05 fevereiro, 2007

O "eduquês"

A discussão sobre o "eduquês" provoca-me logo uma atitude de defesa. É muitas vezes demasiadamente apaixonada e não circunscrita ao que deve ser. Por exemplo, todas as consequências práticas do construtivismo são dependentes do nível etário. Não posso discutir a aquisição de competências na educação superior, segundo o paradigma de Bolonha, com que concordo inteiramente, extravasando a situação de adultos jovens para a situação das crianças, de cuja pedagogia não sei nada. Já escrevi sobre isto, com maior aprofundamento.

Há pouco tempo, manifestei o meu espanto em relação à proposta de professores do 2º ciclo do básico poderem ser polivalentes. No Público de 31.1.2007, Guilherme Valente aborda o mesmo problema, com a minha concordância. Mas aproveito o seu artigo para uma citação importante.
"Mas julgo vislumbrar a mudança no horizonte. Este actual estádio supremo do eduquês deverá ser também o seu estertor. E julgo ter boas razões para pensar que a mudança vai acontecer com José Sócrates. Não é possível adiar mais e ele percebe onde está a essência do problema e acredito, e apoio, a sua atitude reformadora. Enganou-se com a ministra, mas estará a verificar o engano e irá corrigi-lo. Os próximos resultados vão ser piores e o chefe do Governo sabe que não haverá desenvolvimento nem diminuição das desigualdades sem outra escola, sem um ensino que desafie alunos e professores, que qualifique e forme, que realize as diferentes potencialidades de todos."
Pelos vistos, Guilherme Valente tem mais acesso aos segredos dos deuses do governo do que eu. José Sócrates vai impor-se? Sou mais descrente. Parece-me que o tempo de intervenção de Sócrates sobre os ministros se está a esgotar e que ele, com a maestria política que se lhe deve reconhecer, vai passar a jogar só pela positiva, por quem lhe dê vazas. O tempo é curto. Vem aí a presidência da UE, que não é tempo de problemas políticos domésticos. Parece-me que, a partir de Julho e até às eleições, a regra vai ser "não façam ondas", mas também a de não fazer nada para desacreditar ministros, por ineptos que sejam. Tenho o palpite de que o ME em 2009, em vésperas de eleições, será exactamente o ME de 2007.

Para os meus leitores dos Apontamentos sobre a educação superior, o que é que isto tem a ver? Porque tudo isto se aplica, talvez ainda mais, ao inefável MCTES. José Sócrates vai impor-se?

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