Este blogue já conta com cinco notas "contrapúblico". Mas é bom elogiar o que muitas vezes nos dá razão para crítica. O Público, hoje, não faz nada de muito especial, mas destaca-se do resto da imprensa. No dia da conferência de Annapolis, dá uma página inteira, meia por meia, ao embaixador de Israel, Aaron Ram e à delegada geral palestiniana, Randa Nabulsi.
Por tendência natural, sou um optimista, embora isto já me tenha causado muitas frustrações. Apesar da prudência dos articulistas (por exemplo, Ram não se compromete mais do que com a esperança de um simples retomar do roteiro de paz), ambos os artigos me suscitam motivos de esperança, não só pelas intenções expressas mas principalmente por alguns sinais significativos. Da parte de Ram, destaco a distinção clara que faz entre a Cisjordânia e Gaza, entre a Autoridade Palestiniana de Abbas e o Hamas, que vai estar à margem de Annapolis. Ram não faz uma única acusação à Autoridade, desviando todo o fogo para o Hamas.
Por seu lado, Nabulsi evoca repetidamente o roteiro, compromete-se com a importância do papel do "quarteto" e tem a atitude expressa de um elogio claro à dupla Rabin-Arafat, responsável pelo que ela chama de "a paz dos bravos". Significativamente, refere que se coloca no campo do que chama os "palestinianos moderados".
A conclusão de ambos os artigos é significativa, embora me possam acusar de ingenuidade perante possível hipocrisia. Um dos artigos termina com "espera que todas as partes envolvidas aproveitem esta oportunidade e façam os possíveis para abrir caminho para a paz". O outro conclui "é tempo de se alcançar uma paz justa e duradoura na nossa tão sofrida região". Quem escreve uma e quem escreve a outra?
NOTA - Em contraste, no mesmo jornal, Rui Tavares escreve que "Annapolis é simplesmente uma coisa que tem de se fazer porque se disse que se ia fazer". Espero que esteja enganado.
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