23 fevereiro, 2007

Recordando, em homenagem


Associo-me hoje à recordação do Zeca Afonso, no 20º aniversário da sua morte, contando uma história que se repetia muitas vezes. Ele era participante habitual nas noites de convívio das associações de estudantes do meu tempo. Já agora, refiro que, ao contrário do que foi uso, a meu ver criticável, no pós-25 de Abril, não era à borla. Também o pagamento era uma forma de solidariedade, porque o Zeca Afonso estava limitado nos seus proventos, por perseguição política.

Como presidente da associação de medicina, várias vezes o contactei. A resposta era logo afirmativa, mas com uma condição: "é pá, desde que não me peçam para cantar aquilo que eu não posso, porque a sala deve estar cheia de pides". No fim, invariavelmente, um coro de "vampiros, vampiros". Ele, lembro-me tão bem, coçava a cabeça, seu gesto típico, olhava para mim como que a pedir que eu interviesse, mas logo a seguir, podia ele lá resistir, saía o "eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada". Ele também sabia que, se os pides quisessem chatear (mas não eram tão parvos como agora se diz, a menorizar o seu perigo), tanto seria a ele como a mim.

Também outra coisa, talvez mais importante. Nunca o conheci estreitamente, muito menos posso dizer que fosse seu amigo. Mas conheci-o o suficiente para ter a certeza de que era, até ao fundo da alma, um homem bom!

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