18 janeiro, 2007

Demagogia

Não me lembro de alguma vez, graças fundamentalmente ao actual governo, se ter apontado tão corajosamente o dedo a privilégios inadmissíveis e, muitas vezes, herança do corporativismo salazarista. Problema é o dos grandes privilégios. Mas também é problema o risco considerável da manipulação demagógica com base na desinformação.

Um caso que me parece flagrante, depois do que li ontem no Público, é o do acordo de trabalho do Metro. Tem saltado logo à vista uma afirmação repetida da administração: os trabalhadores querem manter a cláusula abusiva que lhes permite ter até 36 dias úteis de férias por ano. Ao ler isto, a minha reacção foi a da grande maioria dos leitores, é de facto um abuso. Mas parece que estamos a ser aldrabados pela administração. Leia-se o que escreveu ontem o Público.
"Os trabalhadores têm direito a 24 dias úteis de férias por ano, que podem ser acrescidos de seis dias, se gozarem "a totalidade do período de férias fora da época normal de férias". Se no ano a que as férias se reportam o trabalhador tiver o máximo de um dia de falta ou dois meios dias, desde que justificados, há um acréscimo de três dias de férias. Juntando o dia do aniversário do trabalhador e as tolerâncias de ponto, os dias de férias podem, segundo as contas da empresa, ascender a 36 dias."
Podem, diz a empresa. O que eu quero saber é quantos por cento dos trabalhadores, nos últimos anos, gozaram efectivamente de 36 dias úteis de férias. E vamos por partes.

Na função pública, por exemplo, começa-se com 20 dias úteis mas, com a bonificação por antiguidade, 24 dias úteis não é nada de extraordinário. E a compensação de 6 dias por férias fora da época é assim coisa tão disparatada? Quantos trabalhadores desejam ter férias quando os filhos estão na escola? E não há muitas empresas que bonificam a assiduidade? E misturar alhos com bugalhos, férias com tolerâncias de ponto, é coisa honesta? São os trabalhadores que decidem sobre as tolerâncias de ponto?

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