Uma colega minha lida frequentemente com doentes de SIDA. Há dias, contou-me uma sua experiência, de que ressalto uma pequena nota. Teve uma conversa com um homem que não sabia que era portador do vírus. Não sei, mas adivinho, porque a conheço bem, como terá sido a conversa. O que sei é a reacção do homem, de grande gratidão pela afectividade com que tinha decorrido aquela conversa, com uma médica que nunca o tinha visto. "Só consigo aguentar por me lembrar da maneira como a doutora me disse isto".
A medicina está difícil. Os meninos dos 18 valores não são obrigatoriamente as mentes e os afectos médicos. Eu sou autor de uma proposta de um curso de medicina em que me preocupo muito com a formação para a "compassionate medicine". Mas cuidado com a tradução à letra. Não é compaixão caritativa para com o coitadinho do doente, é empatia, partilha fraterna de sentimentos e vivências, a intuição de um gesto de ternura que vale mais do que mil palavras segundo a ordenança e o código.
É por isto que tenho muita pena de não ter sido convidado para o jantar de há dias preparado por cozinheiros infectados com HIV.
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