Uma das perversões que têm sujado o processo de Bolonha à portuguesa é a dos mestrados integrados. Já escrevi muito sobre isto. Lembro aos leitores que o esquema de Bolonha é o de dois ciclos, licenciatura e depois mestrado, na maior parte dos casos licenciatura de três anos e mestrado de dois.
O decreto 74/2006 permite, e bem, uma outra figura, a do mestrado integrado, um único ciclo de estudos, longo. Aplica-se, como diz o decreto, a algumas formações objecto de directivas europeias: medicina, arquitectura, veterinária, farmácia. Até aqui muito bem, não fosse a porta aberta do decreto a outras formações em que tal seja prática comum europeia. Nunca consegui perceber quais são.
Isto serviu a calhar para as engenharias, cujo lóbi, como é bem sabido, influencia hoje, politicamente, a educação superior. Foi embuste, porque não corresponde nada à prática europeia. Agora, surpreendo-me por ver que o curso de psicologia da U. Minho também é mestrado integrado. Perdi algum tempo a consultar sites de dezenas de universidades europeias e em nenhum encontrei um curso de psicologia que se afastasse do esquema dos dois ciclos.
Espere-se por Direito, porque me parece que tudo isto tem a ver com o poder das ordens. Estou convencido de que, em Portugal, as ordens estão a ser um importante factor de perversão de Bolonha. As ordens estão a precisar de serem postas na ordem.
31 julho, 2007
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1 comentário:
Duas observações sobre os mestrados integrados em Psicologia. Em primeiro lugar para dizer que os estatutos da futura Ordem dos Psicólogos encontram-se no Parlamento há já pelo menos dois anos com o objectivo de serem aprovados. Ao que parece só o serão depois de ser aprovada uma Lei-quadro das Ordens Profissionais, medida sensata mas que peca por tardia e pela demora que já leva. Neste caso específico, portanto, a Ordem dos Psicólogos não foi um lóbi na implementação dos mestrados integrados pela simples razão de que não existe.
A segunda observação prende-se com a aceitação da Direcção-Geral do Ensino Superior em aceitar os mestrados integrados ao nível da Psicologia. Esta aceitação, que conheceu inicialmente fortíssimas resistências, prende-se com o projecto da criação do Diploma Europeu de Psicólogo (DEP). É verdade que o projecto de criação deste diploma (ver síntese em http://www.ejop.org/archives/2006/02/european_diplom.html) é perfeitamente compatível a licenciatura com a duração de 3 anos e o mestrado profissionalizante com a duração de 2 anos. Infelizmente, com ausência de uma entidade fiscalizadora ao nível da psicologia que desde sempre existiu em Portugal, seja ela formalmente constituída em Ordem ou através de um outro organismo, correríamos sérios riscos de vermos psicólogos com uma licenciatura de 3 anos a exercer autonomamente violando expressamente o espírito e a letra do DEP. Para mim já basta a existência de licenciaturas em Psicologia, com a duração de 4 anos, asseguradas por um corpo docente não qualificado, no decurso das quais os alunos não contactam com a realidade da intervenção psicológica. Em síntese, cursos de papel e lápis, no pior sentido do termo. E depois de obtida a licenciatura não existe nenhuma forma de impedir que estes “psicólogos” exerçam, sabe-se lá como e em que condições. Nestas circunstâncias a existência de mestrados integrados em psicologia poderá ter sido uma solução aceitável.
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