03 novembro, 2007

Escolas públicas e privadas (III)

Procurei por toda a parte mas não consegui obter os dados brutos que o Público usou para o seu suplemento de 2.11.2007 sobre os "rankings". Tenho pena, porque, em menos de meia hora, teria feito uma coisa essencial, de estatística elementar.

Os "rankings", se elaborados com critério, dizem-me alguma coisa sobre o que melhor tenho para escolher e do que devo fugir como diabo da cruz. No entanto, qualquer pessoa sabe que isto é olhar para o menos significante estatisticamente, isto é, os extremos da distribuição. Ora o que se está a tentar fazer é a comparação entre públicas e privadas, o que é absolutamente ilegítimo num simples exercício de "ranking".

Então o que é que eu teria feito, com uma simples folha de Excel (já agora, Numbers, no Mac)? Separar públicas e privadas, calcular as respectivas médias e desvios padrão e fazer um teste "t" de Student. Só assim se comparam amostras desta grandeza (para amostras pequenas a história é mais complicada). E até podiam ter feito ANOVAs (análises de variância) bem interessantes, porque havia dados importantes de natureza geográfica, social e económica.

A gente do projecto não tem culpa, provavelmente ninguém do Público se lembrou de lhes encomendar coisa tão primária. No entanto, há no Público muita gente responsável que aprendeu estatística na universidade, o que me faz suspeitar de que há sempre estatísticas que interessam e outras que não interessam.

2 comentários:

pol disse...

"E até podiam ter feito ANOVAs (análises de variância) bem interessantes, porque havia dados importantes de natureza geográfica, social e económica."

Caro João, foi gentil demais para com os cavalheiros. Não é "podiam", é mais "deviam". E aí, dariam conta - como o soube Pierre Bourdieu há já tantas décadas, quando construiu o conceito de "habitus" - de que tudo aquilo que andam a apregoar com rankings de qualidade das escolas é uma enorme asneira.

pol disse...

Numa "análise" manhosa, poderíamos dizer que, aritmeticamente, um aluno que parte do 10 e chega ao 17 consegue menos do que aquele que parte do grau zero e chega ao dez. Mas isso seria alinhar nos simplismos que por aí andam