14 abril, 2008

António Barreto, sobre Angola

António Barreto (AB) é um sociólogo respeitado mas, na sua última crónica do Público, sobre Angola, mostra os perigos da apreciação de acontecimentos ainda muito recentes, ainda por cima com base num único documento, não acreditado, as memórias de um preso político. Não sendo historiador, AB não dispõe de instrumentos para avaliação das fontes, nomeadamente a análise do estilo peculiar de escrita de qualquer pessoa.

Começo por uma afirmação de AB: “Escritores e intelectuais que se passeiam no Chiado e recebem prémios de consagração pelos seus contributos para a cultura lusófona.” Não me parece ousado adivinhar que AB está a falar, entre outros, de Pepetela, prémio Camões. É uma enorme injustiça. Primeiro, Pepetela, nos cargos que ocupa e de que vive, em nada depende do governo angolano. Depois, mais importante, Pepetela não foge de Portugal para ir completar o seu curso na Suíça, vai é para a chana, de arma na mão, lutar como guerrilheiro do MPLA. Mais importante ainda, Pepetela mostra abertamente no Predadores o que é para ele a desilusão da sua vida dedicada (já o tinha feito na Geração da Utopia) e escreve corajosamente sobre o que vai fazendo falta num escritor português: a corrupção, a promiscuidade entre a política e os negócios.

Tenho por dever também defender outra pessoa atacada por AB e que, por razões de saúde, já não o pode fazer, o almirante Rosa Coutinho, pessoa que conheço muito bem e por quem tenho estima, embora discordando de muitas das suas posições políticas. Escreve AB:
“O livro revela os actos do Alto-Comissário Almirante Rosa Coutinho, o modo como serviu o MPLA, tudo fez para derrotar os outros movimentos e se aliou explicitamente ao PCP, à União Soviética e a Cuba. Terá sido mesmo um dos autores dos planos de intervenção, em Angola, de dezenas de milhares de militares cubanos e de quantidades imensas de armamento soviético. O livro publica, em fac simile, uma carta do Alto-Comissário (em papel timbrado do antigo gabinete do Governador-geral) dirigida, em Dezembro de 1974, ao então Presidente do MPLA, Agostinho Neto, futuro presidente da República. Diz ele: "Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela".

Rosa Coutinho é tudo menos insensato e irreflectido, como bem demonstrado pela sua atitude no 25 de Novembro. É um homem de grande sentido humano, totalmente incapaz de pensar tais barbaridades. E quem alguma vez conversou com ele, nem que apenas durante alguns minutos, conhece muito bem o seu estilo de coloquialidade engraçada e viva, totalmente oposto a este cliché.

É verdade que Rosa Coutinho apoiou o MPLA, parece que ninguém contesta. Mas por duas razões. Por estar convencido de que era o único movimento com estruturação, pensamento político e quadros que garantia uma independência de Angola que não fosse um drama para o povo angolano e para os portugueses angolanos. Em segundo lugar, porque, ao contrário do que se pensa, na iminência de uma guerra civil, o MPLA estava à míngua de armas, sem apoio da URSS, ao contrário do apoio americano à FNLA e sul-africano à Unita. Quanto aos cubanos, a coisa é delirante. Na altura da intervenção, era alto comissário Leonel Cardoso e Rosa Coutinho já tinha regressado a Portugal há muito tempo.

2 comentários:

Anónimo disse...

... Nomeadamente a crítica de fonte e o cruzamento de informação (que, aliás, é algo de básico...). Bem, mas pelo menos não assina como historiador, como faz um colega dele colunista do mesmo jornal.

Manuel Carvalho disse...

O senhor António Barreto vive ressabiado com tudo e todos, desde os anos em que praticou as mais miseráveis barbaridades no Alentejo, confundindo PCP com povo explorado e enxovalhado. Também tem a estranha mania de que é historiador e sê-lo-á (?), ao mesmo nível da sua Filomena que, ainda há dias, numa croniqueta de meia-tigela, completamente despida de qualquer interesse, afirmava que o nosso primeiro rei tinha assassinado a própria mãe. Coitada da dona filomena, coitado do dão barreto.