Em 20 de Setembro último Pacheco Pereira escrevia no Público uma das suas habituais crónicas intitulada “O ataque ao "neo-liberalismo" e o "bacalhau a pataco". Nela se podia ler:
"O desastre ocorrido na banca de investimento americana, da crise do subprime à falência do Lehman Brothers, passando pelas sucessivas intervenções sobre os gigantes do crédito hipotecário, a Fannie Mae e a Freddie Mac, e pela seguradora AIG, associado às crises bolsistas, tem sido pasto para inúmeros comentários. Estes são distribuídos por todo o espectro político, mas mais estridentes à medida que se caminha para a esquerda, para a esquerda socialista, já que a comunista e a extrema-esquerda alter-mundialista sempre disseram o mesmo, contra a "economia do casino", a "loucura do neoliberalismo", a "ganância das grandes empresas", a crise da regulação, a falta de intervenção do Estado no mercado, as "imperfeições do mercado", a necessidade de subordinação da "economia" à "política". E é decretado o "fim duma época", aquela em que supostamente o "neoliberalismo" triunfou impante e a abertura de outra, em que a mão pesada do Estado e dos governos vai "controlar" os mercados para lhes dar a "perfeição" que eles não têm naturalmente. (…)
Naturalmente, como muita gente acha, os "mercados" são maus e injustos, esquecendo-se que são os mercados que estão a acabar com o Lehman Brothers e bem, que são os mercados que estão a fazer aquilo que autores clássicos da economia liberal como Schumpeter sempre disseram que faziam, destruir, que a destruição provocada pelas crises é um mecanismo fundamental de crescimento e de inovação, de pujança do modelo económico do capitalismo. A "crise" não é o sinal da crise do liberalismo, mas sim do seu normal funcionamento, em sociedades e economias que incorporam o risco e os custos como parte do seu funcionamento normal, das regras do jogo dessa mão que Adam Smith dizia ser "invisível"."
Ora, eu devo estar distraído mas o que está a suceder é tudo menos a destruição criadora e o triunfo do capitalismo. Se o Lehman Brothers foi à falência, outros bancos e instituições foram salvas com dinheiros públicos. Isto parece-me uma abordagem muito pouco capitalista, mas poderei estar enganado.
Ontem o Público noticiava que Alan Greenspan tinha testemunhado perante o Congresso manifestando-se chocado com a dimensão da crise financeira. Segundo afirmou: "Há 40 anos ou mais que tinha uma evidência muito clara de que o mercado livre funcionava muito bem. Presumi, erradamente, que o interesse próprio das organizações, nomeadamente dos bancos, era suficiente para que eles protegessem os seus accionistas."
Hoje, novamente o Público, tem como notícia de primeira página a crise económica mundial: SEVERA, PERSISTENTE, PROFUNDA.
Há muitas formas de encarar os acontecimentos que contrariam as nossas crenças. Uma delas é negá-los. Pacheco Pereira faz-me lembrar o senador americano do Partido Republicano, George Aiken, que, em 1966, propôs que a melhor política para o envolvimento americano na guerra do Vietname era simplesmente declarar vitória e retirar as tropas. Talvez possamos fazer algo de semelhante: injectemos quantidades astronómicas de dinheiros públicos nos mercados e proclamemos o triunfo do capitalismo liberal tal como este tem sido entendido nos últimos 25 anos.
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1 comentário:
O salvamento pelo Estado deixa-me uma enorme amargura. Fico com a ideia, embora de leigo, que era necessário, que, se o Estado não o fizesse, todos perdíamos, nas poupanças, no emprego, na economia. E é papel do Estado proteger os "todos".
Mas, afinal, nada disto está a penalizar os poucos que incorreram em verdadeiros crimes e que, no fim, talvez (ou certamente) retomarão as suas posições de privilégio. E, afinal, a nossa nacionalização da banca foi algum delírio revolucionário?
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