23 outubro, 2008

Da ignorância dos alunos do ensino superior

Há 20 anos atrás Luís de Mascarenhas Gaivão publicou a História de Portugal em Disparates, uma recolha de frases sobre história de Portugal que o autor foi coleccionando a partir da sua experiência de professor.
Pessoalmente também tenho a minha pequena colecção e, ouvindo colegas meus, partilho o riso e, mais raramente a tristeza, face às frases que vamos lendo nos exames e nos trabalhos dos nossos alunos. Aqui vai uma pequena amostra.

• Uma colega, numa das suas aulas, referindo-se a um determinado acontecimento, classificou-o como uma revolução coperniciana. Um dos alunos, por sinal um daqueles que, com espírito solidário, empresta os seus apontamentos das aulas aos seus colegas, percebeu e escreveu revolução com persiana…E assim, no exame, várias foram as respostas que trataram de colocar persianas à referida revolução! 

• Num exame eram apresentados num quadro as vítimas civis da 1ª e da 2º Guerras Mundiais, e pedida uma análise das causas do aumento das referidas vítimas. Um dos alunos começou a sua resposta afirmando que na 2ª Guerra Mundial, por comparação com a anterior, as vítimas civis tinham aumentado gastronomicamente!

• Numa aula um professor descreveu Viriato como resistente à invasão romana, descrevendo-o como um bandoleiro. Uma aluna escreveu no exame que Viriato era um paneleiro!

• Os três exemplos anteriores fora-me contados. Este passou-se comigo. Numa das minhas aulas explicava que as transições para a vida adulta em tribos primitivas se processavam através de rituais de iniciação, por contraponto às nossas sociedades em que os marcadores dessa transição são muito mais difusos e difíceis de delimitar. Mostrava um documentário sobre esses rituais em duas tribos africanas e colocava os alunos a trabalhar em grupo com base no material visionado. Afirmava que os rituais assumiam formas muito diversas, mas que era relativamente vulgar em determinadas zonas do globo que o ingresso na vida adulta no caso de homens se fizesse por intermédio de cerimónias em que a circuncisão ocupava um lugar central. 
Uma aluna escreveu-me no exame que os rituais masculinos envolviam frequentemente a castração! Esta mesma aluna pediu-me para ver o exame e mostrei-lhe o comentário que tinha escrito  na  margem  da  sua folha de resposta. “Coitados dos membros desta tribo. Extinguiram-se no espaço de uma geração.” Disse-lhe que se tinha enganado ao escrever castração mas ela afirmou-me que a sua resposta estava certa até porque tinha visto um documentário na televisão sobre o assunto. Pedi-lhe que consultasse o dicionário para perceber diferença entre castração e circuncisão. Não sei se fui bem sucedido… 

   

1 comentário:

Tiago Costa disse...

Então, mas se viu na televisão é porque deve estar certo!
Professor tirano... :)