09 julho, 2008

Notas sobre o G8

1. Praticamente não há nenhum problema complexo que não possa ou deva ser discutido na perspectiva das duas faces da moeda. Um exemplo é o dos biocombustíveis, que estiveram em foco na cimeira do G8. Até se fala no bom biocombustível, brasileiro, a partir da cana e do mau biocombustível, americano, a partir do milho. Isto porque há as tais duas faces. Por um lado, o biocombustível é mais amigo do ambiente, resulta em menor produção de CO2 e, portanto, em menor ameaça de efeito de estufa, embora, a prazo, possa contribuir para um modelo de desenvolvimento com maior intensidade industrial e possivelmente maior produção de CO2 por essa via.

Por outro lado, o que seria um combustível mais barato, independente do oligopólio dos países produtores de petróleo e adequado a países ainda com um sector agrícola importante, não resulta obrigatoriamente em benefício dos países mais pobres, devido à retirada de parte importante dos cereais do mercado alimentar e consequente aumento do seu preço, um problema importante a que se está a assistir presentemente.

2. Segundo uma notícia do Público, o presidente da Caritas Internacional denunciou que, contra os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, a ajuda aos países pobres tem vindo progressivamente a diminuir (5,1% em 2006, 8,4% em 2007). O G8 recusou garantir a duplicação da ajuda a África até 2010, como inscrito nos Objectivos. E a outra face da moeda? Vou ser politicamente incorrecto, mas pergunto-me se não é urgente que, a par ou mesmo antes dessa duplicação de ajuda, se revejam os mecanismos de aplicação das ajudas, quando é sabido que em boa parte se perdem nos esgotos da corrupção, a todos os níveis.

3. Isto não quer negar, obviamente, que há subnutrição e mesmo fome no Terceiro Mundo cuja solução impõe uma nova ordem económica mundial baseada na sustentabilidade, na solidariedade, na não exploração. Por isto é chocante outra notícia que nos dá a saber que, no Reino Unido, as famílias gastam, em média, por ano, 528 euros em alimentos que não consomem e que vão para o lixo, um desperdício de 12.600 milhões de euros à escala nacional e de 4 milhões de toneladas de lixo. Isto é tanto mais chocante quanto o valor total da ajuda aos países pobres, em 2005, foi de cerca de 6.370 milhões de euros. Não dá para crer!

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