Na pluralidade dos cronistas do Público, Mário Pinto (MP), professor de Direito, representa a margem mais à direita, de extremado conservadorismo de inspiração católica. Mais extremista, na imprensa, talvez só o inefável João César das Neves, o meu guru de estimação. No entanto, MP costuma usar de rigor intelectual, como se espera de um académico. Não foi o que aconteceu na sua penúltima crónica e muito menos na de hoje.
MP considera que nada de substancial mudou no mundo da teoria, em relação ao aborto. Claro que considera como coisas fundamentais as ideias filosóficas, religiosas e jurídicas, não a evolução da sociedade e da cultura. Pergunta-se então de onde vem esta "liberalização" da vida sexual e procriativa. Como passe de mágica, desvenda-nos o segredo: um já velhinho relatório de Kissinger, então Secretário de Estado de Nixon.
O relatório manifesta preocupação com a explosão demográfica no terceiro mundo, considerando, numa perspectiva maltusiana, que a tensão entre a escassez de recursos e o descontrolo da natalidade podia causar efeitos negativos na segurança mundial, isto é, obviamente, no domínio da ordem americana. Afinal, nada de novo, esse problema já tinha sido apontado pelo Clube de Roma. Não conheço o relatório, mas não me espanta que recomende o apoio dos EUA a campanhas de planeamento familiar.
Ora a obsessão de MP com o aborto leva-o a tresler num ponto essencial, como está a acontecer – consciente ou inconscientemente? – com outros "pró-vida": a identificação da despenalização do aborto com uma acção tendente a considerá-lo como método anticoncepcional banal (só falta dizer que obrigatório...). É uma desonestidade intelectual que deve ser desmascarada sem dó nem piedade, por muito responsável académico que seja o autor.
MP deve ter descoberto que a CIA andou por todo o mundo a criar clínicas de aborto. Enfim, é um novo exemplo de teoria de conspiração. MP, por favor, deixe de ler Dan Brown!
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