Não gosto de piratear, mas esta delícia, do Público de hoje, está com acesso livre online.
Vaticano publica os dez mandamentos da condução e diz que o automóvel pode ser "uma ocasião para pecar"
A ética ao volante tornou-se uma questão religiosa, sancionada por um documento intitulado Orientações para o Cuidado Pastoral na Estrada, um documento invulgar, por ser a primeira vez que a Santa Sé aborda questões relativas à segurança rodoviária e por integrar os dez mandamentos para os que andam na estrada, dando uma dignidade profética ao tema.
Entre os mandamentos do decálogo das estradas, constam o "não matarás", mas também o imperativo de que "os carros não serão usados como uma expressão do poder e da dominação, nem uma ocasião para pecar", uma alusão às ultrapassagens de risco - o documento considera a velocidade uma forma fácil de dominar os outros - e à prostituição, matéria em relação à qual o Vaticano sublinha a necessidade da condenação legal se estender a quem procura prostitutas.
O sentido religioso das ultrapassagens de risco não reúne o consenso absoluto: "Ultrapassar é um pecado? Então eu sou um assassino. Vou-me entregar imediatamente", disse à BBC o cineasta italiano Dino Risi, que em 1962 assinou o filme Il Sorpasso (A Ultrapassagem).
O documento, de 59 páginas, condena a agressividade ao volante e lembra que a condução pode despertar comportamentos "primitivos" em quem conduz, incluindo "falta de educação, gestos obscenos, praguejar, blasfemar e perda do sentido de responsabilidade ou infracção deliberada do Código da Estrada". Condena ainda a condução sob o efeito de álcool ou drogas.
"Este documento pode ser surpreendente para as pessoas porque estamos habituados a ouvir a Igreja falar de questões sexuais, do pecado capital, das migrações", disse o reverendo Keith Pecklers, um jesuíta, professor de Liturgia na Universidade Pontifícia Gregoriana. "O que o cardeal Martino [presidente da Comissão Pastoral para os Migrantes e Pessoas Itinerantes, que produziu o documento] está a querer dizer é que conduzir é, em si mesma, uma questão moral", acrescentou.
Martino disse terça-feira aos jornalistas que o Vaticano considerou necessário abordar as necessidades pastorais de quem conduz, devido à enorme importância que a condução tem hoje em dia, nomeadamente os 1,2 milhões de pessoas que morrem todos os anos na estrada.
O documento recomenda o cumprimento das regras de trânsito, nomeadamente o respeito pelo limite de velocidade e sublinha a importância da ajuda a vítimas de acidentes, sugerindo um modelo de condução que respeite as virtudes cristãs.
Um porta-voz do Automóvel Clube de Portugal disse ao PÚBLICO que "muitas medidas propostas sobre a segurança na estrada coincidem com as posições que vimos defendendo há anos". Quanto às questões de cariz mais religioso, como a do automóvel como ocasião para o pecado, a organização "abstém-se de comentar".
O limite de velocidade no Vaticano é de 30 km/h e o último acidente registou-se há ano e meio.
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2 comentários:
Acho estranho é o facto do Vaticano só ter descoberto agora que o automóvel pode ser "uma ocasião para pecar".
Evidentemente que agora - com esta idade e com este físico - só de pensar nisso fico "com medo do demónio", mas, devo dizer, que tenho excelentes recordações de pecados cometidos no automóvel.
Não compreendo como só agora o Papa se deu conta desta possibilidade.
Os "jornalistas" do Público nem sequer sabem traduzir. É que 30/mph não tem nada a ver com 30 km/hora.
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