21 março, 2007

Liturgia

Muitos católicos andam alvoroçados com o retrocesso litúrgico proposto por Bento XVI no seu documento "Sacramentum caritatis": maior uso do latim e do canto gregoriano. Que me perdoem o tom algo jocoso desta nota, mas desta vez estou de acordo com o papa. Se alguma coisa atrasou, na adolescência incipiente, a minha rotura com a religião foi a minha paixão pelas artes do espectáculo. E há coisa mais operática do que uma missa solene?

Para mim, há, ou talvez melhor, havia, a longa noite litúrgica do Sábado de Aleluia. Nunca mais me posso esquecer da soturnidade da igreja toda panejada de negro, a iluminação escassa, os paramentos muito simples, a cuidadosa encenação da "preparação", isto é, as bênçãos da água, do óleo e do círio, os baptismos e, acima de tudo, a interminável ladainha de todos os santos. Já pensaram como é difícil compor uma peça musical em que a seguir a uma frase vem sempre uma mil vezes repetida, "ooora pro noooobis"? A quem a ouviu, pergunto se conseguem esquecê-la.

A seguir, aproximando-se a meia noite, o sinal da mudança de acto. Ainda no mesmo ambiente, com a mesma iluminação, mas a entrada dos celebrantes já paramentados, em contraste, de branco e ouro. Então, o clímax, musical e espectacular. Musical, na simples mas bela entoação de "gloria in excelsis Deo". Cenográfico, no explodir das campainhas, dos sinos ao fundo, das luzes bruscamente acesas, dos cortinados cerrados, entre os quais o do altar mor, agora todo cheio de velas previamente acesas e escondidas pelo panejamento fúnebre.

Amigos católicos, claro que compreendo o valor que dão à modernidade da liturgia, mas deixem-me a mim incréu este gosto pelo espectáculo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Só para desabafar ... quem deu cabo da Igreja foram os Leigos!

Se é preciso agora o regresso do Latim ... venha ele ... quanto ao cântico .. vai fazer demorar mais a missinha!

Um abraço.