30 março, 2007

Tem calma, Zé!

O meu amigo corisco de juventude José Medeiros Ferreira escreveu no Bicho Carpinteiro:
Imagino a azáfama que decorre na RTP entre a Administração (vice-presidentes incluídos) e as direcções de Informação e de Programas para se iniciar um novo período de conteúdos que enalteçam os valores das liberdades públicas, do pluralismo político, da verdade histórica e da tolerância.Ou não se sentem co-responsáveis pelo painel xenófobo colocado na Praça do Marquês de Pombal algumas horas depois de Salazar ter ganho o concurso dos grandes portugueses, assim como da imagem de Portugal que se está criando por esse mundo fora?
Quanto ao cartaz, até fico muito satisfeito se isto for o motivo, finalmente, para a ilegalização, constitucionalmente indiscutível, de um partido retintamente fascista, o PNR. Já quanto à imagem por esse mundo fora de Portugal depois da "eleição" de Salazar, tenho fortes dúvidas. Depois de o mesmo tipo de programa ter escolhido Reagan como o maior americano de sempre (vamos a ver quando é que aparece nas notas de dólar)?

Nota 1 – como te conheço o lado provocador e não és iletrado, começo a pensar que é imagem de marca esse teu hábito de nunca entrares um espaço a seguir ao ponto final de período.

Nota 2 – Ó Zé, aviva-me a memória. O PNR não foi o resultado da "compra" do teu PRD?... Não sentes alguma comichão de bicho carpinteiro, lá no sítio onde nos dão comichão os bichos carpinteiros da nossa ilha?

29 março, 2007

Santa ignorância!

O Público trouxe ontem um trabalho interessante sobre a informação no arquivo da Pide acerca de Miguel Torga. O autor é um jornalista para mim desconhecido, Sérgio C. Andrade. Deve ser de fornada jovem, para cometer um erro clamoroso, em repetição.

O que eu não sabia era da capacidade divinatória de Torga, antecipando acontecimentos vinte anos antes. Logo no início, uma cronobiografia política, entre 1907 (data do nascimento, o que não é elemento de cronobiografia "política", mas adiante) e 1995. O ano de 1947 merece destaque, porque é nesse ano que Torga integra a comissão de auxílio ao dr. Mário Soares, deportado para S. Tomé!

Gralha, pensei eu, não vamos agora levar tudo muito a rigor. Deve ter sido troca de 6 por 4, embora nem isso batesse certo, porque a deportação foi em 1968, não em 1967. No entanto, virando a página e passando ao texto, lá vem outra vez a deportação de Mário Soares para S. Tomé em 1947! E até vêm outros nomes, como Zenha, Cardoso Pires ou Fernando Vale. Dislate total é ainda o jornalista concluir, com isto, que esse apoio de Torga a Soares foi, assim, uma das suas primeiras intervenções políticas. Vai mal, o Público.

P. S. (18:45) - como de costume, é lá no cantinho obscuro que, vejo agora, "o Público errou".

28 março, 2007

Ladrão que rouba a ladrão


Na minha entrada "A crise académica" faltou uma coisa muito importante, a figura, o autocolante que nos identificou. Vai acima, do lado esquerdo. É imagem roubada do Incursões, que, por sua vez, também a roubou não sei a quem. Velhadas de/dos 60, estamos uns aldrabões do caraças! Aldrabões também na evocação das meninas do nosso tempo (toma lá, MCR!)

Mas isto também me faz lembrar outro emblema importante e parecido, o da CDE de 1969, depois adoptado pelo MDP, o que vai acima à direita. Os meus amigos do MDP diziam-me que não tinha nada a ver uma coisa com a outra, mas a relação é evidente, e muito bem. No MDP, a invocação não era o do fazer e reforçar a corda, era a do tronco e das raízes: "não há machado que corte a raiz ao pensamento".

Fará sentido esta discussão? As raízes são as mesmas.

Ganhou Salazar

Ganhou as "eleições", coisa que ele tanto abominava, que ironia! Eu não estava com pachorra para comentar tal parvoíce televisiva, mas surpreendo-me com o destaque que está a ter, nomeadamente no Público de ontem. É um concurso televisivo a que dou tanta importância como àqueles em que foram vencedores um ignoto José Maria que gosta de galinhas e um Castelo Branco que gosta sei lá de quê.

O que me interessa é que, em sondagens cientificamente válidas, o "botas" ficou muito para trás e, muito mais importante, que, em eleições, a extrema direita seja insignificante. Quando muito, poderia dizer é que o português de hoje, rejeitando os extremos anti-democráticos, também não culpabiliza devidamente o salazarismo e já o aceita como um acidente de percurso. A memória é curta e, politicamente, as pessoas querem viver é o dia-a-dia, sem pensar muito no futuro, muito menos no passado. O sistema educativo também não ajuda.

Estou convencido de que a "vitória" se deve a uma máquina bem montada, à mobilização dos telefonemas. Mas sejamos justos e rigorosos. A que se deve o segundo lugar de Cunhal? No entanto, se Cunhal tivesse ganho, eu teria exactamente a mesma reacção que tenho perante a "vitória" de Salazar: Cunhal mais importante na nossa história do que Camões ou D. Afonso Henriques? Mais conhecido no mundo do que os dois únicos portugueses daquela lista que fazem parte dos compêndios de história, "Prince Henry the navigator" (ele que só pôs os pés num convés para ir tomar Ceuta!) e Vasco "de" Gama (sem falar de um outro imenso português, que não figurou na lista, Magalhães/Magellan)? Para mim, ganhar Cunhal teria sido igualmente escandaloso.

Umas notas à margem. Primeiro, um elogio a um homem que, obviamente, não é nada das minhas simpatias, Paulo Portas. Talvez influenciado pela nossa admiração comum pelo príncipe perfeito, achei a sua argumentação muito bem articulada. Segundo, patético, Odete Santos aos gritos a invocar a constituição, coisa demasiadamente respeitável para ser chamada àquele palco. Essa senhora já não se usa, já é questão de bom senso e bom gosto o PCP evitar essa identidade mediática.

Finalmente, a coisa mais importante de todo este concurso televisivo. Milhões de portugueses passaram a conhecer um grande Homem, um Justo, que talvez só poucos milhares conhecessem antes: Aristides de Sousa Mendes, o homem do maior nível da coragem, que é da coragem que temos de ter sozinhos, sem publicidade, sem apoio de outros, sem exércitos, sem partidos, sem aparelhos de poder.

26 março, 2007

A crise académica

Anteontem, 24 de Março, foi devidamente celebrado o aniversário do dia do estudante de 1962, marco da primeira grande agitação académica do fim anunciado do fascismo (se não dermos a devida importância à luta contra o 40900, uns anos antes). Propositadamente, não escrevi nada nesse dia, o seu a seu dono. Nesse dia de há tantos anos, fui soldado raso, não tenho galões que justifiquem participar nas comemorações ao lado de quem as bem merece. Aproveito hoje é para relembrar a fase seguinte da luta associativa, essa sim, minha.

Em 24 de Março de 1962, eu era um calouro de medicina, em Coimbra, com umas vagas leituras filistinas, com a crítica anti-salazarista doméstica, mas em surdina e com muitas recomendações de segredo. Só nesse dia ou no dia seguinte, já não me lembro bem, é que o meu poiso frequente, a república Corsário das Ilhas, passou de sítio de patuscada para lugar de partida, em grupo, para a assembleia magna. Foi isto toda a minha participação na crise de 62. Ir à assembleia, votar o luto académico, cumpri-lo. Nada mais. É meu dever dizer isto, em época em que a memória frágil das testemunhas sessentonas dessa época permitirá louros indevidamente invocados por alguns. Afinal, Portugal não era todo antifascista, legionários incluídos?

Passo para 1964-68, a minha época. Aí sim, invoco pergaminhos de intervenção e responsabilidade no movimento associativo, já em Lisboa. Tende-se a esquecer essa época, 64-68, espartilhada entre a crise de 62 e a de 69, em Coimbra. No entanto, foram anos de extraordinária resistência. Em 62 houve castigos, prisões, expulsões da universidade, mas num período curto. O tempo de que agora estou a falar teve tudo isto, mas diariamente, o que nos impunha, ao movimento associativo, uma resistência muito mais organizada e mantida.

Também o grande golpe que a Pide tinha desferido, ao obter a denúncia de muitos nomes pelo responsável do PCP pelo sector estudantil. Reconstruir o aparelho clandestino, separá-lo rigidamente dos denunciados, e manter viva a actividade associativa deve ter sido trabalho de monta. Nunca soube ao certo a quem se deveu. Alguém sabe ou quer revelar?

Mas, de longe, julgo que a diferença essencial foi a luta contra a guerra colonial. Era questão que não se punha em 1962, mas era o fulcro de toda a luta nesse meu tempo de 64-68. E era coisa com que o fascismo não deixava que se tocasse, mesmo quando dávamos a volta com manifestações contra a guerra do Vietnam. Por isto, era uma época de regras muito rígidas na separação das relações, no entanto obrigatórias, entre estudantes portugueses e estudantes africanos. Acima de tudo, no entanto, valia a solidariedade. Lembro-me de que o meu primeiro envolvimento associativo teve a ver com os protestos com duas vagas de prisões em simultâneo, de portugueses e de africanos. Todos irmãos, ainda hoje. E até me vem à memória que, tendo eu tido a sorte de nunca ser preso, passei todavia por um plenário, como testemunha. Mas testemunha de um africano, meu colega de medicina.

P. S. – E lembram-se do que fizemos nas inundações de 67? De como o povo de Lisboa ouviu falar pela primeira vez do movimento estudantil?

25 março, 2007

Um país bilingue

Isto é leitura minha obrigatória no Público (e creio que consigo perceber tudo). É uma delícia. Não digo isto a gozar, longe de mim, antes com o maior respeito pela diversidade das nossas raízes de identificação nacional. Também as minhas, de ilhéu. Reproduzo, com a devida vénia, e esperando que os meus leitores façam qualquer coisinha para ajudar à preservação deste nosso património. para já, contribuirei, se o público aurtorizar, com a publicação regular desta coluna neste blogue.

Ansino de l mirandés pula anternete

25.03.2007, Amadeu Ferreira

L ansino de l mirandés, nas scuolas públicas, ampeça an 1985 cun Domingos Raposo i dues classes de l ciclo preparatório de Miranda de l Douro i assi se mantubo até al anho 2000. nesta altura, yá apuis la publicaçon de la lei 7/99, de 29 de janeiro, i de l çpacho nº 35/99, de 5 de júlio, de l Menistro de l'Eiducaçon, l ansino de l mirandés stendiu-se a nuobas scuolas i a nuobas classes, grácias als sfuorços de Carlos Ferreira. Apuis de 2003, Duarte Martins bai inda mais loinge i alharga l ansino de l mirandés a todas las scuolas de l cunceilho de Miranda de l Douro i a todas las classes, zde a la pré-purmaira al 12º anho.

Para alhá de las scuolas oufeciales, tamien ténen benido a ser dados cursos de mirandés para adultos, séian eilhes mirandeses ou nó, por Amadeu Ferreira, Carlos Ferreira, Francisco Domingues, Bina Cangueiro i Alfredo Cameirão. todos esses cursos ténen benido a ser dados an çfrentes sítios de l paíç, mantenendo cuntinidade an Lisboua grácias als sfuorços de la Associaçon de Lhéngua Mirandesa. Tamien Domingos Raposo ten dado alguns cursos na Ounibersidade de Trás ls Montes (UTAD). Mas la berdade ye que todos esses cursos chégan a poucas pessonas de cada beç i eisígen un sfuorço mui grande de quien los dá, a las bezes cun fracos resultados.

Zde hai uns meses para acá las cousas ténen demudado muito pus l mirandés strenou-se ne ls cursos pula anternete, çponibles para todo mundo que neilhes querga partecipar. ende ténen sido dadas classes de gramática, classes de fala i outras classes i ténen sido feitos eisercícios, que puoden ser seguidos por qualquiera pessona, an qualquiera parte de l mundo. Bonda ir a http://www.sendim.net. Ye antressante ber cumo ls mais modernos meios de quemunicaçon son tan amportantes pa la lhéngua mirandesa, que assi puode subertir muitas de las sue deficuldades, tanto cula formaçon de porsorers, cumo an fazer salir cuntenidos, ou an chegar a las pessonas antressadas an daprender la lhéngua mirandesa.

Ye mui amportante que se zambuolba l ansino de la lhéngua mirandesa, subretodo cun recurso a meios anformáticos. l mirandés fui subretodo ua lhéngua oural i, agora que ten benido a passar tamien a lhéngua scrita, ye amportante dibulgar la scrita de l mirandés cunsante las regras de la Cumbençon Ourtográfica de la Lhéngua Mirandesa. Nesse sentido serie amportante que se zambolbisse ua campanha de ansino de l mirandés pa las pessonas adultas que yá lo sáben falar. Tamien hai muita giente nuoba que nestes redadeiros binte anhos tubo mirandés na scuola, mas que mal lo daprendiu a screbir: ou porque studou antes de haber la cumbençon, ou porque studou mui pouco tiempo. Ye eiqui que l'anternete puode tener un amportante papel, ponendo las liciones an lhinha an bários sítios i recorrendo als meios mais modernos de ansino a çtáncia. Ye por esse camino que hai que stamos a abançar. Stou cierto que ls resultados eiran aparecendo cul tiempo.

50 anos


Valeu a pena.

24 março, 2007

O caso da licenciatura de Sócrates

Não me sinto confortável ao discutir a polémica sobre o título académico de Sócrates. Em princípio, não é apenas matéria da sua vida privada. Se há suspeitas de irregularidades na descrição curricular de um politico, para mais dirigente de um partido, para muito mais primeiro ministro, é evidente que isto é assunto público e de grande gravidade.

Assim, não posso criticar o Público pelo destaque que deu ao seu trabalho de investigação jornalística. No entanto, faço dois reparos. A oportunidade parece-me muito infeliz, tão em cima do conflito entre o proprietário do público e o governo, acerca da OPA sobre a PT. Não estou a fazer processos de intenções, apenas a lembrar de que à mulher de César não basta ser séria. O segundo reparo, bem mais importante, é que a "investigação" me parece não ter adiantado nada. É um trabalho atabalhoado, com "conclusões" confusas. O jornal não devia ter publicado nada antes de maior aprofundamento do trabalho. Tudo o que aparece são algumas dúvidas processuais e formais (questões de carimbos, de papel timbrado, pouco mais) que nem de longe permitem interrogarmo-nos sobre se Sócrates é ou não licenciado.

No entanto, talvez politicamente mais significativo seja outro aspecto: porque quis Sócrates licenciar-se? Claro que é assunto seu, que pode ter tido as razões habituais, nomeadamente a de se valorizar culturalmente. Uma parece que não, talvez a mais comum de todas: a de exercer a profissão de engenheiro. Não se tratará aqui fundamentalmente de uma simples questão de título? Mal vai um sistema politico em que isto conte, mas sabemos que, entre nós, conta. Temos uma honrosa excepção, um politico que um alto cargo e que não procura esconder que não é licenciado (aliás, seria estupidez), Carlos César.

P. S. (15.159 )- acabo de ler qeu a UnI vai fzer um inquérito a tudo isto. Estranho! Com todo o trabalho que vão ter a rsponder à PJ, à PGR, ao MCTES, vão ter tempo e pesoal disponível para esse tal inquérito?

23 março, 2007

Passa-se na União Europeia?

Devo confessar que sempre tive alguma reserva a um alargamento brusco da União Europeia aos países anteriormente pertencentes ao bloco de influência soviética. Embora não seja um analista politico competente para um estudo sério da evolução desses países, há coisas perturbadoras. Já não falo da própria Rússia, do poder pessoal do presidente, da corrupção, das fortunas "milagrosas", mas creio que há também um pouco disto nos outros países.

Uma diferença notória é que, em alguns deles, a democratização teve raízes fundas em elites bem preparadas, que viveram ou herdaram o espírito das tentativas revolucionárias, Budapeste, Praga, Gdansk.

Ora é na Polónia, o único destes países que, ainda antes do colapso soviético conseguiu impor um vislumbre de democratização, que aparece agora o mais primário populismo, por mão dos gémeos Kaczynski e, mais directamente, do seu ministro da Educação. Há tempos, foi a tentativa para introduzir o criacionismo nos programas escolares. Agora é outra ideia tenebrosa, a da expulsão do ensino de professores que assumam a sua homossexualidade (note-se que, à boa maneira hipócrita de gente deste tipo, o problema é assumir).

Que direito terá a Europa, com coisas destas, para criticar outros fundamentalismos religiosos? Lembremos também que, há uns anos, a Áustria sofreu grandes pressões por haver ministros de extrema direita no seu governo. A Polónia também está a ser pressionada ou estes novos membros são coqueluches intocáveis?

22 março, 2007

Inacreditável!

Aonde já chegou o relativismo (ou será a cobardia perante as ameaças fundamentalistas?)! Transcrevo do sítio do Público, depois de ouvir na TSF:
Juíza alemã cita Corão para rejeitar divórcio de mulher agredida pelo marido

Uma juíza alemã negou o divórcio imediato a uma mulher de origem marroquina vítima de violência doméstica por considerar que o Corão não proíbe esse tipo de prática, passando por cima da legislação do seu país. A revelação do caso está a gerar uma onda de indignação no país que já levou ao afastamento da juíza do processo.
Notícia completa: ler.

21 março, 2007

O tempo das cerejas

Com algumas discordâncias, é natural, mas com reconhecimento da sua posição íntegra de esquerda, sempre gostei de ler Vítor Dias, quando tinha uma coluna no Público. Por mais de uma vez chamei aqui a atenção para escritos seus. Têm-me faltado, passo agora a tê-los, novamente. Numa época em que cada vez mais a diversidade enriquecedora é um desafio ao pensamento (e à acção) de esquerda, não é demais o seu novo blogue, "O tempo das cerejas".

Como ele, como os "communards", como Yves Montand da nossa comum juventude, "J'aimerai toujours le temps des cerises", apesar de "mais il est bien court, le temps des cerises".

Liturgia

Muitos católicos andam alvoroçados com o retrocesso litúrgico proposto por Bento XVI no seu documento "Sacramentum caritatis": maior uso do latim e do canto gregoriano. Que me perdoem o tom algo jocoso desta nota, mas desta vez estou de acordo com o papa. Se alguma coisa atrasou, na adolescência incipiente, a minha rotura com a religião foi a minha paixão pelas artes do espectáculo. E há coisa mais operática do que uma missa solene?

Para mim, há, ou talvez melhor, havia, a longa noite litúrgica do Sábado de Aleluia. Nunca mais me posso esquecer da soturnidade da igreja toda panejada de negro, a iluminação escassa, os paramentos muito simples, a cuidadosa encenação da "preparação", isto é, as bênçãos da água, do óleo e do círio, os baptismos e, acima de tudo, a interminável ladainha de todos os santos. Já pensaram como é difícil compor uma peça musical em que a seguir a uma frase vem sempre uma mil vezes repetida, "ooora pro noooobis"? A quem a ouviu, pergunto se conseguem esquecê-la.

A seguir, aproximando-se a meia noite, o sinal da mudança de acto. Ainda no mesmo ambiente, com a mesma iluminação, mas a entrada dos celebrantes já paramentados, em contraste, de branco e ouro. Então, o clímax, musical e espectacular. Musical, na simples mas bela entoação de "gloria in excelsis Deo". Cenográfico, no explodir das campainhas, dos sinos ao fundo, das luzes bruscamente acesas, dos cortinados cerrados, entre os quais o do altar mor, agora todo cheio de velas previamente acesas e escondidas pelo panejamento fúnebre.

Amigos católicos, claro que compreendo o valor que dão à modernidade da liturgia, mas deixem-me a mim incréu este gosto pelo espectáculo.

20 março, 2007

CDS/PP


Conselho Nacional, exemplo de boa educação, com regras do tipo "um beirão não bate em mullheres" (só bate em quem?). Fatinhos às riscas, como se isto bastasse para se ser gentleman. Mas, em todo o caso, gente fina é outra coisa!

(Imagem: http://clear.msu.edu/dennie/ clipart/fight.gif)

19 março, 2007

Dia do pai

O meu benjamim ofereceu-me hoje uma coisa de que gostei muito, os dois CD de "Lopes Graça e os poetas" (edição da Câmara Municipal de Lisboa, Elsa Saque e Nuno Vieira de Almeida). Só é pena que não inclua as Heróicas, que tanto valor simbólico têm para a minha geração, "Vozes ao alto, unidos com'os dedos da mão!" Não as consigo encontrar à venda. Alguém sabe?

O drama e a farsa

Li no Público uma pequena nota, que transcrevo, com a devida vénia.
Guiné-Bissau: Traficantes bem instalados
Os traficantes de cocaína estabeleceram uma base de operações na Guiné-Bissau, onde colombianos criaram empresas fictícias, se deslocam em carros luxuosos e compram a protecção de pessoas bem instaladas, escreveu o Los Angeles Times. "Todas as instituições guineenses se desmoronaram. Não há controlo de fronteiras nem laboratórios da polícia", alegou Koli Kouame, da Costa do Marfim, secretário da agência da ONU para o controlo de narcóticos. Em Setembro um elemento da polícia que interceptou dois colombianos a descarregar cocaína teria sido eliminado.
Estas coisas doem à gente da minha geração, que lutou na juventude sempre de braço dado com os companheiros da luta anticolonial, que venerou os heróis dessa luta, com destaque para Amílcar Cabral. Também dói ler hoje um romance, aliás excelente, como o "Predadores", de Pepetela. Também dói assistir ao que se passa em Timor Leste, embora Timor não faça parte da minha memória de luta dos anos 60.

Marx disse que, quando a história se repete, primeiro é como drama, depois como farsa. Estou inclinado a pensar que não é preciso repetição, que o drama se transforma inevitavelmente em farsa, na simples continuação.

18 março, 2007

Escandaloso!

Jorge Neto é deputado, do PSD. Jorge Neto teve uma violenta discussão na Comissão Parlamentar de Orçamento e Finanças com o presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, acusando-o de parcialidade e de favorecimento da Sonaecom na OPA sobre a PT. Jorge Neto nem sequer é membro daquela comissão parlamentar.

Jorge Neto é presidente da Associação dos Accionistas Minoritários da PT. Jorge Neto esteve na assembleia geral da PT e votou contra a desblindagem. No entanto, Jorge Neto não participou em representação da associação de que é presidente, defendendo os interesses dos seus consócios, mas sim como representante de um grande accionista.

Mas agora a AR já serve para discussões de matérias do interesse pessoal dos deputados? Não há uma comissão de ética? E o presidente da comissão autorizou? E os outros deputados pactuaram? Não é de estranhar, ética é que coisa que se vai tornando produto raro e de luxo, principalmente a ética republicana.

17 março, 2007

O sucesso dos emigrantes

Acabei de ouvir uma notícia que me surpreendeu. Há em França cerca de 48.000 empresas criadas por portugueses, geralmente de segunda geração. Quase todas são saudáveis e prósperas, embora, na maioria, PMEs. Fico espantadamente feliz, como português. Mas o português só dá o melhor quando sai da parvónia?

Do plágio à incompetência

Depois do caso vergonhoso de plágio em que esteve envolvida recentemente a jornalista Clara Barata, do Público, pensei que nunca mais ouviria falar dela. Enganei-me, li-a ontem e a dizer asneira.

Título bombástico. "Em busca de alienígenas no Pólo Sul". Parece que poderão ser encontrados microorganismos muito estranhos nos lagos líquidos que se preservam, na Antártida, sob espessas camadas de gelo. Afinal, nada de muito estranho. Também há bactérias que vivem deliciadas na água a ferver dos ambientes vulcânicos, como os das caldeiras das Furnas. São a classe de microorganismos a que chamamos extremófilos, os que gostam de condições extremas.

Mas o que é que isto tem a ver, directamente, com alienígenas? Nada, excepto na compreensão deficiente da jornalista em relação ao que lhe disse o investigador Sabit Abyzov. Apenas uma vaga ideia, por analogia, do que poderiam ser eventuais formas de vida em planetas como Europa e Ganimedes, satélites de Júpiter, que se suspeita que também tenham grandes lagos cobertos por espessas camadas de gelo.

16 março, 2007

A não perder

O meu prezado colega Carlos Fiolhais enviou-me uma mensagem a alertar-me para o seu novo blogue colectivo, "DE RERUM NATURA", como se fosse possível que eu ainda não o conhecesse. Não é o primeiro blogue de divulgação científica. Por exemplo, sem menosprezo para outros, nunca falho visita ao "Conta natura". Parece-me é que o De Rerum Natura promete ser mais abrangente.

Adivinho também que a intenção não é de mera divulgação científica. O que li até agora é mais ambicioso, é a transmissão de uma visão de mentalidade e cultura científicas e de racionalismo. E aqui fica um excerto da minha resposta ao Carlos Fiolhais.
"Claro que já conhecia. Os meus parabéns. O RSS já está na lista da minha consulta diária obrigatória.
Já agora, acho que o Camões também segue bem Lucrécio. "Vejam agora os sábios na escritura / Que segredos são estes de Natura" (Lus., V, XXII). Acho que era citação que merecia destaque permanente no vosso blogue, como tantas outras do pincípio do extraordinário canto V. Ou alguma de Duarte Pacheco Pereira (atenção, não me enganei, ainda não estou senil, é mesmo Duarte, não José!)".
Os melhores votos de sucesso para o blogue.

Religiosidade popular sentida por um incréu


Quem for agora a S. Miguel, na Quaresma, encontra isto, na volta da estrada, os ranchos de romeiros. Não creio que haja, em qualquer outra parte do pais, tão profunda manifestação de religiosidade popular, num misto complicado de orgulho de povoador e de humildade perante os mistérios da terra vulcânica. Tenho na minha página pessoal um texto sobre os romeiros, acompanhado por um da minha mãe, escrito na juventude dos seus 89 anos finais. Não por vaidade pessoal, mas por orgulho açoriano, de quem ainda o ano passado não resistiu a uma lágrima ao acompanhar brevemente um rancho de romeiros, peço a vossa leitura. É escrita de incréu, mas quem melhor do que um incréu sabe valorizar a dimensão religiosa do seu povo?

O Correio dos Açores, jornal importante de Ponta Delgada, deu-me este ano um grande prazer, publicando em quarta feira de cinzas, primeiro dia da Quaresma, este texto da minha mãe, com que ela certamente ganharia, como todos os anos, o prémio da Casa do Comércio do Porto (já quase que a proibiam de concorrer...).

Fotografia de António Câmara (Tabico)

14 março, 2007

Quem engana quem?

Em artigo de opinião no último Expresso, "Quem enganou quem?", Gentil Martins vem acusar, com abundantes "provas" estatísticas, os que negam ou, pelo menos, não têm dados cientificamente convincentes a favor de um aumento do número de abortos após as aprovações de leis como agora a nossa. Isto raia ou o delírio ou a desonestidade intelectual. Como comparar um antes e um depois completamente diferentes?

Vamos a um exemplo muito simples. Quantos viciados em heroína há em Portugal? Alguém sabe? Uma coisa sabe-se, o número dos que estão presos por consequências alterais ou dos que, infelizmente muito poucos, recorrem à reabilitação. Número total, x. Imagine-se agora que se aprova a lei das "salas de chuto". Quantos y seriam então recenseados? Quantas vezes y seria maior do que x?

Não é difícil ser-se minimamente inteligente e os leitores dos jornais estão, em geral, acima desse mínimo. Por minimamente, entendo, utilmente e a pensar nos leitores, o nível que faça pensar a tais gentis senhores que não lucram nada em tentar enganar os outros.

12 março, 2007

Julgamento público

O inefável major da bola não acredita nos tribunais e diz que quer ser julgado publicamente, nos media, mas com juízes, advogados, tudo o mais. Já agora, porque não no circo? E em que condições de contrato com a TVI ou quejandos, quanto ao seu controlo sobre a tomada de planos, o volume de som, a iluminação, etc? Entre a demagogia e o delírio vai por vezes uma curta distância.

Isto provoca-me uma reflexão. Se eu andar aí pela rua a dar pontapés em toda a gente que veja, é certo que vou preso. Mas um pontapé nas canelas é mais grave do que um pontapé na mente?

11 março, 2007

Ainda o Público

Desde a recente remodelação do Público que me tenho interrogado sobre a publicação diária de uma grande fotografia de duas páginas, as do meio do caderno principal. É certo que têm sido fotografias em que se merece reparar, pelo tema ou pela qualidade artística, ms não será desperdício de papel, diz-se que um dos factores importantes do custo de um jornal?

Ontem percebi e confirmei hoje. Habituados os leitores a olharem para aquelas páginas, passaram agora a encontrar lá é publicidade. Não será que a remodelação do Público foi um tiro no pé?

A PIDE não torturava

No Público de ontem.
A lei sobre o tratamento de presumíveis terroristas, aprovada no outono passado nos EUA, reitera a condenação da tortura, mas permite ao presidente determinar quais os métodos de interrogatório compatíveis com as convenções de Genebra. Essa lei apoia-se num memorando do Departamento de Justiça dos EUA, de 2004, que cita a convenção das Nações Unidas contra a tortura para dizer que práticas como a privação do sono, de comida ou de bebida, e sujeição dos prisioneiros a barulhos excessivamente altos ou a manterem-se em posições e ambientes desconfortáveis muito tempo podem ser comportamentos desumanos, mas não tortura. Só pode ser tortura, recorda o jornal The New York Times, se esse tratamento resultar "em danos mentais prolongados".
Pides, estão absolvidos! A vossa especialidade era a tortura do sono e a estátua, apenas comportamentos desumanos. As vossas vítimas vão ter de pensar que afinal não foram torturadas, porque, felizmente e porque tinham "estaleca", não sofreram danos mentais prolongados. Às vezes, apetece-me escrever um grande palavrão!

10 março, 2007

Denúncias anónimas

A presidente da Câmara de Salvaterra de Magos, eleita pelo BE, está a ser alvo de inquérito da Judiciária, devido a uma denúncia anónima. A este propósito, Francisco Louçã afirmou que "se há uma denúncia anónima, o que a Policia Judiciária tem de fazer é investigar".

Confesso o meu incómodo. Fui educado, como muita gente, na regra de que carta anónima é lixo e só pode ter o lixo como destino. Também fui alvo de uma denúncia anónima, até nem tão anónima como isso, para quem conhecia o meio. O resultado foi um inquérito da Inspecção Geral de Finanças, que me indignou, não obstante a extraordinária correcção dos inspectores. Fez-me perder tempo precioso da minha actividade de dirigente. No fim, interroguei-me, sem resposta definitiva: não teria sido melhor esse inquérito, que me ilibou totalmente, do que uma acção murmurante de calúnia corrosiva?

E não será que muita coisa ficaria impune, a alimentar o clima geral de corrupção, se não se tentasse averiguar da possível consistência das denúncias anónimas? Ficam-me ainda duas perguntas. Não há forma prática menos ostensiva de apurar isso? E qual a percentagem das denúncias caluniosas que se demonstram consistentes?

09 março, 2007

Celebridade efémera

Já tenho surprendido alguns amigos ou conhecidos com mensagens inesperadas de parabéns nos seus aniversários. Isto vem de uma pequena mania minha, a de ler no Público a pequena secção "Hoje fazem anos". Hoje, fiquei a pensar sobre a efemeridade. Fazem anos Ornella Muti, Irene Papas e Bobby Fisher, pessoas que disseram muito à minha geração. E a geração seguinte à minha, faz ideia de quem eles são?

Simplex?

O Público de 2.3.2007 traz cinco páginas surrealistas, ocupadas com 40 anúncios, praticamente iguais. A Direcção Regional de Lisboa e Vale do Tejo do Ministério da Economia e da Inovação (Inovação?...) faz público que uma batelada de projectos de linhas eléctricas aéreas, anunciados um a um, anúncio a anúncio, oitavo de página, estão patentes nas secretarias dos municípios, para reclamação.

E eu a julgar que havia uma coisa chamada internet! Viva o Simplex! E aqui vai uma aspirina virtual para Maria Manuel Leitão Marques.

07 março, 2007

Os tambores da guerra

Já soam, bem audíveis, em relação ao Irão. Condoleezza Rice, diz que não, é o seu papel de "polícia bom". Mas os patrões, Bush e Cheney, esclarecem direitinho que nenhuma hipótese está fora da mesa. A bom entendedor...

Desde a grande convulsão do sistema internacional soviético, implosiva, que me interrogo se ainda não vamos ter saudades do sistema bipolar. Hoje vivemos numa ordem internacional unilateral, tanto mais perigosa quanto pode estar nas mãos de mentecaptos. O sistema anterior tinha o aspecto horroroso da guerra fria, da ameaça da catástrofe nuclear. Mas quem é que acreditava que isso fosse possível, de facto, a não ser na ficção do "Dr. Strangelove"?

Mas, nessa época, alguma vez teria sido possível a estupidez da guerra do Iraque? (À margem, quando é que o governo dá o sinal político, simbólico mas muito importante, de retirar imediatamente a GNR do Iraque? Zapatero, dá lá umas liçõezinhas ao Sócrates!).

Podem acusar-me de cinismo. É verdade que considerar historicamente negativo o desaparecimento do equilíbrio de forças (afinal, tudo é "checks and balances") significa aceitar que ainda milhões de pessoas continuassem subordinados aos regimes de tipo soviético, perversão de um verdadeiro mundo novo sonhado por tantos génios da humanidade, nos últimos dois séculos.

Finalmente, a declaração de interesses. Este texto não é a malvada América contra o bom Irão. Tenho enorme admiração por tanto de excelente que tem a América e os americanos, entre os quais conto dos maiores amigos. Sempre vi com muita reserva a revolução iraniana, cada vez mais detestando a sua essência teocrática. E quanto ao seu inefável presidente actual, só não digo que os iranianos têm o que merecem porque sei o que me desgostava ouvir tal coisa em relação a nós, até ao 25 de Abril.

04 março, 2007

Em defesa do rigor científico

Saio em defesa da honra da minha dama, a ciência. Segundo o Público de 24.2.2007, o ministro da Agricultura admite, e bem, que ainda possa a aparecer em Portugal um ou outro caso de nova variante da doença de Creutzfeld-Jakob, a variante causada por transmissão da BSE ao homem. Mas diz tolice, e perigosa, ao afirmar que esse provável baixo número contradiz o alarmismo dos cientistas.

Começo por salientar a contradição de termos: se há alarmismo, só pode vir de pseudo-cientistas. Ciência e alarmismo são incompatíveis. Segui muito bem a literatura científica sobre este asunto. O que se passou foi que a modelação não dispunha de alguns parâmetros epidemiológicos essenciais. Por isto, os resultados sempre foram "entre algumas dezenas e alguns milhares".

Isto pode parecer estranho e perguntarão, o que adianta tal previsão tão imprecisa? Adianta muito, retira aos políticos a possibilidade de, com honestidade, garantirem que serão só algumas dezenas. Hoje, tudo indica que sim. Bem bom, mas sem se esquecer que, não fora o "alarmismo" dos milhares, não teriam sido tomadas as medidas que muito devem ter contribuído para, afinal, serem só dezenas.

03 março, 2007

Amigo de Peniche

Carlos César, presidente do Governo Regional dos Açores, tem um excelente amigo no seu correligionário Jacinto Serrão, líder do PS madeirense. Em entrevista ao Expresso de hoje, JS manifesta simpatia por um estudo de Augusto Mateus que, visando a optimização das negociações com a UE, dependentes do PIB regional, advogava a fusão das duas regiões insulares.

Fui logo fazer umas contas elementares, com base em resultados eleitorais. Inevitavelmente, os Açores passariam a ser governados pelo inefável Alberto João. Salvo seja! Do mal o menos, antes o mais civilizado Mota Amaral.

E o que me gozariam os meus amigos madeirenses, a quem eu passo a vida, pérfida mas afectuosamente, a chateá-los com o seu rei das bananas?

E não se ficam... (II)

Logo a seguir ao referendo, escrevi aqui:
"A intolerância, com alguma dose de fanatismo, acompanha-se muitas vezes da incapacidade de reconhecer uma derrota. Em linguagem futebolística, tentam sempre ganhar na secretaria o que perderam no campo. Enganavam-se os que pensaram que os movimentos do "não" iriam ficar tranquilamente resignados, democraticamente, com a sua derrota. Já começou a guerra do aconselhamento."
Agora, o gato com o rabo de fora até deixou de estar escondido, conforme notícia do Público, de 2.3.2007:
"O grupo parlamentar do PSD mandatou ontem o seu presidente e este não perdeu tempo: Marques Guedes apresenta já hoje as propostas de alteração ao projecto de lei do aborto. subscritas pela "generalidade dos deputados" sociais-democratas. Com uma preocupação essencial: garantir que o aconselhamento das mulheres que pretendem abortar seja obrigatório e dissuasor."
É espantoso. Dissuasor?! Ganhou o sim a uma pergunta que incluía a expressão "por opção da mulher". Afinal, isto queria dizer "por opção irredutível e lamentável de uma mulher teimosa, sem respeito pela vida, que, mesmo depois de dissuadida num aconselhamento isento, continuou na sua".

01 março, 2007

Há coisas que já não se usam


Coisas de mau gosto, que já não se usam. Deixar crescer a unha do dedo mindinho, muito menos para tirar cera dos ouvidos, usar peugas brancas com fato escuro, exigir jaquinzinhos fritos com molho de natas, falar na "minha esposa", dizer "o glorioso", também, já agora, andar sempre a dizer "prontos", viajar 300 Km para ir buscar ao compadre um azeite óptimo de 10º, andar sempre a falar em tomates, sem ser agricultor, ter no banco traseiro do carro a almofada bordada pela sogra, ir de fato de treino roxo com barras fosforescentes passear ao shopping, com a mulher com casaco de gola de pele artificial, etc., etc.

Também, no outro lado da escala pirosa, tratar os filhos por você, usar madeixas, vestir blazer com calças vermelhas, tratar por tio o amigo do pai, achar que Sand's é muito melhor do que champanhe bruto, dizer palavrões no "green" do golfe, ostentar com a camisa bem decotada um bruto cordão de ouro, e, claro, ler a Caras ou, pior ainda, suspirar por aparecer na Caras.

Mas também já não se usa um político com esta imagem, que a muitos deve lembrar o terrível professor primários dos velhos tempos e as suas reguadas (nanja eu, que felizmente tive por professor a jóia do Sr. Barbosa). Nem sabem como eu sou empático com o sofrimento de um bom número de excelentes amigos madeirenses.