19 novembro, 2007

Tecnologias, inovações e mercados reais

Dá-me sempre muito o que pensar, quando leio artigos, como o que hoje foi publicado no Diário Económico online, subscrito por Luís Ribeiro, intitulado "Portugal perdeu 167 mil empregos qualificados".
A minha apreensão sobre o desemprego, em Portugal, cresce quando se recolhem opiniões de pessoas, referidas como especialistas, que nos a esclarecem com frases já lidas em cartilhas muito antigas.
Exemplos:
- "António Nogueira Leite, professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa, considera que 'o mercado de trabalho não está à procura de qualificações muito elevadas e deixou de recrutar um conjunto de profissões mais ligadas ao ensino'".
- "Eduardo Catroga, empresário e economista, confere que há um 'desajustamento crónico' entre a formação das pessoas e aquilo que as empresas procuram."
- "Francisco Van Zeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), vai mais longe e assegura que só há criação significativa de emprego 'nas áreas onde o valor acrescentado é mais baixo', sublinhando que 'não há investimentos com escala' nas áreas mais inovadoras e de alta tecnologia pois faltam pessoas com qualificações à altura".
- "Paula Carvalho, economista do Banco BPI, observa que 'ainda estamos a viver os efeitos das más opções do passado'. 'É preciso que os jovens estejam a escolher agora os cursos certos no contexto da actual política económica para que no futuro este problema se esbata'."

Já que são especialistas e, supostamente, até podem consultar não só os livros do ramo mas, sobretudo, oráculos mais correctos, não poderiam tentar ser um pouco menos repetitivos de "verdades verdadeiras" e, também, serem muito mais explícitos e concretos?
A despeito da catástrofe do desemprego dos melhor qualificados, alegra saber sobre os outros que conseguem colocação: "Neste contingente estão os trabalhadores dos serviços às empresas (empregadas de limpeza e seguranças, por exemplo), vendedores, pessoal administrativo, agricultores, operários, manobradores de máquinas e trabalhadores não qualificados. "

Sobre os nossos problemas de qualificação, parece que alguns estrangeiros os conhecem melhor, desde antigamente, por exemplo, no ano passado, preto no branco, na sua publicação "Fostering human capital development in Portugal", Stéphanie Guichard and Bénédicte Larre põem um pouco o dedo na ferida, logo no primeiro parágrafo: "Narrowing the human capital gap vis-à-vis other OECD countries is essential for Portugal to improve its productivity and resume catching up" para, na página 11, referirem, a "bold": "Access to tertiary education remains also too limited and selective", e ainda acrescentarem: "but in Portugal, the selectivity of access is more severe than in many other countries and the participation of students from low socio-economic backgrounds remains particularly low, - e se ainda não estivermos convencidos juntam: "In Portugal, the proportion of higher education students' fathers who have achieved higher education themselves is 29% compared with 5% for the proportion of men of corresponding age in the general population (a factor of almost 6 to 1). In Germany and France, the factor is around 2 to 1. In Portugal, very few students (19%) already have work experience or have completed vocational training before starting tertiary education, compared with almost two-thirds in Germany (Eurostudent Report, 2005). "
Está mais ou menos tudo dito, ou não?
Parece que somos um povo que, globalmente, temos pouca formação e seria, por alavancarmos o padrão médio da formação da maioria de nós, que poderíamos, eventualmente, aspirar e aventurarmos-nos, mais tarde, com as tecnologias de ponta e as excelências....mas, nós não, preferimos iniciar logo por produções gigantescas de melancias cúbicas, porque fazem outra vista em mercados, virtuais ou não, de frutas e legumes e parecem proporcionar melhor arrumação...

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