29 outubro, 2006

Notas soltas

1. Há uma coisa que ainda não percebi, certamente por minha incapacidade, na questão do défice tarifário da electricidade. Quer dizer que a electricidade distribuída custa mais do que as receitas obtidas junto dos consumidores? Isto faz-me lembrar a velha questão dos seguros do ramo automóvel, que parece darem prejuízo, sem que as companhias vão à falência, porque outros ramos compensam. O que me interessa é o resultado global da empresa.

Fui ver as contas da EDP de 2005. O resultado líquido foi de 1071 milhões de euros (ME), o que representa 11% do volume de negócios. Em relação a 2004, o resultado do exercício aumentou 243% e, extrapolando a última situação de 2006, o resultado será inferior em 30% ao de 2005, mas ainda assim uns confortáveis 750 ME. Não sei muito de contas, mas apesar de tudo o suficiente para pedir melhor esclarecimento sobre esse aumento das tarifas.

2. Tem estado em foco o desmentido das promessas eleitorais. Não sou tão ingénuo que pense que todas as promessas eleitorais são apresentadas como compromisso de honra e que o seu não cumprimento é batota política, como disse o candidato derrotado. Qual é o partido excepção? Mas talvez seja suficientemente ingénuo para pensar que há aqui outro aspecto a considerar: com que consistência técnica e política se fazem as promessas, eventualmente bem intencionadas? Mas pode-se deixar de fazer promessas eleitorais?

Não creio que seja tudo desonestidade eleitoralista. Os partidos, mesmo os mais credíveis, estão desprovidos de bons gabinetes de estudo e não temos a tradição do governo-sombra. Enquanto estão na oposição, habituam-se a usar superficialmente dados técnicos para fazer oposição. Só ao chegarem ao governo e ao estudo a sério dos dossiês é que vêem o que é a realidade. Independentemente de quem é governo e de quem é oposição, em cada momento, acho que "oposição, precisa-se".

3. Li há dias – infelizmente não consigo indicar a referência – a notícia da criação de um novo partido, algures na Europa (Holanda?): o partido da net. Não tem um programa apriorístico. Ele é feito por compilação de propostas, cada uma delas resultante da votação maioritária na internet. Pode parecer coisa engraçada, mas dá que pensar, como perversão da política. Queira-se ou não, ainda há ideologias, mesmo que hoje as identifiquemos com um corpo difuso de valores e propostas, difuso mas coerente.

Transformar um programa partidário – ou, mais no concreto, um programa eleitoral – numa amálgama de opiniões soltas expressas na net (com que controlo?) é um dos exemplos do que me começa a atemorizar em relação a coisa tão magnífica como é a internet. Junte-se os blogues anónimos caluniadores, o jogo duplo de jornalistas-bloguistas, a desinformação rude de muitos artigos da wikipédia, a violação da privacidade pelo maremoto do "spam", os riscos do "phishing", e há razões para se pensar que nem tudo é a maravilha prometida ou adivinhável.

4. O Público traz hoje uma crónica de Francisco Teixeira da Mota sobre possíveis riscos do cartão único. Fez-me lembrar que, muitas vezes, uma simples e boa mudança é encravada por um projecto de grande mudança. Urgente, para mim, era mudar o formato do BI, tal como se fez com a carta de condução. Preciso da velha carteira para o guardar, quando todos os meus cartões vão para o porta-moedas, no formato hoje usual, 8,5x5,5. Para quê, no BI, a filiação e a naturalidade? E a impressão digital, como é que, na prática, é comparada com a minha?

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