11 julho, 2008

As vagas em Medicina

Como todos os anos, por esta altura, com o anúncio da abertura das vagas, escreverei daqui a dias alguma coisa mais desenvolvida. Hoje, apenas uma breve nota sobre um aspecto sempre crítico, o das vagas em medicina. Toda a gente sabe que as vagas a mais são sempre arrancadas a ferros, com oposição das escolas e da ordem, a pretexto de saturação dos hospitais escolares. Há 40 anos, em Lisboa, éramos cerca de 120 no meu curso, havia largo excesso de camas para ensino e havia muito menos professores e formadores do que hoje. No entanto, com estas condições melhoradas actualmente, diz-se que um aumento para 295, em quatro décadas, já é incomportável. Por isto, este ano e na FML, o aumento foi de zero (!) vagas, quando o Ministério da Saúde considera que são necessários mais 2000 médicos por ano, cerca de 300 mais do que o actual número total de vagas.

O que mais directamente me leva a escrever esta nota são declarações do bastonário da OM, Pedro Nunes. Não me surpreende, porque já nada me surpreende quando ele emite opinião. Sabe-se que hoje estudam medicina no estrangeiro muitas centenas de estudantes portugueses. A maioria provavelmente quererá regressar a Portugal, numa época em que cada vez é mais fácil o reconhecimento de diplomas, no Espaço Europeu de Ensino Superior. No entanto, espantosamente, o bastonário entende que esses estudantes, os tais que até podem ter tido classificação secundária de 17,5, são estudantes de segunda, futuros médicos de segunda e que devem ser preteridos no acesso ao internato em favor dos seus colegas formados em Portugal. Porque eles, formados em universidades estrangeiras “certamente” de segunda, não puderam passar pelo crivo absurdo das universidades portuguesas de primeira.

Nota - Por várias razões, sou levado a crer que continuarão a não ser autorizados cursos de Medicina em universidades privadas. Há uma comissão cujo parecer é certamente muito ponderoso. Curiosamente, para além de alguns estrangeiros que, por testemunho próprio, considero muito desconhecedores da situação portuguesa, os outros membros são professores das universidades públicas. Um até é reitor no activo. Conheço-os e não duvido da sua isenção, mas à mulher de César não basta ser séria.

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