O Público de ontem traz uma notícia talvez insólita para muitos, mas não tanto se nos lembrarmos que a Espanha está a demonstrar avanços culturais bem reflectidos em medidas políticas e jurídicas julgo que únicas em países latinos, como seja a legalização de casamentos de homossexuais. Leia-se então a notícia:
“O Comité de Ambiente do Parlamento espanhol aprovou na semana passada resoluções para que chimpanzés, gorilas e orangotangos tenham alguns direitos actualmente apenas aplicados a humanos. Será a primeira vez que um organismo legislativo nacional toma uma medida deste género, diz a revista Science. As resoluções deverão ser aprovadas como lei pelo Parlamento dentro de um ano. Pretendem dar aos parentes biológicos mais próximos dos humanos o direito à vida, à liberdade e a protecção de tortura.”
Mesmo quem não for um fundamentalista extremo dos “direitos dos animais”, se tiver um mínimo de conhecimentos, alcançará o significado destas resoluções. Há animais e animais, desculpe-se-me a lapalissada. Os chimpanzés partilham connosco exactamente 96% do nosso genoma e, se considerarmos pequenas variações, quase 99%. Têm hábitos culturais, resolvem problemas e inventam utensílios. Têm consciência, se a definirmos essencialmente como a capacidade de se reconhecer a si próprios, por exemplo ao espelho ou numa fotografia.
Note-se que se inclui nos seus direitos o direito à liberdade. Isto tem duas importantes consequências, mas com uma reserva. Em primeiro lugar a proibição de cativeiro nos zoos, mas provavelmente sem efeitos para os seus actuais ocupantes, que dificilmente se adaptariam ao meio natural se fossem libertados. Depois, a enorme resistência que haverá, se este direito for generalizado, por parte da investigação biomédica, designadamente a das indústrias farmacêuticas, porque a tal semelhança genética tem outro lado da moeda: o chimpanzé é em muitos casos o único animal de experiência para doenças humanas e teste de novos medicamentos ou vacinas.
3 comentários:
Gostamos muito de o ter como professor! É pena que não nos dê mais cadeiras, porque as que deu foram fantásticas! Obrigada por nos transmitir os seus conhecimentos de uma forma tão sábia!
Para um professor, não há dinheiro ou honrarias pomposas que valham um comentário como este dos meus alunos. Mas também é uma grande responsabilidade, nunca os poderei desiludir.
Ficou no ar a sua opinião em relação aos testes de novos medicamentos em animais, como o chimpazé. Será a igualdade de direitos um "bom vento"? Não tenho dúvidas que sim...
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