Na delícia do gozo da minha mesa de jardim, nesta bela tarde, não pensava vir escrever, mas não resisto. Como disse, creio que ainda até ao fim de semana publicarei um artigo aprofundado sobre o RJIES (para os leigos, a proposta de lei-quadro da educação superior). Para isto, vejo-me forçado a um passo atrás, rever todas as minhas notas tendo em conta a comparação com a nova versão da proposta de lei, embora as alterações não sejam muito importantes.
Entretanto, dei por uma coisa mantida que me obriga a manifestar preocupação. Diz o agora artº 39º, alínea g, que é requisito geral para a criação e funcionamento de um estabelecimento a "garantia de relevância social do ensino (...)". O que é a relevância social do ensino? É coisa que, por definição, não abrange um curso de direcção de orquestra, com dois candidatos por ano e uma data de professores, curso socialmente caríssimo? Ou um curso de grego clássico?
Que os leitores me perdoem eu não ir discutir este primarismo pseudo-socializante da relevância. É discussão mais do que estafada. É coisa que horrorizaria um "scholar" de Oxbridge. Mesmo cá, alguma vez um homem de esquerda clássica, como foi Caraça, se interrogou sobre o que era a relevância social da sua querida matemática? E ele até tratou esta questão da ciência e da sociedade com o maior cuidado, e atendendo a toda a complexidade da questão (vide "A cultura integral do indivíduo"), casando dialecticamente cultura de elite e cultura popular.
O que me tranquiliza é que estas fórmulas nunca têm efeitos práticos. Mas, mesmo assim, é melhor que não venham no DR, porque nos envergonham e mostram a incultura dos mais altos responsáveis.
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