24 setembro, 2007

mesmo pote destinos diversos

Gostaria de, neste blog, dedicar um espaçozinho aos famosos Cursos de Especialização Tecnológica (CET).

Uma pessoa de família, nestes últimos dias, enviou-me um exemplar de um livro desprentensiosíssimo mas, para mim, muito interessante, recheado de passagens, sobre as quais fui obrigada a repensar. Exemplo, e a propósito da importância dos CET, considero útil recorrer a um Extracto do citado livro: O Português que nos pariu - uma visão brasileira sobre a história dos portugueses. Páginas 73 e 74. Angela Dutra de Menezes (2001):

Esta triste mentalidade sobrevive entre nós. Atenuada, é verdade, o enredo já foi pior. Durante séculos, a elite primava pelo conforto de se espreguiçar. Tantos a sustentavam que ela se orgulhava de não manusear dinheiro. Hoje as coisas mudaram, mas resquícios permanecem. Bom exemplo é a classe média, toda ela se esfalfando para entregar aos herdeiros o diploma de doutor, fazendo-os "filhos de algo". Em nossas cabeças o trabalho manual é coisa de “filho de vulgo”, traduzindo: mal nascido.

Se o pimpolho de um engenheiro quiser ser mestre-de-obras, provocará um sinistro. Papai terá um ataque, apontando ao menino sua vocação de "pobre". A mamãe lamentará, discursando ao desvairado exemplo da família, toda ela graduada em curso superior. A vovó recorrerá ao rápido Santo Expedito, prometendo a loucura de imprimir cem mil preces, desde que o neto se emende. O resto da família fofocará o fracasso dos pais do mestre-de-obras, incapazes de educá-lo no viver de gente bem.

Se não podemos ser riquíssimos, nobres da modernidade, ao menos nos situemos sobre classes populares, exercendo actividades que não desonrem o berço do nascimento sadio. É bem melhor passar fome com diploma na parede, do que mourejar ao sol, ao proletários’ way.

A inquirição, que ensinou-nos o desmérito do trabalho, também nos inculcou o vício de olharmos as actividades manuais, carentes de bom diploma: simples serviços rasteiros desonram o trabalhador. Se é preciso trabalhar, o digno é ser doutor. Ao menos garante servos saracoteando em volta.
___________________

Voltarei ao tema dos CET, logo que puder. Pode ser?

7 comentários:

Pacheco-Torgal disse...

O problema é que confundir CETs com trabalho braçal é puro engano. Hoje nos CETs lecciona-se a mesmissima coisa que nos outros cursos de Ensino Superior e no fim se o diplomado quiser ingressar no Snsino Superior terá logo de uma assentada equivalências a 7 disciplinas. Há inclusive algumas Instituições que na publicidade que fazem a estes cursos, escrevem sem qualquer pejo que concluido o CET este dará equivalência a uma série de disciplinas do Ensino Superior. Algo aqui não bate certo, porque estes cursos só fariam sentido se fossem leccionados com uma estrutura curricular menos teórica e por Docentes que já tivessem qualquer actividade profissional no seu curriculo que não fosse somente actividade docente. E quanto ao estágio em contexto de empresa. Outra vigarice, a maior parte dos formandos, vão para a empresa do tio, do primo e do avô. Que são na verdade sociedades unipessoais.
Infelizmente os CETs são hoje utilizados pelas Instituições de Ensino Superior como uma forma de angariar clientes para as licenciaturas.

Regina Nabais disse...

Olá fernando tenha lá um pouquinho de calma, porque ainda nem sequer comecei a escrever sobre os CET, mas depois se o fernando puder, e estiver para isso, dá-me uma ajuda, não é verdade?
Obrigada.
Sei que sim.

M.C.R. disse...

Agradeço que me digam qual o editor e, se possível, onde adquirir o livrinho citado.

Pacheco-Torgal disse...

bem, devo confessar que pensei que já não fosse escrever sobre os CETs e que a introdução era sim um exercicio de fina ironia. Quanto á minha ajuda ela está claramente sobre valorizada, perante uma autora tão clarividente, tudo o que eu possa dizer ou é escasso ou redundante

Regina Nabais disse...

m.c.r. tem toda a razão, apresento-lhe as minhas desculpas, aqui vão referências:
"Portugues Que Nos Pariu, o" - Uma Visao Brasileira Sobre a Historia dos Portugueses. Menezes, Angela Dutra de.
Editor: CIVILIZAÇÃO
Edição: 1
Ano de edição: 2007
Local de edição: Porto
Número de páginas: 189
ISBN: 972-26-2575-3
______________
Peno que o pode adquirir nessas bancas de "literatura" de hipermercado.
Não se vai arrepender, se o puder ler, porque é muito divertido, está lá descrita, com muito humor, a nossa cara chapada, desde os nossos antecedentes da fundação...

Regina Nabais disse...

m.c.r.
Esqueci-me de lhe mencionar que, relativamente, ao livro já li, na internet, o seguinte comentário:
"Estou a gostar bastante do livro, mas devo alertar para o facto de que existe 1 erro no mesmo. Na página 101, é dito que o Mestre de Aviz é filho bastardo de D. Pedro e D. Inês de Castro. De facto, o Mestre é filho bastardo de D. Pedro, mas de D. Teresa Lourenço, e não de D. Inês de Castro. Para confirmar essa informação, basta consultar a Wikipédia - João I de Portugal, ou o livro de História e Geografia do 5 ano, volume 2 da Texto Editora, de ANA RODRIGUES OLIVEIRA, ARINDA RODRIGUES e FRANCISCO CANTANHEDE, com revisão científica do Prof.Dr. A.H. DE OLIVEIRA MARQUES Cumprimentos Isabel Nunes "

Al-Landeee disse...

O livro é de facto um belo retrato de todos nós. Aliás, o título diz quase tudo. Recomendo.