Surpreende-se a subvalorização dada à destruição de uma plantação de milho transgénico, em Silves, por um novo grupo ecologista de que nunca tinha ouvido falar, Verde Eufémia. A meu ver, foi um acto gravíssimo, altamente lesivo da credibilidade do movimento ecologista português, em geral. Sempre tive estima pelos movimentos e partidos ecologistas, como contrapoder. É importante salientar isto, porque, quando chegam a poder, como na Alemanha, ou quando grupos estabelecem relações estreitas com a o poder, até em contratos chorudos, tudo se perde de meritório. Desmarco-me também no aspecto de ser simpatizante, sem dúvidas, do ecologismo, mas dar muito mais importância à ecologia humana do que à do gafanhoto.
O que se passou em Silves não é uma acção legítima de protesto, m uito menos uma daquelas que, no quadro lega, os ambientalistas souberam frequentemente inventar, com graça e, daí, impacto mediático. Tratou-se da destruição de um hectare de propriedade de um agricultor, talvez seriamente prejudicado economicamente. tratou-se de vandalismo. Tratou-se de crime, para todos os efeitos. Tratou-se, vou mais longe, de uma espécie de terrorismo.
Isto suscita-me duas notas marginais. Em primeiro lugar, a questão dos transgénicos. Sinto-me autorizado a discutir, não só pela minha experiência científica mas, mais precisamente, porque foi assunto que muito tive de estudar, como membro de uma comissão oficial. Conheço muito bem toda a lista de imaginados ou potenciais riscos, em geral com probabilidade negligível. Nunca qualquer das variedades patenteadas me suscitou preocupações em relação a esses riscos.
Em contrapartida, as vantagens são enormes. Neste caso do milho, trata-se principalmente da introdução de um gene insecticida, portanto com um objectivo principalmente económico. Mas este objectivo não é crucial, por exemplo, nos países subdesenvolvidos da cultura do milho? E alguém irá contra uma banana transgénica que vacine contra a cólera ou os rotavírus milhões de crianças africanas que hoje morrem de diarreias infantis (não estou a fantasiar, está na forja)? Ver no jornal de ontem a fotografia de um cartaz em Silves a dizer “Fora milho doente no Algarve” ou ler que os organizadores diziam estar a lutar contra “um foco de milho tóxico” é para mim a prova de que esta gente, na sua irracionalidade e ignorância, é tão respeitável como qualquer outro fundamentalista fanático.
Maior responsabilidade tem o eurodeputado Miguel Portas, também dirigente do Bloco de Esquerda. Não me digno discutir o que escreveu no seu blogue Sem Muros. Estes manos Portas têm mesmo de ser crianças espevitadas e traquinas durante toda a vida?
Finalmente, a inadmissível atitude da GNR, incapaz de defender, ao menos, a propriedade de um cidadão. Sem comentários.
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2 comentários:
Olá! Gosto muito do teu blog. Venho aqui frequentemente. Acho que ficaste chateado com o que se passou que, tens razão, é crime e os que o cometeram devem ser julgados por isso.
Eu trabalho em Ecologia e não sei o que as pessoas querem dizer por "ecologia do gafanhoto" e "ecologia humana". Eu acho que as pessoas em geral conhecem pouco a ecologia como ciência e depois dizem coisas um bocadinho disparatadas.
Quanto aos trangénicos, o problema é que os países do terceiro mundo ficam para sempre dependentes dos produtores dessas sementes que, em regra, são multinacionais. Não é própriamente a ajuda que eles precisam. Até porque se não se desenvolverem projectos a nível local de gestão de recursos hídricos, os trangénicos não vão fazer nada.
Mas, mais uma vez, isso não desculpa grupos fanáticos como esse que acabou com as culturas do pobre agricultor algarvio...
Beijinhos!
Carla
informe-se. o caso dos trangénicos está a ser julgado como terrorismo, sendo por isso segredo judicial...
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