Cerveja
Tenho com a cerveja uma relação quase religiosa. As festas do Senhor Santo Cristo eram e são as mais emblemáticas da minha ilha. Metiam muita devoção, mas também prazeres profanos. Muita coisas no arraial, os sorvetes de serrilha, os barrinhos de Vila Franca, o "cup" da quermesse queque das meninas vicentinas, mas, acima de tudo, o grande ritual de cumplicidade com o meu pai, acompanhá-lo à cervejaria à ilharga e beber o fundo da caneca. Que delícia, porque aquilo vinha temperado com sabor de pai. Vê lá se me mandas um fundo de caneca da cerveja celestial, se é que os velhos frades aí a fazem. Hoje, raramente bebo cerveja à refeição, é todo um outro ritual, principalmente de tertúlia de amigos.
Creio que não temos uma boa cultura cervejeira, embora tenhamos uma excelente tradição de cervejarias, combinando com mariscos e bifes. O que sempre conhecemos foram as cervejas banais, de baixa fermentação. Quem andou pela Bélgica e pela Alemanha sabe o que é apresentarem-nos menus de cervejas tão extensos como os nossos de vinhos. Para meu gosto, destaco as cervejas encorpadas, de alta fermentação, as trapistes belgas, as ale inglesas, as weissbier alemãs. Já se vão encontrando cá com alguma facilidade. À parte, a inigualável Guiness, que desafia todas as classificações.
No dia-a-dia, aceito as standard, portuguesas ou Budweiss, Heineken, Tuborg, Carlsberg, mas é só para matar a sede estival, com amendoins. Beber com gosto, golo a golo, é outra coisa. É por isto que hoje, em Portugal, se vou cavaquear com amigos num bom bar de cervejas, só bebo duas, a Boémia e a Abadia.
E conversa puxa conversa. Em qualquer cervejaria da minha terra, era muito rica a oferta de vai grátis com a cerveja: amendoins, tremoços, favas secas torradas, favas fritas, pevides de abóbora, com ou sem pele, ervilha seca torrada. Hoje, cá, só pedindo por favor.
05 março, 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário