Alguém sabe quem foi? É uma figura injustamente esquecida e associo-me a um artigo do último Expresso propondo a comemoração, ainda este ano, do quarto centenário da sua morte, embora já passado o mês de Abril. O artigo é de Miguel Monjardino, nome que, à légua, cheira a Açores. Tinha de ser um açoriano, próximo ou distante, a lembrar-se de Bento de Gois. Transcrevo parte do artigo.
"Bento de Góis nasceu em 1562 em Vila Franca do Campo, na ilha de S. Miguel, nos Açores. Soldado no Oriente e um linguista extremamente dotado, tomou-se membro da Companhia de Jesus em 1588. No início de 1603, vestido de mercador persa, Góis partiu de Lahore para Cabul integrado numa longa caravana com quinhentas pessoas. A viagem durou seis meses e foi extremamente difícil por causa do clima, das montanhas e de ataques sucessivos na zona da actual fronteira entre. o Paquistão e Afeganistão. A dureza da viagem até Cabul e as baixas sofridas levaram muitos membros da caravana de Góis a desistir de continuar a viagem.
Acompanhado por um cristão arménio, Góis parte com uma nova caravana para uma viagem extraordinária através da cordilheira Pamir, do Karakoram e deserto do Góbi. Sobreviver ao frio e progredir em altitudes na casa dos cinco mil e quinhentos metros foi uma verdadeira odisseia. O determinado explorador jesuíta e o seu fiel companheiro arménio mantiveram-se vivos comendo maçãs secas e cebolas e esfregando alho nas gengivas dos cavalos que não morreram pelo caminho. A viagem através do Góbi foi feita de noite para evitar encontrar bandos de tártaros que assassinavam regularmente os mercadores estrangeiros.
Bento de Góis chegou a Sucheu na China no Natal de 1605. A sua duríssima viagem de quatro mil e quinhentos quilómetros atravessou um percurso povoado por tribos extremamente hostis e permitiu-lhe concluir que Cataio era mesmo a China, que não existiam comunidades cristãs perdidas na Ásia e que também não existia um bom caminho terrestre entre a Índia e a China. A sua contribuição para os. conhecimentos geográficos europeus sobre a Ásia foi enorme.
Góis morreu em Sucheu no mês de Abril de 1607. Tinha 45 anos. Quatrocentos anos depois, este enorme explorador jesuíta, o primeiro europeu em muitos séculos a atravessar a Ásia Central e a chegar à China pelo ocidente, é praticamente desconhecido entre nós. Vila Franca do Campo relembra-o. O resto do país ignora-o e pensa que a Ásia Central é irrelevante. Não é. 2007 é o ano ideal para começar a mudar esta situação."
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