28 outubro, 2006

De um ignorante em economia

Vivemos numa certa chantagem de que os indivíduos é que devem pagar a crise, porque as empresas são sagradas, são a fonte da riqueza colectiva. Não engulo isto bem, mas não tenho a base de conhecimentos que exijo sempre a mim próprio antes de opinar. Por isto, escrevi a um amigo, economista reputado.
Vou-te fazer um desafio. A propósito do anúncio do aumento das tarifas da electricidade, mas muito mais comedido para as empresas, logo veio o argumento da competitividade nacional. Tenho pensado nisto, mas não tenho estofo de economia para escrever.

As empresas, sem discriminação, são beneficiadas com pequena carga fiscal de IRC e têm benefícios e subsídios. As pessoas estão cada vez mais sujeitas a avaliação, as empresas não, recebem por igual. Todas parecem contribuir igualmente para a tal competitividade.

A economia empresarial tem um retorno público, em termos de riqueza nacional, mas um importante retorno privado. Como equilibrar, em termos de justiça social?

E, em termos de riqueza nacional, não seria mais eficaz deixar cair as arcaicas e ocupar o espaço de mercado com as inovadoras e maiores criadoras de riqueza?

Mas uma empresa também são pessoas. A falência das que sobrecarregam o orçamento de todos nós tem os custos dos despedimentos. O que será do Vale do Ave e dos têxteis?

Isto sugere-te alguma escrita? Talvez não me tenha feito perceber, pergunta.
Respondeu-me:
Meu caro, tu acabaste de descrever o processo "the criative destruction" do Joseph Schumpeter. Na verdade o problema é sempre o mesmo: as pessoas. Voltarei.
Confesso que isto não me diz muito, por mais que me possa envaidecer conhecer Schumpeter sem o conhecer, mas faz-me esperar pelo "voltarei". Depois darei notícias.

1 comentário:

Anónimo disse...

O argumento é o mesmo relativamente aos outros factores de produção, por exemplo, a muito citada mão-de-obra (gosto mais de recursos humanos...).

O argumento de base é que se aumentam os custos dos factores de produção (salários, electricidade, taxas de juro, etc.) isso diminui a competitividade das empresas.

Numa região ou num país isto raramente é verdade (dependendo da dimensão do país), porque quando acontece geralmente é para todos.

O argumento vem normalmente acompanhado dum outro: o da globalização.

O problema é este: alguém tem de pagar se há realmente aumentos dos custos. Ou paga a empresa (reduzindo lucros), ou paga o cliente (se a empresa puder subir os preços aos seus clientes) ou alguém subsidia; ou dá-se a tal “creative destruction”!

Neste caso parece que quem ia (e vai, mas a prazo...) subsidiar as empresas seria o consumidor individual de electricidade.

O problema é que se trata dum subsídio indirecto, não porque os bens ou serviços produzidos pelas empresas em geral fiquem mais caros, mas sim porque o estado prefere subsidiar as empresas, mas sem aumentar os impostos e a despesa pública (défice...).

A defesa da competitividade das empresas é um assunto complicado, principalmente quando se pretende vender a ideia do mercado livre, mas só os seus benefícios, sem aceitar as suas consequências.