O título é enganador. Desta vez, não vou apontar nenhum erro do jornal, mas creio que o título é simbólico. Nos últimos tempos, troquei alguma correspondência com Rui Araújo, provedor do Público e ganhei grande consideração por ele. Não teve tarefa fácil, tantas foram as queixas a que teve de atender, sempre solícito, acutilante mas com objectividade e imparcialidade. Chegou a defrontar-se com uma questão muito grave e delicada, um caso de plágio.
Foi com pena que li ontem a sua última crónica. Dela extraio, como homenagem e sinal de reconhecimento pelo que RA me aturou, este trecho que bem merece reflexão.
"(...) Tenho consciência de que o jornalismo não é uma ciência exacta e um jornal não é uma enciclopédia. Também eu, muitas vezes, fui vítima da pressão do tempo, da compressão do espaço, do cansaço, do humano cansaço. São factores que não justificam as falhas, mas permitem explicá-las. E se assim era no meu tempo de jovem repórter, pior é ainda hoje, porque maiores são os constrangimentos e as ameaças: a competição desenfreada, o desemprego, a contenção de custos e o impacto das novas tecnologias. O sistema pressiona o jornalista, esmaga o jornalismo. A informação era um serviço. Passou a ser mais uma mercadoria, é promovida como tal. Os cidadãos ficaram reduzidos a meros consumidores. A opção lógica é, portanto, dar-lhes o que querem, já que o freguês tem sempre razão. O infotainment alastrou, invadiu as páginas dos jornais. É provável que a confusão de géneros acabe por fomentar a apatia. É uma perspectiva preocupante, porquanto a democracia não depende só da eficácia das instituições e do desenvolvimento tecnológico, mas também e sobretudo dos cidadãos. E a informação é vital. É por isso que os jornalistas não podem ser acríticos, inofensivos, irresponsáveis e objectivos."
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