16 maio, 2007

Indignação justificada

Recebi o seguinte texto, que publico com muito gosto.

Manuela Vaz Velho

Estou completamente indignada com a versão oficial do regime jurídico das instituições de ensino superior de que tive conhecimento hoje. Depois de ter sido informada de que as diferenças fundamentais entre a versão inicial do referido documento, divulgada anteriormente no dia 7/5/2007 e a versão oficial hoje recebida, era principalmente no que dizia respeito à questão do regime fundacional, comecei a ler o documento e, logo na página 3, assim a modos como quem não quer a coisa, há um adjectivo e um substantivo a menos em relação à 1ª versão cuja omissão me deixa inquieta e indignada porque diz respeito à diferença de qualidade dos ensinos politécnico e universitário. Passo a transcrever dois artigos da 1ª e 2ª versões e as respectivas omissões e inclusões de texto:

1ª Versão – Título I

Artigo 5º:
As universidades e demais instituições do ensino universitário são instituições de alto nível na criação, transmissão e difusão da cultura, do saber e da ciência e tecnologia, através da articulação do estudo, do ensino e da investigação fundamental e aplicada e sua difusão.

Artigo 6º
Os institutos politécnicos e demais instituições de ensino politécnico são instituições de alto nível na criação, transmissão e difusão da cultura e do saber de natureza tecnológica e profissional, através da articulação do estudo, do ensino e da investigação aplicada.

Versão actual – Título I

Artigo 6º (corresponde ao 5º da versão anterior)
As universidades e demais instituições do ensino universitário são instituições de alto nível na criação, transmissão e difusão da cultura, do saber e da ciência e tecnologia, através da articulação do estudo, do ensino e da investigação, do desenvolvimento experimental e sua difusão.

Artigo 7º (corresponde ao 6º da versão anterior)
Os institutos politécnicos e demais instituições de ensino politécnico são instituições orientadas para a transmissão e difusão da cultura e do saber de natureza profissional, através da articulação do estudo, do ensino e da investigação orientada e do desenvolvimento experimental.

Agora já não somos instituições de alto nível na criação; passámos a ser só instituições de transmissão e difusão dos mesmos géneros que os na versão anterior excepto o género do saber de natureza tecnológica e perdemos o alto nível. A competência da investigação manteve-se mas passou de aplicada a orientada. Aqui tudo bem porque me parece ser a mesma coisa. O problema é que já não temos competências sequer em termos da transmissão e difusão do saber de natureza tecnológica – passamos a ter só competências na transmissão e difusão do saber de natureza profissional.

Não quero continuar a ler este documento. Não admito que esta diferenciação desqualifique o ensino politécnico e que este deixe de ser de alto nível. Até agora tínhamos o ensino básico, secundário, médio e superior. Se este documento for aprovado teremos o ensino superior de alto nível que é o universitário e o ensino superior sem nível que é o politécnico. Eu que defendo a natureza binária do sistema, que defendo a diferenciação dos dois sistemas e a natureza mais teórico-prática e operativa do ensino politécnico em relação à mais conceptual e teórica do ensino universitário, como o caminho mais apropriado para a maioria da matéria-prima que trabalhamos e para as necessidades reais do mercado de trabalho e, consequentemente da empregabilidade dos nossos diplomados, chego à página 3 do documento e já estou profundamente magoada.

Eu, que gostaria de ver mudada a designação da minha escola de Escola Superior de Tecnologia e Gestão para Escola Superior de Tecnologia, Gestão e Artes, por ser mais abrangente, ainda vou ver a minha Escola mudar para Escola Profissional de Sabe-se Lá O Quê, porque a tecnologia já não é para nós.

1 comentário:

Regina Nabais disse...

1 - Concordo com tudo o que a Manuela Vaz Velho escreveu, menos com esta frase:
"A competência da investigação manteve-se mas passou de aplicada a orientada. Aqui tudo bem porque me parece ser a mesma coisa."
Penso que lido da forma perversa, que, como sabemos, é a única com que algumas pessoas lêem e escrevem o que quer que seja, o termo escolhido - ORIENTADA - quer dizer que a investigação a efectuar no Politécnico só se for "orientada" por um ser/entidade "superior" ainda não identificada, mas que logo, logo saberemos quem é, e o que pode e até onde o politécnico pode ir, e por onde.
Perante o RJIES2-versão5, que farei questão de ler de cabo a rabo (e depois alguém me há-de aturar), pasmo é o grau de confiança, permissividade e protecção manifestado, nessa resma panfletária, ao subsistema que é VERDADEIRAMENTE co-responsável, se não O RESPONSÁVEL, pela situação a que chegámos. Essa confiança, que agora conferida a esse mesmo subsistema, é a demonstração cabal de uma das leis de Murphy - nada está tão mal que não possa piorar.

2 -Não sou católica mas acredito em moinhos, e os de Deus moem devagar, mas moem sempre e sempre moerão.
Por isso, Manuela e JVC, podemos perder na secretaria, mas acreditem-me: os criativos documentais da iniciativa RJIES, não irão ganhar esta "guerra", a menos que eu morra antes, e mesmo assim...não sei; e não estou, com isto a provocar ninguém, estou apenas a avisar.
Abraço aos dois.