31 outubro, 2008

Museu dos coches

Está anunciada a construção de um novo museu, projecto de vulto, claro que também financeiramente. Pus-me a pensar recorrendo a coisa que infelizmente tenho pouco, a sabedoria chã do Zé Povinho. Ora bem. Se eu tiver uma mercearia de bairro com tanta clientela que não me dê para as minhas capacidades familiares de atendimento e eu não quero ter empregados, se os seus lucros me chegam e sobram até para todos os meus luxos que só vão até ao bilhete semanal para o futebol ou para o livrinho a 1 euro que acompanha o Correio da Manhã de sábado, porque raio me hei-de dar ao trabalho e ao risco financeiro de transformar a mercearia num supermercado todo modernaço?

Isto vem a propósito do novo Museu dos Coches. É o museu mais visitado de Portugal, nenhum turista se queixa de não obedecer aos padrões museológicos da moda, aos desafios intelectuais do acto sexual entre observador esteticamente titilado e objecto museológico observado. Dá grandes lucros. Não tem reservas não exibidas.  Porque raio vou pagar dos meus impostos para refazer este museu (para mim, ainda por cima, de uma arte respeitável mas menor), quando há tantos outros em condições verdadeiramente precárias e sem condições de expor ricas colecções guardadas em armazém?

Admito uma razão, a utilização imaginativa das actuais instalações no picadeiro de Belém. Por exemplo, para espectáculos equestres da escola de Alter, ou, com aplicação temporária de pavimento adequado, para concertos barrocos ou variados "eventos", públicos ou em aluguer a privados. Mas ainda não vi isto discutido.


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