01 junho, 2007

Tabagismo

Comemorou-se ontem o dia do não fumador (já não deve haver dias no ano que cheguem para tão variadas comemorações). Com muito atraso, foi o meu primeiro dia mundial do não fumador. Não é elegante falarmos de nós próprios, mas pode ser útil, como ajuda. Estou há sete meses sem fumar e acreditem que ainda me é bem difícil.

Esta é a minha primeira nota. Deixar de fumar é extremamente difícil e não é para se levar a brincar, estilo vou aos poucos, hoje fumo um, depois de meses sem fumar e depois não volto a fazê-lo. Devo dizer também que a minha experiência não é a mais frequente, porque há muitos anos que não fumava cigarros, só cachimbo e, desde há bem uma dúzia de anos, charutos e cigarrilhas. Isto significa que, pelo menos no meu caso, por não inalar profundamente o fumo, não tinha muita dependência da nicotina, muito mais do aroma e do ritual do fumar. Ainda hoje, o que mais me custa é o fim de refeição sem a cigarrilha ou o charuto ao jantar.

Quero hoje é falar de outras duas coisas, acerca do que li no jornal. Em primeiro lugar, "as consultas para deixar de fumar". Apoiado na opinião de bons psiquiatras, creio que servem para pouco. O seu objectivo é levar a pessoa à decisão de deixar de fumar. O que vem a seguir, a luta contra o regresso, é questão exclusiva de força de vontade e não há consulta que valha. E, mesmo para se chegar a uma decisão (que tem de ser muito firme), vale muito mais o que cada um pensa, ajudado pelos testemunhos dos amigos que agora sobrem as escadas a dois degraus de cada vez, que enchem o tórax que nem jovens, que aprenderam a valorizar novamente os sabores da boa cozinha ou a cheirar um bom vinho, etc.

A segunda nota diz respeito aos substitutos de nicotina. Pelas razões pessoais que apontei, não foram muito importantes para mim, mas tenho muitos testemunhos em contrário, de ex-fumadores de cigarros. Para mim, é escandaloso que não sejam fortemente comparticipados pelo SNS. Não faz sentido dizer-se que, contas redondas, custam o mesmo que custariam os cigarros, que a peso anão gasta a mais (com a diferença de que gasta "à cabeça" em vez dos cigarros diários, o que, psicologicamente, é importante). O Estado tem de ter um papel activo, tem de premiar e estimular quem quer deixar de fumar. Faz parte da gratificação da atitude pessoal chegar à farmácia, ver que pagou pouco por uma ajuda ao seu enorme esforço, até receber um cartãozinho "assinado" pelo ministro a elogiá-lo e desejar-lhe sucesso. E depois, o que é essa despesa para o Estado comparada com os custos médicos do tabagismo?

P. S. – Talvez achem estranho a minha insistência na dificuldade em deixar de fumar. Creio que é pedagógica. A minha experiência é a de que um fumador, principalmente depois de 40 anos de vício, como eu, não deve ser iludido, tem mesmo de ser alertado para a necessidade de arranjar forças para coisa difícil.

7 comentários:

M.C.R. disse...

Deixei de fumar há cerca de doze anos, talvez mais. Usei na altura uns selos.
Eu era um fumador duro: 4 maços dia! Daí que ao usar os selos nunca me tenha separado do maço de cigarros. Só que acendia um cigarro, dava uma puxa, apagava e meia hora dpois outra puxa, e assim sucessivamente. Este programa drástico durou mês e meio. Num determinado dia, tendo esquecido os cigarros, entendi qwue não devia comprar e decidi esperar até chegar a casa. em casa decidi esperar pela hora do lanche . Nesta pela do jantar e assim sucessivamente até ir dormir. no dia seguinte já não fumava. custou bastante. Sonhei durante um ano com um cigarro. Depois comecei a ter pesadelos porque voltava a fumar. Agora nem isso.
Penso que é preciso muita vontade e que esta tem de ser auxiliada pelos remédios anti-tabaco e pela malta á volta. Sem isso nada feito, ou ainda custa mais.
Todavia não sou anti- fumador extremista e considero que pode haver locais públicos, bares, restaurantes ou cafés para fumadores. quem não fuma só tem que não entrar. criar um ghetto para os fumadores é uma burrice que tarde ou cedo se pagará.

JVC disse...

gostei do comentário do mcr. Ajudou á minha intenção, que era a de um testemunho pessoal a dar alento a quem quer deixar o vício.

Mas sem proselitismo. Por isto, também estou inteiramente de acordo com o último parágrafo do seu comentário.

lino disse...

Se o João me permite, também vou deixar o meu testemunho.
Comecei a fumar aos 17 anos,e aos 19, numa hora e meia, fechado a escrever, acendi 18 cigarros com um único fósforo. Fumei durante 22 anos. O último cigarro foi às 16H45 do dia 18 de Janeiro de 1988. Porque decidi que um homem pode vencer um vício. Custou muito. Um médico amigo disse-me para comprar umas pastilhas novas, de nome
"Nicorettes". Tão novas que a dona da farmácia onde as pedi perguntou-me como tinha ouvido falar delas, dado que tinham chegado a Portugal na semana anterior!
A partir daí, foi coacção psicológica: pus as pastilhas e o porta-moedas no mesmo bolso do casaco e, quando me levantava para ir à rua comprar tabaco, encontrava o porta moedas e as pastilhas e dizia: "Estais aí? Não vou". Experimentei a primeira e única pastilha ao fim de 3 semanas, depois de ter adornecido à secretária após o almoço. Soube-me tão mal que não precisei de mais. Foram vários meses em que parecia que tinha ratos no estômago, mas resultou.
Não sou fundamentalista, mas concordo com a proibição nos restaurantes, porque tenho de lá ir durante os dias de trabalho e não gosto de comer com o fumo dos outros a entrar-me pelas narinas ou pela boca. Quanto às cervejarias e bares, nada tenho contra, desde que seja bem visível a informação de que se trata de um espaço onde é permitido fumar. A partir daí, só entra quem quiser.

JVC disse...

Este "post" e, certamente, os seus comentários, foi lido até agora por 148 pessoas. Não é muito, mas é suficiente para eu pensar que estes nossos testemunhos pessoais podem ter tido alguma utilidade.

E vou adiantar um auto-elogio. Deixar de fumar é coisa difícil e que nos deve dar orgulho. Não querem sentir esse orgulho?

Fred disse...

"Todavia não sou anti- fumador extremista e considero que pode haver locais públicos, bares, restaurantes ou cafés para fumadores. quem não fuma só tem que não entrar. criar um ghetto para os fumadores é uma burrice que tarde ou cedo se pagará."

Não deixo de achar ridícula esta afirmação... ora criar locais públicos para fumadores não é exactamente criar um gheto!?
Sinceramente, detesto apanhar com o fumo dos outros, e partilho esta opinião com a enorme maioria de pessoas: fumadores e não-fumadores!
Além de que acho de grande incorrecção e falta de educação que alguém 'exija' contribuir para o meu mal-estar e prejuízo da minha saúde para que eu possa fruír da sua companhia...
Devo dizer que vivi durante algum tempo em Itália e estranhamente é de total aceitação cultural que não se fume em locais fechados, e é até condenado pelos próprios. E mesmo dentro de casa, a maioria dos locais só fuma à janela ou na varanda... vá-se lá saber porquê, mas eles concordam, e eu concordo plenamente com eles!
Quanto às dificuldades para deixar o vício, é óbvio que o compreendo, e para tal não é preciso mais do que se estar minimamente informado. Não é por acaso que o tabaco tem sido um dos piores, mais perigosos e mais vinculantes vícios da sociedade, ocupando lugares bem mais cimeiros em todas essas tabelas do que se calhar a maioria das pessoas imagina...! E é uma falsa questão ou falácia tentar contornar isto! A informação e a experiência comprovam exactamente isso!
Os meus cumprimentos para todos!

M.C.R. disse...

Ora vamos lá a ver se nos entendemos: eu não quero criar ghettos. quem os quer criar é quem não peercebe que haver um dez ou mil restaurantes para fumadores não significa deixar de haver muitos mais para não fumadores. O que não entendo é a ideia politicamente correcta de criar um universo limpo de fumo mesmo que haja quem queira fumar, e crie para isso um lical (café, bar, restaurante) onde de diga que é para fumadores e para não fumadores que não se importem. Só isto.

Luís João disse...

Um estabelecimento que apenas permita a entrada a não fumadores estará sempre em desvantagem competitiva para os restantes.

Se proibissem as pessoas de fumar em todos locais fechados, não só não haveria este problema como seria um incentivo para toda a gente deixar de fumar. Como já se faz na Suécia... :)