Tinha dito que não voltava ao debate científico, mas há coisas que são demais. Uma investigadora portuguesa, radicada na Inglaterra, publicou há algum tempo um artigo científico demonstrando que o feto de 16 (!) semanas já tem reacção à dor. Não conheço o artigo, mas a revista é reputada.
Simplesmente, vem agora participar na campanha do "não", afirmando haver "evidência" de que o mesmo já se passa às dez semanas. Há aqui uma má tradução do "evidence" que, apesar de incorrectamente, aparece em alguns artigos com o sentido de quase-certeza, ou sugestão muito forte, embora falte a prova experimental. Por isto, não é admisível, num artigo, apresentar esses dados no capítulo de "resultados", mas é frequente usá-los na "discussão", mas sem que isso passe a constituir "verdade" científica.
Alguém a questionou sobre o significado do seu uso de "evidência". Confessou que os dados que tinha eram apenas "sugestivos". Toda a gente, em ciência, sabe o que isto quer dizer. "Tenho um palpite, não tenho provas, mas deixa-me escrever, para ter algum crédito se isto se vier a demonstrar".
Quando se faz manipulação política ou ideológica, quando se torce a moral, quando se faz proselitismo religioso, está-se no domínio do jogo social, que devia ser só de "fair play" mas em que se dá muita canelada. Quando se violenta a ciência e a racionalidade, está-se a pôr em risco o que de mais nobre e avançado tem a civilização. Quando isto é feito por um cientista, é execrável.
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