23 julho, 2007

Gente nobre

Há dias, um amigo companheiro da minha viagem recente aos Açores estranhava que, era eu criança, se viajasse entre ilhas, mas às vezes dezenas de milhas, nos "iates" do Pico, barcos de 20 metros ou pouco mais. Contei-lhe então a história que considero mais magnífica de viagem entre ilhas.

Como se sabe, D. Pedro IV estabeleceu-se nos Açores, na Terceira, até ao desembarque das tropas liberais no Mindelo. Um dos homens mais notáveis da sua "corte" era Mouzinho da Silveira, um dos maiores legisladores da nossa história. Um dia, bateram-lhe à porta uns tantos corvinos, vindos em pequena embarcação à vela, afrontando umas centenas de milhas de mar bravo açoriano. Descalços e humildemente vestidos, mas de cabeça bem erguida, contaram àquele senhor o que era a sua miséria de opressão pelos poderes senhoriais.

Mouzinho ficou de tal modo impressionado que não se deitou nessa noite, toda gasta a redigir as leis de extinção dos direitos senhoriais, coisa que nem a revolução de 1820 se tinha atrevido a fazer. Não sei se nessa noite se depois, escreveu uma memória pessoal, talvez o testamento, em que dizia nunca ter encontrado homens de tal nobreza e que queria ser sepultado na ilha do Corvo. Tanto quanto sei, este seu desejo nunca foi cumprido.

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