13 janeiro, 2007

O aborto e o não em modalidade não primária

Muito tenho escrito já em campanha pessoal pelo SIM, no referendo, mas devo comedir-me, para não cansar os leitores (aliás, creio que há na blogosfera uma certa empatia autor-leitor, o que dispensaria muito esforço de escrita redundante).

Confesso que estou um pouco preocupado. Não vejo inovação e garra na campanha do sim, mantêm-se "sound bites" venenosos, do tipo "na minha barriga mando eu", não vejo capacidade técnica. Onde estão as "petitions online", as páginas da net, os blogues dedicados? Eu já quis aderir a alguns movimentos pelo sim e não consigo contactá-los. Até há um de médicos. Não há lá ninguém que me conheça?

Em contrapartida, os defensores do não têm sido eficazes ao tornear a questão social fundamental, com coisas, por exemplo, como os custos para o SNS, sempre muito tocantes ao porta-moedas do cidadão comum. O mais mirabolante argumento que li recentemente é de Maria José Nogueira Pinto. É total tolice mas, atenção, está muito acima do terrorismo intelectual característico do não.

No essencial, o raciocínio era seguinte. Proibir o aborto é que é uma posição de esquerda (bem-vinda à esquerda, MJNP!). A esquerda olha para o progresso, para a manutenção das grandes conquistas sociais. Entre estas, a solidariedade social, a sustentabilidade das reformas e do sistema nacional de saúde. Tudo isto, é verdade, está ameaçado pela baixa da natalidade. "Ergo", aumentar essa taxa por via da despenalização do aborto (logo, aumento do aborto! Ah, aí é que MJNP fica calada, porque, reconheço, não é uma aldrabona) vai contra os interesses da esquerda que MJNP agora parece ter em grande preocupação.

Minha senhora, não é parva nenhuma, mas não incorra num erro muito vulgar entre a nossa gente inteligente, que é o de pensar que todos os outros são parvos.

P. S. – Volto a escrever: tenho o palpite de que, apesar de maior envolvimento do PS, o resultado deste referendo vai ser igual ao anterior, não em relação à maioria relativa de votos, mas sim em relação à abstenção e ao seu resultado de não vinculação (na prática, viu-se como afinal pode ser vinculativo). Vivi na terra dos referendos, a Suíça e vi que só se referendam coisas muito primárias e inteligíveis. Imaginam o que teria sido Zapatero sujeitar a referendo o casamento dos homossexuais, que a sua maioria fez aprovar nas Cortes? Entre nós, sobre este referendo sobre o aborto, a posição do PCP foi muito clara, a favor dos poderes parlamentares, e aplaudo-a. A do PS, eterno oscilante e albergue espanhol, compreendo-a. A do Bloco é que não. Ser esquerda não é só masturbação política, coisa juvenil que se ultrapassa com a maturidade. E Louçã e amigos já passaram a idade da acne.

5 comentários:

lino disse...

Pois é, João!
Por mim, mesmo que morasse naquele palácio enorme ao cimo do Campo Grande, sem ter contribuído com o meu trabalho para o adquirir, relativamente ao referendo de 11 de Fevereiro nunca teria uma posição de "esquerda" tal como ela é definida pela "betinha". Sim, sempre!

JVC disse...

Lino, fiquei curioso. Diga lá mais alguma coisa sobre essa do palácio.

Aproveito para uma declaração de princípio. Este blogue está a ser razoavelmente visitado, mais do que eu esperava. talvez por eu tentar um registo racional e objectivo, sem paixões sectárias.

Mas este é um momento especial. Com honestidade, escrevi em destaque que vou votar SIM. As entradas vão nesse sentido. Talvez perca leitores, talvez fique o blogue sem sentido prático de publicação. Mas há alturas em que não podemos deixar de nos assumirmos.

Anónimo disse...

Ainda bem que vai votar SIM. Eu também vou. E não se importe com as consequências, parece-me que longe de perder leitores é capaz de ganhar mais uma. Como disse e bem há alturas em eue "não podemos deixar de nos assumirmos"

lino disse...

João, eu também voto sim, apesar de católico interventivo, embora muito desalinhado das posições oficiais e da hierarquia. E não sou só eu. Em Portugal somos dezenas de milhares e no mundo dezenas de milhões. Eu fiz um post sobre isso no meu blogue, logo no início, em princípios de Dezembro. E vou fazer mais.

Quanto ao palácio, sabe,certamente, que a betinha é da família Avillez, irmã da jornalista Maria João e que o Nogueira Pinto é do marido. Pois acho que aquele palácio ao cimo do Campo Grande (em Lisboa), com uma cor para o carmim e que faz esquina com a Alameda das Linhas de Torres, quase ao lado da churrasqueira do Campo Grande, é a morada do clâ Avillez.

Anónimo disse...

Será que um wiki, para já apenas um esboço, poderia ajudar na troca de ideias?

http://referendo.pbwiki.com