É comum ver discutidos na praça pública questões relacionadas com a indisciplina e mesmo violência em escolas dos ensinos básico e secundário. Sobre esta questão já foram escritas todas as teses, desde os que defendem o reforço da autoridade do professor, sem nunca explicitarem de que forma é que essa autoridade poderia ser implementada, até aos que apontam causas externas à escola, em particular os meios socioeconómicos desfavorecidos dos quais são provenientes a grande maioria dos alunos mais problemáticos.
O que parece ser fenómeno novo é que a indisciplina começa a chegar ao ensino superior. Este ano leccionei pela primeira vez aulas a alunos do 1º ano e tenho vindo a notar uma alteração no comportamento dos alunos face aos que ensinava em anos anteriores, normalmente do 3º e 4º anos. Verifico ser crescentemente vulgar os alunos enviarem SMS uns aos outros e um ruído de fundo mais ou menos permanente advindo de conversas laterais que abafam a minha voz. Já tive que interromper diversas vezes as minhas aulas para pedir um pouco mais de silêncio e de verificar, no final, que as minhas cordas vocais acusavam o esforço.
Recentemente, no decurso de uma visita de estudo, estávamos a percorrer uma determinada área geográfica num autocarro e um professor convidado de uma outra universidade encontrava-se a fazer uma palestra muito interessante sobre os locais percorridos. Uma vozearia permanente e irritante fez-me levantar e dirigir-me a um grupo de alunos que se encontrava a falar alto, uns levantados dos seus lugares, como se de uma festa se tratasse. Disse-lhes que não estavam na escola primária para se comportarem daquela maneira e que exigia respeito para o professor convidado que gentilmente se disponibilizou a acompanhar-nos. O silêncio foi restabelecido.
Este tipo de comportamentos já foi analisado pelo Conselho Pedagógico da instituição de ensino superior no qual trabalho. Outros professores queixam-se de comportamentos semelhantes. Dois colegas de uma outra faculdade disseram-me que já se viram obrigados a convidar alunos a sair das suas aulas pelo facto de sistematicamente perturbarem o normal funcionamento das mesmas.
O ensino superior parece ter entrado definitivamente na fase da massificação que os ensinos de níveis inferiores já conhecem há muito mais tempo. Por agora só temos indisciplina. Chegaremos à fase da violência sobre docentes?
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4 comentários:
Realmente o professor tem razão! Eu ás vezes tb ouço mais os ruídos de fundo que os meus próprios pensamentos sobre a matéria a ser dada.
São infâncias prolongadas em ensinos avançados.
Ana Silva
Precisamos aprender a trabalhar com o aluno real e não ideal (este não existe?). Pode parecer a alguns que esta fala não procede, pode parecer que "deixar a coisa rolar", mas, não é por aí. A autoridade deve prevalecer, porém, democrática, conquistada, o que, talvez, passe pela relação aluno-professor, um certo toque especial as aulas, entusiasmo... muitos são os ítens. Por outro lado, penso que não há que se criar mitos no que diz respeito ao aproveitamento do aluno. Em outras palavras: meu papel é formar, formar e formar, mas, se, em último caso, o aluno não colaborar, este será reprovado (certamente não conseguirá realizar as atividades acadêmicas com qualidade) e, tendo em vista minha experiência, os poucos casos que se enquadram nesta realidade... não tenho feito inimigos. Therezinha Conde.
Caros colegas,
Realmente vivemos um tempo diferente no ensino...temos alunos dos mais variados níveis sociais e educacionais....contamos com a era tecnológica e da inquietude...portanto, acredito que mesclar atitude democrática com cobranças de estudo/prazo (comprometimento)na disciplina, sejam boas ferramentas para conduzir esse novo modelo de educação!!!
A utopia da busca do "aluno ideal" ainda está na cabeça de muitos profissionais de educação atuantes no mercado educacional. Com o advento do incremento da Informática, a maioria dos alunos utiliza esse instrumento para poder colocar para fora tudo aquilo que, as vezes ao vivo, não seriam capazes de realizar. Logo, em sala de aula,as manifestações de afetividade quando não podem ser apresentadas verbalmente, estes são substituídas por SMS ou torpedos que são enviados através de aparelhos celulares ou outros instrumentos de informática e, tudo isto reunido, logicamente vem a causar ruído na interrelação docente-discente e que, as vezes, tem-se a perda do controle da turma, quer seja pela falta de habilidade do professor, quer seja pela agressividade gerada por parte dos alunos. Prof MSc SERGIO CASTRO
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