21 setembro, 2007

Um novo CRUP?

Durante bastante tempo, falei do cinzentismo do CRUP, fruto da mediania dos reitores. Ultimamente, por vária s vezes, tenho estendido a mão à palmatória. Na generalidade dos casos, os reitores eleitos desde há uns tempos para cá têm marcado boa posição e têm assumido posições combativas e consequentes. Ressalto Seabra Santos, pela circunstância especial de ser o presidente do CRUP.

A sessão de abertura do ano lectivo de Coimbra deve ter sido divertida, no bom sentido do termo. Segundo o Público de ontem, Seabra Santos "criticou ontem duramente a política do Governo para o ensino superior. Fernando Seabra Santos acusou o ministério de Mariano Gago de estar a promover a "fragmentação das universidades", com o novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), que entra em vigor a 10 de Outubro".

Claro que falou também do financiamento. "O sistema de financiamento do ensino superior foi também fortemente criticado. Segundo Seabra Santos, desde o início da legislatura, a percentagem do produto interno bruto (PIB) afecto ao ensino superior baixou 14 por cento, um número que na opinião do reitor da UC ilustra o "tratamento escandaloso" que as universidades têm recebido do Governo. "A universidade portuguesa dispõe, por cada aluno que forma, de pouco mais de 4 mil euros por ano, valor que deve ser comparado com 8 mil euros da média da UE a 25. (...) Isto traduz a vontade política do Governo, naturalmente não assumida, de estrangular as universidades para as colocar na dependência das unidades de investigação", afirmou."

Mas muito mais gozado é o que relata o Jornal de Negócios. "O reitor da Universidade de Coimbra e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), Seabra Santos, acusou ontem o ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, de favorecer politicamente uma escola – o Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade Técnica de Lisboa, instituição de onde provém o próprio ministro. Durante o discurso de abertura do novo ano lectivo em Coimbra, Seabra Santos criticou Mariano Gago por nomear apenas pessoas do IST para os cargos políticos mais importantes do Ministério (... o ministro, o secretário de Estado, o presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o presidente da Agência para a Sociedade do Conhecimento e o director do Programa Portugal/ MIT...) e por ter utilizado, alegadamente, a nova lei que regulamenta o ensino superior (o novo regime jurídico) para ir de encontro a pretensões do IST. O leque de acusações envolve ainda um outro ponto: o presidente do CRUP diz que o ministro tem leis erigidas em função de “agenda própria”.

Ora aqui está o que é chamar os bois pelo nomes!

Nota - Este texto foi escrito independentemente da publicação da entrada de ontem de Regina Nabais.

4 comentários:

Alexandre Sousa disse...

Sem melindrar Seabra Santos, fundador da Brigada Vítor Jara e homem de várias músicas, eu diria que falta actualização no discurso.
A tendência (de financiamento) de grandes unidades de investigação é cada vez mais, a de viverem fora do IES. Orçamentos autónomos, financiamentos múltiplos, quadros de pessoal no âmbito daquela história da mobilidade. Pode não se gostar do Zé Mariano, mas que este não anda fora dos actuelles, lá isso não anda. O Zé está a tratar da agenda pessoal? Então e o Seabra trata da agenda de quem??? Da minha, não?!

Pacheco-Torgal disse...

Gostei muito do comentário do Alexandre Sousa. Tendo sido aluno do Sr. Reitor no idos de 1988, não lhe reconheço especiais capacidades, para o teor das criticas ao Ministro da tutela.

Regina Nabais disse...

Olá JVC, começo a pensar que será bom para equilíbrios saudáveis é estarmos muitas vezes de lados opostos de muros...
Por mim, não é que não se reconheça interesses muito interessantes no MCTES - ainda hoje falarei desses "interesses", mas um dado adquirido é não dispormos, enquanto país, dos meios necessários, para as agendas de todos os ministros, seus secretariados e, no caso também, reitores, presidentes e respectivos cultos - há que se fazerem opções claras, por objectivos, e depois entrarmos TODOS em cadência de remarmos, para o lado pré-definido, sem protestos.
Pessoalmente, não sou favorável a uma opção ou a outra, mas ao ministro só o acuso de decisões avulsas nunca previstas num plano integrado por todos os actores.
E aos presidentes e reitores tenho muitas dificuldades em aceitar um permanente discurso de "pidões de cifrões extra" nunca articulado em contra-propostas concretas.
Com estas posturas mendicantes, e nunca estratégicas, nem o ministro vai pensar ser necessário alguma vez mudar nem dos seus (agudos? obtusos? (cor)rectos?) focos de interesses nem, sobretudo, das suas metodologias políticas na base de que "só eu é que sei, mas não vos digo!".

Pacheco-Torgal disse...

Se é bem verdade que contráriamente ao postulado pelo Sr. Charles Wilson acerca da General Motors e dos EUA, nem tudo o que é bom para o IST é bom para Portugal, também não é menos verdade que o Sr. Reitor Seabra Santos se limita a fazer as comparações internacionais que mais lhe interessam.
Não lhe interessa ao Sr. Reitor Seabra Santos referir como comparam em termos internacionais as Universidades Portuguesas em termos de rácio artigos/Doutores.
Aliás e apropósito disso mesmo e sabendo-se que alguns Politécnicos apresentam rácios, superiores mesmo aos de algumas Universidades, ainda não percebi muito bem do que está o Sr. Ministro á espera para passar essas Universidades novamente a Politécnicos.
Também não interessa ao Sr. Reitor Seabra Santos comparar,como se processa a nivel internacional o recrutamento dos docentes do Ensino Superior, deve achar que que isso são pormenores ou se internacionalmente existe alguma regra que impôe como cá que um Assistente Doutorado passa automáticamente a Prof. Auxiliar.
Ao Sr. Reitor não lhe interessa nada disso, somente que o financiamento não chega. Mas curiosamente não falou do aumento do investimento de que foi alvo o susector Ciência. Para ele isso não tem nada a ver, essa coisa de contratualizar projectos de investigação não dá jeito nenhum ás Universidades. Já percebi que as Universidades, querem se possivel for o "dinheiro" todo numa única tranche. Contudo e em jeito de despedida sempre prefiro que o Ministro nomeie pessoas do IST do que da Universidade de Coimbra e não percebo sequer qual o motivo da admiração do Sr. Reitor Seabra Santos, ou será que o critério a seguir devia ser o de atribuir um cargo a cada Universidade? Deus no livre e guarde de tal critério, devem ser resquicios do passado comunista do Sr. Reitor.