Devo confessar que partilho frequentemente desse sentimento geral de vergonha de ser português. Felizmente, há ocasiões em que me redimo, com a punição, já verão porquê, de bastantes dores nas pernas e nas costas. Fui à exposição de Amadeo e pensei em três bons motivos de satisfação de ser português.
Primeiro, obviamente e sem mais palavras, o próprio Amadeo.
Segundo, centenas de pessoas em bicha, a engrossar cada vez mais, mais de uma hora de espera para poder entrar na exposição. Especialmente notório, alguns grupos de crianças com a sua professora.
Terceiro, houve e há portuguesas de grande visão e determinação que souberam criar e manter hoje essa obra magnífica que é a Fundação Gulbenkian (a herança foi determinante, mas o dinheiro, só por si, é coisa morta).
Os portugueses estão cada vez melhores, Portugal é que não. Isto pode parecer dito sem sentido, mas é porque não me sei explicar.
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5 comentários:
Fossem destes todos os abusos! Sempre às ordens.
Para o ajudar a recuperar ainda mais a confiança nos portugueses (e nalgumas das suas instituições), recomendo-lhe a crónica do provedor do Público de hoje. O que ele denuncia é (infelzmente) vulgar, mas é notável que o faça no mesmo jornal.
Henrique, que coincidência. Interrompi, para ler o seu comentário, o que estava a escrever: justamente uma mensagem de felicitações a Rui Araújo.
Meu caro João
O exemplo que dás tem um enorme senão: o Amadeo foi completamente ignorado na sua terra, Portugal, durante larguíssimo tempo. Só quando alguém o achou genial e "vendável" é que sobre ele se abateram os louros pátrios. Mas o Amadeo já morrera há muito.
Quanto á Gulbenkian nada a opor. Ou apenas isto: teria sido a mesma sem osseus dois presidentes? Não falo do Emílio Rui Vilar, 3º na lista por ainda estar em exercício e sermos amigos. E do velho CITAC, claro!
Sobre o Amadeo, claro que concordo, mas isso não me retira o orgulho de ser seu compatriota. E houve quem bem o apreciasse, na época. Vou deixar aqui um desafio, também a ti, para ajuda a um texto que tenho de escrever um dia destes sobre um homem notável, Mário Ribeiro, avô da minha mulher. Deixo uma pista: mecenas.
Passando à FCG, há coisas curiosas. JAPerdigão foi um português das arábias. Conheci-o muito bem. Na conversa, deslumbrava a largueza de visão, mas, às vezes, um ou outro pormenor que me fazia pensar como é que um homem daqueles podia ser, ao mesmo tempo, tão das berças. Às vezes penso que ele nunca teria conseguido fazer a FCG se o Salazar não sentisse que havia qualquer coisa pequenina em comum entre eles, nem que fosse o sotaque viseense.
Depois vem o período do teu venerando mestre Ferrer. Pessoa muito estimável mas para um gulbenkiano de alma e coração como eu, uma espécie de Brejnev, da estagnação, em que ainda pontificavam os administradores do antigamente. Outro defeito de JAP, o rodear-se de medíocres, bem à portuguesa. Daí o período para esquecer, breve, da presidência Sá Machado. Lidei muito com ele, já na minha qualidade de director do IHMT. mas não se bate nos mortos e nos ceguinhos.
Hoje, tenho grande confiança na administração da FCG, até pelos estimados amigos meus que lá estão. Com Rui Vilar só tive contactos sociais de circunstãncia, mas em ocasiões marcantes: Europália, iniciativas da Culturgeste, um bom número de reuniões de trabalho sobre educação superior, na FCG, com a sua presença. Temos homem. Só não fazia ideia é de que tinha passado pelo CITAC.
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