Finalmente, os reitores saíram a terreiro, acerca da proposta de lei do regime jurídico das instituições de ensino superior. Mostram saber uma coisa básica de luta política. Numa proposta com tanta coisa má, concentram o tiro só em dois alvos, mas, a meu ver, uma no cravo e outra na ferradura.
No cravo, inteiro acordo com a forte objecção à possibilidade de desmembramento facilitado das universidades. Nem vou acrescentar nada ao que está dito, também por mim, a não ser insistir em que isto é um escândalo de lei "ad usum delphini", perfeitamente ajustada ao que se sabe ser uma velha pretensão do IST. A pretensão é legítima, mas só depois de o ministro e o secretário de Estado, professores do IST, se demitirem dos seus cargos governativos. Eles nunca ouviram falar em Cincinato, Lucius Quincius, que num dia era agricultor e no outro ditador, e vice-versa, mas nunca ambas as coisas simultaneamente?
Na ferradura, ou tiro no pé, o protesto contra o previsto processo de escolha do reitor. Começa por não ficar bem os reitores estarem a discutir coisa que lhes diz directamente respeito, até em relação ao prolongamento dos seus mandatos. A sua tese é a de que só a eleição lhes dá força política. É um erro e toda a gente sabe. A eleição só lhes retira força, quando se conhecem todas as manobras de compadrio com os três conjuntos de eleitores, particularmente com os estudantes. Paradoxalmente, pior ainda quando, como agora na Espanha, se alarga a eleição a todo o universo académico, porque ficam menos visíveis as influências políticas e sindicais.
Pouco sério, a meu ver, é reduzir o típico processo de "search and select" a um concurso para chefe de divisão ou quadro de uma empresa (sic, presidente do CRUP). Ou é demagogia ou é ignorância que devia merecer vergonha. Além disto, das duas uma. Os reitores querem ser apenas os governantes académicos, entretidos com júris, diplomas, equiparações, honoris, desenho das becas, etc.? Muito bem, que sejam eleitos. Ou querem ser os gestores máximos de instituições públicas com orçamentos de milhões de euros? Então têm de provar que são gestores competentes.
Os reitores sabem certamente o que é, por todo o mundo, um CEO. Sabem certamente como é que, por todo o mundo, é escolhido um CEO. Já devem ter lido alguma coisa elementar sobre "corporate governance". Portanto, não sabem o que, mesmo em Portugal, são as regras que hoje seguem as principais organizações, com a distinção entre conselho de supervisão (leia-se conselho geral) e conselho de administração com um presidente executivo (leia-se reitor)? E não vale argumentarem que eu estou a falar de empresas. Estou a falar é de organizações, consciente de que comportando diferenças importantes mas também muita coisa essencial em comum.
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1 comentário:
Ora nem mais! Nem mesmo eu no auge de toda a minha raiva já muito
"biliosa" (esclareço que, no lugar de visícula e fígado só tenho moelas), conseguiria traduzir o que estava a cogitar. Literalmente JVC, conseguiu "roubar-me" mas, sobretudo,fundamentar e organizar os meus pensamentos nesta matéria!
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