Costumo, por interesse e dever de ofício, ler com alguma atenção as ofertas de emprego de alguns jornais. Anteontem, no Público, surgiram duas que comprovaram que entrámos definitivamente na silly season. Na página 30 o Governo Regional dos Açores dava conta da abertura de um concurso para 24 bolseiros de pós-doutoramento. O anúncio era de dimensões modestas, mas seguramente de tamanho suficiente para atrair os interessados.
Na página 20 o caso mudava de figura. O Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), ocupando perto de um terço de uma página (!!), dava conta da abertura de um concurso, em regime de contrato individual de trabalho a termo certo, para um serralheiro…O cargo em causa deve ser de extrema importância para ocupar um tão grande anúncio. Vejamos o perfil que o ISEL pretende:
Escolaridade obrigatória e os seguintes requisitos profissionais: saber interpretar desenhos e outras especificações técnicas; utilizar adequadamente os instrumentos de medida; saber como manter e conservar os equipamentos; construir estruturas metálicas ligeiras; construir peças defeituosas (sic); cortar chapa de aço macio, cortar perfilados e tubos; furar e escariar os furos para parafusos e rebites, executar a ligação de elementos metálicos por meios mecânicos ou soldadura; conhecer as regras de higiene e segurança no trabalho.
O que sei sobre serralharia é equivalente aos meus conhecimentos de sânscrito. Mas tenho alguma dificuldade em perceber a razão pela qual se exige a construção de peças defeituosas. E a minha perplexidade cresce quando leio que o método de selecção de figura tão importante para o ISEL será a entrevista…Nem uma soldadura, muito menos realizar um rebite ou, prova prática de suprema dificuldade, construir uma peça defeituosa. Não! Nada disso. Uma entrevista chega e sobra para avaliar os candidatos na difícil arte da serralharia mecânica.
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