Depois de alguns anos, hoje, revi uma pessoa minha conhecida, contadora de casos e, como não podia deixar de ser, fui uma ouvinte bastante divertida das histórias que só acontecem a alguém como ele.
Em relação, a um dos contos, acabei por me sentir, como dizer? Intrigada? Ambivalente? Bom,... Não sei,... Resolvam os meus caros e raros leitores, como se sentiriam, depois de saberem isto:
Trata-se de uma pequena narrativa, que vou tentar recontar-lhes ao preço de custo:
Um pastor de ovelhas e cabras montanhesas, passava a vida com o seu modesto rebanho de um lado para o outro, subindo e descendo morros e valados.
Nos seus caminhos, via com frequência quase diária, fizesse chuva sol ou neve e durante um bom par de anos, um rapaz equipado de botas de montanhismo, um variado sortimento de aparelhómetros electrónicos, e ferramentas diversas que incluíam duas bengalas de escalada e uma pequena enxada e, permanentemente, hiper-carregado com uma mochila atafulhada de pertences, da qual transbordavam, em equilíbrio perigosamente instável, uma máquina fotográfica e um portátil sem fios.
De espaço a espaço, sob as copas das árvores, o rapaz construía cuidadosamente uns montinhos de terra e de folhas caídas, que marcava com umas espias, fotografava e anotava muitas informações, num mapa que iluminava o monitor do seu computador.
Periódica e sistematicamente, desfazia os montinhos, separava e recolhia amostras, que embalava cuidadosamente e, derreado, transportava tudo de volta ("via-se mesmo" que era a duras penas) até desaparecer no horizonte, ou por trás do morro mais próximo.
Tempos a tempos, repetia as suas intermináveis tarefas que, aos olhos do pastor, lhe pareciam já ritos, ou penitências de uma crença estranha, muito mal resolvida. Terminava os dias a parecer que queria que outros começassem logo, para fazer tudo de novo. Mês atrás de mês, assim se repetiam as lides do observador (o pastor) e do observado (o rapaz).
Um dia, o pastor não resistiu, e aproximou-se do rapaz, e - entre a oferta e a partilha de um naco de queijo, de um gole de vinho e de um cigarrito de enrolar - à queima roupa, tiveram o seguinte diálogo:
[Pastor]: Que mal lhe pergunto companheiro, o que faz o senhor, sempre tão aperreado, aqui, nestas paragens a que não pertence, para se castigar assim tanto.
[Rapaz]: Estou a cumprir as tarefas de um projecto de investigação, pagam-me para isso, lá na capital, e serei obrigado, a dar resposta ao tempo de degradação das folhas destas árvores, nesta região, por causa de garantirmos um desenvolvimento sustentável da mata.
[Pastor]: Quer, então dizer, que o meu amigo consegue governar a sua vida assim?
Qualquer um aqui, sabe disso!
Todos aqui da zona sabem e circulou o braço, circunscrevendo o rebanho no "know-what", que essas folhas aí desaparecem, no máximo, em 3 anos! ....2 anos e picos, se os invernos, forem brandos...'tá aí um dinheiro, tempo, saúde e feitio bem empregues...
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