A morte da filosofia é um tema recorrente na própria produção filosófica. Uma pesquisa no Google em português permite-me contabilizar 2700 entradas.
Isto vem a propósito das declarações de António Coutinho, director do Instituto Gulbenkian de Ciência, que recebeu recentemente o Prémio Universidade de Lisboa. Afirma ele à última edição da revista Visão: “A Filosofia hoje é igual e dá-nos a mesma compreensão que no tempo de Sócrates. Em 2 mil anos não progrediu nada.”
Afinal a Filosofia estava morta há muito tempo e ninguém nos tinha avisado. Duma penada nomes como S. Tomás de Aquino, Descartes, Espinosa, Hume, Kant, Bacon, Hegel, Montesquieu, Rosseau, Marx, Hegel, Russel, Heidegger ou Wittgenstein passam à galeria dos mortos-vivos. As suas obras nada acrescentaram ao saber filosófico desde a Antiguidade.
Existe apenas um pequeno problema nesta argumentação. A questão de saber se a Filosofia progrediu ou não desde Sócrates é ela mesma uma questão filosófica que só pode ser respondida filosoficamente. Tal como a questão “Para que serve a Filosofia?”. E neste aspecto António Coutinho revela-se um mau filósofo: exprime uma opinião mas não a fundamenta. Poder-se-á argumentar que no espaço reduzido de uma pequena entrevista tal não seria possível. Mas para uma exclamação tão radical esperar-se-ia uma resposta mais substantiva.
Não estaremos perante um caso de cientismo mais próprio do século XIX do que no início do século XXI?
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1 comentário:
Neste caso, a filosofia espontânea dos cientistas, de que falou Althusser, está a ser substituída pela arrrogância cultivada dos "cientistas".
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