial para turmas de 40 e mais alunos?
- Há instituições que mandam ou recomendam fazer "umas disciplinas"(?)
Ah! Não me digam.... Porquê?
Quer dizer que, agora existem algumas instituições que decidiram ensinar conteúdos de mais "umas disciplinas" que não leccionavam anteriormente (pelos vistos, MUITO IMPORTANTES serão essas actuais unidades curriculares adicionais,... digo eu,... para obrigar ex-alunos com formações iniciais anteriores de nível superior, com 3 e ou 4 anos de duração, já com experiência profissional, e formação adicional, a aprender esses tais temas tão candentes)?
Então e, anteriormente, essas matérias tão importantes - para os ciclos de 3 e ou de 4 anos - os tais bacharelatos - eram então dispensáveis? Porquê?
Dizem também, que houve uma corrida de Licenciados de formações iniciais antigas a correr às Órdens! Que interessante! Mas, ao que se sabe, se for a Órdem for dos Engenheiros, esta determinou que são necessários 300 créditos ECTS, e não os 180 ECTS, que foram acreditados, por isso, esses tais licenciados não teriam - vista, desse angulo - qualquer concorrência destes outros Licenciados de Bolonha.
- Tem gente, que diz que a Escola não devia cobrar propinas.
Ah, nisso estou INTEIRAMENTE de acordo!
Pois não, a Escola não devia! Mas o que DEVIA era o MCTES não ter determinado que a acreditação, implicava OBRIGATORIAMENTE "prosseguimento de estudos", ou seja, uma matrícula do aluno no Curso Acreditado - aliás, a este respeito, digo-vos, julgava que já tinha visto tudo na vida, mas eu nunca, na vida, tinha visto uma ideia tão peregrina.
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Aliás, toda esta história foi muito mal contada pela comunicação social, mas o que é que se pode esperar? Em todas as profissões há incompetentes oportunistas - e, como dizia Truman Capote, há quem escreva e há quem seja dactilógrafo. O que me faz surgir, então, é ainda uma outra duvida: a quem pode ter interessado o arraial montado em torno de uma instituição, que até cumpriu a lei e, quer queiramos ou não, é muito respeitada, ao seu nível, quer internamente quer a nível internacional?
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Dizem também que o Senhor Ministro Mariano Gago determinou a abertura de um inquérito, ao Instituto de Engenharia, "para apuramento da legalidade e eventuais responsabilidades dos factos realizados". Esta decisão, a ser verdade, então, é curiosíssima - Mas afinal, quem é que se responsabiliza, em Portugal, pela Legislação de Ensino Superior que se vais aprovando? Se soubermos quem se responsabiliza, achámos o(s) responsáveis!
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Meus caros e raros leitores, esclarecer os ignorantes é uma obra de caridade.
Caso não tenham as mesmas dúvidas que eu, façam-me então a caridade de me explicar a mim - mas, lembrem-se, que terá que ser mesmo muito passo a passo - o que é que o tal instituto deveria ter feito e não fez, bem como o que fez, mas que não devia ter feito? Eu há muito tempo que estou parada neste único ponto: 3 costumava ser diferente de 5.
Isto também mudou?
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ADITAMENTO
(1 de Abril de 2008, e não é uma mentira):
As figuras estavam cotadas com 30 ECTS, cada balão.
Na verdade, como cada balão representa um ano de formação e de resultados de aprendizagem, adquiridos, como sabem, tem a cotação de 60 ECTS.
Agora as figuras estão corrigidas.
Já agora, um ano são 60 ECTS; 1 Semestre são 30 ECTS e 1 Trimestre são 20 ECTS (e não 15).
As minhas desculpas aos meus caros e raros leitores, e o meu agradecimento a uma pessoa amiga que me avisou do erro cometido.

Bolonha à portuguesa

Quem tem tido a paciência de ouvir as minhas repetitivas apresentações sobre Bolonha sabe bem que termino sempre com alguns “slides” sobre Bolonha à portuguesa. Parodiando o meu amigo Pepe Ginés-Mora, porque somos todos semelhantemente ibéricos, é hambúrguer rafeiro com molho de tomate à bolonhesa.

Há dias, o Público trazia um artigo contraditório. “Nove em cada dez cursos do ensino superior estão adaptados ao Processo de Bolonha, ou seja, deixaram de ter quatro ou cinco anos de duração. Alguns foram divididos em dois ciclos de ensino - a licenciatura com três a quatro anos e o mestrado com um ano e meio a dois anos de estudos . No total dos 2837 cursos em funcionamento, 2502 já procederam às mudanças, o que equivale a 88 por cento. Destes, 94 são cursos integrados, ou seja, os alunos têm de fazer os dois ciclos, por exemplo, Medicina ou Arquitectura.”

Começo por aqui. É claro que não temos 94 cursos de medicina ou de arquitectura, mesmo juntando-se, por essa norma, veterinária e farmácia. É logo um primeiro desvio de Bolonha, a fartura de cursos de engenharia em ciclo integrado.

Interessante nesse artigo, pela relativa novidade em termos de comunicação social, é a dúvida: mas isto será tudo Bolonha? Claro que não é, é uma mistificação para as estatísticas oficiais. E, neste artigo do jornal, vêm testemunhos de professores conscientes que dizem que “o rei vai nu”, que isto não é Bolonha, é uma contrafacção de marca, à cigano da feira de Carcavelos.

Servindo-me dos tais “slides”, e tentando ser muito sintético, lembro que o paradigma de Bolonha é formação de banda larga; especialização a segundo nível, de mestrado; subalternização da aquisição de informação perecível em relação à aquisição de competências transversais; formação cultural; responsabilidade social.

Que as competências transversais são, principalmente, a capacidade de inovação e adaptação, a mentalidade de rigor e crítica, a capacidade de raciocínio, o aprender a aprender, o domínio das TI, a capacidade comunicacional, a responsabilidade social.

E muito falta dizer, sobre a consequente nova pedagogia, em que, frase de que gosto, "o estudante deixa de ser o sujeito passivo do ensino, passa a sujeito activo da aprendizagem". Ficam só perguntas, sobre os cursos já “bolonheses”, para serem respondidas honestamente pelos meus colegas. Onde está o esforço pessoal orientado? Onde estão as tutorias? Onde se faz “problem based learning” (PBL) ou ensino por projectos? Onde há bibliotecas com livros e revistas suficientes para todos os alunos trabalharem simultaneamente? Onde é que há turmas/grupos de discussão de 10-15 alunos? E o “e-learning”?

Bolonha podia ser muito importante, uma revolução na educação superior europeia. Começo a ter dúvidas de que o seja, pelo menos em Portugal.

25 março, 2008

Olha... Olha...Afinal sempre houve amêndoas!

Meus caros e raros leitores,

1 - Acabei de receber um mail, que me dizia só assim: "Antes que desapareça da página..."
2 - Já, anteontem, tinha também visto outra coisa "Portugal entre os países que melhor paga aos seus Bolseiros - estudo 18 Março 2008: estudo comparativo realizado pela empresa Deloitte" noutra página.

Ah! Dizem-me que não são amêndoas,... vendo bem, podem não ser, mas.... não acham que têm parecenças?

24 março, 2008

Cartão de visita

Não há hoje artigo de opinião que não traga no fim alguma identificação profissional do seu autor. Acho muito bem, quando esta informação é relevante. Por exemplo, no meu caso. Para milhares de pessoas que lerem um artigo meu sobre um tema de educação superior, é importante a minha identificação como professor universitário. Muito mais se eu estiver a opinar sobre assunto totalmente fora da minha esfera de especialização.

Já me parece coisa mais artificiosa a identificação dos opinadores regulares. O que é que me adianta que o Público, por exemplo, inscreva sempre a etiqueta de advogado a José Miguel Júdice, de historiador a Pacheco Pereira ou de professor universitário a Vital Moreira? São mais do que conhecidos e, ainda por cima, muitas vezes não escrevem na dependência estrita dessa sua situação profissional, comentam é a política ou a sociedade.

Pior é quando este tipo de identificação me parece descabida, quando não tem nada a ver com o motivo e tema constante da sua escrita. Um dos cronistas habituais do Público é António Vilarigues. É um nome respeitável, só lhe fica bem manter viva a herança coerente e corajosa da vida dos seus pais (presumindo que é filho de Sérgio Vilarigues e de Alda Nogueira). É o maior panegirista do PCP hoje com acesso à imprensa, todos os seus artigos, no seu legítimo direito, são a defesa apaixonada do seu partido. Nunca li dele outra coisa. Assim, se o jornal ou ele próprio inserirem a identificação “membro do PCP”, nada tenho contra, é absolutamente transparente. A questão é que ele aparece sempre é como “especialista em sistemas de comunicação e informação”. A meu ver, não é coisa honesta.

22 março, 2008

21 março, 2008

Nota gastronómica (LII)

Cozinha de Páscoa

Há um prato tradicional de domingo de Páscoa que creio ser único no país, até mesmo no conjunto do arquipélago. Só na ilha Terceira, as empadas de peixe. Também a curiosidade de serem de peixe porque, depois da abstinência da quaresma, seria mais de esperar um prato de carne. Estas empadas tanto eram feitas em casa como vendidas por tudo o que era pastelaria ou creio que mesmo padarias. Aqui vai uma receita de família, coisa que certamente vou comer domingo, a cargo de um irmão que é fiel guardião das tradições familiares e que as faz muito bem feitas.
Para 4 pessoas. Uma garoupa pequena e 2-3 postas de cherne, 250 g de nozes, uma cebola, 2 dentes de alho, um ramo de salsa, uma c. sopa de banha, 3 c. sopa de azeite, 2 c. sopa de vinagre, 100 g de azeitonas pretas e pimenta branca. Para a massa, 0,5 kg de farinha, 125 g de manteiga, 125 g de banha, 2 ovos, 2 c. sopa de açúcar e sal.

Amassar bem os ingredientes da massa e deixar descansar enquanto se prepara o recheio. Fritar ligeiramente os peixes, às postas e desfazê-lo às lascas. Ferver o molho, feito com as nozes muito bem pisadas, o azeite, a banha, a cebola e o alho picados, a salsa picada e as azeitonas descaroçadas, temperando com pimenta branca. Juntar o peixe e, se necessário, um pouco de água e ferver mais uns 2 minutos. Fazer as empadas em formas próprias e rechear com o peixe e as azeitonas, com um pouco de molho. Tapar com massa, deixando um furo por onde se vai juntando uns goles de molho à medida que vão assando. Pincelar a tampa com gema batida e levar ao forno. Serve-se acompanhado com o resto do molho e com uma salada muito simples, mesmo só de alface ripada.

20 março, 2008

Errei

O documento que anunciei ontem no meu sítio como anteprojecto de Estatuto da Carreira Docente Universitária (ECDU) é apócrifo, embora me tenha sido enviado com garantia. Peço desculpa aos leitores induzidos em erro. Informações fidedignas dizem-me que o MCTES ainda não apresentou nenhum projecto de ECDU. Não é a primeira vez que acontece esta divulgação de falsos documentos. Não consigo perceber se é apenas brincadeira de mau gosto ou se há outras intenções. Neste caso, confiei, porque o circuito incluia um elegado sindical.

19 março, 2008

Fruta da época

Gostaria muito que os meus caros e raros leitores aproveitassem bem esta Páscoa para descassarem das minhas arengas. Vamos a ver se têm essa sorte.

Por causa da ASAE, e porque não penso ser amiga pessoal dos vossos dentistas, este ano não lhes ofereço amêndoas nem chocolates, deixo-lhes apenas umas flores de amendoeira.
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PS - Na sempre atenta página de JVC - Reformar a educação superior - estão lá, como não podia deixar de ser, umas amendoas exclusivas para as Universidades, na rúbrica Novas leis da educação superior. Fico à espera de quem entenda desta poda dizer de sua justiça.

ADITAMENTO IMPORTANTE - Afinal parece que as amendoas citadas no PS - ponto anterior - não são ainda fiáveis, por isso desfiz o link à página, até porque JVC resolveu também desfazer o link da página às "amêndoas".
Este ano, decididamente, não há amêndoas de ninguém para ninguém!

PS 2 - Só para não deixar de ser a má - as amêndoas seriam um proposta de ECDU - e não me pareceu demasiado ruim..... Só por isso, é que eu devia ter desconfiado... de resto, ....

Água mole em pedra dura...

Escreve hoje Rui Tavares na sua crónica no Público:
A experiência universitária não traz só o conhecimento específico do curso escolhido, e isso é algo que os bons empregadores reconhecem. Num artigo da Chronicle of Higher Education, um "caçador de cabeças" explicava como não lhe interessava saber se a pessoa que procurava vinha de Gestão, Filosofia ou Física, mas antes saber se ela tinha adquirido as capacidades de raciocínio, disciplina mental, criatividade ou autonomia pretendidas. A conclusão de uma licenciatura ou, melhor ainda, de um mestrado ou doutoramento em qualquer área (e sublinhe-se este "em qualquer área") era um indício forte dessas capacidades. Para muitos trabalhos, a informação pragmática a dominar acaba por ser dada in loco e de forma relativamente rápida - mas as capacidades que já se trazem é que são inestimáveis.
Como os meus leitores habituais sabem, claro que subscrevo inteiramente.

Gostaria de ter escrito isto

“Não imaginam o quanto se torna penoso ouvir alguns discursos sobre o "actual" estado da educação em Portugal. Alguns deles chegam a raiar a ignorância compulsiva e uma incrível falta de imaginação, até para melhor disfarçar essa ignorância. O império do senso comum, a falta de leitura, de estudo, de trabalho rigoroso e de opiniões fundamentadas sobre os problemas da educação transformaram as últimas semanas numa insuportável "bancada central" onde todos têm o direito a emitir opinião, todos se sentem capacitados para "achar" sem que se note qualquer laivo de sensatez, conhecimento e de rigor sobre aquilo que se "acha".”

David Justino, ex-Ministro da Educação e actual assessor do Presidente Cavaco Silva para a área da Educação no blogue 4ª República.

18 março, 2008

Caldeiradas financeiras...

"Liberty is telling people what they do not want to hear" - prefácio do Animal Farm (Orwell)

Hoje, foi um dia prodigioso em notícias interessantes, sobre questões relacionadas com as distorções político-financeiras do ensino superior português.
Ensino? Talvez…Há quem lhe chame isso ou, pelo menos, que é necessário para isso!

Mas como (não) nos dizem as filosofias do estafado Processo de Bolonha – Nós, os cidadãos comuns, é que nem, com After Long Life Eternety Learning, conseguimos aprender... nem sequer a termos vergonha.
E nós cidadãos comuns, como é que nos podemos dar ao respeito quando assobiamos para o lado, na expectativa ingénua de um dia transitarmos para o lado dos “beneficiados”.

Neste “post” vou falar numa notícia que hoje li, e que considero impressionante:
Trata-se de um artigo de Germano Oliveira, intitulado "Ensino Superior Factura 92 milhões em bens e serviços", no Jornal de Negócios, que nos dá conta com um bocadinho mais de pormenor, do que já todos desconfiávamos - o forrobodó das finanças públicas, em que se está a converter um negócio inacreditável de instituições públicas de ensino superior, que não é o da educação.

Não tarda nada, ainda ouviremos dizer, algumas instituições de ensino superior público - sob a protecção do RJIES que, como sabem, já aprovámos, contra a minha vontade - dizerem-nos: Isto, sem alunos, é que era...uma ma-ra-vi-lha.

Por exemplo, se bem que seja uma micharia, porque não chega nem para o petróleo (menos que 12,6% do total atribuído pelo Orçamento de Estado, às Universidades) - mas, 83 milhões de Euros (dos quais 16,5 milhões de Euros pertencem ao IST), são provenientes de instalações e equipamentos, adquiridos com dinheiros públicos, tais como: aluguer de espaços e equipamentos, serviços de laboratórios e a elaboração de estudos.

Diz-nos ainda o jornalista que, incluídos nesses "estudos" se encontram trabalhos mediáticos (ex. aeroporto de Lisboa, PRACE, a Revisão das Finanças Locais, nos quais até se inclui publicidade e fama fácil) que as universidades "ganham" ao sector privado (aspas minhas).

Ganham???? Ganham coisíssima nenhuma! A palavra "ganham", nesta frase, é uma simples força de expressão, porque para não o ser, seria preciso que as universidades concorressem com seriedade, em pé de igualdade com todas as outras entidades potencialmente interessadas, em especial com as empresas privadas, e lhes ganhassem, e não como, efectivamente, as ganham, de lambugem, quando os decisores políticos lhes atiram com trabalhos dessa natureza para o colo e para as pranchetas.

Nas Universidades as propinas pesam menos de 1,9% das "receitas próprias".
Enquanto as vendas de serviços sobem para 12,9%.
Diz-nos ainda o autor que, no fundo, 2008, tornou os politécnicos mais dependentes da procura de alunos. Pois… Elementar meu caro jornalista.

No subsistema politécnico aceita-se que seja assim: You are a slave. Period!

O que eu digo é que: desvio de recursos públicos – qualquer que seja a natureza do desvio - para interesses não devidamente disciplinados por regulamentação transparente e, de preferência, equitativa, para mim, é corrupção!

Caldeiradas financeiras, … nem com molho de tomate. E o Tribunal de Contas sem poder fazer nada?

“In no chess problem since the beginning of the world has black ever won. Did it not symbolize the eternal, unvarying triumph of Good over Evil?"

A morte da Filosofia

A morte da filosofia é um tema recorrente na própria produção filosófica. Uma pesquisa no Google em português permite-me contabilizar 2700 entradas.

Isto vem a propósito das declarações de António Coutinho, director do Instituto Gulbenkian de Ciência, que recebeu recentemente o Prémio Universidade de Lisboa. Afirma ele à última edição da revista Visão: “A Filosofia hoje é igual e dá-nos a mesma compreensão que no tempo de Sócrates. Em 2 mil anos não progrediu nada.”

Afinal a Filosofia estava morta há muito tempo e ninguém nos tinha avisado. Duma penada nomes como S. Tomás de Aquino, Descartes, Espinosa, Hume, Kant, Bacon, Hegel, Montesquieu, Rosseau, Marx, Hegel, Russel, Heidegger ou Wittgenstein passam à galeria dos mortos-vivos. As suas obras nada acrescentaram ao saber filosófico desde a Antiguidade.

Existe apenas um pequeno problema nesta argumentação. A questão de saber se a Filosofia progrediu ou não desde Sócrates é ela mesma uma questão filosófica que só pode ser respondida filosoficamente. Tal como a questão “Para que serve a Filosofia?”. E neste aspecto António Coutinho revela-se um mau filósofo: exprime uma opinião mas não a fundamenta. Poder-se-á argumentar que no espaço reduzido de uma pequena entrevista tal não seria possível. Mas para uma exclamação tão radical esperar-se-ia uma resposta mais substantiva.

Não estaremos perante um caso de cientismo mais próprio do século XIX do que no início do século XXI?

Melhorámos sim, meus senhores!

"O Índice de Sucesso (em inglês, "Survival Rate") é um indicador de sucesso escolar adoptado pela OCDE que corresponde à proporção de diplomados no Ensino Superior num determinado ano, em relação aos inscritos pela 1ª vez no 1° ano desse curso "n" anos antes (sendo "n" o número de anos de estudo requerido para se completar o grau em causa)."
Agora, só nos falta melhorar o nosso desempenho, nos restantes 28 indicadores, também referidos no Education at a Glance, 2007, e - se for possível - por um lado, explicarmos o que fizémos e, por outro, aperfeiçoarmos um bocadinho o Português, com que se anunciam, oficialmente, os "nossos" feitos em educação:
"Este indicador permite estimar, para um determinado grau de ensino, o número de alunos inscritos no 1° ano que obtiveram o seu diploma rigorosamente dentro do período de duração estabelecido para aquele grau. "
Fonte: MCTES

17 março, 2008

Um ouriço para mim, outro para....

Resolvi visitar o vértice nordeste de Portugal, e passar aqui uns dias, para observar um pouco da vida real, de quem moureja cá por cima.
Só posso ser sádica!

Não me perguntem pormenores, porque também não os quero transcrever num blog, nem eu os saberia reproduzir como esta região e seus habitantes, na sua maioria, talvez mereçam.

Ultimamente, tenho dominado a minha tendência para desbocar, porque já não sei se é Portugal que está a ficar muito estranho, ou se sou eu que estou a estranhar Portugal - alguém seguramente está a ficar esquizofrénico. Espero, sinceramente, que seja eu!

A verdade, é que me é dito, aqui, que a "nossa" castanha é tida pela investigação do sector, como o petróleo de Portugal.
Pode ser verdade, mas faço notar que esta exploração nacional não integra uma OPEP, que defenda os seus produtores - por exemplo, não percebo, porque é que atravessando a fronteira (meia dúzia de quilómetros) a produtividade duplica....
Será isto um resultado de deficiente técnica agrícola, ou apenas deficiente estrutura económica, ou simples desinformações especulativas, que circulam com a complacência de todos?

Assim, a castanha cá em cima acaba por induzir intricadas cadeias dos produtos e serviços promotores de uma sociobiodiversidade deveras intrigante, que agrega valor, exclusiva e selectivamente, em proveito próprio, e vai consolidando um intrincado e improvável, mas aqui possível, mercado insustentável.
A depauperação da região e do país acontece, perante todo um impávido sistema regulador caríssimo, a comportar-se tal como eu - apostado em assistir, placidamente, sem observar e ou intervir.

Originam-se e organizam-se, então, não empresas produtivas - geradoras de trabalho, mas, sim, nichos de tarefas aleatórias de natureza quase individual e sem rosto, que - também com a corda ainda folgada em torno da garganta, mas perante a inevitabilidade deste tipo de actividades ter, forçosamente, um fim num horizonte relativamente próximo - vão sobrevivendo de expedientes, e das espertezas saloias que tão bem nos caracterizam.
Por outro lado, pareceu-me poder registar nos produtores das castanhas o sentimento de frustração peculiar de quem paga exagerados impostos, pelo suporte estatal inexistente que recebem em troca.
Sabe - dizia-me alguém - a vida dos pequenos produtores de castanha, aqui, é muito difícil, é como se na época da apanha das castanhas eu repartisse os ouriços assim: um para mim, outro para o Sócrates.... um para mim, outro para o Sócrates,,,, um para mim, outro para o Sócrates.....; porque é que, pelo menos, ele não manda ninguém cá, para apanhar os dele?

Hoje não lhes falei de nenhum nível de educação pois não? Ou, pelo contrário, nem parei sequer de falar disso?

16 março, 2008

Pai de cabeção?

As associações de pais só recentemente se começaram a evidenciar no confronto entre o ME e os professores, e até com a imagem de alguma divisão interna na sua confederação, a CONFAP, acusada por alguns de conivência com a ME. Sem concordar, até percebo o argumento.

A agenda da CONFAP converge bastante com a do ME, mas é imperioso que se diga que também converge imenso com os dirigentes escolares e professores com quem lidei. O que esta ministra não está a saber fazer é puxar por muitos e muito bons para apoiarem as reformas e encorajá-los a defrontar as inevitáveis pressões da colecção dos medíocres.

Fui sempre membro activo da associação de pais, até há cinco anos, quando o meu filho entrou na universidade. Não creio que a situação se tenha modificado. no entanto, também não posso garantir que a situação que vivi possa ser generalizada. Lidei com dois presidentes de conselho directivo excepcionais em clarividência, bom senso e sentido da liderança. Eram os primeiros a reconhecer que essas suas capacidades e o seu espírito de missão ficavam limitadas por um excesso de “gestão democrática” da escola mas, principalmente, pela insuportável burocracia do ME e da DREL.

A minha outra experiência relevante, dessa época, é a do apreço pela grande dedicação e esforço da parte mais substancial dos professores. Até era notório uma coisa exemplar. Nas minhas duas associações, os outros membros da direcção eram maioritariamente professores, com a regra de que só professores de outras escolas. Depois do seu trabalho, ainda tinham pachorra para ir às nossas reuniões tratar de assuntos de uma escola em que eram só pais, não professores. A meu ver, o movimento dos professores, como colectivo, está a cometer erros. Mas toda esta gente excelente que eu conheci deve estar espalhada por todo o país e não merece a forma como é tratada.

Tudo isto vem a propósito de um artigo de opinião do Público do último sábado, “Boa educação”, um exemplo flagrante do maior conservadorismo e da defesa do ensino privado, coisa que, na educação, já é deriva a que o jornal nos vem habituando. Assina o artigo Gonçalo Portocarrero de Almada, que se intitula vice-presidente da Confederação Nacional de Associações de Família. A princípio, nem pensei que não era a CONFAP, até reparar na fotografia. O autor aparece com colarinho de padre! É pai de algum aluno? E o celibato eclesiástico? O que é esta CNAF, de que nunca ouvi falar, de que nunca li nada enquanto andava pelo movimento das associações de pais?

Mas o nome diz-me alguma coisa, parece-me que já o ouvi falar em nome de uma certa entidade e fui "googlar". Confirmei. O senhor é o visconde da Macieira, o que não interessa para o caso mas dá que rir. Foi ou ainda é capelão de um colégio (S. João de Brito?) e de uma residência universitária (Pio XII?). Tem iniciativas conjuntas com Paulo Teixeira Pinto. Isto cheira que tresanda a Opus Dei. Se for, não é caso único de influência da maçonaria negra no Público.

15 março, 2008

Tempus fugit por Jorge Luís Borges

Limites


Há uma linha de Verlaine que não voltarei a recordar,

Há uma rua próxima que está vedada a meus passos,

Há um espelho que me viu pela última vez,

Há uma porta que fechei até o fim do mundo.

Entre os livros de minha biblioteca (estou vendo-os)

Há algum que já nunca abrirei.

Este Verão cumprirei cinquenta anos:

A morte me desgasta, incessante.

13 março, 2008

Nota gastronómica (LI)

Desafio

Erros meus, má fortuna, amor ardente... Triste sina portuguesa, a traduzir-se frequentemente, como descobri agora no meu caso, em coisa bem desagradável, e com que não se brinca, a diabetes (mas também não é para dramatizar). Ao menos, vai-me justificar algum prazer inventivo, o de uma boa cozinha para diabéticos. Há por aí mais quem queira fazer comigo um blogue só com este tema "os diabéticos também merecem comer bem"?

Progressos!?

Hoje, numa visita relâmpago, à blogosfera, dei de caras com esta boa notícia - "Gago nega despedimento de 40% dos docentes" - divulgada pelo Blog Universidade Alternativa, de JCR.
Do documento original, extraí esta frase:
"O ministro do Ensino Superior reafirmou hoje que o processo de racionalização das instituições do Ensino Superior actualmente em curso não implica o despedimento de dois quintos dos docentes universitários. "
É sempre muito agradável ver claros progressos comportamentais em pessoas que julgávamos irrecuperáveis, ou como agora se diz: "...parece que estamos no bom caminho..."!

Não, não pensem "isso" - porque se não sou partidária de um estado accionista - "golden share" aqui e ali..., - sou ainda menos aficionada de um estado previdência.

O que me encantou, na notícia de que aqui lhes falo, foi o senhor ministro dizer-nos que quer racionalizar as instituições de ensino superior. É um bom começo, e mais vale tarde que nunca.
Os meus caros e raros leitores imaginam o não que aconteceria, se não quisesse(m) racionalizar nada? Eu não consigo imaginar!
Para a empreitada de se racionalizar o ensino superior sem ferir, ou ferir o menos possível, não nos falta sequer orçamento, só precisaríamos de ter uma estratégia pluri-anual devidamente orçamentada, para o sector.
Não seria essa racionalização uma tarefa simples, mas também completam-se agora 3 anos de governação, e o que se tem em Portugal?

Ah! Mas eu digo-lhes o que penso que temos, para o sector:
i) Uma documentação legal sortida, dispensável por já estarem muito claras as concepções europeias- caso do "Decreto Lei Europeu" - Decreto-Lei nº 74/2006 de 24 de Março, ou mal acabada e que possibilita interpretações a gosto do leitor, quando não é mesmo apenas uma rasoeira palavrenta que ninguém entende - Lei nº 62/2007 de 10 de Setembro. Legislação esta que, conjunta ou separadamente, obriga ou possibilita vacuidades [ex: "mestrados integrados", com ingressos a meia nau, (para quê o mestrado integrado?), "especialistas" cujo conceito está para ser definido nas calendas, uma política de investigação "orientada" sem explicações, umas fundações sem Regime Jurídico, etc., etc., etc...],
ii) Umas assinaturas de meia dúzia de protocolos internacionais com custos benefícios discriminatórios, e sem critérios,
iii) Uma Agência de Acreditação "nada morta", ou fantasma,
iv) Um aconjunto de "stakeholders" incógnitos que, seguramente, não representam as sensibilidades.
v) Desses "stakeholders", só por ouvir-se dizer fazem parte "empresas" tais como a EDP e a PT,
vi) Uns quantos conselhos e palpites veiculados, sabe-se lá como, por uma comunicação social de discutível independência,
vii) Uma futura "rede de politécnicos" cujo único objectivo parece ser hegemonizar no palco astros sem talento,
vii) Uma pedra lá para o norte e um logotipo virtual para o que se diz que vai ser o Laboratório Ibérico de Nanotecnologia.
E, já agora, também lhes digo o que penso que não temos:
Insisto que, por ora, não faz falta orçamento ao ensino superior, faz-nos muita falta sim, é uma efectiva a governação no sector, que não represente o papel de arame farpado, com dotes esporádicos de oratória.

11 março, 2008

Professores e professores

Vou tentar cumprir o que disse na última nota, responder à pergunta: “porque não está a haver a mesma contestação no ensino superior?”. Creio que há múltiplas razões convergentes, umas mais ligadas às instituições e aos docentes, outras mais à política do MCTES.

Ao contrário do ensino básico e secundário (EBS), o corpo docente do ensino superior (ES) sempre foi muito hierarquizado. Isto reflecte-se, obviamente, na estrutura de carreira. A criação de duas categorias de professores do EBS está a ser uma das grandes razões de protesto. Imagine-se o que seria a criação de uma carreira com cinco categorias, como no ES. Mais. Após um curto interregno basista a seguir à revolução, cedo os hierarcas recuperaram poderes decisivos sobre os mais novos, por via da sua participação exclusiva nos conselhos científicos e da composição dos júris. Parece-me óbvio que isto, só por si, impede uma mobilização corporativa tão global e solidária como se vê nos professores do EBS.

Outra diferença essencial é que no EBS os estudantes quase não contam. Podiam contar os pais mas a grande maioria é desinteressada. Já no ES, a situação é diversa, com grandes tensões, amiúde, entre os dois grandes corpos, resultando por vezes em eles se defrontarem entre si, deixando incólume o adversário comum, o MCTES. Um caso exemplar é o das propinas. Veja-se o que se passou em Coimbra, que resultou num divórcio do que parecia ser um casamento feliz entre o reitor e a Associação Académica. Mas, afinal, o que colocou o reitor naquela situação (que ele devia ter ponderado antecipadamente) foi a política orçamental do MCTES.

Outra característica de que o ministério tira partido é a maior afirmação institucional. Repare-se que nesta luta dos professores do EBS, nunca aparece o nome de uma escola, muito menos qualquer forma de rivalidade entre elas. Aliás, factores de rivalidade como os “rankings” acabam sempre por serem esquecidos no dia seguinte da saída nos jornais e servem muito mais é para outra guerra, a do público/privado. Já no ES é diferente e nem falo no uso hábil que é feito, com culpas diversas, da dicotomia universidade-politécnico. Falo principalmente da rivalidade entre universidades, que dificulta uma frente unida de professores.

Ainda outra diferença essencial, a da cultura de avaliação. É novidade para o EBS, mas é coisa perfeitamente assimilada no ES, a nível pessoal, de carreira, na avaliação de projectos de investigação, na avaliação de cursos. Também, honra se faça aos professores do ES, uma já largamente conquistada cultura da mudança, a consciência da necessidade de uma reforma que seja vaga de fundo.

Finalmente, arrisco-me a uma coisa que me pode valer críticas e desagrados. No EBS, é difícil o clientelismo. A rigidez burocrática do sistema, os processos de colocação, as regras de progressão salarial, a benesse para alguns (oxalá que poucos) de não terem de se moer a ensinar, tudo em grande parte escapa ao poder do ME. É diferente no ES. Claro que o que vou dizer é teórico e não tenho qualquer ideia de que assim se passe. Teoricamente, repito, não é possível ao MCTES, por via da FCT, criar um sistema clientelista de bonzos de investigação atentos, veneradores e obrigados? Teoricamente, repito, não é possível ao MCTES, pelo aperto orçamental, criar tais dificuldades à abertura de concursos que muitos acharão que ou se calam e se portam bem ou se reformarão como professores auxiliares? E até, não é possível constituir uma espécie de corte em que professores cortesãos beijam a mão, só por vaidade da recepção nas Laranjeiras?

Passando ao que chamei a segunda ordem de factores, vou tentar chamar a atenção, muito esquematicamente, para algumas diferenças essenciais de política entre a ME e o MCTES. Começa logo por isto de MCTES, que demonstra habilidade política do ministro. Em 1995, sei eu muito bem, tudo indicava que o actual ministro ia ser MCTES e acabou por recusar e exigir ser só MCT (ciência e tecnologia, lembram-se?). Com isto, fez inegável bom trabalho, ganhou prestígio e atirou para cima de Marçal Grilo a batata quente das propinas. Goste-se ou não, deve-se reconhecer que isto é traquejo político, coisa antiga das lutas estudantis, como já disse, coisa a faltar à ME.

Depois, tem tido a habilidade máxima, pela qual devia ser responsabilizado, a de fugir da revisão dos estatutos de carreira como diabo da cruz. Digo que deve ser responsabilizado porque julgo que a revisão das carreiras é determinante para qualquer outra reforma. Neste sentido, dou razão à ME. Outra habilidade, a de se escudar em grandes pareceres internacionais, o que critiquei muitas vezes, embora reconhecendo a habilidade política. Também o uso matreiro de alguns argumentos para efeitos internos, como o desperdício de cursos com poucos alunos ou a reconhecida má gestão de algumas instituições, a manutenção amiguista de pessoal contratado supérfluo, a falta de sentido de “accountability”, etc.

Dito tudo isto, não quero esquecer uma sorte que o MCTES tem e o ME não, o de um quadro geral de referência política. No caso do EBS, este quadro é muito criticado, o do chamado “eduquês”, que os professores não sentem como coisa sua, antes como um exercício masturbatório de gente da 5 de Outubro (diga-se que, em boa parte, seus colegas professores). No caso do ES, há uma grande diferença. O MCTES pode invocar (a meu ver, em geral de forma errada) um quadro de referência que os professores cada vez mais sentem como seu: o processo e o paradigma de Bolonha.

09 março, 2008

Há quantos anos não se enchia o Terreiro do Paço?

Foram 80000 ou 100000? Não interessa a possível diferença, são uma multidão, é mais do que a maioria dos nossos professores. Depois da manifestação gigante da CGTP há uns meses e mais recentemente dos cerca de 50000 do PCP, a rua está outra vez a encher-se, coisa que parecia ter acabado há vinte anos. Creio que isto vai provocar nos próximos tempos grande debate, tendo em conta o que já se deve estar a congeminar nos partidos acerca das eleições de 2009.

Já aqui escrevi há tempos que há em Portugal uma sobrevalorização dos independentes, muitas vezes excelentes especialistas, mas não de política. Acabam por ser bons super-directores-gerais mas a fazerem permanente burrada política, coisa de que não têm traquejo ou para a qual, muitas vezes têm uma fatal sobranceria. Isto até vale para Correia de Campos ou Mário Lino, que deviam ser politicamente mais hábeis, porque são da geração em que eu também aprendi no movimento associativo e na clandestinidade como se faz política. Muito mais isto vale para Maria de Lurdes Rodrigues.

O que mais pena me faz é até concordar com o essencial das suas reformas, com o desdobramento de categorias, com a avaliação, com o aumento do tempo de permanência diário, com as aulas de substituição, com a profissionalização da direcção, com o maior envolvimento da comunidade e dos pais, etc. Só é pena que não veja isto acompanhado pela reforma dos programas e da filosofia do ensino. E também esta minha concordância no essencial não é extensiva ao nível do pormenor, que frequentemente não domino.

O que vai fazer Sócrates (JS)? A sua imagem de marca é da “reforma global”. Mas, como se sabe, se isto faz sangue, só pode ser feito na primeira parte do mandato, ou então é suicídio eleitoral. Em alternativa, coisas positivas (o PRACE e a desburocratização, por exemplo) num primeiro mandato, a luta a sério só depois de uma reeleição, como acontece tradicionalmente nos EUA. É por este tipo de constrições de calendário que penso que JS nunca poderia ter deixado cair Correia de Campos, no momento em que, olhando-se já para as eleições de 2009, toda a gente viu essa demissão como uma cedência de JS, ainda por cima com o aspecto caricato de sacrificar a pobre da ministra da Cultura, só para Correia de Campos não sair sozinho. Parece-me que, se nessa altura JS soubesse o que ia ser esta manifestação de professores, a companhia de Correia de Campos teria sido outra.

Um dos tópicos interessantes de discussão, nesta altura, é o da importância política ou histórica, em Portugal, da “reforma global”. Houve grandes reformadores bem sucedidos, mas sempre numa área bem definida: Passos Manuel na educação, Mouzinho no sistema jurídico, Fontes no desenvolvimento económico. Mas o grande exemplo da reforma “bulldozer” ao estilo de JS, Pombal, foi um fracasso, pouco ficou depois da viradeira. Os portugueses são acomodatícios, vão aceitando que alguma coisa mude mas para que, à príncipe Salina, nada mude no essencial.

Mais importante talvez, o português é invejoso (grande Camões, como soubeste escolher a última palavra dos Lusíadas!). A grande habilidade inicial de JS foi saber mudar coisas apelando para a reacção do homo vulgaris contra alguns privilégios de casta, de funcionários públicos, de militares, de juízes. Funcionou, mas depois começou a cansar e a cheirar a truque, coisa que o Zé cheira bem ao longe. O problema com Correia de Campos foi exactamente este. O ministro fez propostas correctas mas que nunca apareceram como resultado de luta contra algum privilégio corporativo. Tudo foi demasiadamente técnico, não percebeu que ia lutar contra interesses invencíveis que não apresentou ao homem da rua como significando injustiças e privilégios em relação ao Zé Povinho.

Na saúde, um demagogo (não me refiro a Correia de Campos) até teria terreno fácil: a acumulação com a privada (isto não tem um pouco a ver com as listas de espera?), os vencimentos chorudos, o desinteresse que muitos utentes sentem no dia-a-dia por parte de muitos profissionais. Na educação, é o contrário. A grande maioria dos pais sentem o enorme esforço dos professores dos seus filhos, sabem que eles não auferem fortunas de vencimentos, sabem que andam anos e anos de casa às costas. Perante reformas técnicas que não dizem nada à maioria do cidadão, a simpatia do homem comum vai para o professor, não para a ministra (que até, em tempos de importância da fotogenia, tem uma cara pouco simpática). Mais, tudo indica que isto só foi a primeira vaga e que, se os professores souberem evitar asneiras como greves em época de exames, cada vez mais irão em crescendo de luta e simpatia até ao começo do verdadeiro “momentum” eleitoral.

Dito tudo isto, é verdade essencial que as corporações são os grandes inimigos das reformas. Relembro o que escrevi ao início. Concordo com o essencial das reformas, obviamente discordo das razões contrárias, da corporação. O que reconheço é que se deu à corporação um bom presente, vitimizá-la. Como lutar contra as corporações? Não se podem exterminar mas pode-se, até certo ponto, desagregá-las ou tirar-lhes coesão. É a grande habilidade política, conquistar para a reforma o eleitor em geral mas, principalmente, os melhores da corporação, fazê-los sentir que são mais bem vistos como reformadores eles também.

É por isto que vou continuar esta nota, em dia próximo, com a situação na educação superior. O MCTES não tem nenhum mérito político em não estar a sofrer este tipo de contestação. Tem é a sorte de o corporativismo universitário estar muito mais minado por uma consciência crescente da exigência de qualidade e de modernização. Bem, nenhum mérito político talvez seja injusto de se dizer. Afinal, JMG politicamente tem “rabo mais pelado”. Por alguma razão nem quer ouvir falar de revisão do estatuto da carreira docente.

Nota 1 - No entanto, JS é um homem com sorte na vida, nos "estudos", nos projectos profissionais de engenharia de azulejo de retrete. Até tem a sorte de, com tudo isto, ir ter pela frente em 2009 o inefável Dr. Menezes.

Nota 2 - No meio de toda esta história, não consigo ter suficiente sentido surrealista para conseguir perceber o que pretende o PS demonstrar com uma reunião de amigos num pequeno pavilhão desportivo, com mobilização nacional. Que consegue motivar um décimo dos que o PCP pôs na rua ou um cagagécimo do que os professores mobilizaram? Não sou membro do PS, mas custa-me ver como JS e o aparelho que o sustenta são hoje uma excrescência parasitante de um partido em que milita desde há muitos anos muita gente com uma noção ainda nobre da política. Onde é que Alegre foi buscar parte certamente muito significativa dos seus votos?

08 março, 2008

Opiniões...

Muitos dizem-me que é a fotografia de uma simples toalha desarrumada, mas a dona da "coisa", que até sou eu, jura que é o seu cão flagrado em delito - dormindo indevidamente, a sono solto em cima de uma cama, de uma cama não, de um pijama que nem lhe pertence...

Também é assim, que acontece, com os observadores das Reformas do Ensino Superior, em Portugal: a OCDE e alguns "stakholders" - segundo o PRESS STATEMENT do painel da própria OCDE - vêem uma coisa, com base num Progress Report feito pelo próprio MCTES (até o MCTES se (auto-elogia) avalia - fica-lhe bem!), mas eu vejo outra, que também não me agrada nada.
Que pena não se saberem quais stakholders é que estão satisfeitos com a Reforma de Ensino Superior em Portugal - talvez todos nós pudéssemos também perceber porquê.
______________
Fonte: PÁGINA DO MCTES

06 março, 2008

Acham que se faça a cruz e se diga a reza?

Hoje de tardezinha, para variar, via Página Reformar a Educação Superior de João Vasconcelos Costa, acedi a uma excelente notícia; para mim, representou uma acendalha de esperança para todo o cenário da educação superior portuguesa:
"EUA welcomes launch of European Quality Assurance Register for Higher Education Category: Eua News" - European Quality Assurance Register for Higher Education (EQAR) da onde extraí o seguinte texto:
[...]
"The new register, which is one of the milestones of the Bologna process reforms, aims to provide clear and objective information about trustworthy quality assurance agencies that are working in Europe. It been established by the “E4 Group” - comprising EUA, the European Association for Quality Assurance in Higher Education (ENQA), the European Students Union (ESU), and the European Association of Institutions in Higher Education (EURASHE) – under the mandate of Education Ministers from the 46 countries taking part in the Bologna process."
[...]
"Inclusion on the EQAR, which is voluntary, will be based on compliance with the European Standards and Guidelines for Quality Assurance adopted by European Education Ministers in 2005. A Committee – composed of independent experts nominated by the E4 Group, Business, Europe, Education International, together with five government observers – will be responsible for admissions to the register.
The register will be accepting applications from the summer of 2008 and information will be publicly accessible through a web-based tool. "
[...]
A acendalha de esperança que referi, resulta do facto de não termos ainda nem novas nem mandadas da "nossa" agencia de acreditação.
Será que este registo na EQAR** poderá algum dia substituir o da nossa famosa agência de acreditação? Se fosse já, é que era uma boa coisa!

Lembram-se dela? da AAAES - Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior instituída pelo Decreto-Lei n.º 369/2007 de 5 de Novembro.
Estará "isto" a levedar?
Devemos nós fazer a cruz e dizer a reza? Pelo sim, pelo não, aqui vai:
"S . Mamede de levede, S. João te faça um bom pão, S. Vicente te acrescente..."
__________________

**The Register is expected to:
- promote student mobility by providing a basis for the increase of trust among higher education institutions;
- reduce opportunities for "accreditation mills" to gain credibility;
-
provide a basis for governments to authorise higher education institutions to choose any agency from the Register, if that is compatible with national arrangements;
- provide a means for higher education institutions to choose between different agencies, if that is compatible with national arrangements;
- serve as an instrument to improve the quality of agencies and to promote mutual trust among them.

A corda na garganta

Quatro universidades, Açores, Évora, Algarve e Trás-os-Montes, estão nas mãos do MCTES, a impor-lhes contratos de saneamento financeiro, apertando-lhes a corda na garganta. Inevitavelmente, despedimento de convidados, congelamento de recrutamentos. Por exemplo, “para atingir a meta de ter 70 por cento do orçamento para pagar salários, a Universidade de Évora terá de dispensar cerca de 200 professores em três anos. Ou seja, 66 docentes por ano” (Público, 5.3.2008). Eu fui professor convidado e sei que, pelo execrando ECDU, essa situação era a única forma de ser útil à universidade (no meu caso, até em dedicação exclusiva, mas só porque não tinha cinco anos de docência - e, afinal, só em horas gratuitas de colaboração docente com universidades, como investigador e ao longo de 30 anos, tinha certamente mais). Por isto, não estou em condições de discutir a situação dos convidados, que deve ser muito diversa. Admito, no entanto, que em muitos casos são dispensáveis. Conheço um caso em que muitos já não dão nem uma aula, em cursos já extintos, mas que mantêm os contratos por influências sociais e políticas.

Mais, congelamento de concursos, injustiça máxima. Como escreve o Público (5.3.2008), “o número de concursos que permitem aos professores subir na carreira académica desceu praticamente para metade, de 2006 para 2007, de 410 para 254, respectivamente. As progressões nos escalões estão congeladas desde 2005, assim como 35 por cento das vagas nos quadros estão por preencher, refere Mário Carvalho, dirigente da Fenprof”. Neste sentido, este apontamento vai muito a pensar no meu amigo MM, mas afinal um entre muitos, um homem já cinquentão, de belíssimo currículo, ganhador de projectos internacionais, convidado por tudo o que é gente importante na sua área por este mundo fora e ainda professor auxiliar. Uma vergonha. Se eu fosse ministro, não conseguiria dormir tranquilamente sabendo de situações como esta.

Afinal, juntamente com o congelamento das sabáticas (ridículo pela sua pequena importância económica mas significativo pela sua grande importância em termos de política universitária) o que vai pesar mais neste esquema é o fim da regra do ECDU que garante a contratação como professor auxiliar de todos os assistentes que se doutorem. Pode-se pensar que é coisa em vias de extinção. Em muitas escolas, certamente, mas no conjunto ainda andarão por cerca de 30% de todo o corpo docente. Este é um assunto em que tenho “mixed feelings”.

Concordo com o fim de uma coisa destas que considero absurda, mas justifico-me em termos estritamente qualitativos. Tipicamente, e como caso exemplar de endogamia, o professor contrata como assistente um jovem simpático, submisso, que lhe faz os fretes, leva-o mal ou bem a doutoramento, ele fica logo auxiliar, ao fim de cinco anos quase invariavelmente tem a nomeação definitiva, até se pode reformar, muitos anos depois e sem um único trabalho publicado, como professor auxiliar, com uma reforma que até nem é nada má.

O que me repugna é que, na actual política do MCTES, tudo me leva a suspeitar de que não estas as “razões virtuosas”, antes pura e simplesmente as razões orçamentais.

Nota - Falei de endogamia e vou deixar uma provocação. Hoje é certamente um termo horroroso, em política universitária. Mas nem sempre foi assim. Por exemplo, a típica universidade humboldtiana funcionou muito com base na endogamia, nas escolas que perpetuavam, em gerações de discípulos, a lição do fundador. Mesmo entre nós, temos bons exemplos. Estou a pensar principalmente na medicina, em “escolas” como a de Reinaldo dos Santos, do seu filho João Cid e dos seus discípulos. Ou no grande grupo satélite de Pulido Valente, que também passava por heranças de família. O que quero dizer com tudo isto é que a política universitária é demasiadamente rica e complexa para permitir discussões esquemáticas sobre frases feitas.

05 março, 2008

Nota gastronómica (L)

Cerveja

Tenho com a cerveja uma relação quase religiosa. As festas do Senhor Santo Cristo eram e são as mais emblemáticas da minha ilha. Metiam muita devoção, mas também prazeres profanos. Muita coisas no arraial, os sorvetes de serrilha, os barrinhos de Vila Franca, o "cup" da quermesse queque das meninas vicentinas, mas, acima de tudo, o grande ritual de cumplicidade com o meu pai, acompanhá-lo à cervejaria à ilharga e beber o fundo da caneca. Que delícia, porque aquilo vinha temperado com sabor de pai. Vê lá se me mandas um fundo de caneca da cerveja celestial, se é que os velhos frades aí a fazem. Hoje, raramente bebo cerveja à refeição, é todo um outro ritual, principalmente de tertúlia de amigos.

Creio que não temos uma boa cultura cervejeira, embora tenhamos uma excelente tradição de cervejarias, combinando com mariscos e bifes. O que sempre conhecemos foram as cervejas banais, de baixa fermentação. Quem andou pela Bélgica e pela Alemanha sabe o que é apresentarem-nos menus de cervejas tão extensos como os nossos de vinhos. Para meu gosto, destaco as cervejas encorpadas, de alta fermentação, as trapistes belgas, as ale inglesas, as weissbier alemãs. Já se vão encontrando cá com alguma facilidade. À parte, a inigualável Guiness, que desafia todas as classificações.

No dia-a-dia, aceito as standard, portuguesas ou Budweiss, Heineken, Tuborg, Carlsberg, mas é só para matar a sede estival, com amendoins. Beber com gosto, golo a golo, é outra coisa. É por isto que hoje, em Portugal, se vou cavaquear com amigos num bom bar de cervejas, só bebo duas, a Boémia e a Abadia.

E conversa puxa conversa. Em qualquer cervejaria da minha terra, era muito rica a oferta de vai grátis com a cerveja: amendoins, tremoços, favas secas torradas, favas fritas, pevides de abóbora, com ou sem pele, ervilha seca torrada. Hoje, cá, só pedindo por favor.

02 março, 2008

Regressei

Na minha ausência temporariamente forçada desta escrita muita coisa se foi acumulando a justificar comentário ou apontamento. Não sei por onde começar, mas suscita-me particular interesse o estudo do MCTES sobre a empregabilidade da educação superior. É tema que se relaciona com um interesse meu muito caro, o da educação liberal.

Não vou analisar no concreto, caso a caso, as conclusões do estudo. Prefiro chamar a atenção para alguns aspectos gerais e até de método. Começo logo pelo único critério de análise, a inscrição em centros de emprego (CE). Admito que fosse difícil usar outros, na falta de um observatório que já propus num livro que começa a ficar velhinho em idade de registo civil mas infelizmente não em idade real, em muitos casos.

Mesmo este critério não é tratado exaustivamente e deixa interrogações. Quanto tempo ficam esses licenciados inscritos nos CE, em comparação com outros trabalhadores? Que possibilidades de emprego aceitaram ou recusaram, entretanto? Qual a sua área de residência, mais determinante do que a localização do estabelecimento em que tiraram o curso?

Mais importante: quantos licenciados se movem no mercado de trabalho, em ciclos de emprego-desemprego, sem passarem pelos CE? E muito bem, porque possivelmente serão os mais dinâmicos, os mais dotados de iniciativa. Com isto, relaciono ainda outra pergunta, admitindo que não sei como funcionam os CE: o desempregado inscreve-se para um emprego específico, relacionado com a sua habilitação, ou para qualquer emprego?

Esta é a questão essencial. O vício enorme da especialização da nossa educação superior, agravado com a deriva profissionalizante da educação universitária, introduziu um enorme factor de rigidez na regulação do sistema. O pior é que se tiraram as piores conclusões, numa perspectiva estreitamente utilitarista que está a ameaçar de morte a educação superior, até em contradição com o processo que a podia vitalizar, Bolonha.

Os quatro da Sorbonne (ou melhor, os três, descontando o inglês) não perceberam que o modelo anglo-saxónico de um primeiro ciclo curto nunca serviu para formar profissionais. Estes, ou eram formados a um nível de “know how” básico em ensino pós-secundário sem grau ou então a níveis seguintes de educação universitária. A declaração de Bolonha estabelece o primeiro ciclo como relevante para o emprego, mas já depois, com destaque para a declaração de Londres, se fala é de empregabilidade.

Isto quer dizer, por exemplo, que prefiro ouvir no noticiário ou ler no jornal um bom licenciado em português, história ou economia, culto e de cabeça aberta, do que um licenciado em comunicação social que escreve “á” em vez de “há” ou que escreve que Mário Soares foi exilado para S. Tomé em 1947 (isto para referir um caso real e recente). Indo mais longe, que prefiro ser atendido por um funcionário bancário que cultivou a mente aprendendo grego clássico na universidade do que por um colega que se ficou pelo secundário. Esta do grego vem a propósito de uma "blague" que cito sempre: a maior concentração geográfica de falantes de grego clássico é a City de Londres.

Como julgo já ter demonstrado, a empregabilidade na educação superior é difusa e não faz sentido qualquer política maltusiana baseada em critérios estreitamente quantitativos. Quando o MCTES fala na supressão do financiamento de cursos com poucos alunos, quando põe isto à cabeça da discussão do saneamento financeiro de algumas universidades, está pura e simplesmente a fazer política universitária de merceeiro (com o meu pedido de desculpas a muitos merceeiros que talvez tenham mentalidade mais larga). Isto faz-me lembrar a anedota conhecida de um analista económico que protestava, depois de um concerto, contra o desperdício de o compositor só ter usado os trompistas durante dois minutos.

Deixo ainda outra provocação, admitindo que é politicamente incorrecta. Não será que se tem de aceitar mesmo algum desemprego ou “dis-emprego” de licenciados? A evolução económica, social e tecnológica, tem uma velocidade muito superior à da adaptação da educação superior. Quando surge uma necessidade social, é então que se vai preenchê-la a nível educativo? Ou não será necessário dispor sempre de uma reserva?

Nota 1 - Como referi num congresso recente, dois dos principais responsáveis de um dos nossos jornais de referência são… biólogos! E não me consta que alguma vez se tenham inscrito num CE.

Nota 2 - Os meus agradecimentos aos colaboradores que, entretanto, foram mantendo este blogue, com destaque para a Regina Nabais.

01 março, 2008

Diga aaaaaghhhh!

Para quem já deambulou na beirada de margens de rios com piranhas, sob irresistíveis tentações de dar um mergulho, ouviu de certeza este conselho: Cuidado, não nade aqui, a menos que seja como elas (piranhas...)!
O bicho é muito sociável (nada sempre em "bandos" numerosos) de boca fechada, todo ele respira inocência e bondade, o único problema que tem é se resolve que, quem se pavoneia no seu território de limites fluídos, também integra o menu do cardápio de uma qualquer das suas lautas refeições.
Daí que, o bom mesmo é conferir - isto é, pescar umas quantas, mandar-lhes ou persuadi-las a abrir as bocas inocentes, de forma a verificar, previamente, se as dentaduras conferem ou não os standards de estatuto "saudável" - Normalmente, é e muito! Quando assim acontecer, não mergulhe, opte por um passeiozinho a pé, face à tentadora alternativa inicial da natação.
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Hoje, lembrei-me disto porque, via Blog Que Universidade? no seu habitual post de Revista de Imprensa anunciava este artigo do Público "Estrangulamento financeiro pode chegar a mais universidades, alerta reitor da Clássica." - subscrito por Bárbara Wong.
Por esse artigo, fica-se a saber, mais uma vez, os receios de costumeiras figuras de proa da nossa educação superior - universidades - relativamente aos financiamentos públicos das suas instituições, uma destas pessoas chegou mesmo a comparar o financiamento da Universidade de Utrech com o das universidades do país, lamentando que o financiamento das nossas 14 universidades públicas ser inferior ao da Universidade de Utrecht, na Holanda. As portuguesas recebem 650 milhões de euros, ao passo que a holandesa com uma dimensão semelhante à da Universidade do Porto, a maior do país, recebe 700 milhões.
Esqueceu-se de informar a comunicação social, para efeitos desta comparação, dentre várias outras coisas importantes, por exemplo:
1) Que a Universidade de Utrech publica Relatórios anuais de actividades detalhados, inclusivamente, em inglês, exemplos: aqui o de 2004 e aqui o de 2003;
2) Que a Universidade de Utrech tem 28,000 alunos, mas 2000, são alunos estrangeiros.
3) Que a Universidade de Utrech tem apenas 640 professores e 275 professors especiais - tendo portanto ratios muito elevados de alunos/professores (30/1);
4) Que 25 % do seu Orçamento tem origem efectiva em contratos internacionais, excluindo propinas e demais benesses estatais, tal como nós (ver Receitas Próprias da Lei nº 52/2007), e apenas 75% tem origem Estatal.
5) E com a craveira de Ultrech, na Holanda, só existem mais 4 instituições – Delft (TUD), Eindhoven (TUE) e Twente (UT), em Engenharia e Tecnologia, e Wageningen, mas esta sob a influência do Ministério de: "Agriculture, Nature and Food Quality".
6) Que o pouco de concreto que sabemos, apenas por versões livres da comunicação social, acerca das nossas instituições de educação superior, que se encontram em fase de "negociação" com o MCTES, para se tornarem fundações, é o seguinte:








FONTE: 28 de Janeiro de 2008, Jornal de Notícias

Fazem parte de receitas próprias das nossas instituições de ensino superior (Artigo 115º da Lei 62/2007 - RJIES) as seguintes benções, muitas das quais, a azul, bastante descricionárias em função da veneta do ministro de plantão:

a) As dotações orçamentais que lhes forem atribuídas pelo Estado;
b) As receitas provenientes do pagamento de propinas e outras taxas de frequência de ciclos de estudos e outras acções de formação;
c) As receitas provenientes de actividades de investigação e desenvolvimento;
d) Os rendimentos da propriedade intelectual;
e) Os rendimentos de bens próprios ou de que tenham a fruição;
f) As receitas derivadas da prestação de serviços, emissão de pareceres e da venda de publicações e de outros produtos da sua actividade;
g) Os subsídios, subvenções, comparticipações, doações, heranças e legados;
h) O produto da venda ou arrendamento de bens imóveis, quando autorizada por lei, bem como de outros bens;
i) Os juros de contas de depósitos e a remuneração de outras aplicações financeiras;
j) Os saldos da conta de gerência de anos anteriores; - se têm muito é porque receberam a mais.
l) O produto de taxas, emolumentos, multas, coimas e quaisquer outras receitas que legalmente lhes advenham;
m) O produto de empréstimos contraídos;
n) As receitas provenientes de contratos de financiamento plurianual celebrados com o Estado; (a mina principal das futuras fundações - aqui vale praticamente tudo!)
o) Outras receitas previstas na lei.
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Alguma dessas nossas zelozas e proeminentes figuras públicas - excelentes gestores profissionais de topo das nossas instituições de ensino superior - poderá, além de se queixar e de se lamentar, publicar os números reais dos valores parcelares de todas as receitas próprias das suas próprias instituições - ano de referência 2006, para prefazerem pelo menos 50% dos fundos totais necessários, de forma a que todos saibamos se tem ou não dentes, para as nozes que querem trincar (Fundações)?
Sobretudo, informem o povo de qual o valor da componente "Projectos Internacionais".

Por outras palavras, por favor, abram a boca, e digam: aaaaaghhhh!