31 dezembro, 2007

Bom 2008

Preciso de testemunhas!

... para comprovarem os meus bons propósitos de 2008.

Parafraseando alguém, que não sei quem seja, desejo a todos os meus caros e raros leitores que os vossos momentos menos felizes em 2008 durem ainda menos que as minhas pouquíssimas e óptimas resoluções de todos os anos "novos" (agora já bem velhotes):

1 - Deixar de fumar (pela 48ª vez);
2 - Substituir o meu "hobby" congénito favorito - a desorganização - por qualquer outra coisa menos terminal.

Até para o ano!

30 dezembro, 2007

Nota gastronómica (XLVI)

Galinha recheada classicamente simples

Não sei bem se há alguma tradição bem estabelecida de pratos de jantar de Ano Novo. Na minha terra creio que não, embora, na reunião patriarcal em casa do meu avô fosse frequente a galinha. Porque não experimentam?

O que se segue é banalidade, não é nada que se compare com o meu capão recheado de dia de Natal, receita de família. Mas como quem não tem cão caça com gato, talvez esta nota, escrita já há semanas mas esquecida de publicação, possa ter alguma utilidade para o jantar de Ano Novo. Com um pequeno esforço de adaptação de doses e tempos, dá para um peru. Como sou preguiçoso, mantenho o que fiz e escrevi, receita de galinha. O leitor que adapte.

Ainda uma nota, antes de passar ao que interessa. Se vou muito a restaurantes de grande cozinha de autor, sinto-me às vezes, eu que sou melómano, a pensar que estou a ouvir demais os contemporâneos e a esquecer os clássicos. Nestas alturas, ponho a tocar Mozart e caio em mim. Também na cozinha. Ultimamente, tenho andado por experiências modernistas, mas há dias apeteceu-me isto, uma galinha simplesmente recheada e assada à clássica. Passou de moda, mas deu-me a delícia de um grande jantar. Curiosamente, também ao meu júnior de 21 anos, que só se queixou de que o recheio era pouco.
1 galinha ou frango do campo, com 1,8-2 Kg e com miúdos. 1 cebola, 4 cravinhos, 1 raminho de salsa, sal, 10 grãos de pimenta preta, água de nascente q. b.
200 g de pão rústico, 3 c. sopa de manteiga, 1 cebola pequena, 200 g de cogumelos, de preferência boletos, 2 ovos, 150 g de pasta de fígado de ganso ou de pato, simples ou, quando muito, temperada com vinho do Porto, 75 g de miolo de nozes.
Molho. 2 c. sopa de manteiga, 2 c. sopa de farinha, 1 cálice de vinho do Porto, 1/2 limão, 1 c. café de folhas de tomilho (tenho-as frescas no jardim, mas não há mal em usá-las comerciais).

Fazer canja com os miúdos, a cebola picada com os cravinhos, a salsa, sal e pimenta preta. Coar e reservar o fígado.
Desfazer o pão em pedaços pequenos e embeber em canja, só a amolecer. Ao fim de meia hora, alourar na manteiga a cebola picada muito fino, juntar 80 g de cogumelos laminados grosso e dar umas voltas. Acrescentar o pão, escorrido e os ovos batidos e mexer muito bem, a lume forte, até secar e começar a fazer crosta no fundo do tacho. Corrigir o tempero de sal e pimenta preta. Fora do lume, misturar muito bem com a pasta de fígado e com o miolo de noz moído.

Esfregar a galinha com sal e pimenta preta, rechear com a pasta de pão e tapar com folha de alumínio o que ficar à vista de recheio (melhor, coser com linha de cozinha, a tapar). Colocar numa assadeira, untada, cobrir com lascas de manteiga, regar com um pouco de vinho branco e assar em forno a 200º, pré-aquecido, regando frequentemente com o molho e um pouco de canja.

Alourar bem em manteiga, com um fio de sumo de limão, o resto dos cogumelos, inteiros. Temperar ligeiramente com sal e pimenta.

Para o molho, fundir a manteiga e alourar a farinha, mexendo sempre. Fora do lume, juntar o fígado esmagado e misturar muito bem. Voltar a lume médio e acrescentar aos poucos, a incorporar bem, o vinho do Porto, o sumo de limão, 2 dl de canja, o tomilho. Rectificar a espessura e o tempero.

Para servir, remover o recheio, sem o desfazer, e cortar às fatias. Colocar a galinha numa travessa guarnecida com as fatias de recheio e com os cogumelos salteados. Numa molheira, à parte, o molho.

Nota - se quiserem variar, experimentem, por exemplo, substituir o miolo de noz por azeitonas descaroçadas cortadas às rodelas, ou o tomilho por uma mistura de estragão, cerefólio e segurelha, se conseguirem arranjar.

29 dezembro, 2007

Notas soltas

1. Leio hoje, com surpresa, que só cerca de um quinto da população portuguesa com mais de 10 anos é que fuma. Não é a impressão com que fico do café aqui ao pé de casa. Até há um ano, eu era um pequeno elemento individual dessa população. Isto tira-me todo o direito de ser um fundamentalista antitabágico, mas reconforta-me numa decisão difícil que tive de tomar. Para já, uma nota importante, experiência que me é transmitida por amigos americanos, numa época em que a imagem social é muito importante. Foi muito eficaz nos EUA a ampla difusão de uma certa "imagem" do fumador: indivíduo de classe baixa, sem preocupações de "correcto", sem força de carácter para dominar um vício. Importantíssimo, tudo isto define um "looser"! Porque não centrarmos uma campanha neste aspecto, embora com adequação à nossa cultura? Se calhar, é mais eficaz do que fazer pensar nos prejuízos causados ao anónimo fumador passivo.

2. Tem-se defendido a tese Portela+1, mas em que a Portela seria o aeroporto internacional, principal e o +1, eventualmente Alcochete, o aeroporto para os voos "low cost". Por experiência familiar, conheço um caso equivalente, o de Estocolmo, em que o aeroporto "low cost" é mais distante da cidade do que o internacional de Arlanda. No entanto, embora não percebendo nada do assunto, pergunto-me, instintivamente, se não faria mais sentido o contrário. Queremos atrair turistas, mas turista para Portugal, reconheçamos, é em boa parte turista que quer "low cost", em tudo, incluindo na ligação entre o aeroporto e a cidade. Não faria mais sentido que o "low cost" fosse a Portela, limitada, com eventual aproveitamento ambiental, lúdico ou outro de estruturas e espaços entretanto tornados desnecessários? O mesmo para os voos domésticos, embora com garantia de boas ligações para os passageiros em trânsito no novo aeroporto.

3. No seu artigo semanal do Público, José Pacheco Pereira (JPP) discorre sobre "A cultura de blogue nacional". Claro que subcultura, irreflectida, sem regras de rigor intelectual, apressada, com tudo o que Eça denunciou em relação ao jornalismo português, a começar pelo Palma Cavalão. "Os blogues são apenas mais uma câmara de ressonância da pobreza da nossa vida cívica". Mas JPP não tem um blogue? Ou será que ele é aquele recruta que deliciava a mãezinha, "vejam, tanta gente a marchar e o meu filho é o único com o passo certo".? Espantoso é que critique a blogosfera por ser avessa à crítica. O Abrupto aceita comentários?

27 dezembro, 2007

Canja de galinha para o farnel do pescador

Na página 12, da Edição impressa do Jornal Público, de hoje, Bárbara Wang assina um artigo com o seguinte título: "Universidades e politécnicos podem mudar mas Governo tem de dar passos concretos" de onde, como seria de esperar, extraí a inevitável frase: "...Mas, dizem os responsáveis das universidades e institutos, tudo depende da regulação da lei, da reorganização da rede de instituições e... da lei do financiamento."
Umas frases adiante ainda podemos ver que alguém questiona a ideia da fundação, depois do subsistema a que pertence ter reivindicado a possibilidade. Queria muito, porque queria também fundações mas afinal não sabia para quê...
Ainda por cima, neste mesmo artigo, vem um reitor, que até sabe o que é uma fundação de direito privado, inventar uma nova filosofia económica - "financiamento competitivo" (???!!....Que giro...).
É verdade que o Ministro, até agora, perdeu todo o seu tempo mas. desta feita, não vai ser por responsabilidade dele que, com o novo ano e tudo, voltaremos às pechas velhas.
O RJIES possibilita-nos autonomia da gestão financeira dos meios e recursos que conseguirmos captar, mas não garante o "carcanhol" todo, propriamente dito.
Dinheiro estatal só o de ratios de docência e de Contratos-Programas plurianuais. Tudo o mais há que batalhar.
Ninguém parece convencer-se que se tem mesmo que ir pescar para a merenda... a menos que o ministro junte, selectivamente, aos apetrechos de sobrevivência institucional, umas canjinhas de galinha= (financiamento competitivo?).
_______________
PS - Imaginem os meus caros e raros leitores só a bela ideia de nos podermos ver livres de trambolhos regimentais como os corre-corre para gastar as verbas de final de ano, as especificações paralisantes do Decreto-Lei 197 de 1999, e bloqueadoras de Códigos de Procedimentos Administrativos, e passarmos a "Códigos Fiscais", de dispensarmos assinaturas - discutidas à consumos de paciência de confissões pseudo-políticas da cadeia financeira presidencial e/ou reitoral, me faz rejubilar.
Também é um regalo, por acréscimo, a perspectiva de podermos ver-nos livres das actuais circunstâncias em que, se a gestão de topo for suficientemente inconsciente, pode até decidir que financiamentos de projectos nacionais ou internacionais concessionadas servem bem para pagar remunerações certas e permanentes, ou coisas sortidas que o valham...Acham que isto não é verdade? Ora, meus amigos, perguntem por aí...
ESCLARECIMENTO - O tíulo do post foi surripiado, aliás, inspirado no do livro "Chicken Soup for the Fisherman's Soul".

Nota gastronómica (XLV)

Compota de cebola de escabeche

Nesta semana, à falta de motivos para comentários políticos e com os universitários em férias, é tempo de comezainas. No jantar de Natal, começámos com canapés variados, ainda antes da mesa. Foram de pão rústico tostado com compota de escabeche e mexilhões; de pão branco ligeiramente tostado, barrado com geleia de carne e Porto e com fatias de fígado de pato salteado, depois de marinado em leite e ervas; de pão rústico barrado com pasta de brie, nozes moídas, nata azeda, mostarda e um toque de cominho, coberto com paio alentejano; de broa tostada barrada com tapenade e coberta com "chèvre"; e de broa barrada com manteiga trabalhada com molho de vilão açoriano (vem no meu livro), cobertas com uma bolinha de atum simples, esmagado. Como a compota fez sensação, aqui fica a receita.

Picar grado três cebolas grandes e deixar durante dois dias, no frigorífico, com uma cenoura às rodelas finas, 2 dentes de alho esmagados, uma folha de louro, 1,5 c. sopa de vinagre, 1 raminho de salsa, sal, pimenta, alguns grãos de pimenta da Jamaica ou de cravinho, a gosto, um toque de açaflor ou de açafrão. Vinho branco a cobrir bem.

Aproveitar só a cebola e coar e reservar todo o líquido. Fazer calda com 80 g de açúcar e o líquido coado. Juntar a cebola e levar a ponto de compota, acrescentando água se necessário. Quase no fim, bater bem com 1 c. chá de manteiga, corrigir o tempero e a consistência e moer.

21 dezembro, 2007

É para outro

Ora muito Boas Festas!
Enquanto vou fazer umas compritas da ocasião à última hora, aqui ao lado, os meus caros e raros leitores podem acabar de pôr a mesa?
Obrigada.
Cuidado, não trinquem a maçã, enquanto não lerem COM ATENÇÃO, o Material Safety Data Sheet da dita, além disso, ela está, exclusivamente, destinada a "homenagear um meu convidado muito especial", ....

Ei, ei, 'sperem aí, não fujam assim espavoridos.... Não é esse, esse seria "nosso", o meu "convidado muito especial" é outro!

(Deixaram-me sozinha...
E ainda dizem que eu é que sou uma bruxa má...)

20 dezembro, 2007

Boas Festas


O meu impagável amigo Pedro Aniceto publicou agora o resultado do seu concurso "o pior postal de 2007". Isto porque não foi a tempo o postal em epígrafe. Tem que se lhe diga. A ideia é surrealista, divertiu-me muito, mas um script errado enviou-o para gente respeitável e circunspecta, que me manifestou desagrado por eu ter enviado tal porcaria. Espero que os leitores destas notas tenham sentido de humor. Voas vestas, hips...

Carnaval?

Estou confuso. Estamos no Natal ou no carnaval, como parece sugerir um comunicado do MCTES?: "Novo sistema de empréstimos sem fiador já abrange mais de 800 estudantes do ensino superior". 8oo em mais de 40.000?! Estão a gozar comigo? É coisa de que não gosto, principalmente quando parece significar tomarem-me por parvo.

19 dezembro, 2007

Soturnidade, melancolia, depressão de ilhéu

Camões, Bocage, Antero, Cesário, Pessoa, qual é o meu poeta? Não sei, creio que depende muito dos momentos e dos estados de alma. Neste aspecto, talvez Cesário seja o mais contraditório, alegrando-me com o ramo de papoilas, ou, em dias como hoje, só me lembrando de que:

Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!

P. S. E um ilhéu sente-se no cinzento de mar e céu e sofre.

Europa?

Se voltasse aos meus tempos de liceu, chumbaria em geografia. Aprendi que a fronteira entre a Europa e a Ásia era desenhada pelos Urais. De Gaulle também o julgava, quando defendia a Europa do Atlântico aos Urais. Ainda por cima, é coisa que tem boa base científica, em termos de formação da crosta terrestre.

Mas está errado. Ainda há pouco tempo, para se apurar para um campeonato europeu de futebol, a selecção portuguesa teve de jogar no Azerbeijão e, pasme-se, até no Casaquistão. Agora, leio que a Organização para a Segurança e Cooperação Europeias (OSCE) supervisou as eleições (europeias) no Quirguistão. Um dia destes, a Mongólia está a pedir a entrada na UE.

Nota - A propósito, sabiam que as ilhas açorianas das Flores e do Corvo são americanas, não europeias como a minha ilha micaelense?

18 dezembro, 2007

Universidades fundações

O Público de 15 de Dezembro titula que "universidades têm até dia 10 para decidir se serão fundações" e acrescenta que, como é natural, provavelmente nenhuma universidade apresentará a proposta de subscrição do regime fundacional. Digo que é natural porque decisão de tal monta não é compatível com prazo tão curto. Muito menos, obviamente, quando o governo ainda não anunciou com o mínimo de substância o que será o conteúdo real, político, jurídico, administrativo e financeiro, desse regime fundacional.

O artº 177º da lei nº 72/2007 (RJIES) estipula, de facto, que "no prazo de três meses sobre a entrada em vigor da presente lei, a assembleia a que se refere o n.º 2 do artigo 172.º pode, por deliberação tomada por maioria absoluta dos seus membros, solicitar, nos termos previstos no artigo 129.º, a passagem da universidade ao regime fundacional." A assembleia é a que tem estado a ser eleita para elaborar os estatutos, de acordo com a nova lei. Em muitos casos, ainda não está concluído o processo da sua constituição (nomeadamente a escolha dos membros externos) e é evidentemente inviável que ela requeira a passagem a fundação.

Como a lei foi publicada em 10 de Setembro e entrou em vigor um mês depois, o prazo referido pelo jornal está correcto. No entanto, isto é meia verdade. Nada impede que, aprovados os novos estatutos segundo o regime geral e constituído o conselho geral, este venha a propor em qualquer momento, mais serena e ponderadamente, uma eventual passagem ao regime de fundação, como se diz no artº 129º: "Mediante proposta fundamentada do reitor, aprovada pelo conselho geral, por maioria absoluta dos seus membros, as universidades e institutos universitários públicos podem requerer ao Governo a sua transformação em fundações públicas com regime de direito privado."

17 dezembro, 2007

Futuros

Interessam-se os meus caros e raros leitores por saberem os futuros da ciência e tecnologia, em Portugal e nos arredores?
Não se acanhem, a casa é mesmo só vossa, façam o favor, cliquem aqui.

Transgénicos

A todos os que se interessaram pelas minhas notas na altura do "Verde Eufémia" (estupidez de nome!...), recomendo este esclarecimento/petição, a meu ver muito bem feito, legível por leigos e subscrito por cientistas idóneos.

Direito e Direito

Há algum tempo, escrevi aqui um comentário a um dos habituais exemplos de conservadorismo académico com que regularmente nos brinda o Prof. Doutor (respeitinho!) Jorge Miranda. Era sobre o "escândalo" do uso abusivo do inglês na vida académica. Nada melhor, em resposta embora tardia, porque vem de dentro da família, do que um artigo de opinião de Luís Fábrica, da F. Direito da Universidade Católica, no Público de 14.12.2007: "Inglês nas faculdades de Direito?".

16 dezembro, 2007

Ainda outra efeméride



O assassinato (execução?) de Rasputin. Homem de meter medo, mas talvez não mais do que o seu neto (Ras)Putin.

15 dezembro, 2007

Só é mesmo difícil dizermos que não, a nós mesmos!

A frase que dá o título a este "post" é uma tradução rústica, de uma observação que escutei centenas de vezes - a uma senhora irlandesa que conheci em criança, entre os meus 5 e 15 anos - dita num vocabulário de impossível reconstrução constituído por, proporções variáveis de Gaeltacht, inglês e português muito macarrónicas. Só cerca de 20 anos depois, é que me apercebi da importância e alcance daquelas convictas, insistentes e incansáveis palavras.
Nestes últimos tempos, acabei por conferir um significado muito especial à citada frase, por causa das tristes consequências de inconsciências momentâneas - de que todos padecemos de vez em quando - mas que, para simplificar, vêm sendo atribuídas a "excessos de praxes académicas".
Para mim, também é muito triste e extremamente preocupante ver a forma como a tutela percebeu e abordou, tão superficialmente, essas questões, como podem ler aqui:
"O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, José Mariano Gago, segue com preocupação estes casos, tendo sido já contactados os responsáveis das instituições envolvidas para o cabal esclarecimento da situação. Sem prejuízo do necessário apuramento de responsabilidades civil e criminais, recorda-se que o novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) já em vigor determina que constitui igualmente infracção disciplinar «a prática de actos de violência ou coacção física ou psicológica sobre outros estudantes, designadamente no quadro das 'praxes académicas'»".

Considero deficitária a percepção que essas declarações denunciam, quando indirectamente expressam uma expectativa de que as causas remotas desses, efectivamente, gravíssimos acidentes sejam controladas de raiz se as identificarmos como infracções disciplinares, até precavida e cuidadosamente, previstas e contempladas no RJIES.

Perguntaria, hoje, tal como já o fiz, em 5 de Julho se ao invés de sequer sugerirmos processos disciplinares não deveríamos tentar mobilizar, induzir e motivar todas instituições de educação superior a adoptarem Códigos de Boas Práticas, nas suas múltiplas dimensões e facetas.

Questionam-se alguns dos meus caros e raros leitores: e aí? grande coisa... qual é a diferença?

Na verdade, para mim, a diferença é abismal, porque a construção de raiz de Códigos de Boas Práticas obriga à participação efectiva daqueles a quem se destina e, em consequência, a uma auto-responsabilização, pelas opções tomadas, e sobre o que se pode e deve ou não fazer em circunstancias específicas devidamente ponderadas - trata-se de uma produção de documentos educativos (obrigam a pensar) redigidos com base em posturas reflexivas e integradas, e não de simples instrumentos mais ou menos legais, soltos e repressivos, vindos sabe-se lá porque motivos da cabeça de um iluminado e incógnito quem.
Pelos vistos, até hoje, ninguém ou muito poucos deram a devida atenção à redacção do RJIES, em geral e, muito particularmente, deram ainda menos crédito a essa passagem específica sobre a infracção disciplinar.

Entretanto, contentemos-nos com uns "responsos" esporádicos, agitados lá do alto, sobre uns hipotéticos responsáveis institucionais, exibindo uma certa tranquilidade de espírito que resulta da existência de umas quantas regras disciplinares avulsas escritas aqui ou ali... Por outro lado, indirectamente, expressando a preferência por manter jovens pessoas, sob receios repressivos, mas sem nenhum respeito, por umas quantas regras disciplinares, ao invés de se empenharem e auto obrigarem a prestar muita atenção aos seus actos, e à consideração de consequências sobre as suas ideias, opiniões, decisões e acções, que muitas das vezes imporiam que disséssemos que não a nós mesmos, especialmente, quando nos é difícil.

Dizem-me, que esta minha manifestação é demasiado serôdia - têm razão, estava até para não dizer nada sobre o assunto, mas ultimamente todos os dias, ou quase, venho assistindo à prática de actos de violência ou coacção (....) psicológica sobre outros e não têm a assinatura de jovens ou se podem explicar, candidamente, por excessos de praxes académicas.

Outro centenário


Hoje, felizmente de pessoa ainda bem viva, de alguém com nome indelével na história da arquitectura, Óscar Niemeyer. Como homenagem, podia ter publicado uma fotografia do Palácio da Alvorada, do Congresso com as suas cúpulas em inversão, da catedral de Brasília, do aeroporto Santos Dumont, do museu de Niterói, tanto mais. Preferi lembrar que há uma obra do mestre em Portugal: o Hotel Casino, no Funchal.

14 dezembro, 2007

Centenário


Beatriz Costa nasceu em 14 de Dezembro de 1907. Aqui fica a minha homenagem, recordando uma das mais célebres cenas de um cinema português que, não sendo de génio intelectual, fez as delícias de muita gente, até, em segunda geração, de gente da minha idade.

13 dezembro, 2007

Nota gastronómica (XLIV)

Lebre com feijão branco à minha moda

Ofereceram-me uma grande lebre, ainda com pelo e a ferida visível do tiro. Nunca tinha cozinhado lebre, só estava familiarizado com cozinhar o coelho bravo da minha terra, habitualmente frito e com um molho de desglaciar a fritura. Também, excelente, de escabeche, como vem no meu livro. Com o meu irmão DVC, meu alter ego gastronómico, desafiámo-nos a uma lebre com feijão, mas foi aventura difícil.

Começa logo por se distinguir feijoada de lebre e lebre com feijão. Não são exactamente a mesma coisa. No segundo caso, o que me interessava, o feijão é quase só acompanhamento final, sem dar demasiado sabor ao prato, ao contrário de uma feijoada tradicional (e por isto é feijão branco).

Depois, uma boa compilação de receitas mostrou-me diferenças assinaláveis. E não eram só receitas de net, eram de um famoso restaurante alentejano, de um gastrónomo reputado, de recolhas de regiões turísticas e até de uma amiga, boa cozinheira e mulher de um caçador alentejano. Verifiquei, assim, que não há uma receita "canónica". Portanto, mais uma para a colecção, resolvi fazer uma rapsódia do que achei melhor. Não digo se ficou a melhor que já comi, mas garanto que, para meu gosto e do DVC, ficou muito recomendável (para ser modesto). Como de costume, podem sacar a receita do meu "site".

Nota - Quase por automatismo, ainda pensei num toque de tempero com alecrim e carqueja. Asneira, isto é o que uso para disfarçar coelho manso, bicho horroroso, que só vai também com grande carga de cozedura com a vinha de alhos. Para lebre não, coisas a mais é só estragar o seu magnífico sabor de caça.

Male pride!

De acordo com a gazeta, Anthony Hopkins declarou que, na sua idade, nunca fará cirurgia plástica. O resultado seria ficar a parecer uma lésbica velha! LOL! Mas não me levem a mal, porque este blogue não é homófobo.

Errata, 15:27 - Chamaram-me a atenção: "Quem disse que parecia “uma lésbica velha” foi o novo James Bond – Daniel Craig". É verdade, culpa minha de ter escrito de cor, sem o jornal ao pé. É que vinha tudo na mesma notícia e misturei. Peço desculpa.

12 dezembro, 2007

A orthographia

Ainda não consegui perceber nada da polémica sobre o acordo ortográfico. Não consigo destrinçar entre interesses económicos, de livreiros, entre farroncas patrioteiras, entre espevitanços intelectualoides. Porque raio é que é essencial escrever facto ou fato?

A língua é a minha pátria, sem dúvida. Mas a língua é estrutura do pensamento, simbologia, sintaxe, beleza musical, instrumento de comunicação, vocabulário misturado de origens diversamente ricas. O que é que isto tem a ver com o artifício da ortografia? A língua portuguesa perdeu alguma coisa com a extinção de milhares de pharmacias por todo este país? Depois de 1911, deixou de se estudar physica ou chimica?

As reformas ortográficas, tanto quanto percebo, tendem a adequar a ortografia à fonética. Creio que há aí grande dificuldade, porque a ortografia é uniforme e a fonética é extremamente variada. Qual é a fonética que domina o acordo? A de Coimbra? Porque é que há-de se mais importante do que a dificuldade de um micaelense, como eu, em escrever cabra quando se diz cobra, ou para um lisboeta escrever ministro quando ele diz sempre mnistro/e e até diz é Ljboa, da mesma forma que um tripeiro diz que a sua cidade é o puarto?

Caso exemplar é o da língua inglesa. Não conheço bem outras variantes, mas domino razoavelmente as diferenças entre o English UK e o English US (quem lida com computadores sabe o que estou a dizer). No meu primeiro artigo científico, publicado pela U. Oxford, sugeriram-me que alterasse "tumor" para "tumour", mas acrescentando logo que não era qualquer impedimento à publicação. Depois, habituado a publicar numa revista americana, experimentei uma vez escrever "recognise", à inglesa, em vez do americano/canadiano "recognize". Nem um único reparo!

Why can´t we be more like them?

11 dezembro, 2007

Ai, o uisque...


Há dias, mandei a alguns amigos, do meu "inner circle", uma coisa de que gosto muito, "Pela luz dos olhos teus", com a surpresa de me ter sido dito que era cantada pela Ellis e pelo Tom Jobim. Erro, era a Miucha. Parece que a Ellis nunca gravou isto. De volta, um dos amigos mandou-me um "link" para este vídeo delicioso, a versão etílica da canção.

Aos poetas tudo se perdoa

Como muitos da minha geração e depois, sou um fã incondicional de Chico Buarque. Não só do músico e do cantor, também do escritor. Budapeste é dos romances mais imaginativos e bem escritos que tenho lido ultimamente. isto não quer dizer que não lhe possa fazer uma ou outra crítica.

Numa das versões que tenho do "Fado tropical", logo a seguir a cantar "esta terra ainda vai cumprir seu ideal/vai ainda se tornar num imenso Portugal", ele interrompe para uma coisa falada:

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental,
Todos nós herdámos no sangue lusitano
Uma boa dosagem de lirismo.
Mesmo quando minhas mãos estão ocupadas
Em torturar, esganar, trucidar,
Meu coração fecha os olhos
E sinceramente chora"

Chico, torturadores de sensibilidade ternurenta? Admito a liberdade poética, mas esta é demais, para quem viveu o regime dos coronéis brasileiros (ou da PIDE portuguesa).

10 dezembro, 2007

Dear Professor Yossi Sheffi, please, please...draw us a picture!

No seguimento de uma notícia do Jornal Público, online, que também podem ler aqui, decidi comprar, como lembrança de Natal, um kit de esboços, para oferecer ao Senhor Director do Centro para Transporte e Logística do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Yossi Sheffi, e implorar-lhe que nos faça um desenhozinho simples, para que TODOS possamos entender bem o "dificílimo" significado do que nos afirma:
1º - ... "o trabalho com as empresas é importante", não se resumindo à publicação de ensaios, à leitura ou à definição teórica da profissão de engenheiro, que acaba por não dar um contrato de trabalho a ninguém.
2º - "O que interessa o que é ou não a engenharia? Nada. Não interessa qual a etiqueta que se põe no problema, não interessa qual o ensaio que se vai publicar. A única coisa que interessa é a solução para o problema", frisou Sheffi, acrescentando que "esta visão é minoritária" em Portugal. Ah! Pois..., pode crer, nem imagina quanto é minoritária!
Pessoalmente, desde há umas quantas dezenas de Janeiros, penso que o Senhor tem carradas e carradas de razão, mas também já vai desconfiando como nós somos, não é verdade?
Pode ser que, como o Senhor é do MIT, comecemos agora TODOS, a perceber o significado do NADA e a acreditar no conteúdo das suas afirmações mas, mesmo assim, por favor, faça-nos um desenho, so everyone of us can catch-up your whole idea, porque alguns de nós são muito cépticos.... OBRIGADÍSSIMA! Bem haja!

O espírito médico

Uma colega minha lida frequentemente com doentes de SIDA. Há dias, contou-me uma sua experiência, de que ressalto uma pequena nota. Teve uma conversa com um homem que não sabia que era portador do vírus. Não sei, mas adivinho, porque a conheço bem, como terá sido a conversa. O que sei é a reacção do homem, de grande gratidão pela afectividade com que tinha decorrido aquela conversa, com uma médica que nunca o tinha visto. "Só consigo aguentar por me lembrar da maneira como a doutora me disse isto".

A medicina está difícil. Os meninos dos 18 valores não são obrigatoriamente as mentes e os afectos médicos. Eu sou autor de uma proposta de um curso de medicina em que me preocupo muito com a formação para a "compassionate medicine". Mas cuidado com a tradução à letra. Não é compaixão caritativa para com o coitadinho do doente, é empatia, partilha fraterna de sentimentos e vivências, a intuição de um gesto de ternura que vale mais do que mil palavras segundo a ordenança e o código.

É por isto que tenho muita pena de não ter sido convidado para o jantar de há dias preparado por cozinheiros infectados com HIV.

08 dezembro, 2007

In memoriam

Desapareceu Stockhausen. Ao menos, que Boulez ainda se mantenha vivo por mais bons anos. E não esqueçamos um grande nome português, Emanuel Nunes.

07 dezembro, 2007

Nota gastronómica (XLIII)

Alcatra da Terceira

Terminei assim a minha última nota gastronómica: "Fica-me, dito isto, outra pergunta. Mas afinal a alcatra da Terceira é com vinho tinto ou branco? "Ele há cada questão..." Escreverei sobre isto uma próxima nota." É o que vou fazer.

Ao contrário da cozinha francesa, não temos grande tradição de cozinha de vinho (claro que não estou a falar do uso moderado do vinho, em guisados, por exemplo, como tempero). Claro que temos a chanfana, o frango na púcara, o polvo e a molha açorianos, outras coisas mais, mas realce absoluto para a alcatra da Terceira. Suscita uma questão interessante: por razões históricas, mudou um ingrediente essencial, o tipo de vinho. Deve-se aceitar a mudança como definitiva ou deve-se recuperar a origem?

O panorama vitícola açoriano mudou radicalmente no século XIX. Desde tempos imemoriais, não há relevo para o vinho tinto e o grande vinho açoriano é o verdelho, ou como vinho de mesa ou como generoso, com a célebre história de orgulho açoriano de ser o vinho mais importado pela corte russa. Tal como na Madeira, também havia terrantês, bem como arinto, mas em pequena proporção. O cultivo da vinha era característico, em pequenas curraletas limitadas por muros de basalto, como ainda hoje se podem ver no Pico e no excelente museu do vinho dos Biscoitos. No caso dos Biscoitos, menos no Pico, continua ainda a haver uma característica que me agrada imenso, embora haja quem não goste: o verdelho que ainda se produz (Donatário, Da resistência, ambos da casa Brum) tem um ligeiro sabor a maresia, amariscado. Os Açores são "quando o mar galgou a terra".

A filoxera deu cabo de tudo. Incrivelmente, em vez de se seguir ao inevitável arranque das vinhas o replantio com as castas históricas, importou-se a uva Isabel, californiana, porque muito resistente. A partir daí, todo o vinho popular açoriano é o vinho de cheiro (aqui, o chamado morangueiro), coisa execrável. Só poucas casas, principalmente a casa de Chico Maria Brum, é que mantiveram uns resquícios de verdelho. Da mesma forma, só os mais abastados é que bebiam vinho tinto ou branco, ido do continente (em garrafão, como me lembro do Grão Vasco em casa dos meus pais).

Já estou a trescrever, vamos à alcatra. Não conheço nada que date a sua origem, mas é certamente ancestral. É um prato da mais velha técnica culinária, relacionada com as daubes e até com velhas referências a cozinha de vinho dos romanos. O uso generoso da pimenta preta e da Jamaica, em grão, evoca a volta do largo e o comércio das naus das Índias, troca de frescos e de especiarias. Por tudo isto, ponho as minhas mãos no fogo por que a alcatra é muito mais velha do que a filoxera. Então, certamente, a alcatra era feita com verdelho.

Depois, sou do tempo da alcatra dupla, coisa que sempre causou discussão gastronómica familiar. Na minha casa e em muitas outras, a alcatra era feita com vinho branco do continente. No entanto, quando ia em miúdo à Terceira e me fartei de comer alcatra em funções de Espírito Santo por tudo o que era freguesia, era de vinho de cheiro, o vinho de que o povo dispunha. É hábito arreigado. Deve ser consagrado ou deve-se recuperar a história genuína? Honestamente não sei, embora possa dizer é que nunca por nunca faço uma alcatra com vinho de cheiro ou vinho tinto, sempre um bom vinho branco seco (normalmente arinto, de Bucelas).

E verdelho, agora que volta a haver na Terceira verdelho de mesa? Recorda-me alguma tradição familiar. Alcatra era coisa que se fazia com frequência lá em casa, sempre com vinho branco, e creio que era uma alcatra inegualável, que nunca vi primor de papilas gustativas como as da minha avó. Havia excepção para a alcatra do dia de Espírito Santo, alcatra de vinho dos Biscoitos. Não podia ser todas as vezes, por falta do vinho, mas, indo com alguma frequência a Angra, o meu pai aviava-se com umas garrafas, das quais parte se destinava obrigatoriamente à alcatra.

Com tudo isto, conclusão inevitável, um compromisso aceitável. Não há produção de verdelho que dê para todas as alcatras da Terceira, continuem a fazê-las com vinho de cheiro. Que as casas de maior recordação senhorial usem um bom vinho branco, como eu. Mas se a quiserem valorizar ao máximo, como se diz neste escrito que o Luís Brum me mandou, verdelho! Eu é que fico em dificuldade pessoal, porque tenho forte relutância em usar que não para beber as ofertas que recebo de Donatário.

06 dezembro, 2007

Ainda o aborto

"Há sempre alguém que resiste". Em geral, óptimo. Noutros casos, é patético. Houve o referendo sobre o aborto, a aprovação da lei, a prática efectiva já de muitos e muitos abortos legais. No entanto, em artigo de há dias no Público, ainda há quem volte à luta e de forma que me preocupou, porque tento ser objectivo e respeitador do conhecimento científico.

"E todos os médicos sabem, hoje, que a chamada 'interrupção voluntária da gravidez' causa, frequentemente, sofrimentos à mulher: aumenta em 30% o risco de cancro da mama, gera depressões, disfunção sexual, esterilidade, tendência para aborto espontâneo, etc. - males que os médicos têm o dever de tratar e prevenir."

Fiquei siderado. Nada do que eu penso em relação ao aborto se pode sobrepor a estes factos. Mas fez-se-me uma centelha de lucidez e, à minha maneira de velho profissional da ciência, comecei logo por ir ver quais eram as credenciais científicas do autor. É Luís Brito Correia, advogado e ex-mandatário da Plataforma Não Obrigado. Ufa! Que alívio...

05 dezembro, 2007

Piões para porta-aviões?

Já experimentaram os meus caros e raros leitores fazerem o que eu chamo de "cavalo de pau" (devemos chamar de "pião"?). Quero dizer, já conduzirem um carro, em 1ª marcha, com elevada rotação e, de repente e simultâneamente, soltarem a embraiagem enquanto puxam o travão de mão, e o vosso carro rodopia 360º, claro, isto se a vossa perícia de pilotagem for a adequada ou, no máximo, aí uns 180º, quando se atrapalham com as sincronias de movimentos? (podendo até partir a cara durante o processo). Já? Óptimo! Porque, então compreendem bem o que vos falarei em seguida.
Fartamo-nos todos de ouvir muitas litânias, imprecações, rezas, lamentações e pragas do canhoto, sobre os drifts das instituições politécnicas públicas. Drifts estes que, valha-nos a verdade, o MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR (MCTES) fez (e bem) das tripas coração acautelar, pelo Decreto-Lei n.o 74/2006.
Mas, de entre as multiplas amnésias, deste Ministério e deste Decreto, está precisamente a ausência de prevenção de drifts das Universidades em relação aos Politécnicos. Como também sou distraídíssima, tem toda a minha solidariedade e compreensão.
Mas, às vezes as nossas distrações têm os seus inconvenientes:
Podem crer, eu hoje pasmei com uma notícia do Público - esta, de onde extraí a seguinte informação - "O Senado da Universidade Técnica de Lisboa aprovou ontem as Licenciaturas de Cenografia e Enfermagem Veterinária, as primeiras do género em univerisades em Portugal, que poderão arrancar em Setembro de 2008, revelou o reitor, Fernando Ramôa Ribeiro."O Senhor Reitor, a quem por acaso até admiro muitíssimo, admirou-me ainda mais quando nos explicou a decisão: "São áreas recentes na Europa, uma grande carência que temos". ????!!!!!!!????
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Ora bem, na Europa, se calhar, são áreas recentes, mas em Portugal, já em 2006:
- nada menos que em 4 Politécnicos -- CASTELO BRANCO, ELVAS, PONTE DE LIMA e VISEU -- inscreveram-se respectivamente 30, 47, 27 e 63 alunos aproveitando a totalidade das vagas dos cursos de "Enfermagem Veterinária" que ofereceram, e tendo também um total de alunos inscritos, neste preciso ano lectivo, pela mesma ordem de 30, 138, 27 e 154 alunos.
Não sei a idade de BI destes cursos todos, mas sei que a Ordem dos Enfermeiros (aqui) já em Julho de 2004, protestou contra a ideia INOVADORA -- nesta altura, em Portugal sim, foi uma ideia inovadora da Escola Superior Agrária de Elvas -- nestes termos: «Neste sentido, a Ordem dos Enfermeiros já solicitou ao Ministério da Ciência e Ensino Superior a alteração da Portaria que cria o curso de bacharelato em enfermagem veterinária na Escola Superior Agrária de Elvas, retirando a palavra "enfermagem"».??!!!????
No entanto, pode ser que agora a Ordem dos Enfermeiros, tratando-se de um curso da Universidade de Lisboa, já ache bem o nome... e não queiram mais recuperar um nome "alternativo" que propuseram - "auxiliar de veterinário"
- não tenho bem a certeza, mas penso que já existia também um Curso de Cinema, com um ramo em Design de Cena, no Instituto Politécnico de Lisboa, com 56 alunos inscritos, em 2006/2007. Bom, é bem verdade que não é um curso de Cenografia, mas... Que será que se ensina-aprende nesse curso de Design de Cena?
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Não pensam os meus caros e raros leitores que há situações na nossa vida em que nem podemos "ver uma camisa lavada num pobre"? Terrível não é?
Do meu lado, começo a pensar que é triste mas, sobretudo, caríssimo ao país quando os nossos porta-aviões se metem também a fazer "cavalos de pau", perdão, piões... Os meus leitores discordam de mim?
OK! Somos todos livres para pensarmos mas, eu continuo a dizer que era muito mais simples e pacificador, para Portugal, deitarmos fora todos os diplomas legais da nossa educação superior, que seriam substituídos por uma simples meia folha A4, com a devida chancela, com uma única frase que diria mais ou menos seguinte: "A partir de hoje, tudo o que deveria ser feito por uns, passa a ser feito pelos outros!".
Como opção, a tal redacção tutelante poderia ser também assim: "A partir de hoje, e à semelhança das nossas Universidades, aquelas outras instituições - em off, e para o secretariado: como é que me dizem que é mesmo o nome daquelas 'coisas'? Poli...? Poli...quê? Ah! Pois... isso, escrevam - Politécnicas também podem fazer tudo o que lhes vier às ideias!"

04 dezembro, 2007

Shmoo

Tenho dado poucas notícias, e sentido muitas saudades dos meus caríssimos e raríssimos leitores, só porque ando nuns viveres, como direi? demasiado atarefados... Hei-de contar-lhes algumas passagens... porque vão gostar muito de as saber!
Hoje, vou-lhes falar de shmoos - o "shmoo", sem c antes do h, é o colapso da espuma de cerveja que resulta em apreciações individuais distintas e opostas: é altamente negativa ou positiva, em dois momentos distintos do processo de produção e de consumo da cerveja em causa - pode tornar-se uma seríssima dor de cabeça durante a fermentação (ficamos com espuma de cerveja espalhada, até na alma dos porões da fábrica, até à altura dos joelhos), susceptível de causar surtos de pressão arterial maligna, levando a acometimentos de AVC, nos mestres cervejeiros mais fleumáticos e, simultaneamente, é uma das maiores delícias para uma boa parte dos apreciadores de cerveja (aqueles que gostam de "golas altas", durante a degustação da bebida, que nos deixam os bigodes pincelados com aquela espumazinha branca, que nos obriga a lamber os beiços - apre, que imagem...).
Ora é assim mesmo, tal e qual como o shmoo, o efeito da postura da Direcção Geral de Ensino Superior (DGES), sobre as instituições que tutela. Não sei se deram por isso, mas no famigerado dia 15 de Novembro de 2007, neste endereço da página da DGES publicou-se o seguinte texto-aviso:
"Por despacho do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de 24-10-2007
(
Despacho n.º 26245/2007, DR, 2.ª série, de 15-11), foi fixada a data de 28 de Dezembro de 2007 para a apresentação, na Direcção-Geral do Ensino Superior, de pedidos referentes ao registo de adequação, à autorização de funcionamento de novas formações e ao registo de alterações, para a entrada em funcionamento no ano lectivo de 2008/2009."

Com essa frase, mas de uma outra maneira, a nossa gestão de cúpula da educação superior diz-nos, exactamente, o seguinte: "o que se passa com as propostas velhas e safadas de novas formações superiores, submetidas pelas instituições no passado ano 2006 (a nível de mestrado), "achamos" que sabemos o que é que lhes aconteceu, mas não dizemos a ninguém, e as instituições que, assim o entenderem, mesmo que ignorem o paradeiro das suas propostas do ano passado, sigam o nosso exemplo e tradição, em estratégia: planeiem o futuro como muito bem lhes parecer porque, depois, estamos cá nós para ver o que irão, eventualmente, fazer ou não, e também só decidiremos quando e o que quer nos der na régia gana".
Claro que, há instituições que apreciam e vibram, muitíssimo, com shmoos como estes que vos acabei de descrever e, naturalmente, há as outras em que alunos e docentes, perante tais shmoos, entram em risco de vida profissional. Mas, e isso... interessa lá a alguém?!

03 dezembro, 2007

Interrupção

Os leitores merecem sempre uma explicação. O Bloco vai estar fechado para recuperação de uma forte gripe. Espero voltar em breve.

02 dezembro, 2007

Nota gastronómica (XLII)

Alcatra de coelho?

Com alguma publicidade mas ainda maior privacidade, David Lopes Ramos e eu temos mantido correspondência gastronómica assídua. Consideração mútua, mas que só se alimenta com uns pozinhos de polémica cordial, como agora. E até nem se trata bem de uma crítica, mais uma dúvida.

Vem a propósito de um tema que me é muito caro, a cozinha de vinho (não fosse eu especialista em alcatra terceirense) e da sua crónica de ontem no Público, sugerindo uma alcatra de coelho. Aliás, provavelmente por coincidência, há um restaurante muito respeitável em S. Miguel, o Gato Mia, que faz essa alcatra, que ainda não comi.

A cozinha com vinho branco é banal. Num guisado, é juntar e deixar ir. Para um aveludado, uma redução de vinho branco, durante 3-5 minutos com chalotas, ervas ou uma duxelles de cogumelos nunca me deixou mal. Com um gole de moscatel ou verdelho, melhor ainda.

O vinho tinto, este sim é que é difícil. Regra essencial, para qualquer vinho, é tempo e temperatura para evaporar todo o álcool. Mas o tinto tem taninos que precisam de ser suavizados, senão qualquer cozinhado sabe a sopas de cavalo cansado. Nisto, a confecção tem tudo o que se lhe diga. Exemplifico com o polvo guisado à açoriana. Pouco mais do que uma hora de cozedura, o vinho apurado ao ponto certo, porque a alta temperatura e com ebulição forte. Assado é diferente. Experimentem o polvo assado em vinho tinto, que sai frequentemente agreste, com sabor a vinho. Ou então, para evitar o problema do vinho, assadura de mais e o polvo encortiçado.

E porque é que se faz "coq au vin" e não "poulet au vin"? E porque é que a nossa excelente chanfana só pode ser feita com cabra velha? Experimentem fazer uma chanfana de cabrito e depois mandem-me notícias. Leiam o mestre Escoffier quanto às daubes. Provençal e borguinhesa, de carne de boi, muito bem, no forno, recipiente vedado, assadura lenta. Mas já a daube de cordeiro ou a de peru são em forno a temperatura mais baixa, permitindo assadura muito lenta, e com as carnes previamente marinadas, a ganhar sabor. O grande desafio da cozinha de vinho tinto é tempo e temperatura para cozer o vinho sem as carnes se desfazerem.

Muito mais importante é isto nos assados. A temperatura é enganadora. Ponham o forno a 200º, depois meçam a temperatura do molho de uma alcatra, por exemplo. Pouco ultrapassa os 120º, é um ligeiro fervilhar. Por alguma razão uma alcatra demora cerca de 6 horas a assar. Ao fim deste tempo, o vinho está no ponto certo. Mas pode-se deixar coelho a assar durante 6 horas? Se sim, a que temperatura, não certamente a da alcatra de carne? E durante quanto tempo? Não quero dizer com isto que discorde desta ideia de alcatra de coelho, mas desconfio de que é coisa que exige algum cuidado.

Fica-me, dito isto, outra pergunta. Mas afinal a alcatra da Terceira é com vinho tinto ou branco? "Ele há cada questão..." Escreverei sobre isto uma próxima nota.

P. S. (17:30) - Reparo agora que fui injusto para com DLR. Escrevi esta nota sem ter ao lado a sua crónica. Afinal, DLR responde em pormenor às perguntas que fiz. Por isto, pensei apagar esta nota, masa é melhor deixá-la, com este esclarecimento, porque aborda uma questão culinária relevante.

01 dezembro, 2007

Quem muito escreve muito erra

Em artigo de hoje no Expresso, Miguel Sousa Tavares insurge-se contra a decisão dos constituintes de 1976 de condicionarem a regionalização a referendo. Dá a entender que foi manobra da "classe política" para validar a criação de um escalão administrativo à sua medida. Não se percebe muito bem, mas vá lá.

O que o articulista deveria era ter-se informado melhor. A Constituição de 1976 não impõe nenhum referendo. As únicas limitações à criação das regiões são a obrigatoriedade da criação simultânea e o voto favorável da maioria das assembleias municipais representativas da maioria da população regional (artº 256º). Isto só foi alterado, com a introdução da obrigação referendária, na revisão constitucional de 1997, por acordo entre Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa, o que resultou, no ano seguinte, na rejeição referendária da criação das regiões.

MST devia estudar um pouco melhor os assuntos sobre os quais opina. E não ter a arrogância de pensar que todos partilham da sua ignorância e que ninguém é capaz de dizer que o rei vai nu.

30 novembro, 2007

A mão à palmatória

Ontem critiquei os "flashes" bloguístico. Penitencio-me por hoje fazer isso mesmo.

1. O inefável Alberto João Jardim acusa o Tribunal Constitucional de estar a fazer terrorismo de estado. Nada lhe acontece. O líder da oposição acusa AJJ de fazer terrorismo de estado e a Assembleia regional levanta-lhe a imunidade para ele responder em tribunal em processo de difamação, por queixa de AJJ. Não há mesmo forma de acabar com esta nódoa insular na democracia portuguesa? Os meus bons amigos madeirenses mereciam-no.

2. António Valpaços, estudante da Faculdade de Letras da U. Porto, declara no jornal que "a entrada dos 'privados' [presumo que queira referir-se aos membros externos dos conselhos gerais] nos órgãos de gestão das universidades vai criar escolas de primeira e de segunda". Não entendo patavina desta afirmação, mas o direito à asneira é sagrado e bem divertido. A não ser que ele queira dizer que uma universidade com Artur Santos Silva ou Rui Vilar como presidente é mais de primeira do que uma presidida por Joe Berardo. Mas isto é que é mesmo a lógica do modelo dos conselhos gerais ("boards").

3. Clara Barata, jornalista do Público, ficou tristemente célebre por um caso de plágio. Ao menos, quando plagia, escreve acertadamente. Quando escreve da sua cabecinha, dá asneira. Em notícia sobre trabalhos acerca do plasmódio, o parasita causador da malária, diz que eles são estudados em culturas celulares, em "pratinhos de laboratório". Parti o coco! Imaginei pratinhos de pastelaria, com scones a acompanhar o meu chá. Placas de Petri, ignorante!

29 novembro, 2007

Bloguistas ou jornalistas?

Desde há tempos, o Público, no caderno P2, insere uma amostra de coisas publicadas em blogues. Como regra, escolhe entradas sobre o tema do momento. Creio que isto pode contribuir para o agravamento de uma tendência imediatista de muitos blogues, principalmente os mais orientados para o comentário político.

Nunca poderei ser citado nessa secção do jornal, por variadas e certamente justíssimas razões, mas principalmente porque evito escrever sob a pressão do acontecimento, gosto de ter um mínimo de reflexão. Muitos blogues estão a fazer jornalismo, mas mau jornalismo. O jornalista reage ao acontecimento, mas é profissional, dispõe de um dia inteiro para escrever. O bloguista não, escreve com ligeireza, entre o trabalho e o sono, dá asneira. Bom exemplo foi a célebre “pata na poça” de Miguel Portas sobre a acção vândala do Verde Eufémia.

Outra consequência é a redução da extensão e profundidade de análise de algumas entradas em blogues consagrados, agora limitadas a um curto parágrafo, quase um “sound bite”. Por tudo isto, cada vez mais limito a minha lista de leituras diárias obrigatórias a blogues temáticos. Para notícias, tenho a comunicação social.

27 novembro, 2007

Propúblico

Este blogue já conta com cinco notas "contrapúblico". Mas é bom elogiar o que muitas vezes nos dá razão para crítica. O Público, hoje, não faz nada de muito especial, mas destaca-se do resto da imprensa. No dia da conferência de Annapolis, dá uma página inteira, meia por meia, ao embaixador de Israel, Aaron Ram e à delegada geral palestiniana, Randa Nabulsi.

Por tendência natural, sou um optimista, embora isto já me tenha causado muitas frustrações. Apesar da prudência dos articulistas (por exemplo, Ram não se compromete mais do que com a esperança de um simples retomar do roteiro de paz), ambos os artigos me suscitam motivos de esperança, não só pelas intenções expressas mas principalmente por alguns sinais significativos. Da parte de Ram, destaco a distinção clara que faz entre a Cisjordânia e Gaza, entre a Autoridade Palestiniana de Abbas e o Hamas, que vai estar à margem de Annapolis. Ram não faz uma única acusação à Autoridade, desviando todo o fogo para o Hamas.

Por seu lado, Nabulsi evoca repetidamente o roteiro, compromete-se com a importância do papel do "quarteto" e tem a atitude expressa de um elogio claro à dupla Rabin-Arafat, responsável pelo que ela chama de "a paz dos bravos". Significativamente, refere que se coloca no campo do que chama os "palestinianos moderados".

A conclusão de ambos os artigos é significativa, embora me possam acusar de ingenuidade perante possível hipocrisia. Um dos artigos termina com "espera que todas as partes envolvidas aproveitem esta oportunidade e façam os possíveis para abrir caminho para a paz". O outro conclui "é tempo de se alcançar uma paz justa e duradoura na nossa tão sofrida região". Quem escreve uma e quem escreve a outra?

NOTA - Em contraste, no mesmo jornal, Rui Tavares escreve que "Annapolis é simplesmente uma coisa que tem de se fazer porque se disse que se ia fazer". Espero que esteja enganado.

Sem papas na língua (III)

Referi-me a duas afirmações polémicas de António Nóvoa, uma das quais já comentei. A outra comento hoje. "Queremos também ir além da letra da lei [sublinhado de AN] no que diz respeito ao reordenamento da rede do ensino superior em Lisboa, juntando-nos com outras escolas no sentido de agregar esforços, construindo um espaço institucional coerente, universitário e politécnico."

Essa coerência, ou talvez melhor abrangência, faz sentido, tanto quanto julgo perceber a ideia de AN. Para além de uma integração do ISCTE, que me parece evidente, até pela localização e pela coincidência de pessoas no Instituto de Ciências Sociais, a aglutinação com o IPL traria a área das engenharias, a comunicação social, a gestão e contabilidade e, talvez com o reequacionamento das ciências da educação na UL, também a formação de professores.

No entanto, AN tem razão ao escrever que isto é ir além da letra da lei. O RJIES consagra o já tradicional carácter rígido do nosso sistema binário, com distinção radical entre universidades e institutos politécnicos. Exceptua-se o caso das escolas politécnicas das universidades de Aveiro e do Algarve, bem como mais recentemente, a inclusão nas universidades das escolas de enfermagem de Évora e das ilhas. Isto não impede que tenham sido aprovados cursos expressamente declarados como de ensino politécnico na U. dos Açores, mas sem criação de uma estrutura correspondente.

Este caso, aliás, é apenas um exemplo de muitos, de cursos marcadamente politécnicos ministrados por universidades e de cursos de natureza mais científica oferecidos por institutos politécnicos. Fala-se muito de "deriva académica" dos politécnicos, mas também há "deriva tecnológica" nas universidades. Muito mais importante do que distinguir institucionalmente os dois tipos de ensino parece-me ser distinguir por natureza os diversos cursos e organizá-los especificamente, eventualmente com grande flexibilidade institucional.

O que, a meu ver, é essencial é que cada um dos ensinos se enquadre num meio cultural próprio, o que inclui a mentalidade, experiência e carreira dos docentes, a cultura científica versus inovação com sentido económico, o tipo de relações com a sociedade. Sem querer prejudicar a sempre desejável colaboração, julgo que esta distinção, com reflexos estatutários e de prática de governação, deve ser muito clara a nível de faculdade (universitária) e de escola (politécnica), mas é-me relativamente indiferente - ou melhor, objecto de reflexão casuística - a distinção a nível de cúpula institucional.

Lembremo-nos do exemplo espanhol, sempre apontado como um anacronismo europeu de sistema unitário. Só é verdade formalmente, porque na Espanha só há universidades. Simplesmente estude-se bem a lei e a organização prática das universidades e veja-se como é clara a situação das "Escuelas técnicas superiores" integradas nas universidades. É uma situação mais clara e bem definida do que o retrocesso inglês da transformação de tudo em universidades. E, como bem se sabe, esta modalidade à inglesa não é hipótese a afastar liminarmente em Portugal, tantas são as pressões.

26 novembro, 2007

Contrapúblico (V)

O título é enganador. Desta vez, não vou apontar nenhum erro do jornal, mas creio que o título é simbólico. Nos últimos tempos, troquei alguma correspondência com Rui Araújo, provedor do Público e ganhei grande consideração por ele. Não teve tarefa fácil, tantas foram as queixas a que teve de atender, sempre solícito, acutilante mas com objectividade e imparcialidade. Chegou a defrontar-se com uma questão muito grave e delicada, um caso de plágio.

Foi com pena que li ontem a sua última crónica. Dela extraio, como homenagem e sinal de reconhecimento pelo que RA me aturou, este trecho que bem merece reflexão.

"(...) Tenho consciência de que o jornalismo não é uma ciência exacta e um jornal não é uma enciclopédia. Também eu, muitas vezes, fui vítima da pressão do tempo, da compressão do espaço, do cansaço, do humano cansaço. São factores que não justificam as falhas, mas permitem explicá-las. E se assim era no meu tempo de jovem repórter, pior é ainda hoje, porque maiores são os constrangimentos e as ameaças: a competição desenfreada, o desemprego, a contenção de custos e o impacto das novas tecnologias. O sistema pressiona o jornalista, esmaga o jornalismo. A informação era um serviço. Passou a ser mais uma mercadoria, é promovida como tal. Os cidadãos ficaram reduzidos a meros consumidores. A opção lógica é, portanto, dar-lhes o que querem, já que o freguês tem sempre razão. O infotainment alastrou, invadiu as páginas dos jornais. É provável que a confusão de géneros acabe por fomentar a apatia. É uma perspectiva preocupante, porquanto a democracia não depende só da eficácia das instituições e do desenvolvimento tecnológico, mas também e sobretudo dos cidadãos. E a informação é vital. É por isso que os jornalistas não podem ser acríticos, inofensivos, irresponsáveis e objectivos."

25 novembro, 2007

Conversa de baias: Andaduras, embocaduras, comportamento animal e…

Não há nada melhor para diversificarmos o nosso conhecimento, do que não fazermos absolutamente nada. Digo-vos isto porque, hoje, por exemplo, decidi-me a tirar uma folga bastante folgada, para me sentar num toco de árvore, com o único objectivo de proceder a uma contagem precisa da queda outonal das folhas de um choupalzito de médio porte, perto do lugar onde vivo.
Estava eu absorvida e distraída nessa indispensável inventariação, quando se aproximaram 3 animadas pessoas - equipadas de pingalins, e envergando o que me pareceram trajes de cavaleiro a rigor - avançando em passo muito lento, trazendo a reboque cavalicoques puxados por arreatas, e que resolveram parar perto de mim, enquanto embebidos numa animadíssima cavaqueira - não fosse o vernáculo pontual, pelo vocabulário usavam, nem me parecia que falassem Português, tantos eram os termos técnicos incluídos na conversa, por isso, o meu entendimento, sobre o que possam ter dito, foi deduzido do sentido geral do pouco que me apercebi -o tema em discussão era: as vantagens e inconvenientes do uso de freios para controlo e disciplina dos quadrúpedes; uma das pessoas defendia que se obtinham muito melhores resultados com assobios e estalidos de dedos...
Cresci a ouvir dizer que quem controla o freio controla o cavalo todo mas, afinal, parece que as coisas não funcionam bem assim, antes pelo contrário, o medo, a dor e a expectativa de sérias dificuldades respiratórias, provocados por um freio, podem suscitar comportamentos muito negativos nos cavalos, impedindo que se estabeleça a harmonia e cumplicidade desejáveis, entre cavaleiro e montada.
Foi assim, que me percebi da extensão e significados de expressões, tais como, "tomar freio nos dentes", "raspar os dentes", e "estrela, beta, sete assobios e pé calçado"!
Fiquei a pensar se os comportamentos negativos dos muares, em resposta a agressões externas, não serão generalizáveis a comportamentos básicos humanos, em legítima defesa.
Como, para cavalos já há pelo menos um invento com registo de patente, que dispensa os transtornos dos freios, resta-nos desenvolver uma "device" semelhante para proteger os humanos, que sejam sujeitos a freios desnecessários.
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http://www.patentstorm.us/patents/6591589-fulltext.htmlhttp://www.bitlessbridle.com/dbID/286.html

Toponímia

Num artigo de jornal que assinala os 200 anos da paragem forçada de Junot em Constância, aprendo quer, naquele tempo, a vila se chamava Punhete. Raio de nome, principalmente quando nos lembramos de tanta gente, como Eanes, bem conhecida por pronunciar assim, como e mudo, o a mudo final. Acho muito bem que os habitantes tenham exigido a mudança de nome, como fizeram os de Barrelas, hoje Vila Nova de Paiva ou, com muito mais razão, os da Porcalhota, agora Amadora. Imaginem que a minha cidade natal se chamava Pinta Delgada? (esta vai para quem conhece o calão micaelense).

23 novembro, 2007

Nota gastronómica (XLI)

Empada de galinha com raízes morgadas da Praia da Vitória

Esta receita é uma improbabilidade, resultou de um momento na minha cozinha. Apeteceu-me fazer uma das especialidades de família, a galinha de molho de perdiz ("O gosto de bem comer", pág. 281). E um exemplo do que eu chamei "cozinha morgada", uma cozinha aristocrática de ilhas longínquas levada por fidalgotes que iam uma vez por ano beber a civilização nos hotéis lisboetas, cozinha francesa incluída. No regresso, "au bonheur des dames", receitas misturadas com sedas, veludos, chapéus e rendas. E os criados em fila, no Cabo da Praia, a acenar boas vindas ao patrão João Diniz, a fumar o seu charuto no deck do vapor, requinte da modernidade, só uma semana de Lisboa à Terceira.

Volto à minha cozinha que não tem nada de grandezas, que se foram com anéis e, "c'est la vie", se calhar também com dedos. A galinha coze um pouco num bom caldo de galinha, preparado antecipadamente com outra galinha. Depois vai a assar e do molho do assado só se aproveita parte. Que desperdício! Resultado: fiquei com uns bons nacos de galinha da canja, miúdos, canja, molho de assar. Com isto e mais alguma coisa, resultou uma boa empada, com a massa quebrada também da tradição familiar.
1/2 galinha com miúdos, cozida, 2 dl da canja respectiva, 3 c. sopa de gordura de assar bem outra galinha, 200 g de cogumelos (boletos, mas se não houver, paciência), 2 c. sopa de manteiga, 4 c. sopa cheias de farinha, 1 dl de vinho da Madeira ou verdelho açoriano, 2 c. sopa de nata, 2 gemas, 3 grãos de pimenta da Jamaica, noz moscada, sumo de limão.
Massa. 250 g de farinha, 60 g de manteiga (4 c. sopa), 60 g de banha, 1 c. sobremesa de açúcar, 1 c. café rasa de sal (a gosto), 2 ovos.

Cortar em cubos pequenos os restos de carne de galinha e de miúdos da canja, excepto um fígado. Cortar os cogumelos às lascas grossas e alourar na manteiga, em lume médio, regando com um pouco de sumo de limão e mexendo sempre.

Derreter o resto da gordura de assar a outra galinha, para a preparação de molho de perdiz e voltear bem com a farinha, mexendo sempre, para roux. Entretanto, aquecer a canja. Depois de arrefecido o roux, juntar o caldo e a gordura dos cogumelos e misturar muito bem. Juntar as gemas, as natas e os temperos, com um fígado esmagado. Levar outra vez ao lume, baixo, mexendo, até fervilhar, mantendo durante dois minutos. Juntar as carnes e os cogumelos e dar algumas voltas, durante meio minuto. Reservar.

Juntar os ingredientes da massa e amassar bem. Formar uma bola e deixar descansar, pelo menos 1 hora. Espalmar bem fino (cerca de 2 mm) sobre farinha, com rolo bem polvilhado com farinha. Forrar uma forma untada, rechear e cobrir com uma tampa de massa, deixando uns furos para respirar. Levar ao forno, a 200º, preaquecido. Fica mais bonito à vista, embora não seja indispensável, pincelar a tampa da empada com gema de ovo.

Servir só com uma coroa de alface ripada, temperada com flor de sal e um ligeiro fio de azeite virgem extra e umas gotas, só mesmo umas gotas, de vinagre balsâmico. Podem não gostar de um extra mas eu sou grande apreciador e acrescento umas boas azeitonas pretas curtidas com alho e orégãos.

22 novembro, 2007

Falácias orçamentais

A nota anterior suscitou-me uma outra, sobre uma estafada afirmação do discurso "politiquês". Muita vez o diz o nosso MCTES: "As universidades devem competir para, com receitas próprias, completarem o orçamento de Estado". Parece atraente, está na moda, mas é disparate.

Como exemplifiquei, a asfixia orçamental actual refere-se em boa parte a despesas de pessoal. Por arrasto, e até porque são menos prementes, ficam por pagar os encargos de funcionamento. Podem ser compensadas com receitas próprias? O que são essas receitas próprias? Essencialmente, de dois tipos: propinas; e projectos de investigação ou contratos de prestação de serviços.

As universidades não têm meios para aumentar as receitas de propinas, porque elas são fixadas centralmente e porque a seu montante global depende do acesso, também regulado centralmente. aliás, há uma relação muito rígida entre orçamento de Estado e receita global de propinas, porque ambas estão indexadas ao número de estudantes. Quanto à possibilidade de as receitas de projectos pagarem vencimentos e electricidade, o ministro deve estar a brincar. São receitas consignadas. Que uma universidade se atreva a usá-las para outros fins e seca para sempre a torneira de Bruxelas.

21 novembro, 2007

Sem papas na língua (II)

Prometi que voltaria ao discurso de António Nóvoa, reitor da U. Lisboa, e em particular a duas suas afirmações polémicas. Começo por uma que deu maior brado: "O governo transfere anualmente para universidades norte-americanas, ao abrigo de acordos interessantes mas com contrapartidas reduzidas, verbas superiores às que transfere para algumas universidades portuguesas". À primeira vista, sou tentado a apoiar esta afirmação, mas admito que ela talvez tenha sido um pouco precipitada (mas até o Papa, lembram-se?).

AN talvez não tenha previsto que boa parte das críticas que esta afirmação suscitou são de difícil resposta. Não se baseiam em factos e números, são evidentemente desabafos ou pressões por tabela dos pequenos interessados deste país pequeno nas pequenas benesses dos tais acordos internacionais. Contra críticas dessas não há argumentos. Por outro lado, creio que ainda é cedo para se fazer um balanço objectivo dos custos-benefícios do chamado programa MIT. Desde já, parece-me que alguns indicadores são preocupantes. Há dias, li num jornal a notícia dos primeiros mestrandos e doutorandos inscritos no programa. Lamento não ter guardado o recorte e não poder citar exactamente o número, mas lembro-me de que era risível.

De qualquer forma, parece-me que o mais importante que AN quis dizer foi que há universidades portuguesas em estado de coma financeiro, com ou sem programa MIT. Muito poderia referir, mas, para não maçar o leitor, aqui ficam apenas alguns dados exemplares. Ainda falta um mês para o fim do ano e o pagamento de ainda outro mês de salários, o subsídio de Natal. No entanto, quatro universidades, Açores, Évora, Algarve e Trás-os-Montes, não têm verbas para essas despesas de pessoal, mesmo que deixem por pagar água, electricidade, telefones e tudo o mais.

É certo que este colapso financeiro pode ser mitigado pelos previstos contratos de saneamento financeiro, mas isto é abrir a porta a um financiamento discricionário, que não é nenhuma de duas modalidades aceitáveis de financiamento. Não é um financiamento objectivo por fórmula (contra o qual muito tenho escrito) nem é um financiamento valorativo e programático (que defendo).

Repare-se que não são quaisquer universidades. Uma é um instrumento decisivo do desenvolvimento de uma região muito especial, insular. Outra é a única universidade interior de uma populosa região, do Norte. As outras são as duas únicas universidades de todo o vasto território a sul do Tejo.

Pior é que, para 2008, os orçamentos previstos para oito das catorze universidades públicas portuguesas não cobrem sequer as despesas de pessoal. Novamente, para além de outras, são aquelas universidades as que continuam a ficar em situação muito problemática. No caso mais grave, dos Açores, o orçamento total só cobre 92% das despesas salariais.

Este quadro não admira, quando se vê que a dotação para 2008 aumenta apenas, nominalmente, de 0,68%. Não sei qual é a previsão da inflação, mas pode-se ter uma ideia pela proposta governamental de aumentar os salários da função pública em 2,1%. Se for assim, as universidades e politécnicos vão ter uma descida real de 1%.

Nota final - Chamo a atenção para que a afirmação de AN tem vindo normalmente truncada do que afirmou em sequência e que merecia boa reflexão: "Desenganem-se todos aqueles que acreditam ser possível plantar duas ou três escolas de excelência num terreno institucional degradado. A excelência não nasce por escolha nem por decreto, mas por boa sementeira em terreno fértil."

20 novembro, 2007

Ainda o rei e Chávez

Gosto de escrever quando a poeira já está a assentar, como acontece com o caso do "por qué no te callas?". Juan Carlos mostrou-se um rei arrogante, herdeiro de uma mentalidade colonial e imperialista? Ou fez o mínimo para simbolizar a dignidade do seu país perante um farsante? Afinal, há uma pergunta prévia: mandou ou não calar Chávez? Antes do mais, repare-se que a frase é uma interrogação, não uma intimação.

Se eu estiver numa reunião, se um amigo meu X estiver a interpelar, de forma importante, um senhor Y e este senhor Y estiver sempre a interromper X e a não o deixar falar, eu era bem capaz de dizer "Ó sr. Y, cale-se e ouça!". Afinal foi isto, contas redondas, e menos brutalmente, embora com incorrecção diplomática, o que fez Juan Carlos, quando Chávez estava a sobrepor-se a Zapatero. Basta ver o vídeo com atenção.

Será que estamos mesmo condenados a viver só metidos em "sound bites"? Já não conseguimos analisar objectivamente um acontecimento? Ou sou eu que, neste caso, estou a confundir objectividade com primarice de apreciação das "coisas"?

19 novembro, 2007

Engenheirando o futuro da engenharia

Na página da European Network for Accreditation of Engineering Education, (E.N.A.E.E.) encontrei um artigo muito interessante de Sebastião Feyo de Azevedo - intitulado "Technical Education - from London 2007 to Leuven/Louvain-La-Neuve 2009… and beyond" - no qual expõe, de uma forma excepcionalmente brilhante, uma sua visão do futuro das formações nesse domínio do conhecimento, e de que extraio os pontos que se seguem, sublinhando, propositadamente, um deles:
Our individual and local universe is larger and larger.
· Time and space concepts and dimensions have changed dramatically.
· The reference of whatever (quality, competition, etc.) is now Europe and the World, not our City or our Country.
· Standards must be high, inflexibly high, attitude holistic, mind flexible.
· The need is clear for a reference qualifications framework and for international recognition of quality assurance standards and procedures,
· A core group of disciplines, concerning basics and engineering, and of skills and competencies, should be recognized by consensus and implemented.
· A complementary group of elective advanced curricular modules should lead the student to work on frontier topics of engineering.
· External training, more practical ‘hands-on’ training is required for first-degree level. If possible in another Country.
· There must be an understanding that it is essential that Academia and Industry, in the European Space, co-operate offering each other aided-value, by accepting students for training (the Industry), by jointly designing pilot case studies, by providing theoretical background through courses (the Academia).
· Lifelong learning is the key concept to have the edge."
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Alguma coisa está mesmo em grandes mudanças no pensamento nacional e, pelos vistos, não é só a engenharia... AINDA BEM!

Tecnologias, inovações e mercados reais

Dá-me sempre muito o que pensar, quando leio artigos, como o que hoje foi publicado no Diário Económico online, subscrito por Luís Ribeiro, intitulado "Portugal perdeu 167 mil empregos qualificados".
A minha apreensão sobre o desemprego, em Portugal, cresce quando se recolhem opiniões de pessoas, referidas como especialistas, que nos a esclarecem com frases já lidas em cartilhas muito antigas.
Exemplos:
- "António Nogueira Leite, professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa, considera que 'o mercado de trabalho não está à procura de qualificações muito elevadas e deixou de recrutar um conjunto de profissões mais ligadas ao ensino'".
- "Eduardo Catroga, empresário e economista, confere que há um 'desajustamento crónico' entre a formação das pessoas e aquilo que as empresas procuram."
- "Francisco Van Zeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), vai mais longe e assegura que só há criação significativa de emprego 'nas áreas onde o valor acrescentado é mais baixo', sublinhando que 'não há investimentos com escala' nas áreas mais inovadoras e de alta tecnologia pois faltam pessoas com qualificações à altura".
- "Paula Carvalho, economista do Banco BPI, observa que 'ainda estamos a viver os efeitos das más opções do passado'. 'É preciso que os jovens estejam a escolher agora os cursos certos no contexto da actual política económica para que no futuro este problema se esbata'."

Já que são especialistas e, supostamente, até podem consultar não só os livros do ramo mas, sobretudo, oráculos mais correctos, não poderiam tentar ser um pouco menos repetitivos de "verdades verdadeiras" e, também, serem muito mais explícitos e concretos?
A despeito da catástrofe do desemprego dos melhor qualificados, alegra saber sobre os outros que conseguem colocação: "Neste contingente estão os trabalhadores dos serviços às empresas (empregadas de limpeza e seguranças, por exemplo), vendedores, pessoal administrativo, agricultores, operários, manobradores de máquinas e trabalhadores não qualificados. "

Sobre os nossos problemas de qualificação, parece que alguns estrangeiros os conhecem melhor, desde antigamente, por exemplo, no ano passado, preto no branco, na sua publicação "Fostering human capital development in Portugal", Stéphanie Guichard and Bénédicte Larre põem um pouco o dedo na ferida, logo no primeiro parágrafo: "Narrowing the human capital gap vis-à-vis other OECD countries is essential for Portugal to improve its productivity and resume catching up" para, na página 11, referirem, a "bold": "Access to tertiary education remains also too limited and selective", e ainda acrescentarem: "but in Portugal, the selectivity of access is more severe than in many other countries and the participation of students from low socio-economic backgrounds remains particularly low, - e se ainda não estivermos convencidos juntam: "In Portugal, the proportion of higher education students' fathers who have achieved higher education themselves is 29% compared with 5% for the proportion of men of corresponding age in the general population (a factor of almost 6 to 1). In Germany and France, the factor is around 2 to 1. In Portugal, very few students (19%) already have work experience or have completed vocational training before starting tertiary education, compared with almost two-thirds in Germany (Eurostudent Report, 2005). "
Está mais ou menos tudo dito, ou não?
Parece que somos um povo que, globalmente, temos pouca formação e seria, por alavancarmos o padrão médio da formação da maioria de nós, que poderíamos, eventualmente, aspirar e aventurarmos-nos, mais tarde, com as tecnologias de ponta e as excelências....mas, nós não, preferimos iniciar logo por produções gigantescas de melancias cúbicas, porque fazem outra vista em mercados, virtuais ou não, de frutas e legumes e parecem proporcionar melhor arrumação...

Juízes que me metem medo

Nota prévia: sou virologista e creio honestamente que sei do que vou falar.

Estou atónito com o caso que hoje faz destaque no Público. Pela segunda vez, primeiro num tribunal de trabalho agora na Relação, um homem vê negada a sua razão. Portador de HIV, cozinheiro de profissão, foi despedido por representar um perigo para a saúde pública. O caso tem aspectos graves que mereciam discussão, como seja a inconfidência de um médico de trabalho ou a arrogância de declarações em tribunal de um médico generalista, sem conhecimentos científicos mínimos sobre esta situação. Mas vou ficar-me pelos juízes.

Fala-se da debilidade do nosso sistema judiciário. Más condições, excesso de trabalho, instalações degradadas, burocracia exagerada, demoras, tudo é verdade, mas nada se compara ao medo que eu sinto, como cidadão, perante a possibilidade de um dia vir a ser julgado por pessoas destas.

Um juiz não é um enciclopédico. Por isto há peritos, pareceres, documentos científicos. Mas o que o juiz obrigatoriamente tem de ter é o rigor intelectual e a mentalidade científica mínima que lhe permitam passar da opinião técnica para a decisão jurídica. Este caso é a demonstração mais eloquente de que isto pode não acontecer.

Um documento científico diz, com objectividade, que o HIV pode estar presente na saliva ou no suor. Os juízes valorizaram isto, juntamente com o tal depoimento, para decidirem que o cozinheiro podia chorar, cuspir ou suar sobre a alface e que qualquer pessoa com uma ferida na boca poderia ficar contaminada. É verdade. Mas tão verdade como eu dizer que um dos juízes podia estar sentado na retrete no momento em que houvesse um terramoto que abrisse uma brecha na sua casa de banho e o fizesse sumir-se pelo esgoto. Teoricamente, era possível. E merecia!

O que é grave, intelectualmente e como questão de confiança na justiça, é que esses juízes se arvoraram o direito de aproveitar apenas um dado científico factual mas sem significado prático, valorizando-o em absoluto contra tudo o que logo vem a seguir nesse relatório (do CDC dos EUA, provavelmente a maior autoridade mundial em doenças infecciosas): a concentração do vírus nesses fluidos orgânicos é diminuta e certamente incapaz de permitir a transmissão, que, nestas circunstâncias, nunca se verificou em extensos estudos científicos. Já agora, se algum desses senhores gosta de beijar (para não ir mais longe...), desaconselho-o...

Estes juízes são ignorantes sobre HIV. É natural. Pior é que fazem gala de continuar a ser ignorantes mesmo quanto lhes propiciam documentação elucidativa.

Reitores e reitores

Falei há dias de exemplos de uma nova geração de reitores, como António Nóvoa. Infelizmente, não há bela sem senão. Pedro Telhado Pereira (PTP), reitor da U. Madeira, o tal de uma triste história de demissão da equipa reitoral que causou uma grande crise na universidade, volta a dar que falar, agora a propósito das eleições para a assembleia estatutária. A história vem toda contada no DN/Madeira, de 15.11.2007, mas resumo.

PTP fez um brilharete, convidando para presidir ao processo eleitoral uma figura com a qual até nada tenho a ver mas que merece respeito, o deputado Guilherme Silva, vice-presidente da Assembleia da República e também consultor da U. Madeira. Houve três listas e a vencedora até foi a patrocinada pelo reitor (um dos casos de que falei de interferência abusiva de reitores). No entanto, PTP não resistiu (é a sua natureza) a vir a público, em edital oficial, protestar contra irregularidades graves praticadas por Guilherme Silva. Este, obviamente, reagiu e parece considerar a hipótese de cortar relações com a universidade da sua terra.

Mais surrealista é que PTP, ao mesmo tempo que fez todas as críticas duras que fez, sancionou como regulares e impecáveis os resultados eleitorais. Pudera, resultaram-lhe em vantagem. A quem é que está entregue a U. Madeira? E, segundo a versão final do RJIES e as suas condescendências, essa personagem pode manter-se como reitor mesmo depois da grande mudança imposta pela nova lei.

A história não vai ficar por aqui. Guilherme Silva acabou por ser cooptado como membro externo da assembleia dos estatutos, que vai ser presidida pelo reitor. Ainda me vou divertir (admito que com humor negro, que os meus amigos madeirenses não merecem).

Nota - E será verdade que, sendo ainda reitor, PTP tem feito grandes diligências para arranjar um lugar de professor numa universidade do continente? Não quero crer! Ou então, que me desculpem os meus bons amigos co-ilhéus do outro arquipélago, é mesmo caso para perguntar "já chegámos à Madeira?"

Aeroporto e TGV

Fiquei um pouco confuso com a polémica recente acerca do traçado do TGV e as suas relações com o futuro aeroporto. Admito que a questão do TGV afecte marginalmente, em termos de custos globais, a opção quanto ao aeroporto, mas parecem-me, no fundo, dois assuntos distintos.

Afinal, a RAVE também já está a estudar um acesso a Alcochete, por ramal. Fico com a impressão de que isto é discussão lateral, sem querer mencionar a questão principal, a da localização do aeroporto. Fico também com a impressão, talvez precipitada e injusta, de que todo este "estudo da CIP" é bastante tosco.

Não percebo esta ânsia de ligação dos dois assuntos, aeroporto e TGV. Por quase toda a parte por onde viajo, há boas ligações ferroviárias ou de metro, rápidas e muito frequentes, entre o aeroporto e o centro da cidade (não com Gares do Oriente na periferia). Em alguns casos, como Bruxelas, Frankfurt ou Milão, a linha ferroviária é dedicada. Noutros casos (Estocolmo, Roma, Madrid), são autocarros com percurso rápido por auto-estrada. O que não vejo, por exemplo em Paris ou Madrid, é ligação ao aeroporto por TGV.

18 novembro, 2007

Nota gastronómica (XL)

Arroz de linguiça e repolho

Escrevi há tempos uma nota sobre ingredientes açorianos. Hoje lembrei-me disso, a propósito de um almoço muito simples, prato banal de dia-a-dia apressado em casa dos meus pais.
1,5 chávenas de arroz carolino, 2 linguiças, 1 cebola grande, 3 dentes de alho, 250 g de repolho, 1 tomate grande ou 2 c. sopa de polpa de tomate, 1 dl de azeite, 3 cs de banha, 1 folha de louro, sal, pimenta preta moída, 4 grãos de pimenta da Jamaica, 1 c. sopa de massa de malagueta. 1 c. sobremesa de massa de pimentão ou 1 c. chá bem cheia de colorau, 3 chávenas de água.

Aquecer o azeite, juntar o repolho ripado e dar bastantes voltas, durante 2 minutos. Retirar e reservar o repolho, escorrido. Picar a cebola e o alho e refogar no azeite, só até quebrar. Acrescentar o tomate picado grosso, a folha de louro, a massa de pimentão, a malagueta, sal, pimenta preta e a pimenta da Jamaica esmagada. Estufar a lume baixo, até tudo estar bem desfeito e esmagar. Cortar a linguiça aos cubos grosseiros, fritar ligeiramente na banha, durante meio minuto a lume forte e escorrer. Voltar a aquecer a tomatada com o repolho. Acrescentar a linguiça, com parte da banha. Juntar o arroz, muito bem lavado, e saltear até ficar translúcido. Acrescentar a água e cozer, a lume médio, durante 12 minutos. Apagar o lume e manter a panela tapada, durante mais 2-3 minutos, até o arroz estar bem cozido e relativamente seco.

O que tem isto a ver com os tais ingredientes açorianos? Tudo. O repolho, como disse, é diferente, em textura e sabor. Recebi-o como oferta fraterna e até foi o motivo para fazer este petisco. No entanto, não vou ser muito exigente, creio que só um gosto açoriano treinado é que notará logo a diferença. Já a linguiça, essa sim. Felizmente, ainda a tinha congelada desde uma última viagem. Note-se, à margem, que a congelação a torna um pouco encarquilhada e acastanha um pouco a cor vermelho vivo. Aceitando alguma dose de sentido prático, teria usado um bom chouriço de carne alentejano se não tivesse a linguiça (mas nunca linguiça continental). Pior é a massa de malagueta. Substitui-la é problema que nunca se me põe, porque a tenho sempre em casa, mas já sugeri, como aproximação grosseira, a pimenta da Caiena.

Não fumador

Deixei passar ontem sem nota uma data importante, corrijo hoje: o dia do não fumador. Fez exactamente um ano que deixei de fumar. Não o registo como sinal de qualidade minha, muito pelo contrário. Não se espera pelos 62 anos para se deixar de fumar, mas mais vale tarde do que nunca. Deixo aqui registo do feito apenas como alento a quem queira fazer o mesmo. Espero que ontem, ao simbolizarem o dia, tenham sido muitos.

17 novembro, 2007

Indisciplina no Ensino Superior

É comum ver discutidos na praça pública questões relacionadas com a indisciplina e mesmo violência em escolas dos ensinos básico e secundário. Sobre esta questão já foram escritas todas as teses, desde os que defendem o reforço da autoridade do professor, sem nunca explicitarem de que forma é que essa autoridade poderia ser implementada, até aos que apontam causas externas à escola, em particular os meios socioeconómicos desfavorecidos dos quais são provenientes a grande maioria dos alunos mais problemáticos.

O que parece ser fenómeno novo é que a indisciplina começa a chegar ao ensino superior. Este ano leccionei pela primeira vez aulas a alunos do 1º ano e tenho vindo a notar uma alteração no comportamento dos alunos face aos que ensinava em anos anteriores, normalmente do 3º e 4º anos. Verifico ser crescentemente vulgar os alunos enviarem SMS uns aos outros e um ruído de fundo mais ou menos permanente advindo de conversas laterais que abafam a minha voz. Já tive que interromper diversas vezes as minhas aulas para pedir um pouco mais de silêncio e de verificar, no final, que as minhas cordas vocais acusavam o esforço.

Recentemente, no decurso de uma visita de estudo, estávamos a percorrer uma determinada área geográfica num autocarro e um professor convidado de uma outra universidade encontrava-se a fazer uma palestra muito interessante sobre os locais percorridos. Uma vozearia permanente e irritante fez-me levantar e dirigir-me a um grupo de alunos que se encontrava a falar alto, uns levantados dos seus lugares, como se de uma festa se tratasse. Disse-lhes que não estavam na escola primária para se comportarem daquela maneira e que exigia respeito para o professor convidado que gentilmente se disponibilizou a acompanhar-nos. O silêncio foi restabelecido.

Este tipo de comportamentos já foi analisado pelo Conselho Pedagógico da instituição de ensino superior no qual trabalho. Outros professores queixam-se de comportamentos semelhantes. Dois colegas de uma outra faculdade disseram-me que já se viram obrigados a convidar alunos a sair das suas aulas pelo facto de sistematicamente perturbarem o normal funcionamento das mesmas.

O ensino superior parece ter entrado definitivamente na fase da massificação que os ensinos de níveis inferiores já conhecem há muito mais tempo. Por agora só temos indisciplina. Chegaremos à fase da violência sobre docentes?

A Igreja portuguesa

Estive para escrever sobre isto na altura devida, mas a agenda estava cheia. Vem hoje a propósito da nota de Vasco Pulido Valente no Público. As declarações públicas do Papa sobre a igreja portuguesa surpreenderam-me. Parecem uma reprimenda, para toda a gente ouvir, sobre tema interno e delicado da Igreja. Não sei interpretar essa publicidade, tão ao arrepio da "sabedoria" vaticana. Alguém tem um palpite?

16 novembro, 2007

Revivendo uma história triste

Fernando Mora Ramos escreve hoje no Público um artigo tocante sobre o caso de uma jovem afectada pela variante da doença de Creutzfeld-Jakob (nv-CJD), a doença transmitida ao homem como variante da "doença das vacas loucas". Tocante mas com muitos erros e algumas injustiças. Diz que "os serviços de saúde portugueses reagiram muito tarde aos avisos e as medidas efectivas vieram apenas dois anos depois de o perigo estar em acção".

Não é verdade e posso afirmá-lo com a certeza de ter estado na primeira linha desta discussão desde o primeiro minuto. Por um lado, é certo que, irresponsavelmente, as medidas foram muito tardias, até mais do que os referidos dois anos. Em contrapartida, não há responsabilidade dois serviços de saúde.

Começo por chamar a atenção para que este problema sempre foi, simultaneamente, um problema de sanidade animal, de economia pecuária, tudo no âmbito do Ministério da Agricultura (MA) e só indirectamente um problema de saúde pública, a cargo do Ministério da Saúde (MS). O comportamento destes ministérios foi desencontrado e mesmo contraditório.

Em 1990, se não estou em erro (ou 1991?), o meu colega Alexandre Galo denunciou o aparecimento de poucos casos de "doença das vacas loucas" (BSE) em Portugal. O MA, Arlindo Cunha, desmentiu-o e negou-se a tomar as medidas mínimas de protecção, como fosse, liminarmente, a proibição de uso de rações contendo farinha de carne e ossos ou outros produtos de origem animal. Foram adoptadas só em 1994, silenciosamente e por imposição europeia, um ano antes de, finalmente, já no governo Guterres, se ter declarado honesta e oficialmente que a doença bovina existia mesmo em Portugal.

No entanto, é injusto culpar por este atraso os serviços de saúde. Nessa altura, e mesmo em Inglaterra onde o problema era dramático, era considerado apenas um problema de sanidade animal, no âmbito dos serviços de veterinária. Por isto, insisto, o culpado, mesmo que não consciente e dolosamente, ficará para a história com o nome de Arlindo Cunha, ministro do governo de Cavaco Silva.

Nessa altura, fui contactado com muita frequência para entrevistas e sempre alertei para o facto de, cientificamente, por menor e incerto que fosse o risco para a saúde humana, ele não era negligível. Defrontei-me então com a animosidade dos interesses económicos, quase fui chamado de traidor à pátria porque havia a ameaça, que depois se verificou, de um boicote às exportações de carne portuguesa. No entanto, tentei sempre difundir uma mensagem de bom senso e adequada aos conhecimentos de então: havia que proibir imediatamente o consumo de alimentos de risco, nomeadamente a mioleira, mas que nada indicava que a carne limpa fosse perigosa.

Tive então grandes dificuldades com o MA. Houve um episódio de que muitos se lembrarão. Gomes da Silva foi a Bruxelas e tivemos, logo de manhã, uma longa conversa, com troca de faxes, em que lhe fiz o "briefing" que podia. Por coincidência, fui um participante destacado, nesse dia, de um forum da TSF e arrisquei-me a fazer a previsão de que o ministro iria anunciar nesse conselho comunitário que Portugal iria tomar imediatamente as medidas adequadas e que, claro que não disse, eu tinha discutido com ele. Para meu espanto, a TV mostrou à noite o ministro a deliciar-se ao jantar com mioleira, por encenação do director-geral, figura de quem, felizmente, já não recordo o nome.

Muito pouco depois, revelou-se a atitude oposta de Maria de Belém Roseira, MS. Constitui-se então uma comissão oficial de acompanhamento e aconselhamento do governo, coordenada por José Cortês Pimentel, um reputado neuropatologista e a que eu pertenci. Foi bem a tempo, porque quase a seguir surgiu a notícia do aparecimento, em Inglaterra, dos primeiros casos da nv-CJD, com forte suspeita de serem devidos a transmissão ao homem da BSE, hipótese que, rapidamente, se veio a confirmar.

A partir deste momento, pouco de negativo há a apontar à acção legislativa e prática do governo. As críticas que eu poderia fazer são demasiadamente técnicas para terem aqui cabimento. Mais vale salientar que não houve depois, nesta última década, casos de bovinos doentes e já nascidos depois das medidas de controlo que então foram propostas e prontamente adoptadas pelo governo. Ainda me lembro do que foram as horas de trabalho intenso na João Crisóstomo, para elaboração da legislação.

Por razões que seria difícil explicar ao leigo, nunca tivemos dúvidas de que havia uma forte probabilidade de, por esta altura, virem a aparecer casos de nv-CJD em Portugal. Já há dois e poderá haver mais um ou outro, embora certamente em número reduzido, se extrapolarmos os dados ingleses. Mas o que é essencial deixar claro é que, dado o longo período de incubação da doença, há quase total certeza de que estes casos se devem aos anos de incúria criminosa que referi, ao período em que o governo e essencialmente o MA de então silenciou a situação da doença bovina em Portugal. A partir do momento em que a comunidade científica envolvida no assunto, com apoio do MS e, menos, do MA, tomou posição, propôs medidas que conduziram a um controlo muito eficaz da doença bovina, reduziu-se consideravelmente o risco de transmissão ao homem. Mas o mal já estava feito.

Nota - Não se confunda a nv-CJD, a versão humana da BSE e adquirida por ingestão de produtos bovinos infectados (insisto, não a carne limpa e em peça!) com a doença de Creutzfeld-Jacob convencional, exclusivamente humana, uma doença degenerativa muito rara, de velhos, e de causa ainda não inteiramente conhecida, mas certamente totalmente alheia à BSE.