22 julho, 2007

Negócios Maasai avançados, NP- Hard, ou ervilhas tortas

Ontem, recebi por mail, uma cópia de um curioso artigo: "Advanced food process engineering to model real foods and processes: The ‘‘SAFES” methodology" - Journal of Food Engineering 83 (2007) 173–185, que propõe uma metodologia - SAFES - "to calculate and to develop food products and processes with enough information to predict their food quality and safety". Que se danem os direitos de autor - espreitem aqui.
Ando então, desde ontem, muitíssimo divertida, a ruminar e a digerir "o paper" para avaliar a sua utilidade potencial. Quem mo enviou, anda há uns tempos largos, preocupadíssimo e descabelado, às voltas da redacção de propostas de Resultados de Aprendizagem - os famosos "SLO" (student learning outcomes) - para umas unidades curriculares de que é o responsável numa "licenciatura" (politécnica) de Bolonha, e juntou-lhe, lacónico, a seguinte mensagem: sabias disto?
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Esse mail, oportunamente, aterrou durante uma das minhas valorizadas folgas, que me foi destinada após a resolução, assistida por computador, de um intrincado crew rostering disciplinador, que governa a escala de todas as tarefas do dia-a-dia, cá em casa.
Por outras palavras, era um meu familiar, e também o autor da heurística de escalas de serviço doméstico, que estava, ontem no turno dos abastecimentos e da logística geral da nossa vida da próxima semana. Devo dizer que o meu familiar estava felicíssimo porque, já se sabe, sai para as compras mais comezinhas - sempre, com o espírito aberto, a pompa e o aparato próprios de um Vasco da Gama - e regressa, invariavelmente, não com os víveres indispensáveis, e a cesta básica, mas com Troféus – carneiro do Brasil, kiwis da Nova Zelândia, maçãs da Argentina, uvas do Chile, azeite de Ardes (Turquia), etc., etc... Um, dos de ontem, estava assim etiquetado com letras enormes: "ervilhas de quebrar", ao que se acrescentavam muitos outros dizeres mas, em letrinhas invisíveis.
Não sou (nem serei nunca) "especialista de coisa nenhuma" mas, mesmo sem os meus óculos fortíssimos de vista derreada, dava para ver bem, através do filme transparente que envolvia a covete das "ervilhas", que estávamos perante vegetais absolutamente distintos dos passíveis de classificação vulgar de Lineu. Aliás, as "ervilhas de quebrar" não seriam nem ervilhas nem de quebrar, mas o preço sim, cortava a respiração. Fui buscar uma lupa e, sabem o que diziam algumas das letrinhas minúsculas? Origem: Kenya.
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Está bem, dizem-me, mas isto não são problemas, são só subproblemas.
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Pois é. Mas, tentem ver as questões do meu lado e, por favor, se souberem, dêem-me ideias:
1 - O que deve fazer um estudante, que precisará de lidar com questões diversas relacionadas com produtos alimentares: aprender a resolver problemas de NP-Hard? A cultivar ervilhas de quebrar? A falar Maasai?
2 - Mas será possível que a globalização de que tanto se fala, nos condicione, futuramente, a comprarmos cebolinho da Tasmânia?
3 - O que devem fazer as pessoas que só gostam de iscas com elas, de jaquinzinhos e de ervilhas tortas do quintal (quando estas ervilhas tenham sido todas comidas por uma praga egípcia de lagartas)?
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"There's something I want to show you.... It's not far from here - in fact, it's almost as close as the next page."

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